THE DELAGOA BAY WORLD

29/04/2024

O VARIETÁ, O CINEMA DICCA E O ESTÚDIO 222 EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 70

Imagens retocadas.

O Dicca/Estúdio 222 foram construídos no mesmo terreno onde duante décadas esteve implantado o Teatro Varietá, que foi demolida cerca de 1967.

A fachada do Varietá na Rua Araújo, anos 60. À esquerda, uma viela que separava o cinema da então Universidade de Lourenço Marques, que passou a ser a Travessa do Varietá, em memória do venerando edifício. Também no lado esquerdo do Varietá funcionou durante alguns anos o Dancing Aquário, que com a demolição mudou de local.
O Dicca a Estúdio 222, cujas fachadas passaram para a Travessa do Varietá, ficando ainda um terreno livre na confrontação com a Rua Araújo, em mais um esquema imobiliário da altura que a Libertação deve ter estragado.
Bilhete de ingresso no Dicca, imagem de Rosália Manuel, retocada.
Bilhete de ingresso no Estúdio 222, imagem de Rosália Manuel, retocada.

12/02/2024

BARRABÁS E A DEMOLIÇÃO DO TEATRO VARIETÁ EM LOURENÇO MARQUES, 1967

Imagem retocada, da colecção de Suzana Abreu Barros, gentilmente cedida.

Esta história nem inventada.

No meu outro blogue, sobre desporto em Moçambique, num serão no passado fim de semana, tinha eu acabado de digitalizar um recorte de 21 de Abril de 1967 àcerca de umas provas de natação em Lourenço Marques, que faziam parte de um espesso maço emprestado pela nadadora Suzana Abreu (que o tinha recuperado há umas semanas dum caixote na sua arrecadação enquanto fazia umas limpezas).

Por mero acaso, virei o velho recorte (de há 57 anos), e, no verso reparei na foto que se vê em baixo, noticiando a demolição do então velho Teatro Varietá, na Rua Araújo (hoje de Bagamoyo).

O Varietá já meio demolido, Abril de 1967, foto tirada do edifício da Estatística ali ao lado. Já sem telhado, ainda se pode ver a parte da frente dos camarotes que ladeavam a sala e as paredes decoradas a Poente. Do lado direito, em frente à Rua Araújo, ficava a fachada frontal do edifício.

Até à sua demolição em meados de 1967, apesar da tenra idade (nasci em 1960), frequentei o venerando Teatro Varietá várias vezes. Na minha memória, era enorme, com uma decoração muito clássica, uma geografia esquisita (para ir ao quarto de banho perdia-me, por exemplo), muito escuro, mesmo quando tinha as luzes acesas, e no verão era um forno, pois não tinha ar-condicionado.

E lembro-me do último filme que ali assisti, por não ter percebido metade da história mas por ter ficado algo traumatizado pela sua considerável violência: o clássico Barrabás (em inglês, Barabbas, 1961, com Anthony Quinn). Na altura não percebi metade da história (ainda por cima o filme dura duas horas e um quarto) mas, para quem andou na catequese e prestou alguma atenção às matérias (que não era o meu caso), Barrabás era um pulha ladrão que por acaso vai dentro numa Jerusalém ocupada pelos romanos, precisamente na mesma altura que decorria a prisão e julgamento de Jesus Cristo. Basicamente ele é solto, enquanto Cristo é condenado, e depois, segue-se toda uma série de peripécias, retiradas não da Bíblia mas de uma novela redigida pelo escritor sueco Par Lagerkvist.

Enfim.

Nunca mais vi o filme, pois nos anos 60 levei com uma overdose de filmes épicos bíblicos que deu para duas vidas.

Entretanto o Varietá vai à vida em 1967 e é substituído pelo Dicca e o Estúdio 222. A seguir a Frelimo de braço no ar toma conta de Moçambique, eu saio de (ainda) Lourenço Marques, passam-se décadas de susto e depois das guerras e da re-distribuição do que havia e que havia antes sido nacionalizado, veio o empresário/político/artista Gilberto Mendes que, não sei bem como, ficou com aquilo e hoje está lá o que resta do Dicca que se chama Teatro Gilberto Mendes e que faz algum teatro (hoje só com a venda o terreno o Gilberto não tem que trabalhar outro dia na vida e penso que é o que vai acabar por acontecer). Enfim, digamos que é o progresso. Estas coisas acontecem.

Voltando à actualidade, depois de digitalizar a foto do recorte da Suzana em cima, fui para a cama, onde queria ver uns documentários no Youtube sobre as perpétuas peripécias do Trump, que são tantas que eu tenho que as seguir atentamente para não me perder. No computador portátil, ligo o Youtube, que me leva a uma página com os canais que costumo ver e com “sugestões”.

E o que é que me aparece na primera página? Um vídeo completo de “Barrabás”, o filme que eu vira no Varietá.

Totalmente inacreditável.

E que coloco aqui se o exmo. Leitor quiser ver.

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