THE DELAGOA BAY WORLD

13/02/2024

CENTRO RETRANSMISSOR DO RÁDIO CLUBE DE MOÇAMBIQUE NA MATOLA, ANOS 60

Imagem retocada.

A fachada do Centro Retransmissor do Rádio Clube de Moçambique na Matola, anos 60. À volta, estavam as antenas de emissão em ondas médias e curtas.

07/10/2023

CARTAZ DE PEÇA “EH! UENE” DO RÁDIO CLUBE DE MOÇAMBIQUE, DÉCADA DE 194O

Imagem retocada.

O cartaz anuncia uma “marcha sobre um motivo indígena” com música de Artur Fonseca e criação de Manuel Soares.

Uns anos mais tarde o cantor João Maria Tudella criou uma canção com o mesmo nome (que pode ser ouvida na lista do grande Paulo Oliveira, AQUI) mas que parece não ter nada a ver com a marcha.

01/10/2023

HISTÓRIAS DO RÁDIO CLUBE DE MOÇAMBIQUE

Imagem retocada.

Capa da revista do Rádio Clube, Outubro de 1971. Suponho que a senhora seja a Ana Paula, uma locutora da estação mas não tenho a certeza.

Se o exmo. Leitor quiser saber mais sobre o Rádio Clube de Moçambique, há duas publicações recentes que poderão ser interessantes:

  • Um artigo, este mais abrangente, da autoria de Marco Roque de Freitas intitulado “Rádio Clube de Moçabique: história económica e cultural de uma empresa radiofónica num contexto colonial (1932-1974)“, publicado na Revista de História da Sociedade e da Cultura e que pode ser lido premindo AQUI. O seu resumo diz o seguinte:

O Rádio Clube de Moçambique (RCM) foi uma empresa de radiodifusão privada sedeada em Lourenço Marques (atual Maputo) que granjeou uma forte expansão após a II Guerra Mundial, tornando-se numa das mais importantes instituições de radiodifusão comercial em África. Partindo da análise de publicações periódicas, relatórios de contas, entrevistas e outra documentação-áudio consultada nos arquivos da instituição, com este artigo pretende-se construir uma história do RCM desde a data da sua fundação, em 1932, até ao golpe de Estado em abril de 1974 na metrópole. Terei como ponto de partida os conceitos «rádio-colonização» e «capitalismo sonoro», com vista a explorar a instru-mentalização dos sistemas de radiodifusão para propósitos políticos e propagandísticos. Este artigo incidirá, entre outros fatores, nas dimensões económicas, materiais e culturais desta instituição, sem descurar a análise da programação radiofónica.

  • Um artigo da autoria de Nélson Ribeiro, intitulado “Broadcasting to the Portuguese Empire in Africa: Salazar’s singular broadcasting policy“, publicado no sítio Academia. edu e que pode ser visto premindo AQUI. Este artigo está em inglês e o seu resumo diz o segunte:

This article discusses Portugal’s broadcasting policy to its colonies from the 1930s to the 1960s
when the country was ruled by a dictatorship led by Oliveira Salazar. It demonstrates that,
despite the centrality assumed by the concept of ‘Empire’ in the discourse of the dictatorship,
investments in shortwave broadcasting remained very low throughout the years. Not only was
the Portuguese state broadcaster not given the resources to achieve good coverage of the
African territories, but there was also no national policy concerning the creation of stations in
the colonies. This, as the article demonstrates, led to the development of several private radio
projects, mainly in Angola and Mozambique, operated as radio clubs. It would take until the
mid-1950s, when the independence of African countries entered the international agenda, for
the Portuguese dictatorship to start investing both in the state broadcaster’s transmissions to
Africa and in the creation of oficial stations in Angola, Guinea Bissau and Cape Verde. These
late investments would ultimately not pay off because, starting in 1961, Portugal would be
involved in the colonial war that started in Angola but quickly spread to other Portuguese
territories.

11/06/2023

DOCUMENTÁRIO SOBRE O RÁDIO CLUBE DE MOÇAMBIQUE, 1964

Filme original dos arquivos da RTP, cujo sítio, por não ser possível colocar num blogue (uma estupidez, creio) o Sr. João Alves colocou no Iutube. Que permite colocar aqui.

16/04/2012

SARAH PINTO COELHO E MOÇAMBIQUE

Num dos corredores da sede da Rádio Moçambique, a sucessora do Rádio Clube de Moçambique, um quadro recorda o teatro na rádio de Moçambique, de que, com outros, Sara Pinto Coelho fazia parte. Se alguém tiver uma foto decente dela para colocar aqui, peço que ma envie para colocar aqui. Ela merece. Esta é a minha homenagem a um programa que, em miúdo, me deliciou e me deixava com o ouvido colado ao velho Telefunken lá de casa, nos serões de quarta-feira.

Dum sítio da DGLB, que cita o Dicionário Cronológico dos Autores Portugueses (Lisboa, Vol. IV, 1997) refiro o seguinte resumo biográfico:

Nome: Sarah Augusta de Lima Abreu Pinto Coelho

Nasceu: Ilha do Príncipe, São Tomé e Príncipe, 1913
Faleceu: Vila Nova de Gaia, Portugal, 1990

Dramaturga, contista, tradutora, encenadora e intérprete de teatro radiofónico, autora de literatura infantil e professora do ensino primário. Oriunda de famílias do Porto e de Braga (o seu nascimento casual na Roça Esperança da Ilha do Príncipe deveu-se a uma fortuita e fracassada tentativa de fortuna por parte de seu pai, Manuel dos Santos Abreu), Sarah Pinto Coelho termina com distinção, em 1933, o curso da Escola do Magistério Primário do Porto. Ali e em Braga, terra natal de sua mãe Sara, dedica-se ao ensino, durante dez anos.

Mulher culta, enérgica e de contagiante sociabilidade, os seus convictos ideais católicos levaram-na, nos anos 40 e 50, a uma intensa actividade junto das crianças dos bairros negros dos subúrbios da capital moçambicana, Xipamanine e São José de Llanguene, quer enquanto professora do ensino primário, quer em obras sociais da Acção Católica e das Conferências de São Vicente de Paula.

O Estado Novo e os seus corolários de estabilidade política e ligação à Igreja Católica mereceram-lhe clara adesão, convencida de que Salazar encontrava «nas páginas do Evangelho, a sua doutrina de silêncio, de sacrifício, de eternidade.» (Discurso nos Paços do Concelho de Lourenço Marques, em Abril de 1948).

Estavam reunidos os ingredientes para vários anos de notoriedade política, mau grado o facto de se tratar de uma mulher. («O que poderei eu dizer-vos, nesta sessão solene, eu que nada sei de política, como convém à mulher?» – ironizou, no discurso acima referido).

Desdobra-se, então, entre a sala de aulas, os bairros miseráveis do «caniço» e os salões da alta sociedade, ouvida pelo governador e pela hierarquia eclesiástica, assinando artigos para os jornais, chamada a reuniões com os inspectores do poder colonial. Mantinha-se, no entanto, uma das principais clientes da Minerva Central, onde o velho Carvalhinho, livreiro e maçon, lhe reservava pressurosamente todas as novidades literárias chegadas à colónia.

Pouco a pouco, porém, o seu conhecimento diário das realidades sociais e a impetuosidade da sua voz combativa começaram a tornar incómoda a sua presença nos gabinetes de decisão. Primeiro aconselhada a moderar as suas relações com a comunidade negra, e depois firmemente admoestada pela hierarquia do funcionalismo público a que pertencia, chega aos anos sessenta afastada da vida pública, desiludida com os caminhos do salazarismo, cáustica em relação à corte cardinalícia e mergulhada numa relação com o divino que já não passava mais pelos ritos mundanos.

Em Maio de 1967 aceita o convite do Rádio Clube de Moçambique para dirigir a sua prestigiada Secção de Teatro, sucedendo a actores famosos (Alfredo Ruas, Thomaz Vieira) e ao poeta Reinaldo Ferreira. Começa então o mais fecundo capítulo da sua vida de criadora literária. Assinando com o seu nome próprio, mas também com os pseudónimos Costa Lima e Mara de Noronha, escreveu cerca de duas dezenas de peças de teatro, que foram interpretadas, sob sua direcção, por actores locais e também por grandes figuras da cena nacional, que se deslocavam regularmente em «tournées» pelas colónias.

Para assegurar a periodicidade semanal da rubrica de teatro, «Teatro em Sua Casa», seleccionou, traduziu e adaptou originais do grande Teatro universal: Shakespeare, Claudel, Mihura, Pinter, Sommerset Maugham, Tchekov, Priestley, Gogol, Alfonso Sastre, Michel de Ghelderode, Oscar Wilde, Pearl Buck, entre outros.

Mas foi no seu repertório português que os ouvintes puderam encontrar obras muitas vezes proibidas pela Censura de Lisboa, mas que o tropicalismo ignorante ali deixava passar, vergando-se à fluência da argumentação e à tenacidade de quem as apresentava. E assim foram interpretados Bernardo Santareno, Alves Redol, Luiz Francisco-Rebello, Sttau Monteiro, Prista Monteiro, José Gomes Ferreira, Romeu Correia e Costa Ferreira, a par, evidentemente, de Joaquim Paço d’Arcos, Luiz Forjaz Trigueiros, Gervásio Lobato, José Régio, Miguel Torga, Leitão de Barros, Eduardo Schwalbach, Olavo d’Eça Leal, António Patrício, Ramada Curto, Alexandre Herculano, Marcelino Mesquita, Fernanda de Castro.

O sucesso e o prestígio do seu trabalho levaram a direcção do Rádio Clube de Moçambique a pedir-lhe que, além da referida rubrica semanal de teatro, produzisse igualmente um programa quinzenal de contos radiofónicos, o que ela aceitou com agrado, não só porque isso lhe permitia alargar a oferta cultural a um auditório que a estimulava com encómios, mas também porque o género lhe abria portas ao transbordo da sua sensibilidade e das suas inquietações.

A oralidade marca permanentemente o seu discurso literário, quer na dramaturgia, quer no conto, onde é patente uma preocupação formal pela fluência da mensagem – que ela queria fácil, decorrente e forte. Mas principalmente fácil, como mandam as regras da radiofonia, onde o mensageiro passa uma só vez e depressa.

Em 1972, regressada a Portugal, instala-se em Miramar [Vila Nova de Gaia], junto de amigos da juventude, e escreve pequenos contos e páginas de diário. Mas, depois de África e seus horizontes largos, da vida trepidante e produtiva, do público reconhecimento e apreço, que para ela sempre foram geradores de poderosas energias criativas, o tempo de Miramar foi demasiado vazio e confinado. As suas últimas obras, de onde África está significativamente ausente, traduzem o imenso desencanto em que se finou, na madrugada de 4 de Dezembro de 1990.

Foi em Lourenço Marques que Sarah Pinto Coelho produziu a maior parte da sua obra literária, entre 1945 e 1972, data do seu regresso definitivo a Portugal. Cuidadosamente dactilografados e encadernados, deixou dezenas de contos, peças de teatro, crónicas, notas, discursos políticos e alguns poemas. Em edição póstuma organizada por seu filho, o jornalista Carlos Pinto Coelho, publicou-se uma colectânea dos últimos contos que escreveu, na sua casa de Miramar, onde faleceu: Memórias de uma Menina Velha (1994).

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