THE DELAGOA BAY WORLD

03/06/2021

O MINISTRO VASCO LOPES ALVES VISTA A COMPANHIA VIDREIRA DE MOÇAMBIQUE EM LOURENÇO MARQUES, 1959

Imagem retocada, de Manuel Martins Gomes. Grato à sua filha Zé, que a disponibilizou em memória do seu Pai, cujo espólio fotográfico está pacientemente a começar a analisar e a constituir num registo fotográfico.

Imagem da visita que o então Ministro do Ultramar português, Vasco Lopes Alves (neste cargo entre 14 de Agosto de 1958- 13 de Abril de 1961, sendo sucedido por Adriano Moreira) fez à Companhia Vidreira de Moçambique, em Lourenço Marques, 1959, onde Manuel Gomes exercia funções de gestor.

O ministro do Ultramar recebido na Cia. Vidreira de Moçambique. Veja a mesma imagem, indexada.

Das 16 pessoas, identifico (9) Manuel Martins Gomes e (6) o Ministro do Ultramar, Vasco Lopes Alves. Penso que (4) é o Capitão Simões Vaz mas não tenho a certeza. Se. o Exmo. Leitor conhecer alguém nesta fotografia, por favor mande uma mensagem para este blogue.

23/05/2021

MANUEL MARTINS GOMES: SINOPSE DE UMA VIDA

Grato a M J Gomes, filha de Manuel Martins Gomes, pelos dados e imagens que ilustram este esboço biográfico, bem como todas as excelentes imagens que podem ser vistas premindo no seu nome no índice deste blogue.

Manuel Martins Gomes nasceu no dia 4 de Junho de 1920, em Murça, no Norte de Portugal, o quinto de onze irmãos, em que 4 irmãos eram mais velhos e seis meio-irmãos mais novos. Foi um acaso nascer naquela localidade, já que todos os seus irmãos nasceram e nasceriam no Brasil e em Angola. Com apenas um mês de idade, a Família veio viver para Lisboa. Ali morou o jovem Manuel durante a sua infância e adolescência, numa casa na Avenida da República. Por algumas questões familiares, o jovem Manuel não completou o liceu e começou a trabalhar logo a seguir a deixar a escola, o que na altura não era incomum.

Ali assistiu ao fim da I República, à Ditadura e ao nascer do Estado Novo.

Autodidacta notório, aprendeu tudo a fazer. E aprendeu a falar inglês e francês sózinho.

Em 1939, a II Guerra Mundial prestes a eclodir, então com 19 anos de idade, Manuel começou a trabalhar como escriturário na firma Manuel Pereira Júnior, agentes de navegação e transitários, tendo, em meados de 1940 sido colocado nos serviços de Trânsitos Internacionais em ligação directa com os transitários suíços Jacky, Maeder & C.º e H. Ritschard, Lda. para os contactos consulares, licenciamento e obtenção de praças nas Companhias e Agências de Navegação.

Finda a II Guerra Mundial e não se justificando a existência daquele departamento e a representação das firmas citadas, foi transferido para o expediente geral da firma, a qual naquela altura atravessava uma tremenda crise.

Este facto deu origem a ter que procurar trabalho noutra empresa que lhe desse melhores garantias para o futuro. Assim, em Maio de 1946, passou a desempenhar as funções de Inspector de Vendas da fábrica de bolachas e chocolates A Favorita Ltda., em Lisboa.

Nota de despesa do depósito da Favorita no Porto, anos 30-40.

A partir de 1949 iniciou a prospecção e estudo dos mercados de Angola e Moçambique para aquela indústria alimentar, procedendo à nomeação de agentes e nos anos seguintes o seu controlo, apoio e correcções.

Em fins de 1957, já com 37 anos de idade, foi convidado para ir trabalhar em Moçambique como Director da Companhia Vidreira de Moçambique, convite feito pelos membros de Conselho de Administração daquela Companhia que também o eram na Sociedade Central de Cervejas (SCC).

A Praça Mouzinho em Lourenço Marques, à noite.

Já em Lourenço Marques, tomou posse na Companhia Vidreira em Junho de 1958.

No interior da Companhia Vidreira de Moçambique, cerca de 1965 (foto MMG).

Quando em 1960 a Companhia de Iniciativas Económicas de Moçambique, SARL – constituída quase na totalidade por pessoas ou sociedades ligadas à SCC – adquiriu a posição de F. Dicca, Lda. (50%) nas Fábricas de Cerveja Reunidas de Moçambique, Ltd, foi convidado para ser Director da Distribuidora, Lda., sociedade esta que procedia à distribuição e venda dos produtos SCC para todo o território de Moçambique assim como à exportação.

O produto-estrela da Distribuidora, a cerveja Laurentina.

Aceite o convite, desempenhou o cargo durante o primeiro ano em acumulação com o de director da Companhia Vidreira, situação que não se podia prolongar por muito mais tempo devido ao facto de nessa altura estar-se a iniciar a reestruturação da Distribuidora.

Com a constituição em Outubro de 1973 da “holding” SOGERE – Sociedade Geral de Cervejas e Refrigerantes – na realidade a fusão das Fábricas de Cerveja Reunidas e da Companhia de Cervejas e Refrigerantes Mac- Mahon, passou a ser Vogal do Conselho de Administração da Mac-Mahon Comercial, Ltda., cumulativamente com o cargo de Director.

Manuel na sala de visitas da sua casa em Lourenço Marques, segunda metade da década de 1960 (foto MMG).

A Mac-Mahon Comercial tinha funções idênticas às da antiga Distribuidora, com a qual aliás concorre, e da mesma maneira procede à distribuição e venda da gama de produtos que eram engarrafados anteriormente pela Companhia de Cervejas e Refrigerantes Mac-Mahon, para todo o território de Moçambique.

Da esquerda: Manuel, Martins Gomes; o empresário Carlos Martins (que entre outros negócios construiu e liderou a seguradora Nauticus, incluindo a construção do Prédio Nauticus na Baixa de Lourenço Marques e partiipou na criação da Canada Dry em Moçambique), penso que o filho do lendário empresário grego Manuel Cretikos e mais um executivo cujos nome ainda tenho que descobrir (foto MMG).

Tendo Lourenço Marques como sua base, e usufruindo dos frutos do seu sucesso, Manuel viajou por todo o mundo, visitando países nas Américas, na Europa, Ásia, Austrália.

A Baixa de Lisboa, 1970 (foto MMG).
Praia na Cidade do Rio de Janeiro, 1960 (foto MMG) .
Manuel em frente ao Parténon, Atenas, Grécia, meados dos anos 60 (foto MMG) .

A Ilha de Manhattan vista de Brooklynn, Estados Unidos da América (foto MMG) .
Algures entre a Austrália e Timor, anos 60 (foto MMG) . Manuel visitou ambas.

Tendo ainda um refinado gosto pelas artes, as letras e a fotografia, na Cidade, culto, convivial e bom conversador, convivia com muita gente, incluindo alguma da elite económica e cultural da Cidade, que incluiu nomes tais como Maluda, Cargaleiro, João Ayres, Maria João Seixas, João Raposo Magalhães (Jana), as famílias Salema, Rocheta, Noronha, Corsini, Benini, Dieckman, Lynar, Barbosa, Buldini, Cunha, Levi, Palma Sequeira, Claro, Simões de Almeida, etc.

Maluda, fotografada por Manuel, anos 60 (foto MMG) .

Manuel, pintura de Maluda, 1 de 2 (foto MJG) .

Manuel, pintura de Maluda, 2 de 2 (foto MJG) .

Em meados de Janeiro de 1974, casou em Lourenço Marques, com uma jovem de 27 anos que conhecera num cruzeiro no México e por quem se apaixonara.

Entretanto, em final de Abril de 1974, ocorre um golpe de Estado militar em Portugal e, uns meses depois, é assinado na Zâmbia um acordo entre o Estado português e a Frente de Libertação para a independência do então Estado de Moçambique, para dali a nove meses, com a tomada de posse imediata de um governo controlado pela Frente. Entretanto, a sua jovem mulher, já grávida, viajou para Lisboa em Agosto, tendo a sua filha Maria José nascido na capital portuguesa em meados de Outubro desse ano.

Uma das formalidades da nova dispensação política foi despachar a estatuária colonial da Cidade. Definitivamente, a parte mais fácil, seguida pelo desmantelamento da economia herdada.

A esquina da Rua Princesa Patrícia com a Avenida Pinheiro Chagas, início de 1975. Em frente a antiga residência do Director do Hospital Miguel Bombarda e à esquerda o edifício dos Serviços de Saúde. Note o exmo. Leitor a pintura alusiva às Forças Populares de Libertação de Moçambique, que estavam a tomar conta da Cidade. À direita, o jacarandá mais bonito da Pinheiro Chagas.

Em princípio de 1975, ainda em Lourenço Marques, Manuel Gomes foi nomeado administrador da SOGERE, cargo que desempenhou, como os outros, até Outubro daquele ano, altura em que, a Frelimo a entrar em força para tomar de assalto o país, nomeadamente intervencionando todas as empresas, decidiu renunciar aos seus mandatos e deixou Moçambique, viajando para Portugal, efectivamente recomeçando a sua vida aos 55 anos de idade.

Võo Lourenço Marques-Lisboa, one way, 1975, serviço na altura assegurado pelos Boeing 747 da TAP. Bie bie Moçambique.

Como muitos na mesma situação, não se queixou: fez pela vida, num Portugal ainda em fase “revolucionária” que só estabilizaria em 1976.

Já em Lisboa, por despacho do Primeiro Ministro de 31 de Maio de 1977, foi nomeado membro da Comissão Administrativa das Fábricas Cergal, Copeja e Imperial, lugar este preenchido até 31 de Dezembro de 1977, data em que, ao abrigo do disposto no n.º 2 do artigo 6.º dos Estatutos da Centralcer – Central de Cervejas E.P., foram nomeados os membros do Conselho de Gerência da referida empresa.

Em 19 de Abril de 1978, tomou posse como vogal do novo Conselho de Gerência da Rodoviária Nacional.

Passou ainda pela Cive – Companhia de Indústria Vidreira, pela Finangeste e pela Cimobim. Na Finangeste administrou o Cinema Império, o Palácio do Correio Mor e a Quinta da Fonte Santa (a quinta de férias da Casa do Pessoal do Banco de Portugal), e na Cimobim, como administrador do Centro Comercial Fonte Nova em Lisboa.

Após o que se reformou.

Terá dito que os 18 anos em que viveu em Lourenço Marques foram dos mais felizes da sua vida.

Faleceu em Lisboa há treze anos, em 11 de Maio de 2008, com 88 anos de idade.

E esta era a sua canção favorita:

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