Imagem retocada e colorida.
24/09/2023
31/08/2021
CARREGADORES DA ANGÓNIA, INÍCIO DO SÉC. XX
Imagem retocada.
A folha em inglês da Wikipédia contém esta verdadeira pérola sobre a Angónia, que me dei à maçada de traduzir (e que inexiste na versão em língua portuguesa, o que é um mistério):
“O nome Angónia significa “Terra dos Angóni”. Angoni é o plural de Ngoni/Nguni, povos da África do Sul que após a desintegração do Império Zulu no século XIX invadiram [violentamente]a região. A língua falada no distrito é Chichewa, embora outros a chamem de Chingoni. Chichewa parece mais provável porque quando os Nguni chegaram à região já havia pessoas lá chamadas Achewa. Os Nguni mataram os homens Achewa e “casaram-se” com as mulheres Achewa. Como os seus filhos passavam a maior parte do tempo com as mães, acabaram por aprender a língua das suas mães (Chichewa) e não a língua dos seus pais, uma vez que os pais estavam fora a caçar ou a lutar.”
Recordo que Gungunhana era o chefe dos Nguni.
16/08/2021
GUNGUNHANA NÃO POSA PARA LOUIS HILY, JANEIRO DE 1896
Imagem retocada. Muito grato a EMG que me escreveu a explicar.
Havia aqui qualquer coisa que não batia certo. Alguém escreveu que esta foto foi captada pelo Louis Hily na cabana onde o régulo foi preso pouco depois do Natal de 1895 pela expedição do major Mousinho.
Ora, que eu saiba, Louis Hily, um fotógrafo de referência de Lourenço Marques, não participou na expedição, que resultou de uma “vibe súbita” de Mousinho no dia de Natal de 1895 e que, aliás, tinha ordens expressas e muito específicas de António Ennes para, estritamente, assegurar o statu quo à data da sua partida de Lourenço Marques para Lisboa, considerando terminada a sua missão enquanto Comissário Régio de Moçambique.
Ou seja, a ideia de Ennes era que Gungunhana fosse deixado em paz,o que, tendo em conta tudo o que aconteceu depois, não é de descurar.
Mousinho estava fora de Lourenço Marques quando tomou essa súbita decisão, a todos os títulos quase suicida, supostamente ele e os seus adjuntos no mato, meio com os copos. Não conheço nenhuma fotografia tirada no local e no dia da detenção do então já mais que marginalizado régulo – mas ainda com forças mais do que suficientes para dar cabo da pequena equipa que apareceu no kraal, Mousinho incluído.
Após a detenção, Gungunhana foi levado para Lourenço Marques.
onde, supostamente, Hily teria captado esta imagem.
De seguida Mousinho mandou-o de barco para Lisboa. Ennes, digamos que pouco menos que satisfeito à primeira, soube do que se tinha passado por mensagem de telégrafo enquanto em trânsito para Lisboa.
Galvanizada pela demonização do Ngunis e principalmente pelo empolgar da figura do seu líder, que levara a cabo uma perigosa dança militar e diplomática que eventualmente perderia, apesar das manobras de Cecil Rhodes, a detenção foi acolhida apoteoticamente pelos portugueses, especialmente pela sua elite – e pela maior parte das tribos avassaladas aos Nguni, especialmente os Chope, que Gungunhana literalmente pareceu querer exterminar fisicamente.
Temporariamente, o Sul estava “pacificado”. Faltava o Norte, que levaria muito mais tempo e esforço.
Só que, malgrado as parecenças, este senhor não é o Rei Nguni. Segundo Patrick Harries, um antropólogo, trata-se de Ntchoungi, um sub-chefe Khosa. A foto foi incluída na primeira monografia de Junod. O original da mesma esterá nos arquivos da Missão Suíça em Lausanne, na Confederação Suíça.
22/09/2018
16/09/2018
20/07/2018
17/04/2018
O KRAAL DE GUNGUNHANA EM MANGUANHANA, ESTUDADO POR FRANCISCO TOSCANO
O Ilustrado, 1 de Novembro de 1933, Nº15, página 306.
Ora eis uma excelente ideia para o turismo moçambicano: a reconstituição deste local.
(Nota oportuna do Exmo Leitor Fernando Silva Morgado, editada: “Francisco Toscano nasceu em 1873 e faleceu em 1943 (as datas de dia e meses destes eventos não consegui apurar). Combatente sob as ordens do capitão Mouzinho de Albuquerque, acabou por ser o seu biógrafo, em África, sendo um dos dois autores do livro “A Derrocada do Império Vátua” e “Mouzinho de Albuquerque”, editado pela Editora Portugal Ultramar, Ldª., salvo erro em 1930, obras de que um dos exemplares faz parte da minha pequeníssima biblioteca, e que pessoalmente considero, mesmo com bastante exagero, como a minha “Bíblia”.
Depois de terminada a campanha fixou-se em Moçambique, ocupou diversos lugares nos Serviços de Administração Civil tendo chegado a ser o Administrador da Circunscrição dos Muchopes em 1928.)
16/09/2017
ZIXAXA E GUNGUNHANA NA ILHA TERCEIRA, AÇORES, INÍCIO DO SÉC.XX
Roberto Zixaxa foi um dos apoiantes de Gungunhana (nota: outros registos indicam-no como sobrinho ou mesmo filho, o que não é factual) o monarca que reinou sobre os Nguni e que exercia um domínio feroz sobre um conjunto de tribos no que é hoje o Sul de Moçambique entre 1884 e 1895, quando foi derrubado num conjunto de acções militares portuguesas que efectivamente deram início ao colonialismo português naquele território.
Na altura, Gungunhana e três outros líderes foram presos e exilados na Ilha açoreana da Terceira. Zixaxa era um dos três. Em Moçambique, outros familiares de Gungunhana fugiram para o que é hoje a África do Sul.
Zixaxa, cujo nome realmente era Mamatibejana, ou Nuamantibiane, liderava uma pequena tribo localizada perto da então pindérica Lourenço Marques e que era tributária de Gungunhana. Foi ele quem instigou e liderou dois ataques a Lourenço Marques, em 14 de Outubro de 1894 e 7 de Janeiro de 1895. Ambos ataques foram repelidos pelos locais com dificuldade e mortes para ambos os lados.
Foi principalmente pela ameaça constituída por Zixaxa e na sequência destes ataques que Portugal, com grande custo (o país estava literalmente falido) enviou uma expedição militar para proteger a pequena cidade e “pacificar” a região.
Da Wikipédia retirei as seguintes inscrições (editado):
Roberto foi feito prisioneiro por Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque no território de Chaimite, aldeia sagrada dos nguni, no dia 28 de Dezembro de 1895 juntamente com Ngungunhane, e as esposas deste. Neste acontecimento foram feitos também prisioneiros os irmãos de Roberto, António da Silva Pratas Godide e José Frederico Molungo.
Em 6 de Janeiro de 1896, foram entregues aos cuidado do então Governador Geral de Moçambique, tendo seguidamente sido mandados a bordo do navio “África”, em que embarcaram no dia 12 de Janeiro para a Metrópole, tendo chegado a Lisboa no dia 13 de Março tendo sido de imediato alojados no Forte de Monsanto.
Foram mandados para a ilha Terceira, Açores, no dia 22 de Junho a bordo da canhoeira “Zambeze”, tendo chegado à cidade de Angra do Heroísmo às 16 horas do dia 27 de Junho, tendo de imediato sido levados para o Fortaleza de São João Baptista onde viveram até á dia da sua morte.
Zixaxa casou com Maria Augusta, filha de João de Sousa, natural da Ribeirinha, e de Francisca Vila d´Amigo, natural de Espanha, de quem teve um filho, Roberto Francisco Zixaxa.
Sobre os nguni, um jornal açoreano publicou o seguinte:
O Império de Gaza foi fundado pelo povo nguni (vátuas ou aungunes, na terminologia colonial), um dos ramos dos zulu. Vêm do sul empurrados pela guerra civil que lavra desde o início do século XIX.
Os ngunis eram excelentes guerreiros conhecedores das tácticas e técnicas de combate, grandes organizadores de exércitos.
Quando penetram em Moçambique, por volta de 1820, subjugam os povos aí instalados, escravizando-os: chopes, tsongas, vandaus, bitongas. Dominam-nos provocando rivalidades entre eles, com execuções individuais, massacres e até genocídio sistemático, em particular no caso dos chopes, a etnia acantonada no litoral só definitivamente subjugada pelos portugueses em 1893.
O chefe Sochangane (avô de Ngungunhane), depois chamado Manukuse, alarga o reino — a que dá o nome de Gaza em homenagem ao seu bisavô — e estabelece a capital em Chaimite, mais tarde tornada na aldeia sagrada dos ngunis.
Um curiosidade sobre o forte de S. João Baptista, na Ilha Terceira, onde Gungunhana e os seus familiares viveram, é o de ter sido o mesmo onde, dois séculos antes, esteve efectivamente detido, entre 1669 e 1674, o rei português D. Afonso VI, cuja vida daria um verdadeiro filme de terror em Hollywood.
Em 2005, viviam na Terceira Roberto Zixaxa (IV), Berta Zixaxa e Bianca Zixaxa, descendentes directos de Zixaxa. Que, para variar, por causa das misturas, são praticamente brancos. E açoreanos. Mas cientes do passado familiar.
Leitura adicional: Maria da Conceição Vilhena, Quatro Prisioneiros Africanos nos Açores
10/09/2017
CELEBRAÇÃO DA BATALHA DE MAGUL, ANOS 50
Fotografia de Cristina Pereira de Lima, retocada por mim.
O colonialismo português naquilo que hoje é Moçambique começou em Outubro de 1894 em reacção a um ataque, por parte de um conjunto de tribos em redor da minúscula Lourenço Marques, à então pequena mas estratégica urbe, onde se ultimava a construção de uma linha ferroviária que ligaria a Baía com Pretória e Joanesburgo, e se planeava já a construção de um cais, mesmo ao lado dessa linha ferroviária. Entre Outubro de 1894 e Janeiro de 1895, quando finalmente chegou um navio com um punhado de tropas de Portugal e Angola, a pequena cidade contava impacientemente os dias, enquanto que ao larga na Baía um conjunto de navios estrangeiros marcavam presença para proteger os seus nacionais. A História regista que a pequena cidade foi salva de um saque na Batalha de Marracuene, um canto idílico uns 25 kms a Norte, junto ao Rio Incomáti, em 2 de Fevereiro de 1895 – um sábado.
Mas se essa vitória foi importante para Lourenço Marques, em pouco resolveu a situação em relação aos Ngunis, um grupo étnico zulu que, umas décadas antes, migrara para a região, vindo do Natal, e que, através de guerras e da força, submeteram uma parte substancial das tribos no Sul do que é hoje Moçambique.
O seu líder era Gungunhana, que estava no centro de intensas movimentações que envolviam, para além dos portugueses, que achavam que já tinham assegurado diplomaticamente os seus “direitos de soberania” junto do Reino Unido, em 1891, os britânicos que mandavam na África do Sul (de entre os quais se destacava Cecil Rhodes) e ainda os Boers do Transvaal. Na verdade, todos queriam Lourenço Marques, e achavam que Gungunhana poderia ser a chave para a expulsão dos portugueses de Lourenço Marques, abrindo a possibilidade de incorporar a região no Império britânico. Londres cumpriu o acordado, desencorajando as movimentações em curso no terreno e deixando Gungunhana entregue ao seu destino.
Estando os portugueses armados com metralhadoras Maxim, que os Ngunis não possuiam, e assentando a unidade nguni num precária alinaça de terror intertribal, a luta seria desigual.
A seguir à batalha em Marracuene, o pequeno destacamento português chegado em Janeiro a Lourenço Marques conduziu um conjunto de operações militares cirúrgicas (até porque não dispunham nem de meios humanos nem meios materiais) com o objectivo de neutralizar a ameaça militar dos Ngunis no Sul do então Distrito de Lourenço Marques.
E o momento-chave dessa estratégia foi a batalha de Magul, ocorrida naquele local em Gaza, a 8 de Setembro de 1895, um domingo.
O seu desfecho teria consequências claras: se os portugueses perdessem essa batalha, perderiam o Sul de Moçambique para Gungunhana e provavelmente para a África do Sul e Cecil Rhodes. Ao vencerem, efectivamente neutralizaram a ameaça Nguni e preservaram a então nascente colónia, tal como existe hoje a nação de Moçambique.
A prisão de Gungunhana, ocorrida dois meses e meio depois, foi uma iniciativa pessoal de um então oficial português pouco conhecido, contra as ordens expressas do Comissário Régio António Ennes. Se foi intensamente badalada e inspirou gerações de portugueses e mais tarde moçambicanos, de uma forma ou outra, a verdade é que o verdadeiro momento de viragem no conflito pelo controlo do território a Sul do Rio Save foi esta batalha em Magul.