Desavergonhada mas autorizadamente copiado do Nuno Castelo-Branco, que habita o blogue Estado Sentido. A foto foi restaurada por mim
Quem souber os nomes dos heróis não identificados, por favor envie uma nota para aqui.
Jovens envergando a farda da Mocidade Portuguesa posam numas escadas no Liceu Salazar em Lourenço Marques, 1953. Rui, o primo da Mãe do Nuno, é o segundo a contar da esquerda na primeira fila. Otelo Saraiva de Carvalho, um dos principais arquitectos do pronunciamento militar ocorrido em Abril de 1974 e mais tarde envolvido naquilo dos FP-25 de Abril, e que é de Moçambique, é o jovem a meio da segunda fila com cara de Charlot.
O que o Nuno escreveu há dois dias (a 9 de Maio de 2013):
Poucos seriam donos de casas, fábricas, fazendas e outras mirabolantes propriedades que excitaram as imaginativas e revolucionárias cabecinhas que há quatro décadas envenenaram o semi-analfabeto meio mundo da Metrópole. Ao contrário de uma mão cheia de abastados “almeidassantos”, em Moçambique predominavam os Velhos Colonos brancos nine to five, aqueles que após um dia de trabalho por conta de outrem, regressavam às suas arrendadas residências. Quando em vez de um Mandela nos saiu na rifa um Samora por entre apertos de mão, tonitruante vivório, abraços e saúdes protagonizadas por gente completamente indiferente ao destino e direitos dos seus compatriotas, estes resignaram-se a salvar as suas anónimas vidas, refugiando-se em Portugal continental e nas mais desvairadas paragens deste mundo.
Pouco ou quase nada trouxeram consigo. Enquanto alguns conseguiram empacotar os tarecos da casa, outros vieram com uma mala cheia de roupas de verão e as preciosas recordações de várias gerações de luso-africanos, cuja memória conservavam em dúzias de fotos. Aqui está mais um desses destroços do Império, dessa nau que jamais vencida em combate, foi deliberadamente afundada pelo capricho e interesse egoísta de uns tantos tripulantes.
Um grupo de rapazes …”levados, levados sim!, pela voz”, com o uniforme da Mocidade Portuguesa. Após aquele período obrigatório que ia até ao Secundário, os jovens podiam prosseguir a sua carreira na M.P. e esta foto é demonstrativa disso mesmo. Iam subindo de escalão, recebiam novos uniformes e distintivos, eram promovidos. Tratava-se de …”rasgões, clareiras, abrindo”, de uma opção, de um …”querer, querer e lá vamos”.
De todos eles, apenas reconheço dois: da esquerda para a direita, o segundo na primeira fila é o Rui, primo direito da minha mãe. No degrau acima, o segundo rapaz uniformizado para uma das actividades coordenadas pela M.P. no Liceu Salazar, chama-se Otelo Saraiva de Carvalho. O Rui, o primo dele – o Jorge, irmão da minha mãe -, o Vítor – meu pai – e o Otelo, eram colegas naquele grande liceu da capital de Moçambique. Ao sábado de manhã, a cidade via passar os adolescentes uniformizados e que compareciam às múltiplas actividades patrocinadas pela M.P.: taxidermia, pintura, escultura, teatro de fantoches, aeromodelismo, ginástica, equitação, canoagem etc. É sabido que as modalidades tinham início após a concentração nos grandes pátios dos estabelecimentos de ensino e talvez existam algumas fotos da saudação à bandeira, onde as celebridades de hoje, não hesitavam em cumprir um ritual parecido com outro que além fronteiras, marcou uma época: clop!
As velhas caixas e os albuns cheios de fotografias amarelecidas pelo tempo, são um alfobre de testemunhos da nossa história, autênticas arcas de tesourinhos nada deprimentes. Foi o que aqui trouxemos, um tesourinho ainda bem reconhecível. Com alguma sorte e talvez recorrendo a uns dias para vasculhar na poeira, talvez seja possível descobrirmos outras preciosidades há muito esquecidas.
– “Ó Otelo, pá, tás cheio de sorte, pá, não mudaste muito de feições, ò pá!”(fim)