THE DELAGOA BAY WORLD

30/07/2023

TROPA PORTUGUESA E DE MOÇAMBIQUE EM MACAU, INÍCIO DA DÉCADA DE 1950

Filed under: Manuel Inácio Botelho de Melo — ABM @ 21:48

Imagem retocada e colorida, do meu arquivo.

Penso (bem, sei) que por uma desavença de família, o meu Pai, açoriano, enlistou-se no exército cerca de 1950 para ir para o sítio mais distante fod Açores que havia no Império então. Para algum coisa servia o Império, não? Pois consultando o mapa, esse sítio era o pequeno istmo de Macau. Aparentemente a fundação da comunista República Popular da China ao lado não foi coisa que o intimidasse. Com o 7º ano do liceu concluído( o Antero de Quental, em Ponta Delgada, que era uma espécie de faculdade disfarçada), ele cedo era um tenente miliciano com aquele sotaque de São Miguel.

As suas primeiras ordens eram para ir até à Colónia de Moçambique ajudar a recrutar e treinar a fornada seguinte das Tropas Landins, que ajudavam a policiar Macau e que vinham de lá daquela zona em Gaza do Mondlane e do Samora e do Chissano. Literalmente, ele andou semanas pelo mato a recrutar soldados, que, à falta de melhor, aceitavam de bom grado o salário, a nova farda e a aventura. De seguida, lá foram todos de barco para Macau. Ele esteve lá até finais de 1957, tendo regressado à ilha natal no arquipélago açoriano. Poucos meses volvidos e basicamente pelas mesmas razões da ida para Macau, foi para Moçambique, a família de então a reboque (eu nasceria em Lourenço Marques pouco depois).

Onde, cerca de vinte anos mais tarde, em lugar privilegiado nas primeiras filas da plateia, assistimos, ao vivo e a cores, aos portugueses, tardiamente, a despacharem aquilo tudo.

O Tenente Botelho de Melo, segundo a contar da direita, juntamente com colegas, num pátio em Macau, início dos anos 50. Atrás, do lado esquerdo, estão cinco soldados Landins.

23/07/2023

PAULA POSA EM CASA EM LOURENÇO MARQUES, 1968

Filed under: Paula Botelho de Melo, Paula Botelho de Melo — ABM @ 14:57

Imagem a preto e branco, tirada pelo meu Pai, retocada e colorida por mim.

A foto foi tirada à entrada da velha casa alugada onde vivíamos em Lourenço Marques, na Rua dos Aviadores, nº 264, a 50 metros do Núcleo de Arte do tempo do Jorge e da Zéca Mealha e do Malangatana, em frente ao qual vivia o fleugmático António Quadros (por cima a Gabriela, neta do Governador do Distrito, que tinha criada branca, importada das Boiças portuguesas, só para tomar conta dela) e ao lado de onde viviam os filhos do Vitorino Ribeiro e da Rosa Maria, o Jorge e a Sandra, o Mário João (que andava comigo na Rebelo da Silva e hoje um médico com pergaminhos que dá consultas a 100 euros a peça) a Sandra Paula (meio sul-africana e uma espécie de Barbie lá da rua), os Moreiras, os Picollos, os Romanos, o Miguel Lyon e a Carla, o Jó, o Janeca (que se suicidou de improviso aqui na Tuga), o Parcídio, os filhos do Lopes & Baptista, os filhos do Fernando Cabral, do Rita Ferreira, o Paulo Morgado, o Calú e o Filipe e mais uns tantos.

No início de 1973 o empresarial dono da casa, que nunca conheci (acho que vivia na Rua de Nevala pois o Pai Melo foi lá uma vez pagar a renda e como castigo pela diatribe do dia, levou-me no carro, onde permaneci enquanto ele demoradamente falava com o tal) pediu que saíssemos para ali de seguida proceder a demolir aquilo tudo e a construir um prédio com rés-do-chão, 1º, 2º e 3º andar, para alugar. Durante uma ida minha a Luanda para representar em natação o que eu pensava que era Moçambique, Pai Melo muda-nos para a Rua da Demanda, um beco sem saída, que, por ser um beco totalmente irrelevante e ter uma designação que nada parece evocar de colonial, nunca mudou de nome até hoje (proponho “Beco Joana Simeão”?). Assim que acabou o prédio (agora no número 267 da Rua da Argélia em Maputo City), foi pronta e zelosamente confiscado pela Frelimo depois daquele discurso do Samora e ocupada pelos quadros médios (e os com conhecimentos, claro) da Frel que vieram lá do mato para ocupar aquela zona ao pé do Governo-Geral. Sim, porque os altos abastaram-se na Somershield. Entretanto, décadas volvidas e via a oportuna e misericordiosa extinção da APIE, foi generosamente vendida por tuta e meia de meticais aos actuais donos. Não sei se rir ou chorar.

Paula B de Melo com seis anos de idade, a última de oito, cerca de 1968, quando nadava no Desportivo e estudava na Escola Rainha Santa Isabel em Lourenço Marques. Levou com a Descolonização e o pós-25 de Abril em cima com 12-14 anos de idade. Hoje, depois de uma vida na logística, vive uma reforma em esplêndido recato no Estado da Flórida, nos Estados Unidos. Moçambique para ela é uma vaga, muito distante memória.

A COMPANHIA DE CANTO E DANÇA KARMON ISRAEL ACTUA EM LOURENÇO MARQUES, DEZEMBRO DE 1961

Imagens retocadas.

Tal como acontecia com o cinema, Lourenço Marques beneficiava da proximidade da África do Sul, na medida em que grandes filmes e grandes números que eram trazidos para aquele país habitualmente passavam por Lourenço Marques também. Foi assim que, a duas semanas de se acabarem quatrocentos e tal anos de presença portuguesa na Índia (agora é tudo só memórias, vendedores de rosas em Lisboa e passaportes Schenguen de oportunidade) a African Consolidated Theatres Limited organizou quatro exibições da companhia de bailados israelita Karmon Israeli Dancers and Singers no Scala de Lourenço Marques, em 7, 8. 9 e 10 de Dezembro de 1961. De uma quinta a um domingo.

Programa, 1 de 4.
2 de 4.
3 de 4.
4 de 4.

Anúncios: Bazar Favorito, Costa e Cordeiro, Frigoríficos Pólo Norte, Agência de Publicidade Ultramarina, Casa Somorel, Tabacaria da Sorte, Casa Califórnia, Armazéns Gulamhussene.

Bilhetes para a sessão de 7 de Dezembro de 1961, uma quinta-feira.
Um número da Companhia Karmon Israeli Dancers.
Sinopse sobre Jonathan Karmon.

20/07/2023

PESSOAL DA ALFÂNDEGA DA ILHA DE MOÇAMBIQUE, AGOSTO DE 1942

Filed under: Pessoal da alfândega da Ilha de Moç 1942 — ABM @ 16:25

Imagem colorida e retocada.

A equipa da alfândega da Ilha de Moçambique em Agosto de 1942, em plena II Guerra Mundial.
Os indígenas não têm nome.

OS DENTES DE MARFIM DE JORGE BRUM DO CANTO

Imagens retocadas.

Nas minhas pesquisas, descobri há uns dias dois dentes de marfim de Moçambique, trabalhados, para licitação, num sítio electrónico de leilões, com a nota indicando que haviam sido oferecidos em Moçambique a Jorge Brum do Canto, um vagamente conhecido cineasta português, que, entre outros conseguimentos, filmou em Moçambique, num tom épico-cómico-colonial, a obra “Chaimite” (1953), relatando todo aquele episódio do Mouzinho no final do Século XIX.

Dente 1.
Dente 2.

A informação dos dois dentes de marfim vinha com dados sobre o seu tamanho e peso e explicava que Jorge, o seu proprietário durante décadas, tinha falecido em 1994. Portanto, fizeram parte da herança despachada quiçá por uns sortudos sobrinhos primos, pois o Jorge nunca casou e (que se saiba) não teve filhos.

A proveniência dos marfins não é assunto dispiciente pois hoje em dia que fôr apanhado a vender marfim proveniente da caça ilegal vai dentro. Mas o marfim do tempo da Maria Cachucha está isento destas minudências jurídicas.

Cartaz do Chaimite, duas horas e meia, rodado em 1953 e que a RTP descreve assim: “em 1894 os landins atacam Lourenço Marques mas são repelidos. No entanto muitos colonos fogem para a cidade, entre eles está Maria que encontra abrigo no café de Daniel, que se apaixona pela jovem sem saber que esta está comprometida com João Macário. Pouco depois começam a chegar as primeiras tropas que se envolvem em várias batalhas. Entretanto chega Mouzinho de Albuquerque que vem acompanhado por João Macário. As batalhas sucedem-se até que, em Chaimite, Mouzinho consegue capturar Gungunhana. Por sua vez Maria aceita casar com Daniel. A presença militar portuguesa confirma-se quando Mouzinho consegue derrotar Maguiguana, o principal chefe de guerra de Gungunhana.” Eu vi o filme uma vez e só me lembro da Maria a repetir, divertida, e à portuguesa, “kanimambo”. Enfim.

Nas entrelinhas, a insuspeita Wikipédia descreve Jorge Brum do Canto como um artiste multifacetado, filho único da mamã e de Salvador (na verdade ele tinha uma irmã, a Lelé), um ilustre açoriano, que parece ter tido berço de ouro que aparentemente lhe durou a vida toda.

Mas -para mim- a surpresa. Quem era a sua mamã? Berta Rosa Limpo (com um “h” no Berta” para alertar para as origens aristocráticas) rainha indisputada da culinária portuguesa durante décadas e cuja obra-prima é o livro de Pantagruel, que eu li interessadamente durante a adolescência moçambicana (culinária era uma paixão secreta minha) pois a Mãe Melo tinha uma cópia em casa.

Com a Descolonização, não sei onde o livro foi parar.

Bertha, que na década de 30 passou dois meses na Itália, onde foi cantar profissionalmente, teve a ideia do livro, que primeiro editou em 1946.

O Livro de Pantagruel, manual obrigatório das donas de casa portuguesas durante décadas (as que viviam fechadas na cozinha). Mais espessa que a Bíblia, a maior parte das receitas eram o que hoje poderá ser designado como um atentado à saúde. Mas era culinária vintage portuguesa e internacional.

E onde nasceu a nossa Bertha? em Quelimane, Moçambique. Mas cedo iria para os Algarves, onde cresceu.

Bertha, que morreu em 1981, ainda a tempo de ver a sua veneranda Quelimane natal a ser entregue sem grande cerimónia aos novos senhores da Frelimo, era uma celebridade de direito próprio, numa altura em que só havia jornais, revistas, rádio e um pouco de televisão. Outras vieram, como Maria de Lurdes Modesto, mas Bertha foi – e permanece – a Original.

Para além de que foi uma empresária e mulher de armas, numa altura em que as mulheres em Portugal se distinguiam por levar porrada dos maridos, ficarem fechadas em casa, não se poderem divorciar e precisarem de autorização conjugal para viajarem até ao estrangeiro.

A grande Bertha com o filho Jorge.
Um artigo numa revista cor de rosa portuguesa.

Tudo isto porque vi dois dentes de elefante de Moçambique à venda num leilão electrónico.

05/07/2023

O SALÃO DE FESTAS DO HOTEL POLANA, CERCA DE 2012

O salão de festas do Hotel Polana existe desde a fundação do hotel em 1922. Uns anos depois da independência, quando veio a fase do capitalismo selvagem que se seguiu à fase do comunismo e do repolho e carapau, o hotel instalou aqui um casino. Uns anos mais tarde, quando os Aga Khans começaram a explorar o hotel, o casino saiu daqui (penso que foi autonomizado como negócio e vendido) e a organização restaurou o seu uso como salão de festas, redecorando o espaço um pouco ao estilo do Ali Babá e da Scheherezade mas enfim. Bem, pelo menos mantiveram as paredes pintadas num branco creme.

Interior do salão de festas do Hotel Polana em Maputo.

FOLHETO INFORMATIVO PARA TURISTAS, DÉCADA DE 1970

Filed under: Folheto para turistas 1970s — ABM @ 19:08

Imagem retocada.

Tirando os turistas da caça, que eram maioritariamente norte-americanos e, dentro destes, texanos, a maioria dos visitantes de Moçambique antes de 1975 eram sul-africanos brancos e rodesianos brancos.

Daí que este folheto do Centro de Informação e Turismo (onde penso que trabalhou o …Rita Ferreira) fosse escrito em inglês e afrikaans. Curioso os valores das moedas na altura, que hoje quase que parece surreal. Por exemplo, nesta altura um rand valia quase um dólar e meio. Hoje um dolar vale 16 rands.

Folheto do Centro de Informação e Turismo

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