THE DELAGOA BAY WORLD

26/08/2018

O PAVILHÃO DE CHÁ DA POLANA E O CLUBE NAVAL EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 1950

Imagem de um postal da Foto Lu Shih Tung em Lourenço Marques.

 

A Praia da Polana, Pavilhão de Chá da Polana, Clube Naval e Barreira da Polana em Lourenço Marques, anos 50.

A PRAÇA VASCO DA GAMA E O EDIFÍCIO DO BCCI EM LOURENÇO MARQUES ANOS 60 A 90

 

 

O lado a Nascente da Praça Vasco da Gama, mais conhecido por no meio estar implantado o Bazar da Baixa da Cidade, tal como era até ao final da década de 60, quando a Câmara, por cretinice à prova de bala e provavelmente esquemas de imobiliário, primeiro ficou com o espaço do Kiosk Olímpia (do lado direito na esquina), o último da Cidade, e ali deixou que se construísse o mastodonte mais feio que já vi, tipo caixote, para servir de sede ao Banco de Crédito Comercial e Industrial, ou BCCI, e para escritórios. Mas Deus é Grande e castigou-os com a independência sob a Frelimo em 1974, que foi para o comunismo primário à Pol Pot e prontamente despachou quase todos os bancos (e brancos) e confiscou aquilo tudo antes de começarem os acabamentos (ver a terceira fotografia). Ainda me lembro de, em miúdo ir ao Bazar às 6 da manhã com o meu Pai e de estacionar ao pé daquelas palmeiras ao meio, fazer as compras e voltar para o carro a carregar o que pareciam toneladas de comida naqueles cestos de palha de ir ao mercado. Na esquina em cima havia um simpático velhote negro que tinha uma daquelas máquinas fotográficas antigas, de caixote de madeira com um pano preto atrás, que fazia, na hora, fotos do tipo passe. Ele era uma simpatia eu adorava vê-lo a trabalhar. Ele até tinha um pente e escova para pentear as pessoas antes de lhes captar a imagem.

 

A Praça Vasco da Gama, com o Kiosk Olímpia em primeiro plano na esquina e atrás o Bazar.

 

A ex-futura sede do BCCI, penso que mesmo antes da Independência, edificada mesmo por cima de onde ficava o velho Kiosk Olímpia, arrasando por completo a proporcionalidade e a harmonia estética da Praça e do Bazar. Em primeiro plano a parte de trás o Bazar e num canto em cima à direita vê-se parte do antigo Hotel Turismo. Com a cena toda do A Luta Continua, a obra parou em 1975, a economia deu um valente estoiro e aquilo ficou uns largos anos parado, até que um desses Parceiros da Cooperação (acho que chineses) acabou o edifício, que a seguir serviu de palco para uma fascinante obra de privatização, creio que em 1997, do braço comercial do Banco de Moçambique (criado em 1992) que passou a exercer apenas a função de banco central,  e que se chamou Banco Comercial de Moçambique, que por sua vez era controlado por António Carlos de Almeida Simões, um enigmático português (cuja empresa em 2016 devia 154 milhões de euros ao Novobanco), que prontamente o despachou para o Banco Mello em Portugal (por sua vez recentemente constituído a partir das cinzas da igualmente privatizada União de Bancos Portugueses) a quem devia umas massas valentes. Pelo meio o famoso Escândalo BCM, A seguir, por via da fusão do Banco Mello com o BCP em Portugal, o BCM “comprou” o Banco Internacional de Moçambique – e depois mudou o seu nome para BIM (a chamada fusão por incorporação). Como o accionista maioritário era o mesmo- o Banco do Senhor Engenheiro – era uma questão de detalhe.  O prédio serviu como sede do BIM até há poucos anos, quando esta instituição se mudou para um dos novos Edifícios JAT no Aterro da Maxaquene, mesmo ao lado de onde a Barreira da Maxaquene se desfez aquando do Ciclone Claude em 1966. A seguir o BIM pôs o edifício à venda e a última que ouvi é que tinha sido comprado por alguém. 

O PIRI-PIRI DELAGOA BAY

Filed under: Piri-Piri Delagoa Bay 2018 — ABM @ 15:59

Vai uma garrafinha de Piri-Piri Delagoa Bay?

Pensava eu que neste blog já se serviam adequadas, senão amplas quantidades de piri-piri, pelo menos do tipo intelectual, mas eis que, quando eu pensava que quase tudo já tinha sido inventado,  surge, com imensa promessa, um molho de piri-piri, daquele tipo que se pode servir à mesa e comer. Da África do Sul, eis que chega a notícia do crescente sucesso do recentemente criado homónimo desta casa, o Piri-Piri Delagoa Bay, especiaria que os sul-africanos, por alguma razão estranha, insistem em chamar peri-peri.

Produzido pela pequena empresa do jovem casal Justin e Sophia Raleigh (ver artigo em baixo, em língua inglesa), na verdade já comercializam duas variedades e, não estivesse eu exilado miseravelmente no relativo recato daquele canto da distante Europa Ocidental onde há muitos incêndios no verão e onde o IVA da electricidade é 23%, já teria engendrado comprar uns exemplares para provar (na verdade já tenho urdido um complexo e audaz plano de ataque: pedir a um amigo que me traga uns exemplares).

À partida, o meu provável preferido será o Piri-Piri Delagoa Bay Com Manteiga, que me arrumava duma vez o desafio do tempero dos camarões grelhados, bastando uma pitada de limão e sal. O nome e o aspecto do produto são excelentes. Só falta provar e entretanto tenho que me ir aguentando com uma garrafinha de Tabasco.

Ao casal Raleigh, desejo o maior sucesso. E espero que estejam a usar piri-piri de Moçambique, que o meu Pai dizia que era o melhor do Mundo (ele usava o lendário e mortífero Piri Piri Dona Ana de Vilanculos).

 

Um artigo do Mercury Network, publicado no Kwazulu-Natal, de 18 de Abril de 2018, sobre o negócio dos Piri-Piris Delagoa Bay do casal Raleigh.

 

AS AVENIDAS DOS DUQUES DE CONNAUGHT EM LOURENÇO MARQUES, 1926

A voluptuosidade ávida com que se alterava a toponímia das ruas de Lourenço Marques precedeu em muito a febre militante marxista pós-independência (mas claro). Por acaso, notei este pequeno caso, ao observar um mapa de Lourenço Marques de 1926. (ver em baixo).

Eu sabia que a artéria adjacente à Barreira da Polana, que hoje tem a designação do ideologicamente duvidoso Friedrich Engels, o camarada e patrocinador do mais conhecido e ideologicamente colorido Carlos Marx, durante muitos anos se designou Avenida dos Duques de Connaught (o duque era um filho da Rainha Vitória do Reino Unido, que visitou a pequena cidadezinha em 1906 com a mulher e a filha, a Princesa Patrícia).

O que não sabia era que, em 1926, essa Avenida se chamava Duque de Connaught, e que a (mais tarde) Avenida de António Ennes (um dos fundadores do Moçambique colonial, efectivamente), e que hoje é chamada Avenida Dr. Julius Nyerere (patrono e patrocinador efectivo da Frelimo e logo “fundador” do Moçambique pós-1975) se chamava Avenida da Duquesa de Connaught.

Parece que, quando baptizaram a Avenida António Ennes, os autarcas locais juntaram os Duques e a outra avenida se passou a chamar Avenida dos Duques de Connaught.

A isto se pode chamar trívia coca-cola.

 

Num mapa de Lourenço Marques de 1926, havia a Avenida da Duquesa de Connaught e a Avenida do Duque de Connaught.

OS BOTELHO DE MELO EM LOURENÇO MARQUES, 1968

Filed under: Os B de Melo em LM 1968 — ABM @ 14:43

Imagem pintada à mão com gouache em Maputo, 1999. Foi dos meus primeiros esforços de colorir – e nota-se.

 

Os Botelho de Melo no quintal da velha casa na Rua dos Aviadores 264 (no local onde hoje fica o nº267 da Rua da Argélia) em Lourenço Marques, meados de 1968. Da esquerda: eu, Nando, Chico, Cló, Mãe Melo, Paula (em baixo), Avô M. I. de Melo (de visita dos Açores), Pai Melo, Lelé, Mesquita.

A AVENIDA PAIVA MANSO EM LOURENÇO MARQUES, VISTA DA AVENIDA DA REPÚBLICA, ANOS 1920

Fotografia copiada do Grande HoM (acho) e colorida por mim num momento de ócio acrescido.

 

Penso que esta imagem foi tirada a partir do velho edifício Bridler. À direita ficava a Praça Vasco da Gama, onde estava implantado o Bazar de Lourenço Marques, naquela altura ainda rodeado, a Poente, por um jardim, que se pode ver na fotografia, e ainda uma das “torres chinesas” que se pode ver ao fundo. O local no primeiro plano desta avenida apanha a ponta do primeiro aterro do pântano que separava a urbanização original da Povoação (e depois Vila) de Lourenço Marques com a encosta do Maé, que foi o primeiro aterro feito na futura Cidade. Só que, enquanto que o aterro, feito com terras tiradas da Encosta do maé, foram feitas adequadamente neste local, não foram feitos com o ângulo e a cotas adequadas do outro lado da Praça Vasco da Gama, no eixo da Avenida da República, até onde hoje ainda fica o Hotel Tivoli, que desde que foi feita inunda sempre que cai uma chuvada nesta zona.

O ANTIGO HOSPITAL DE LOURENÇO MARQUES, FIM DO SÉC. XIX

Arquivos reais holandeses, imagem retocada por mim.

A fachada do Hospital Militar (e Civil?) da Vila e depois Cidade de Lourenço Marques, fim do Séc. XIX. Estava implantado num terreno onde, no lado direito deste edifício, ficariam depois as escadas de acesso à Sé Catedral de Lourenço Marques, ou seja, mesmo atrás deste edifício seria feita décadas mais tarde a Praça Mouzinho de Albuquerque (hoje Prala da Independência). Foi subsequentemente demolido e substituído pelo Hospital Miguel Bombarda.

SOBRE A SEDE DO BANCO NACIONAL ULTRAMARINO EM LOURENÇO MARQUES, INAUGURADA EM 1964

A fachada do edifício do BNU que dava para a Avenida da República (hoje Av. 25 de Setembro), inaugurado em 25 de Julho de 1964. À direita, a antiga Travessa das Laranjeiras, depois Travessa do Banco Nacional Ultramarino. Não sei o actual nome. À esquerda, a Casa Coimbra.

Sobre a filial do BNU em Lourenço Marques, mais tarde a sede do Banco de Moçambique, apresento este texto, copiado, com profunda vénia, deste valiosíssimo trabalho de Nuno Fernandes de Carvalho (do Gabinete do Património Histórico da Caixa Geral de Depósitos, entidade que absorveu o BNU e publicado em Junho de 2015).

As fotos foram inseridas por mim.

O texto de NFC:

“Nas décadas de 1950-60, a modernização e alargamento do edifício da filial de Lourenço Marques tinha-se tornado cada vez mais urgente para a administração do BNU, tendo em conta o volume de negócios que esta filial tinha vindo a dar ao banco. Este progresso era incompatível com um edifício de filial que, apesar de esteticamente apelativo, não possuía a totalidade das funcionalidades necessárias. Efetivamente, parte dos serviços que inicialmente operavam no rés-do-chão tiveram de ser transferidos para o 1º andar e, inclusive, ocupar um outro edifício exterior à filial na Avenida da República. A secção comercial, nos armazéns nas traseiras da filial, tinha sido extinta e substituída pelo arquivo do banco.

Mural painel com 8×5 m em cerâmica policromada em baixo-relevo, da autoria de Querubim Lapa de Almeida, na fachada da Delegação do Banco Nacional Ultramarino em Lourenço Marques, inaugurada em 1964.

Para um futuro edifício, o projeto foi atribuído ao arquiteto José Gomes Bastos. Este inseria-se na denominada ‘2ª geração de arquitetos modernistas portugueses’. Por este motivo, a visão que apresentou para o novo edifício
seria para imprimir precisamente essa modernidade, que constatou que estava ausente no urbanismo e arquitetura de Lourenço Marques de então.

Este primeiro anteprojeto foi apresentado aos serviços do banco em 1954. Um ano depois, uma versão ampliada deste anteprojeto foi aprovada – esta tinha em consideração a ampliação e regularização dos limites do
terreno da intervenção, através de expropriações e demolições de construções existentes, de modo a ampliar a propriedade onde se situava a filial. Em meados de 1957, foi assinado o contrato para construção e acabamentos da filial do BNU em Lourenço Marques.

Hall da entrada, do lado da Avenida da República (actual Av. 25 de Setembro).

Para garantir o funcionamento da filial durante o período de construção, o BNU alugou as antigas instalações dos Serviços de Fazenda na cidade [actualmente, a sede da Biblioteca Nacional de Moçambique, sitos na Avenida da República], para onde transferiu os serviços da filial. Estas instalações eram insuficientes para o volume de trabalho e espaço necessário que o BNU Lourenço Marques necessitava, mas foi a solução disponível de modo a que os trabalhos de edificação não se atrasassem. Assim sendo, a 17 de abril de 1958, iniciou-se o processo de transferência dos serviços para as instalações provisórias, sendo este concluído no dia 28.

Em 1958, as demolições necessárias estavam concluídas e o início dos trabalhos de construção ocorreu nos finais desse ano, inícios de 1959. Foi também no mês de março de 1959 que a filial do BNU de Lourenço Marques foi elevada à condição de diretoria.

O projeto e a decoração do edifício ficaram a cargo, como se mencionou, do arquiteto José Gomes Bastos. Este teve a colaboração na fiscalização do eng. João Chaby e o apoio do agente técnico de engenharia civil Perdigão Silva – ambos dos quadros do banco.

Este não sei quem é.

A consolidação dos alicerces onde se iria construir o imóvel ficou a cargo da firma Christien & Nilsen, sendo que foi executada num ano e meio. A elevação do edifício foi atribuída à Sofil – Sociedade de Fomento Imperial, S.A.R.L., com sede naquela cidade. Estes trabalhos, incluindo os de decoração, foram executados em cinco anos e meio.

Em correspondência presente no arquivo histórico do BNU, deteta-se uma orientação, ou pelo menos, uma intenção da parte dos promotores da obra (o BNU) em recorrer essencialmente ao trabalho e ao contributo empresarial de trabalhadores e empresas moçambicanas. Mesmo ao nível das contribuições artísticas, estas foram promovidas via concurso do próprio banco, fiscalizado pelo arquiteto da obra (José Gomes Bastos), privilegiando artistas sediados localmente. Esta intenção seguia a filosofia do banco, que alinhava com o discurso dominante de então do Estado Novo, de uma valorização do Portugal como nação transcontinental e, para tal, utilizando os recursos das suas
colónias ultramarinas como forma de enriquecer e glorificar a nação. Apesar disso, constata-se que nas contratações finais, apesar de existirem muitas empresas locais e outras sediadas em Portugal continental, verificam-se também contratos com empresas britânicas e sul-africanas.

Malangatana, acho.

No ano do centenário do BNU (1964), foi inaugurado este edifício moderno e imponente (11.530 m²) situado na baixa da cidade, que ocupava a quase totalidade do quarteirão entre a Avenida da República e a Rua Consiglieri Pedroso.

Penso que zona dos saques.

Este edifício tinha a forma de anel retangular com 3 frentes urbanas – a terceira dava para a Travessa das Laranjeiras [após a inauguração em 1964, esta mudou o seu topónimo para Rua do Banco Nacional Ultramarino]. Tinha 7 pisos no volume que dava para a Avenida da República –sendo, por isso, o de maior altitude. No volume para a Rua Consiglieri Pedroso, tinha 2 pisos à face da rua e 6 pisos recuados, de modo à sua dimensão se comportar com a largura mais estreita desta via. O prédio era servido por nove elevadores e, à data da sua inauguração, os pisos do edifício da filial eram distribuídos da seguinte forma:

Piso da cave

A entrada para o piso era realizada pela travessa lateral pedonal (Travessa das Laranjeiras), onde se situava, primeiramente, o centro de segurança e controle. Esta era a entrada utilizada pelos funcionários do banco para o acesso às quatro habitações do pessoal técnico permanente para o centro lúdico e para a receção da administração. Esta dava também acesso ao piso de cave, a partir da qual os funcionários tinham ligação vertical reservada com os pisos superiores e onde tinham o seu local de trabalho. Neste piso, encontravam-se também os vestiários, as instalações técnicas (centrais de emergência, pneumática e elétrica), o economato, o arquivo histórico e as casas fortes do banco – estas tinham ligação de escada e ascensores privativos para o tesoureiro da filial. Numa outra secção, pública e sem conexão livre com as áreas atrás descritas, estava a sala dos cofres de aluguer e o seu balcão de atendimento. Tanto as casas fortes, como os cofres de aluguer foram fornecidos pela empresa Chubb’s.

Escadaria à Hollywood. Em redor, a arte de Estrela Faria.

Piso térreo

O atendimento ao público era efetuado pelo piso térreo com entradas nas frentes opostas que davam para as artérias principais, atrás mencionadas. Este piso era ocupado pela sala do público, que aí tinha contacto com o balcão de atendimento, onde se encontravam as caixas, o expediente e a secção de letras.

As duas entradas eram unidas por uma parede contínua de 80 x 4,5 m com um mural gravado em mármore, alusivo à tomada de Tânger da autoria de Francisco Relógio. A zona central do piso, onde se encontrava o balcão, estava coberta e iluminada por uma abóboda translúcida – duas pinturas de 30 m², da autoria de Garizo do Carmo, decoravam os tímpanos laterais dessa cúpula. Num dos átrios, encontravam-se expostas, na parede de fundo, três esculturas em bronze da autoria de Maria Manuela Madureira.

Je pense que Garizo do Carmo.

Primeiro andar

Este piso apresentava-se num largo saguão ladeado com vários balcões de atendimento ao público: as secções de saques, transferências, créditos, informações e caixas do estado. A ocupar o topo sudeste do piso, encontrava-se uma pintura a óleo de grandes dimensões (13×2 m) da autoria de José Freire. Existia também uma zona reservada a funcionários, onde operavam serviços internos do banco: secretariado do economato, contencioso e sua secretaria, arquivo corrente e contabilidade.

Penso que Francisco Relógio.

Segundo andar

O piso da administração tinha no seu centro um grande vestíbulo de representação. Na parede sudeste deste, estava afixado um painel decorativo (13×2 m) a óleo, da autoria de Garizo do Carmo. Em torno daquele vestíbulo, encontravam-se as áreas de trabalho da administração, da direção, da ‘Inspeção Local’, da contabilidade e a sala do Conselho. Esta última tinha um painel de azulejo que reproduzia uma das tapeçarias de Pastrana. A ligar a cave, onde se encontravam os cofres para aluguer, passando pelos pisos intermédios, até ao segundo piso, onde se encontrava a administração, existia uma monumental escadaria helicoidal. Uma das paredes que acompanhava essa escadaria estava ocupada por um painel de 300 m², em mosaico de vidro de Murano tipo Bizantino, reproduzindo um cartão da autoria de Estrela Faria.

Penso que Francisco Relógio.

Terceiro andar

Este piso continha a secretaria dos serviços de pessoal, de obras, os Serviços Clínicos e o Centro Lúdico – sendo estes dois últimos, os que ocupavam a maior parte da área deste piso. Os Serviços Clínicos constituíam-se de uma policlínica com salas de consultas, de exames (incluindo imagiologia) e de tratamentos. Com o objetivo de proporcionar uma maior valência e bem-estar aos seus trabalhadores, o BNU disponibilizava nestes serviços uma grande variedade de especialidades médicas, que incluíam ginecologia, otorrinolaringologia, estomatologia, entre outras. Existiam também uma secretaria, uma farmácia e um arquivo corrente. O Centro Lúdico continha várias divisões destinadas ao lazer dos funcionários do banco, com áreas de interesse na cultura e no desporto. Para tal, tinham: sala de ténis de mesa, de bilhares, de jogos de mesa, de conferências/festas, de projeção audiovisual, uma biblioteca, dois bares e um terraço de convívio. Nesta área ficava também a direção do Centro. Uma das paredes do salão de festas era ocupada por um painel a óleo, da autoria de Malangatana Valente Ngwenya. O painel de 2×4 m, exposto na biblioteca, era da autoria de Bertina Lopes.

Penso que acesso aos cofres.

Quarto andar

Este piso apresentava duas áreas distintas. Uma área albergava as residências pessoais para os funcionários técnicos do banco – eletricista, mecânico, chefe de conservação e chefe de segurança – voltada para a frente da Avenida da República. A segunda área comportava os serviços mecanográficos do banco, voltada para a Rua Consiglieri Pedroso.

Não sei quem é o autor.

Quinto andar

À semelhança do piso anterior, este também se encontrava dividido nas duas áreas distintas mencionadas. No entanto, os serviços internos do banco que funcionavam neste piso eram os de relacionamento e inutilização de notas, conservação do edifício e os serviços de assistência social.

Pastrana?

Sexto andar

Este piso era composto por um volume recuado sobre a frente da Avenida da República e que continha a zona de receção da administração, com vestíbulo, salão e sala de jantar. Neste também se situava a cozinha e os seus anexos de apoio. Este piso possuía, num dos seus frontispícios, um vasto terraço com vista nordeste da cidade.

A descrição dos interiores da filial do BNU em Lourenço Marques revela uma tendência que na década de 1960-70 era observada pelos responsáveis do banco: a de enriquecer e decorar os edifícios do banco com exemplares de arte moderna, ao mesmo tempo que mantinham presentes decorações alusivas ao período dos Descobrimentos quinhentistas, como era o caso do mencionado painel das tapeçarias de Pastrana. Esta opção ia de encontro com o desígnios e a função mercantil, ultramarina que serviu de motor fundador do banco e que se manteve durante a sua existência, como principal e único banco emissor para as então colónias portuguesas.

Existiam outros exemplares de obras de arte presentes na decoração do edifício da filial e da autoria de outros artistas. No exterior da entrada principal, encontrava-se um painel com 8×5 m em cerâmica policromada em baixo-relevo, da autoria de Querubim Lapa (Pintor e ceramista português (1925-). Outros artistas expostos nas paredes e salas da filial foram: Rolando Sá Nogueira, João Ayres, Dana Michahelles (Pintora italiana (1933-2002), Araújo Soares (Autor de pintura a óleo sobre folha de ouro de 3×2 m, que ficou exposta na biblioteca da direção), João Paulo, José Pádua, entre outros.

De salientar, como atrás se referiu, que a quase totalidade destes artistas foram selecionados, tendo em consideração o facto de estarem sediados em Lourenço Marques – apesar de serem quase todos de origem europeia. Esta evidência traduz também a forma como o discurso oficial do regime se contradizia face à vivência quotidiana na sociedade colonial de Moçambique, onde a realidade étnica e das oportunidades concedidas, a maioria das vezes, não era em conformidade com o lema da “nação una e indivisível”.

Este edifício da filial de Lourenço Marques foi inaugurado no dia 25 de julho de 1964. A cerimónia de inauguração contou com a presença de Francisco Vieira Machado, governador do BNU, do almirante Américo Tomás, Presidente da República, do comandante Peixoto Correia, ministro do Ultramar, do general Costa e Almeida, governador-geral de Moçambique, e de D. Custódio Alvim Pereira, arcebispo de Lourenço Marques, entre outros convidados representantes da sociedade civil, militar, eclesiástica e empresarial de Moçambique colonial de então – o que atestava a importância desta efemeridade para a economia local.

Na altura da inauguração, trabalhavam na filial do BNU em Lourenço Marques 466 funcionários.

Este edifício foi o último no qual o BNU centralizou os seus serviços na cidade de Lourenço Marques. Os Acordos de Lusaka, assinados no dia 7 de setembro de 1974, entre Portugal e o movimento de libertação de Moçambique,  FRELIMO, determinaram a independência de Moçambique a ocorrer a 25 de junho de 1975. Estes Acordos estabeleciam também a criação de um banco central para o novo país, para o qual foram transferidos os ativos e passivos do departamento moçambicano do BNU. O edifício da filial do BNU em Lourenço Marques também foi transferido e passou a ser a sede do Banco de Moçambique – o novo banco central para Moçambique. O nome da capital moçambicana também foi mudado e passou a denominar-se Maputo, a partir do dia 13 de março de 1976.”

Em meados da década de 2010, o Banco de Moçambique, o sucedâneo do BNU em Moçambique, construiu o que foi descrito como o sua nova sede, construindo um edifício que ocupou o terreno onde estava implantada a Casa Coimbra, que foi demolida, e o terreno que se situa nas esquinas da Avenida da República , Av Dom Luis e Praça 7 de Março (hoje 25 de Setembro com Marechal Samora e Praça 25 de Junho). Não conheço os interiores, apenas que terá custado uma obscenidade e que, entre outras preciosidades como um enorme estacionamento privado, tem um heliporto no telhado.

23/08/2018

BOTELHO DE MELO, 1970

Filed under: Manuel Inácio Botelho de Melo — ABM @ 22:18

Imagem retocada e pintada.

 

Botelho de Melo no gabinete do Comando-Geral da PSP de Lourenço Marques, 1970.

O PRIMEIRO USO DE TELÉGRAFOS SEM FIO EM LOURENÇO MARQUES, 1900

Em Setembro de  1999 o IEEE descerrou esta placa.

 

A placa, descerrada em Setembro de 1999 (o mês em que, em 1900, os britânicos tomaram e extinguiram a República Sul-Africana) diz mais ou menos isto: “A primeira utilização prática [no Mundo]de mecanismos de telegrafia sem fios occorreu durante a Guerra Anglo-Boer (1899-1902). O exército britânico testou o sistema de Marconi e a marinha britânica utilizou-o com sucesso nas comunicações entre os seus navios na Baía de Lourenço Marques, contribuindo para o desenvolvimento do sistema de telegrafia sem fios de Marconi para usos práticos. Setembro de 1999, Instituto de Engenheiros de Electricidade e Electrónica.”  Durante este conflito, em que Lourenço Marques e a linha férrea para Joanesburgo foram factores importantes, a marinha britânica bloqueou o acesso ao porto da Cidade, vistoriando quem entrasse e saísse, utilizando o telégrafo sem fios para os navios se coordenarem e falarem para terra. Os portugas assobiavam para o lado.

Na Inglaterra, Guglielmo Marconi (Bolonha, 25 de abril de 1874 — Roma, 20 de julho de 1937), na altura com 21 anos de idade, iniciou uma série de experiências na então inexistente área de comunicações sem fios em 1895. Em 2 de junho de 1896 apresentou um pedido provisório de uma patente para um sistema de telegrafia sem fio. Ele demonstrou o sistema para os Correios britânicos em Julho desse ano. A patente britânica foi aceite em 2 de Julho de 1897 e o equivalente americano em 13 de Julho de 1897. Isto levou, mais tarde, à criação da rádio, do rádio telefone e outros usos práticos da tecnologia da comunicação via as ondas hertzianas.

A E.C.C.I, EMPRESA QUE CONSTRUIU A ESTAÇÃO DOS CAMINHOS DE FERRO NA BEIRA, ANOS 60

Filed under: ECCI LM e Beira — ABM @ 07:06

 

 

Anúncio da ECCI.

O HOTEL POLANA EM LOURENÇO MARQUES, DÉCADA DE 1930

Filed under: Hotel Polana LM, LM Hotel Polana — ABM @ 06:59

 

 

A fachada frontal do Hotel Polana, década de 1930. Nesta altura, os quartos tinham varandas à frente, algo que depois foi alterado.

BAILE DA UNIÃO INDIANA EM LOURENÇO MARQUES, ABRIL DE 1933

Filed under: Baile da União Indiana em LM 1933 — ABM @ 06:55

O Ilustrado, Nº03, 1 de Maio de 1933, p.49.

 

Os participantes no Baile da União Indiana posam em Lourenço Marques, 15 de Abril de 1933.

 

Legenda.

JOGADORES DE CRICKET EM LOURENÇO MARQUES, 1933

Filed under: Uncategorized — ABM @ 06:49

O Ilustrado,Nº3, 1 de Maio de 1933, p.49.

 

Jogadores de cricket em Lourenço Marques, meados de Abril de 1933.

 

Legenda.

CAÇADOR JUNTO DO RIO ZAMBEZE, CERCA DE 1900

Filed under: Caçador junto Zambeze 1900 — ABM @ 06:43

Imagens dos arquivos reais da Holanda, retocados por mim.

 

Caçador junto do Rio Zambeze.

 

O mesmo caçador.

O PORTO DE LOURENÇO MARQUES, DÉCADA DE 1960

Filed under: LM Cais - Porto — ABM @ 06:36

 

 

O porto de Lourenço Marques, década de 1960.

O CORETO NA PRAÇA 7 DE MARÇO EM LOURENÇO MARQUES, INÍCIO DO SÉC. XX

Filed under: LM Praça 7 de Março — ABM @ 06:26

Imagem retocada e pintada por mim.

O coreto no centro da Praça 7 de Março (actualmente, Praça 25 de Junho), em dia de concerto, início do Séc. XX. Ao fundo, a Catembe.

19/08/2018

PÁSCOA NA PRAIA DA POLANA EM LOURENÇO MARQUES, ABRIL DE 1933

Recorte de O Ilustrado, suplemento do Notícias de Lourenço Marques, Nº03, 1 de Maio de 1933, pág.41.

 

Enfim.

BRASÃO DA VILA DE JOÃO BELO

Filed under: Brasão da Vila de João Belo, João Belo — ABM @ 00:32

Parte de uma colecção de sêlos com os brasões de cidades de Moçambique, penso que dos anos 60. 

João Belo é actualmente Xai-Xai, aliás, a designação original por que a localidade nunca deixou de ser conhecida.

João Belo  (Leiria, 27 de setembro de 1878 — Lisboa, 3 de janeiro de 1928) foi um distinto oficial português no tempo colonial.

 

O sêlo de vinte escudos com o brasão de João Belo.

UM DIA NO QUOTIDIANO DA ILHA DE MOÇAMBIQUE, 1920

Filed under: Alberto de Lacerda poeta, I de Moç uma rua 1920 — ABM @ 00:15

Imagem parte do espólio de Alberto de Larcerda, com vénia, retocada.

 

Uma rua na Ilha de Moçambique, foto de 1920.

UMA RUA NA ILHA DE MOÇAMBIQUE, DÉCADA DE 1890

Filed under: Ilha de Moçambique, Ilha Moç - Uma rua 1890 — ABM @ 00:12

O original desta imagem está nos arquivos reais da  Holanda. Foi retocada por mim.

 

Imagem de uma rua na Ilha de Moçambique, na década de 1890.

A ILHA DE PRÓSPERO, DE RUI KNOPFLI, 1972

Filed under: Livro A Ilha de Próspero, Rui Knopfli - poeta — ABM @ 00:06

Para um livro tão conceituado como este do Rui Knopfli, a única maneira de o ler é comprar num alfarrabista.

Outra questão semântica e dialética: pode um branco de origem portuguesa e nascido em Inhambane reclamar a moçambicanidade antes de 1975? é que no caso do Rui, para alguns, parece que sim. Não que ele tivesse mexido uma palha nesse sentido para além do que escreveu. Não que alguém em Moçambique tivesse mexido uma palha nesse sentido, alguma vez.

Pois, são os fantasmas que nunca desaparecem. Porque não podem. Enfim, adiante.

Capa

 

Ficha

 

O Rui com a máquina fotográfica.

 

 

 

Algumas leituras adicionais relacionadas, online:

A geografia do espelho na poesia de Rui Knopfli

A Ilha de Próspero e o Repensar do Colonialismo

Knopli’s Melody

Uma leitura de A Ilha de Próspero

Entre as savanas de aridez e os horizontes da poesia: a multifacetada geopoética de Rui Knopfli

Artigo da Ana Mafalda Leite

17/08/2018

ENTRADA PRINCIPAL DA FORTALEZA DE SÃO SEBASTIÃO EM MOÇAMBIQUE, ANOS 60

Filed under: Ilha Moç Fortaleza — ABM @ 16:45

Imagem retocada e colorida por mim.

 

A entrada do monumento.

ALBERTO DE LARCERDA COM RUI KNOPFLI EM LOURENÇO MARQUES, 1963

Filed under: Alberto de Lacerda poeta, Rui Knopfli - poeta — ABM @ 16:31

O original desta foto faz parte do espólio de Alberto de Lacerda e é reproduzido com vénia.

Foto tirada durante a única vez que Lacerda visitou Moçambique depois de sair da colónia em 1946.

 

Os dois poetas num jardim em Lourenço Marques, 1963.

A ESCOLA PREPARATÓRIA GENERAL MACHADO EM LOURENÇO MARQUES

Filed under: LM Escola Prep General Machado — ABM @ 16:21

Foto contemporânea da antiga Escola Preparatória General (Joaquim José) Machado, que ficava na Maxaquene em Lourenço Marques. Actualmente é um instituto não sei bem de quê.

Maputo, 2018. Ao fundo, a ponte que liga à Catembe, neste momento ainda por inaugurar.

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