Imagem retocada, do Museu Nacional de História Natural em Washington, DC, EUA.
Acho que o Fernando Cabral, cuja imagem segue em baixo, era irmão do Augusto Cabral do Museu Álvaro de Castro e conheci-o pois viveu durante uns anos mesmo em frente à minha casa na Rua dos Aviadores em Lourenço Marques (hoje Rua da Argélia), ao lado da casa dos donos do Lopes & Baptista. Era de poucas palavras, reservado e severo. Tinha três filhos e eu dava-me com o Zé Pedro, um deles. Brincávamos na rua invariavelmente descalços e mal vestidos. Com ele, visitei muitas vezes o Museu e o atelier do Pai, que ficava situado atrás do espaço público do Museu, do outro lado de onde esteve durante muitos anos o atelier da Reinata. Cheio de bichos empalhados e com um cheiro esquisito de químicos misturados com sal. Era no quintal da casa dele que havia a melhor mangueira de Lourenço Marques, que dava daquelas mangas pontiagudas e roxas e verdes por fora e amarelo-torrado por dentro quando maduras. Infelizmente, tinha também um jacaré no quintal, sempre a fingir que estava a dormir, o que tornava algo desafiante para mim ir lá apanhar mangas (não que fosse impeditivo. Comi as mangas que quis. O jacaré bem tentou mas nunca me apanhou). No jardim à frente, tinha uma pequena gazela a que chamávamos Bambi. Um dia no final dos anos 60 mudou de casa e nunca mais o vi. Até hoje. Creio que foram para Portugal mas não sei.