THE DELAGOA BAY WORLD

03/01/2024

A FEITORIA HOLANDESA EM LOURENÇO MARQUES, 1721-1730

Imagens retocadas.

É quase uma nota de rodapé no longo percurso da Baía que culminou na sua margem Norte se tornar na Capital de Moçambique. Digo nota de rodapé porque daí nada resultou, ao contrário das iniciativas (1777-1781) de Guilherme Bolts, que ao colocar feitorias na Inhaca e na Catembe, provocou uma reacção portuguesa – a de as desactivar e de erguer um forte e feitoria permanente no que é hoje o local da “fortaleza” na Baixa da Cidade, em 1782.

A ideia de criar uma feitoria holandesa em Lourenço Marques obviamente deve ter parecido boa para os agentes da Vereenigde Oost-Indische Compagnie, ou VOC, originalmente uma empresa majestática de direito privado holandês (ou seja, tinha investidores privados, alguns dos quais judeus de ascendência portuguesa, no que foi a primeira a existir no mundo) criada em Março de 1602 para explorar o comércio internacional, e que tinha uma das suas principais bases de actuação no que é hoje a Cidade do Cabo.

A feitoria duraria cerca de nove anos, após o que foi abandonada.

A feitoria da VOC na margem Norte da Baía de Lourenço Marques, desenho de Jacob de Bucquoy (1693–1772).
A localização da Feitoria da VOC na margem Norte da Baía.

Seria interessante, do ponto de vista histórico e arqueológico (e turístico), identificar o que resta destas construções no que é hoje a Cidade de Maputo. Só que a zona onde a feitoria foi edificada foi significativamente alterada pelos Aterros da Maxaquene, efectuados no final da década de 1910. Pode ainda lá estar alguma coisa pois os aterros tinham uma quota de uns seis metros em relação ao nível da água do mar, o que significa que, em princípio, as fundações desta feitoria terão ficado soterradas. E segundo uma nota do grande Alfredo Pereira de Lima, elas devem estar localizadas aproximadamente em frente ao antigo campo de futebol do Grupo Desportivo.

A enseada da Maxaquene em 1891, com uma estimativa (A) da localização da antiga feitoria holandesa.
A enseada da Maxaquene, antes dos aterros feitos a partir do final da década de 1910, com uma estimativa (A) da localização das ruínas da antiga feitoria da VOC.
A mesma zona após a conclusão dos aterros, meados dos anos 1920. Ao fundo, um armazém e a Capitania do Porto, que ainda existem junto ao Maputo Shopping Centre do Sr. Bachir.
Lourenço Marques na segunda metade da década de 1950. A parte verde corresponde ao Aterro da Maxaquene, e ali é assinalado (A) o local aproximado da antiga Feitoria da VOC, segundo Pereira de Lima.

Este poderia ser um projecto arqueológico interessante. Infelizmente, não sei quase nada sobre o que andam a fazer os arqueologistas moçambicanos estes dias. Mas, se existirem, eu pedia um subsídio à Holanda para pelo menos investigar.

Pois isto é História.

01/03/2018

A FEITORIA HOLANDESA EM LOURENÇO MARQUES, 1721

A Companhia das Indias Holandesa, mais conhecida por VOC (a sigla da designação original neerlandesa, Verenigde Oost-Indische Compagnie), na altura uma das entidades europeias que competiam pelo comércio dos mares com Portugal e o Reino Unido, e que desde 1652 operavam no que é hoje a Cidade do Cabo uma base de apoio às suas actividades além-mar, decidiu em 1721 instalar uma feitoria na Baía da Lagoa, no que veio a ser a Cidade de Lourenço Marques, no espaço que alguém estimou ser o terreno onde, para variar, se situa o agora defunto campo de futebol do Grupo Desportivo Lourenço Marques, que na altura ficava directamente em frente à praia (hum, o local merecia algumas escavações arqueológicas…).

A experiência foi um fracasso. A feitoria procurou transaccionar escravos e marfim, principalmente, mas rapidamente os holandeses acharam que a mortandade pela malária não compensava e abandonaram o local, aparentemente ao tiro.

E os tiros não vinham dos nativos Tsonga/Ronga. Uma nota, curiosamente relacionada com o historial da chamada Fortaleza de Lourenço Marques, refere o seguinte contexto (texto editado por mim):

19 de Fevereiro de 1721 – partida de expedição holandesa, oriunda da cidade do Cabo, composta por 113 homens, sob o comando de Klaas Nieuhof, em dois navios, o Gouda e o De Caap;

Abril de 1721 – chegada da expedição à baía de Lourenço Marques; obtida a autorização do chefe local, inicia-se a construção de um forte de madeira, de planta pentagonal, denominado Forte Lagoa; passados seis meses, cerca da metade dos homens havia morrido, sobretudo vítimas de malária; apesar da chegada de reforços da cidade do Cabo, nos navios Zeelandia e Uno, com mais 72 homens e mantimentos, a situação não se alterou;

11 de Abril de 1722 – durante a manhã, três navios piratas ingleses sob o comando do Capitão George Taylor, que operava nas águas do canal de Moçambique, entraram na baía de Lourenço Marques, perseguidos por quatro navios da Companhia Inglesa das Índias Orientais, o Lion, o Salisbury, o Exeter e o Shoreham; as embarcações piratas, o Victory, artilhado com 64 canhões, o Cassandra, com 36, e um barco francês capturado ao largo da Ilha de Santa Maria (actual Madagascar), tinham um total de 900 homens;

18 abril de 1722 – os piratas decidem capturar a feitoria holandesa, bombardeando-a, e capturar um bote e o navio De Caap; às 5 horas da tarde, o forte rende-se; tendo conhecimento de que Van de Capelle, o segundo em comando, se evadira para o interior com 18 homens, os ingleses exigiram o seu imediato regresso, sob pena de arrasarem o edifício; não tendo regressado os holandeses, o forte e feitoria foram destruídos;

dezembro de 1722 – retirada definitiva dos holandeses do local.

Apesar deste texto, outros relatos indicam que a feitoria holandesa na Baía de Lourenço Marques era um slave post, ou seja, primariamente um ponto de tráfico de escravos (uma parte significativa dos mulatos do Cabo descendem de escravos trazidos do que hoje é Moçambique) e que terá sido abandonada em 1732 em resultado de um motim.

 

A feitoria holandesa no futuro campo de futebol do Desportivo, 1721, segundo um mapa guardado nos arquivos da Holanda. No lado esquerdo, pode-se ver a saliência onde, umas décadas mais tarde, foi implantado o pequeno forte português que foi a génese da Cidade de Lourenço Marques.

 

Fase 1 da feitoria holandesa: o Forte Lagoa.

 

Fase 2 da feitoria holandesa.

 

 

 

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