E pouco depois, criou-se a cerveja Laurentina.
Fonte: Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, Out-Dez de 1933, p. 45.
E pouco depois, criou-se a cerveja Laurentina.
Fonte: Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, Out-Dez de 1933, p. 45.
A Cerveja Laurentina traça as suas origens à Fábrica Vitória, propriedade do empresário grego radicado em Lourenço Marquers, George Cretikos. Em 1916, detectando a falta de gêlo para manter fresco o peixe e para alimentar as geleiras de Lourenço Marques, Cretikos abriu na parte poente da cidade uma fábrica de gêlo e de água mineral, denominada Victoria Cold Storage and Ice Factory, Ltd (ver o nome neste blogue no índice sob “empresas”).
Nascida em 1932, a Cerveja Laurentina presta homenagem ao nome original da actual capital de Moçambique – Lourenço Marques – cujos naturais eram chamados Laurentinos (alternativamente, “Coca Colas”. Sobre este tópico, ver neste blogue quando a Coca-Cola foi introduzida em Moçambique e por quem).
Primeiro produzida na baixa de Lourenço Marques pelas Fábricas Reunidas (resultante da fusão entre a Fábrica Vitória e creio que Nacional) desde há alguns anos que é produzida pela empresa de Moçambique Cervejas de Moçambique (detida pela gigante SAB Miller, por sua vez resultante da privatização da SOGER, a entidade que se seguiu ao confisco da Reunidas na altura da Independência, para as mãos da BGI-Castel) e voltou à concorrência acérrima em relação à outra grande marca de cerveja da área de Maputo, a também detidfa pela SAB Miller 2M (que vem de Mac-Mahon, o presidente francês que em 24 de Julho de 1875 decidiu que o Sul de Moçambique pertencia a Portugal, data que até à Independência era o feriado municipal da capital moçambicana) e a Manica, cerveja tradicionalmente dominante no centro do país.
Enquanto marca, a Laurentina teve um destino curioso, pois após a proclamação da Independência de Moçambique em meados de 1975, foi produzida durante alguns anos uma cerveja com a mesma designação e imagem mas fora de Moçambique (África do Sul e Alemanha). Miguel Buccellato, do grande clã Buccellato de Lourenço Marques, contou a história em 2004:
“Com a guerra e a pobreza [após a Independência] o diagrama de fabrico foi desrespeitado e foram utilizadas matérias primas fora do espectro água, malte e lúpulo, sendo que a própria água já não seria a mesma. Esta situação manteve-se até há alguns anos atrás em que acabou por desaparecer.
Ao mesmo tempo, dois empresários em partes diferentes do mundo acharam que a Laurentina ainda tinha futuro e (um em Portugal e outro na África do Sul) e registaram a marca em seu nome. Para que se saiba, nunca antes ninguém (nem mesmo a Reunidas) se tinha sequer lembrado de a registar.
Em 1994 a marca foi registada em Portugal pelo meu pai, sendo que foi lançada no mercado nacional em Agosto de 1995. Na altura, depois de se ter apresentado o projecto a várias cervejeiras nacionais e internacionais, finalmente se encontrou o parceiro certo, a Karlsberg Brauerei em Homburg na Alemanha. Também por isso, a Laurentina respeitava a Lei da Pureza, que significa ser produzida apenas a partir de água, malte e lúpulo. O canal de vendas em que se apostou foi na moderna distribuição e esteve presente em todas as cadeias relevantes (Continente, Carrefour, Jumbo, Pingo Doce, etc). Pelo seu posicionamento como um produto de qualidade e preço superior, as vendas correram muito bem nos primeiros dois anos, tendo também sido exportada para a África do Sul, onde ainda não estava registada. Ao longo do tempo, e por falta de investimento publicitário, as vendas foram decaindo até chegarem a um ponto que não era compensatório para a empresa. E em Maio de 2001, beberam-se as últimas Laurentinas.
No final da década de 1990, a marca foi, como já disse, registada na África do Sul por Giorgio Pagan e começou a ser produzida pela South African Breweries (que está entre as cinco maiores cervejeiras do mundo). Esta situação manteve-se durante algum tempo tendo até inclusivé sido exportada cerveja para Moçambique. Há cerca de um ano [2003] recebemos duas ou três garrafas de amostra, para testar uma eventual reentrada da Laurentina no mercado nacional. Só que aí o problema mantinha-se, o preço continuava elevado (ainda mais caro do que produzir na Alemanha) e a qualidade não “chegava aos calcanhares” da nossa Laurentina. Hoje sei que a South African Breweries comprou a marca e que a Guiness comprou a SAB e que, portanto, qualquer dia temos um “Gigante” a pegar outra vez na Laurentina cá em Portugal e aí tenho a certeza que pode ganhar uma importante quota de mercado. Posso também dizer que a Laurentina que foi vendida cá, embora fabricada na Alemanha, tinha exactamente o mesmo diagrama de fabrico que era utilizado nos seus anos de ouro em Moçambique, pois o meu bisavô foi Presidente das Fábricas Reunidas.”
Para minha surpresa (uma surpresa feliz, atalhe-se) mão amiga enviou-me uma ligação para esta autêntica relíquia de arqueologia industrial moçambicana, que está à venda esta semana, e em que o patrão vendedor de uma genuína garrafa da bebida Lemon Squash (hum, será que é um moçambecano?) faz referência à Fábrica Victoria do saudoso Sr. Cretikos, onde a bebida foi feita em tempos.
A referida garrafa está à venda em Lisboa nos próximos dias via o sítio Ebay e pode ser comprada registando-se naquele sítio e licitando aqui.