THE DELAGOA BAY WORLD

11/07/2022

BERTINA LOPES, 1924-2012, UMA EVOCAÇÃO

Imagens retocadas.

Bertina Lopes (n. Lourenço Marques 11 de Julho de 1924, m. Roma 12 de Fevereiro de 2012) foi uma pintora de Moçambique. Viveu uma parte considerável da sua vida em Roma, onde faleceu, sendo que há quem a considere uma pintora italiana originária de Moçambique (ah ah ah). Segundo o sítio da Fundação Calouste Gulbenkian, editado, “natural de Lourenço Marques, a versão biográfica curta e sanitizada é que Bertina Lopes estudou na Escola Superior de Belas-Artes, em Lisboa, onde conviveu com diversos pintores portugueses, entre os quais Carlos Botelho e Marcelino Vespeira. Regressada a Lourenço Marques em 1953, ali residiu durante nove anos lecionando a disciplina de desenho, recebendo, em 1962, a primeira bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, que lhe permitiu estudar cerâmica em Lisboa, com o artista português Querubim Lapa. Dois anos depois, partiu para Roma, com nova bolsa da Fundação, para dar continuidade à sua formação artística. Aí fixou residência, realizando posteriormente exposições em Itália, Portugal, Luxemburgo, Espanha, Moçambique e Cabo Verde”

Mas a página dedicada à nossa conterrânea na Wikipédia, cujo texto original é quase lixo e que editei em baixo, é, mais detalhada e acutilante:

“Lopes nasceu em Lourenço Marques a 11 de julho de 1924. Filha de mãe africana, cuja família era conhecida localmente, e de pai português, que trabalhava no campo. O seu nome próprio uma adaptação do nome da mulher do médico que assistiu no seu nascimento em Lourenço Marques, Bertine.

Estudou em Lourenço Marques, mas após o segundo ano do ensino secundário, mudou-se para Lisboa para concluir o liceu, onde estudou pintura e desenhou com Lino António e Celestino Alves e se formou em pintura e escultura. Nessa altura, conheceu artistas como Marcelino Vespeira, Carlos Botelho, Albertina Mantua, Costa Pinheiro, Júlio Pomar e Nuno de Sampayo.

Em 1943, Lopes voltou a Moçambique, onde se casou com o poeta Diogo Virgílio de Lemos, com quem teve filhos gémeos. Durante nove anos, Lopes deu aulas de Desenho Artístico na Secção Feminina da Escola Técnica General Joaquim José Machado. Ali, Lopes era reconhecida pelo seu método de ensino inovador, todavia por diversas vezes entrou em conflito com a direção da escola.

Em 1955, o seu marido Virgílio publicou um poema anticolonial e como resultado foi levado a julgamento por profanação da bandeira portuguesa. Mais tarde, Lemos junta-se à Resistência Moçambicana (1954-61) e no âmbito das atividades deste grupo é preso por subversão. Todos estes eventos que aconteceram ao seu marido e que Lopes acompanhou acabaram por reforçar a sua simpatia pelas franjas mais fracas e oprimidas da população, algo que também ficou patente, por diversas vezes, na sua arte.

Em 1956, Lopes pintou um mural chamado “Pavilhão da Evocação Histórica”, que foi inaugurado por ocasião de uma visita oficial do General Craveiro Lopes, então Presidente da República Portuguesa, a Lourenço Marques[nota: a Wikipédia diz que quem visitou Moçambique foi Salazar, o que dispensa mais comentários]. Três anos depois, Lopes foi eleita vice-presidente da Direcção do Núcleo de Arte. Dada a sua proximidade com Virgilio Lemos e a eminente eclosão da guerra colonial, Lopes foi forçada a deixar Moçambique em 1961. Lopes viveu por um curto período de tempo em Lisboa, mudando-se mais tarde para Roma.

Pelo meio, divorciou Virgílio de Lemos, que foi viver para Paris e em 1964, com 40 anos de idade, casou-se com Francesco Confaloni, um engenheiro italiano de computação e um amante da arte. Ficaria a viver em Roma o resto da sua vida. Durante esses tempos, fez amizade com alguns dos protagonistas da cena artística italiana, como eram Marino Marini, Renato Guttuso, Carlo Levi e Antonio Scordia. Em 1965, Lopes adquire a nacionalidade italiana (perdendo automaticamente a nacionalidade portuguesa, como era a lei na altura). Em 1979, Lopes visitou Moçambique pela primeira vez desde a sua partida e, em 1982, a sua arte fez parte de uma grande exposição no Museu Nacional de Arte Moderna de Maputo. Em 1986, fez a sua primeira exposição retrospectiva no Palazzo Venezia, em Roma. Em 1993, recebeu o título de Comendadora de Arte pelo então Presidente da República de Portugal, o mercurial Mário Soares, em Lisboa. Em 1995, foi vencedora do Prémio Gabriele D’Annunzio em Roma e em 2002 foi homenageada pelo presidente italiano Carlo Azeglio Ciampi como reconhecimento das suas contribuições à arte.

A última aparição pública de Lopes foi na Bienal de Veneza em 2011 e em 2012, morreu em Roma, aos 86 anos.”

Folheto de Bertina, com um poema do Sr. José Craveirinha.
Exposição de Bertina Lopes na Galeria das Exposições Temporárias da sede da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, 27 de Outubro de 1972.
Adelina Lopes, irmã de Bertina, 1958.
Adelina, retratada por Bertina.
óleo de Bertina.
“Aqui enterrei a minha raiva”, 1998.
Verso de “aqui enterrei a minha raiva”, 1998.

Site no WordPress.com.