THE DELAGOA BAY WORLD

17/08/2022

VISITA A COLONOS AÇOREANOS NO LIMPOPO, FINAL DA DÉCADA DE 1950

Imagem retocada e colorida, no dia do 10º aniversário em que o meu irmão Chico morreu em San Diego, na Califórnia, na sequência de um cancro da próstata.

Os meus Pais nasceram e cresceram na ilha açoreana de São Miguel. Lembro-me de, em criança, na década de 1950, de ter, por mais que uma vez, visitado o Limpopo por os meus Pais conhecerem lá alguns camponeses açoreanos que foram levados para o empreendimento agrícola ali criado pelo Eng. Trigo de Morais. Era um passeio divertido pois eu sempre gostei do campo e aquilo parecia um mundo à parte, especialmente se comparado com Lourenço Marques, que era uma bolha metropolitana num mar rural, para além de que podia ir para o topo da barragem dar pão aos hipopótamos e jacarés.

Em baixo, uma fotografia de uma visita anterior dos meus Pais, mostrando dois irmãos meus junto a alguns desses novos farmeiros do Limpopo.

Quando regressavam dessas visitas, o carro familiar vinha cheio de vegetais, de sacos de milho e de feijão e uns enormes pães de milho que duravam semanas a serem comidos…

Até ao 25 de Abril, estes eram os únicos “colonos” que eu conhecia, para além dos velhotes dos Velhos Colonos que eu ouvia falar.

Os meus irmãos Chico e Mesquita, de calções verdes, rodeados por açoreanos no empreendimento agrícola no Limpopo, final da década de 1950.

24/06/2022

PLANO DE VILA TRIGO DE MORAIS, ANOS 50

A Vila Trigo de Morais, parte da obra apaixonada e algo faraónica, da iniciativa do Eng. António Trigo de Morais, é hoje chamada Chókwé. Fica situada no vasto Vale do Rio Limpopo, perto do rio, no epicentro de um grande complexo agrícola e numa zona considerada poder vir a ser um dos principais pólos agrícolas de Moçambique. Pretendeu ser ainda um experimento social, misturando agricultores europeus (maioritariamente açorianos, a maior parte analfabetos) com africanos locais, dando a ambos condições ímpares para o exercício da agricultura. O Eng. Trigo de Morais faleceria uns anos depois, sepultado junto à Barragem e consta que ainda hoje é respeitado por algum povo, pouco usual num país que ainda hoje rotineira e desportivamente demoniza tudo o que antecedeu a data mágica da tomada do poder pelos Libertadores. Naturalmente, o projecto desabou por completo quando a Frelimo tomou conta daquilo tudo em 1974. Posteriormente, houve tentativas de ali fazer alguma agricultura mas sem grandes sucessos. Entretanto a Vila ficou e hoje é uma municipalidade local de referência.

Parte do problema é que o Limpopo é um monstro caprichoso e difícil de controlar.

Ali perto, congeladas no tempo, estão umas palhotas onde os Machel viveram e onde penso que Samora nasceu no penúltimo dia de Setembro de 1933, uma espécie de museu ao ar livre (mas a família tem ao lado um considerávrel palacete à sul-africana que é onde ficam quando passam por lá), integrando a triangulação do chamado Frelimistão do Sul.

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30/07/2021

O COLONATO DO LIMPOPO, ANOS 60

Imagens retocadas.

Folheto do Colonato do Limpopo, um empreendimento mercurial da iniciativa do Eng. António Trigo de Morais, apadrinhado por Salazar. Depois de várias cambalhotas, os seus escombros ainda existem.

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07/09/2017

O BUSTO DO ENG TRIGO DE MORAIS NO LIMPOPO, ANOS 60

Fotografia gentilmente cedida por Ribeiro da Silva.

O Eng. António Trigo de Morais foi a força e a inspiração por detrás do enorme projecto social e agrícola do Colonato do Limpopo, que pretendia assegurar não só a autonomia alimentar de Moçambique mas ainda a exportação de produtos agrícolas e que assentava na irrigação de terrenos férteis na região do Limpopo, perto do rio com o mesmo nome, a partir de uma barragem que ali foi construída. No entanto, o projecto pretendia ir mais longe que a componente agrícola.

Para obter mais informação, ler aqui.

Para ler uma dissertação de 2015 de Manuel Henriques Matine sobre o projecto do Limpopo, ler aqui.

Ribeiro da Silva, então quadro do Rádio Clube de Moçambique, ao centro, com um amigo e Madalena Loução, hoje sua mulher há mais que cinquenta anos, em frente ao monumento em honra de Trigo de Morais, que foi e ainda está sepultado junto da Barragem do Limpopo em 1966. Foto dos anos 60.

07/10/2012

A VISITA DO PRESIDENTE HIGINO CRAVEIRO LOPES A MOÇAMBIQUE, 1956

Fotografias muito gentilmente enviadas por Paulo Azevedo e restauradas.

O Presidente português na altura era Francisco Higino Craveiro Lopes, casado com uma senhora de Lourenço Marques (D. Berta) e que participou na defesa de Moçambique contra os alemães da então África Oriental Alemã (a actual Tanzânia), com destaque para a zona junto da qual recentemente foram descobertos enormes jazigos de gás natural.

Na terminal do Aeroporto de Mavalane, aguarda-se a chegada da comitiva presidencial. Repare-se nos símbolos dos CFM no edifício.

O Presidente Craveiro Lopes à sua chegada a Moçambique, à esquerda na fotografia.

O Presidente e comitiva no outro lado da terminal do Aeroporto de Mavalane.

Locomotiva classe 300 dos Caminhos de Ferro de Moçambique que rebocou, na linha do Limpopo, a carruagem presidencial.

Francisco Duque Martinho, que viu estas fotografias, escreveu esta nota: “A título de curiosidade, identifico algumas pessoas nas fotos: na 5ª fotografia do lado direito (de quem olha para a foto) do Presidente está o Engº Trigo de Morais; na 9ª fotografia à esquerda do PCV está o Engº Pereira Leite, então Director dos CFM; na 10ª e última foto está do lado esquerdo o Engº Pereira Leite e do lado direito parece-me o Engº Stofell, na altura Director de Exploração dos Caminhos de Ferro da Beira. Já agora, a Brigada de Estudos, Reconhecimento e Contrução da Linha do Limpopo foi chefiada pelo meu Pai [Engº Duque Martinho]. Só a construção durou quase três anos. De acordo com documentos que tenho, a linha tinha 534 Kms até à fronteira em Pafuri e 565 na ex-Rodésia do Sul até Bulawayo. A Brigada de construção era constituída por 500 “europeus” e 5000 “indígenas”, tendo custado 860 mil contos.”

Presidente Craveiro Lopes e comitiva na ponte sobre a barragem do Limpopo. Segundo as minhas contas, nesta altura Samora Machel e a sua família residiam perto daqui.

Craveiro Lopes, momentos antes de entrar para o comboio com que foi inaugurada oficialmente a linha do Limpopo. Na imagem, Lord Malvern e o então Ministro do Ultramar.

Multidão que assistiu à chegada do comboio presidencial à Aldeia da Barragem, o ciclópico projecto social e agrícola do Eng. Trigo de Morais.

O comboio presidencial estacionado na Aldeia do Guijá.

Já na divisão da Beira, o Presidente recebe da parte do diretor dos C. F. M. explicações sobre os gráficos que lhe foram presentes.

O Presidente Craveiro Lopes verificando e solicitando esclarecimentos sobre os planos do Porto e Caminhos de Ferro da Beira.

19/02/2012

O ENG. ANTÓNIO TRIGO DE MORAIS E MOÇAMBIQUE

Trigo de Morais. A sua obra mais querida e estranha foi realizada em Moçambique, em Gaza, com o chamado Colonato do Limpopo, onde brancos e negros eram chamados "colonos" e viviam lado a lado nas mesmas circunstâncias. O alcance do Plano era gigantesco e mexeu com a zona e as pessoas, incluindo a família Machel, que nele viu mais um sinal de opressão colonial. Trigo de Morais, que morreu em Lisboa, quis ser e foi sepultado na Aldeia da Barragem. Os seus restos ainda lá estão.

Diz (texto editado por mim) uma página dedicada à sua memória na Wikipédia:

Nasceu em Samões, Vila Flor, Portugal, em 1895.

Formou-se em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico em 1918.

Desempenhou o cargo de engenheiro nos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, e foi professor na cadeira de Topografia e Construções no Instituto Superior de Agronomia.

Em 1921, partiu para Moçambique, para analisar os Rios Búzi e Limpopo, cujo estudos apresentou em 1925; em 16 de Junho do ano seguinte, apresentou, na Sociedade de Geografia de Lisboa, uma conferência sobre a hidrografia de Moçambique, onde introduziu uma proposta para o aproveitamento agrícola do Rio Limpopo. Por ordem de Manuel Moreira da Fonseca, então Governador-Geral de Moçambique, elaborou um estudo sobre o Vale deste rio, que foi, em 1927, recomendado pelo Conselho Superior de Obras Públicas e Minas.Este plano previa a construção de uma barragem a 23 quilómetros a montante de Guijá, o que permitira a irrigação de 29 mil hectares na margem direita, entre este distrito e Mianga; pela barragem, iria passar a planeada linha do caminho de ferro entre Lourenço Marques e a Rodésia.Foi nomeado, em 1933, como presidente da Junta Autónoma de Hidráulica Agrícola, e, em 1936, como director-geral do Fomento para o Ultramar.

Regressou, posteriormente, a Portugal, onde permaneceu durante cerca de 14 anos, tendo executado várias obras, proeminentemente na Ilha da Madeira. Em 1942, tornou-se membro da Câmara Corporativa, tendo permanecido nesta função até à sua morte.

Em 1946, levou a cabo uma missão de estudo sobre o Vale do Rio Cunene em Angola, tendo também planeado a Barragem de Matala; três anos depois, tornou-se Director-Geral dos Serviços Hidráulicos, e, em 1951, assumiu a posição de Subsecretário de Estado do Ultramar, durante a qual planeou o Primeiro Plano de Fomento para o Ultramar.

Em Outubro do mesmo ano de 1951, representou o Governo Português na assinatura de um contrato para o fornecimento de vagões para os Caminhos de Ferro de Moçambique. Foi, igualmente, presidente do Conselho Superior de Fomento Ultramarino do Ministério do Ultramar.

Em 1953, deixou o governo, sendo nomeado inspector-geral do Fomento de Ultramar, com a função de supervisionar as obras de irrigação nos vales dos rios Limpopo e Cunene, a construção das barragens de Matala e Biópio, em Angola, e a organização da Brigada Técnica de Fomento e Povoamento do Vale do Limpopo, cujo propósito era instituir um colonato com o mesmo nome; apesar das várias dificuldades técnicas e financeiras, conseguiu levar a bom termo estes empreendimentos.

Foi acompanhado, após a sua morte, no dia 15 de Março de 1966, na cidade de Lisboa, pelo presidente Américo Tomás e por António de Oliveira Salazar; os seus restos mortais foram, no dia 20 de Março, transportados para Lourenço Marques, em Moçambique, tendo sido, segundo a sua vontade, enterrados no cemitério da Aldeia da Barragem, no Colonato de Limpopo.

A cidade de Chokwé, em Gaza, tinha anteriormente o seu nome: Vila Trigo de Morais.

(nota: ver a nota do Francisco Duque Martinho em baixo, sobre o trabalho do seu pai).

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