THE DELAGOA BAY WORLD

24/04/2021

NELLMAPIUS E O SERVIÇO DE DILIGÊNCIA ENTRE LOURENÇO MARQUES E O TRANSVAAL, 1874-1893

Imagens retocadas. Grato ao Grande Rogério Gens do incomparável HousesofMaputo por umas dicas.

Alois Nellmapius

Segundo a Wikipédia, Alois Hugo Neumann nasceu em Bielitz (actual Bielsko na Polónia) em 5 de maio de 1847, filho de Albert e Charlotte Neumann, mas ao vir para a África do Sul mudou o seu apelido para Nellmapius por razões desconhecidas – presumo que para “branquear” a sua origem judaica do Norte da Europa, no sentido de contrariar eventuais descriminações. E assim ficou conhecido. Tirou um curso de engenharia na Holanda e em 1873, com 26 anos de idade, chegou à África do Sul via o então pindérico e miserável Presídio português de Lourenço Marques, a bordo do navio Nathan, motivado pelos relatos de que havia ouro no Transvaal. Por curiosidade, um dos passageiros nessa viagem era um jovem chamado John X. Merriman, que mais tarde veio a ser primeiro-ministro da Colónia do Cabo. Ele teve sucesso na extracção de ouro perto de Pilgrim’s Rest no Transvaal Oriental, e conseguiu obter do governo Boer a primeira concessão de uma rota transporte entre Lydemburgo e Lourenço Marques em 1874-5, através de diligências e carretas que levavam principalmente passageiros e correio (as diligências) e alguma carga (as carretas). Ele construiu a que agora é conhecida como a Estrada Nellmapius, entre Mac-Mac e os campos de ouro, cruzando o Rio do Crocodilo em Nellmapius Drift perto de Hectorspruit para Matalha Poort (Matola?) em Moçambique. O serviço de diligências e carretas de e para Lourenço Marques funcionou durante quase vinte anos, até 1893, quando foi desactivado, dada a entrada em funcionamento da nova linha férrea entre Lourenço Marques e Pretória.

A rota de acesso ao mar via a rota de Lourenço Marques era absolutamente estratégica para os Boers, dada a sua extrema desconfiança em relação aos britânicos, que repetidamente faziam tudo para cercar as repúblicas Boer e que tentavam controlar os seus movimentos e comunicações e especialmente manter um olho em relação às suas importações de armas e munições. As únicas alternativas de acesso ao mar para os Boers eram os portos de Durban, Port Elizabeth e o Cabo, que os britânicos controlavam.

Uma das diligências da carreira criada por Nellmapius que ligou Lourenço Marques ao Transvaal entre 1874-5 e 1893, puxada por oito mulas, os únicos animais que – mais ou menos – resistiam à mortífera barreira de mosca tsé-tsé e outras doenças no percurso entre Lourenço Marques e Lydemburgo, A legenda, escrita por Alfredo Pereira de Lima, dá um nome aproxinado de Nellmapius.

Por esses serviços, Nellmapius recebeu do Estado Boer quatro fazendas.

Mais sobre Nellmapius

Durante a sua vida, Nellmapius ganhou e perdeu várias fortunas e foi um amigo próximo dos líderes Boers do Transvaal, Paul Kruger, (existe uma placa no Parque Nacional Kruger a assinalar essa amizade) e Paul Joubert. Ele foi o primeiro garimpeiro de ouro do Transvaal a usar dinamite.

Nellmapius serviu nas Guerras Sekhukhune e na campanha Mapoch. Ele fundou a conhecida Herdade Irene (o nome da sua filha) perto de Pretória e comprou várias fazendas junto ao rio Hennops. Ele contratou os horticultores Richard Wills Adlam, que fora o curador do Jardim Botânico de Pietermaritzburg, e o seu sucessor, Hans Fuchs. Sob sua gestão e com um clima temperado, água abundante e solo fértil, transformaram parte da Herdade Irene numa extensa horta de flores, frutas e vegetais, de renome mundial. Flora Shaw, do The Times de Londres, visitou a Herdade Irene em 1892 e ficou surpreendida com a escala da Herdade e dos jardins: “Com excepção das cerejas e groselhas, todas as frutas europeias florescem bem. Em toda a propriedade, os cursos de água, que dividiam os campos, eram cercados por sebes de marmelo, pera, maçã, ameixa e pêssego … hectares de rosas, violetas e plantas ornamentais cercavam a casa … ”

A Kruger House, situada na Church Street West, em Pretória, a residência de Paul Kruger na capital do Transvaal, construída em estilo victoriano, hoje um museu, foi projectada por Tom Claridge, um dos primeiros arquitetos de Pretória e foi erguida de acordo com as instruções de Nellmapius.

Ele também era dono do jornal De Pers, de Pretória. Por falta falta de fundos, ele perdeu um contrato de fabrico do governo na Eerste Fabrieken que ficou para o magnata Sammy Marks. A sua primeira empresa foi a destilaria Hatherley, em regime de consessão e monopólio, que produzia gin e uísque na fazenda Hatherley, inaugurada pelo Presidente Kruger em 6 de junho de 1883 e baptizada de Volkshoop. Ele fundou a primeira fábrica de pólvora na África do Sul e a Irene Lime Works. Com a morte de Nellmapius, Sammy Marks assumiu as suas concessões para a destilaria, conservas de frutas e uma fábrica de cerâmica. Ainda hoje, um retrato de Nellmapius pode ser visto no segundo andar do Museu Sammy Marks.

Nellmapius costumava receber as suas visitas em grande estilo em Irene e um dos seus convidados frequentes era o presidente do Transvaal, Paul Kruger. O primeiro emprego de Arnold Theiler na África do Sul, mais tarde considerado o Pai da Veterinária neste país (e cujo filho Max recebeu o Prémio Nobel em Medicina em 1951, pelo seu trabalho em relação à febre amarela), foi com Nellmapius em Irene.

Nellmapius casou com Johanna Corlydia Hoffman em 1882, tendo o seu filho Ernest Harold nascido em 1890. Nellmapius viveu na Herdade Irene até sua morte em 27 de Julho de 1893, e foi sepultado no Cemitério Golden Acres na Rua da Igreja em Pretória, junto a Paul Kruger e muitos outros daquela época.

Anos mais tarde, um dos vizinhos e visitantes célebres da Herdade Irene foi o lendário Jan Smuts.

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