THE DELAGOA BAY WORLD

02/09/2021

BILHETE DE IDENTIDADE DO LICEU SALAZAR EM LOURENÇO MARQUES, 1947-50

Imagens retocadas. Muito grato a MP.

Este documento indicia algo que eu não sabia. O Liceu Salazar que todos conhecem (hoje Escola Secundária Josina Machel) foi inaugurado em 1952. Antes disso, o liceu antigo da Cidade ficava situado directamente atrás deste liceu e durante muitos anos se chamava Liceu 5 de Outubro (ver em baixo). Mas pelos vistos já em 1947 ele se designava Salazar.

Capa e contracapa do Bilhete de Identidade de estudante do Liceu Salazar em Lourenço Marques. Na capa, o brasão da Colónia de Moçambique, cuja designação seria actualizada novamente para Província aquando da revisão constitucional de 1951.

Interior do BI.

O Liceu 5 de Outubro na 24 de Julho, onde o jovem Manuel Portela estudou. Sabemos agora que nos anos 40 já lhe chamavam Liceu Salazar. Quando “o” Liceu Salazar foi inaugurado, em 1952, aqui passou a funcionar a Escola Comercial Azevedo e Silva. O edifício seria (estupidamente) demolido para no seu lugar serem edificados novos edifícios, funcionais mas horríveis, que ainda lá estão.

A zona na Polana onde estavam os liceus e escolas: 1) Liceu Salazar, inaugurado em 1952, edificado onde antes estava a Estação Telegráfica Eastern; 2) Escola Preparatória General Joaquim José Machado; e 3) Escola Comercial Azevedo e Silva, anteriormente Liceu 5 de Outubro – e pelos vistos também se chamou Liceu Salazar nos anos 40.

02/09/2020

MARIA CARLOTA QUINTANILHA COM OS ALUNOS NA ESCOLA GENERAL MACHADO EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 60

Imagem retocada e pintada por mim.

Maria Carlota Quintanilha foi uma dos professores memoráveis da Escola Preparatória General Joaquim José Machado (“a José Machado”), situada numa ruazinha na fronteira entre a Polana e a Maxaquene, em Lourenço Marques. Talvez isso ajude (um pouco) a explicar a presença de apenas um aluno de raça negra na fotografia. Uma curiosidade que hoje pode ser considerada obsoleta é que, obrigando a escola ao uso de uma farda meio militarizada (eu andei lá e achava-a simplesmente horrível) todas as balalaicas que aparecem na fotografia eram feitas manualmente em alfaiates. No meu caso, foi a minha mãe que a costurou em casa(fez duas), depois de comprar pano na Baixa.

A fotografia foi tirada na parte traseira da Escola, podendo-se ver atrás as salas de aula de trabalhos manuais.

Se o Exmo. Leitor conhecer algum dos presentes (ver a mesma fotografia numerada em baixo), por favor escreva uma nota para aqui.

 

A fotografia, numerada. Maria Carlota Quintanilha corresponde ao número 7.

Surpreendi-me de encontrar um esboço biográfico da Professora Quintanilha e do irmão, que deslumbram e seguem, com retoques:

Maria Carlota de Carvalho Quintanilha nasceu no dia 11 de Novembro de 1923, em Coimbra. É filha da bióloga Maria Suzana de Carvalho e do cientista Aurélio Quintanilha (este açoreano de nascimento).

Após o divórcio dos pais, ficou a viver com o pai. Quando este se exilou na Alemanha e em França, devido ao facto de ser contra o Estado Novo, ela e a irmã foram com ele. A sua madrasta, Lucya Tiedtke, mãe do seu irmão Alexandre Quintanilha [ver em baixo], terá uma forte influência na sua educação. O início da Segunda Guerra Mundial faz com que regresse a Portugal, onde irá morar em Lisboa com a mãe, que era professora no Liceu Feminino Filipa de Lencastre.

Depois de concluir o ensino médio, Carlota Quintanilha começou a estudar arquitectura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Sentindo que não é bem aceite no meio académico lisboeta por ser mulher, transferiu-se para a equivalente no Porto, onde se forma em 1953, com 17 valores. O seu projecto final, um jardim infantil em Vila real, mostra a sua preferência por uma arquitectura moderna. No mesmo ano, casa-se com João José Tinoco e parte com ele para para o Cunene, no sul de Angola. Lá trabalhou como arquitecta e em projectos com o marido.

Em 1956, Quintanilha e Tinoco mudaram-se para Lourenço Marques (hoje Maputo). Lá, ensinou design e geometria descritiva em várias escolas secundárias e profissionais, nomeadamente na Escola Industrial, na Escola Comercial, na Escola Preparatória do Ensino Secundário General Joaquim José Machado, na Escola Preparatória Feminina de Lourenço Marques e no Liceu António Enes. Ao mesmo tempo, desenhou várias obras para clientes privados e governamentais, parte delas em colaboração com o marido Tinoco e o amigo Alberto Soeiro.

Em 1972, Quintanilha regressa a Portugal, trazendo consigo a sua experiência e conhecimento do clima tropical de Angola e de Moçambique, que aplica em projectos arquitectónicos para o Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

Em 1973, foi trabalhar no Ministério da Educação e Investigação Científica, onde esteve até ao final da década de 1980 (reformou-se em 1989), para o qual elaborou estudos prévios que visavam a ampliação e intervenção em equipamentos escolares.

O marido faleceu em 1983.

(fim)

Sobre o seu irmão Alexandre Quintanilha, que tem costela Coca-Cola, um resumo biográfico refere o seguinte (editado por mim):

Alexandre Tiedtke Quintanilha nasceu em Lourenço Marques em 9 de Agosto de 1945 (o dia em que os EUA lançaram uma bomba atómica sobre a cidade japonesa de Nagasaki) e é filho do Prof. Doutor Aurélio Quintanilha, biólogo especialista em botânica, natural dos Açores, e de mãe alemã, Lucya Tiedtke, Alexandre Quintanilha, que tinham ido viver para Moçambique na década de 1940.

Completou o liceu em Lourenço Marques, tendo prosseguido os estudos universitários na África do Sul, licenciando-se em Física Teórica em 1968 na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, e doutorando-se em Física do Estado Sólido em 1972, na mesma universidade.

Trabalhou durante vários anos na Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, onde foi diretor do Centro de Estudos Ambientais, tendo desenvolvido investigação nessa área. Entre 1983 e 1990, foi diretor assistente na secção de Energia e Ambiente do Laboratório Nacional Lawrence, nos EUA e, entre 1987 e 1990, desempenhou o cargo de diretor do Centro de Estudo de Tecnologia da Biosfera.

Em 1991 foi nomeado diretor do Centro de Citologia Experimental e professor no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto. É professor catedrático jubilado do ICBAS, diretor do Centro de Citologia Experimental e coordenador do Instituto de Biologia Molecular e Celular, situado também no Porto.

Publicou perto de 100 artigos em várias revistas científicas de nível mundial, foi editor e autor de seis volumes nas áreas da Biologia e Ambiente, foi consultor redatorial da Enciclopédia de Física Aplicada e escreveu dezenas de artigos e relatórios em livros, revistas e jornais de divulgação, sendo ainda coordenador e autor de vários trabalhos nas áreas da Biologia, do Ambiente e da Física Aplicada.

(fim)

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