THE DELAGOA BAY WORLD

07/01/2024

CUPÃO DA EMPRESA TRAMWAYS ELÉCTRICOS DE LOURENÇO MARQUES

Imagem retocada.

Cupão (“coupon”) de cinco centavos, que faz a vez de um bilhete no mesmo valor, da Tramways Eléctricos de Lourenço Marques (TELM). A TELM foi mais uma concessão de uma das Delagoa Bays e operou linhas de carros eléctricos sobre carris na Cidade durante umas décadas, até ser substituída pelas carreiras de machimbombo.

Segundo parte de um texto de Carlos Oliveira, a TELM operou entre 15 de Fevereiro de 1904 e 24 de Novembro de 1936:

(início)

… é apenas em 1903 que se realizam os trabalhos de assentamento de via (métrica), instalação da rede aérea (550V Corrente Contínua), construção da Estação Geradora de Energia Elétrica (875kW, a qual passa também a abastecer o Porto e os Caminhos de Ferro), etc., sob a égide da recém-criada, em Londres, The Delagoa Bay Development Corporation Limited. No final desse ano são feitas as primeiras experiências com os carros. Estes são fabricados também em Inglaterra, por G. F. Milnes e, à semelhança de outras encomendas feitas para redes de países com forte influência britânica, alguns são construídos com dois andares, sendo o superior descoberto e destinados aos passageiros africanos e asiáticos. Porém, não há registo desta configuração ter sido usada em Lourenço Marques.

Os carris da ETLM na Rua Consiglieri Pedroso, ao pé da Primeira Esquadra e do BNU, meados da década de 1920. Postal da colecção Santos Rufino.

A inauguração do sistema ocorre em 15 de fevereiro de 1904 – e o serviço regular de passageiros começa às 7h00 da manhã do dia seguinte. Neste dia são vendidos 7000 bilhetes nos 5 carros que circulam ininterruptamente durante todo o dia, até à meia-noite. «Apesar do enorme movimento na cidade baixa, principalmente à noite e de todos se quererem aproveitar dos carros onde à tarde se tornava difícil o ingresso, não houve o mais pequeno incidente, sendo para louvar o serviço do pessoal que o dirige.», escreveu o jornal O Futuro na sua edição de 20 de fevereiro.

Os carris e um carro eléctrico da ETLM na Praça Mac-Mahon (anteriormente Praça Azeredo e hoje dos Trabalhadores), meados da década de 1920. Postal da colecção Santos Rufino.

Mas se o primeiro dia de funcionamento dos elétricos em Lourenço Marques é um êxito, o mesmo não se pode dizer dos que se seguiram: não há horários estabelecidos para as carreiras o que, aos evidentes incómodos da incerteza à espera da vinda de um carro – «Esperámos três quartos de hora pelo carro do Quartel [no Alto Maé]. Oh! Os tramways… os tramados!», refere um jornal -, se somam os inconvenientes de a rede ser em via única, isto é, na mesma linha circularem carros elétricos nos dois sentidos. Apesar de haver cruzamentos colocados mais ou menos estrategicamente, demasiadas vezes há em que dois carros se encontram, frente a frente, tendo um deles de recuar centenas de metros até ao cruzamento mais próximo; uma das linhas, entre a Estação dos Caminhos de Ferro e a Câmara Municipal, no final da av. D. Carlos (posteriormente da República e actualmente 25 de Setembro), deixa de ter circulação aos domingos logo na primeira semana de funcionamento… e acaba por terminar muito pouco tempo depois, sendo os carris levantados pouco mais de um ano após terem sido colocados; outra carreira, entre a Capitania do Porto e a Praça de Touros, no Alto-Maé, tem o seu terminus recuado dois quarteirões… só passando a ser completado o trajecto depois de muitos protestos; e, por último, de forma subtil mas bem presente, a existência, nos utentes dos tramways, de uma boa dose de orgulho nacionalista e a sua consequente contrapartida xenófoba – não seja a companhia dos elétricos inglesa e ingleses os guarda-freios, os quais, inúmeras vezes, são acusados de trabalharem em evidente estado de embriaguês e, pasme-se,… em mangas de camisa !

(fim)

Os carris da ETLM na Avenida 24 de Julho (anteriormente, Av. Francisco Costa), meados da década de 1920. Postal da colecção Santos Rufino.

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