THE DELAGOA BAY WORLD

27/06/2022

JOHN ROSS E A LINHA FÉRREA ENTRE PRETÓRIA E LOURENÇO MARQUES, 1893

Filed under: John Ross e a linha férrea Delagoa 1893 — ABM @ 08:47

Imagem retocada.

Trabalhadores da NZASM posam para a posteridade na ponte de Brinkspruit, algures entre Nelspruit e Batberton, ainda inacabada, durante a construção da chamada linha de Delagoa Bay, 1892.

Esta é uma breve vinheta da época.

No dia 15 de janeiro de 1893, John Ross, um negro,  recebeu 15 chicotadas de um policia do Transvaal por alegada conduta imprópria.

Acontece que Ross era um engenheiro que trabalhava para a NZASM (a Nederlandsch-Zuid-Afrikaansche Spoorwegmaatschappij) na parte sul-africana da linha ferroviária que estava a ser construída entre Pretória e Lourenço Marques. Aparentemente, ele atrevera-se a reagir fortemente a comentários insultuosos feitos por um seu colega branco. Na segregada República Sul Africana (aqui refere-se apenas ao Transvaal, note-se) era costume os africanos serem sumaríssima e severamente punidos por tudo e por nada.

O que o agente da policia não sabia era que Ross era também um cidadão dos Estados Unidos da América.

Ross reclamou do tratamento de que fora e, do incidente, resultou uma disputa diplomática entre os Estados Unidos da América e o Transvaal.

Ross apresentou queixa pelo espancamento de que fora alvo no consulado dos Estados Unidos em Joanesburgo. O cônsul, um tal Sr. William Van Ness, relatou o assunto a seus superiores em Washington. Van Ness também confrontou o Secretário de Estado do Transvaal, Willem Johannes Leyds. Com o apoio do Departamento de Estado dos EUA, Ross exigiu 10.000 dólares em danos, uma verdadeira fortuna na época. Leyds, que se queria livrar do caso o mais rápido possível, viu que não havia outra opção a não ser pagar a indemnização.

Algumas dezenas de cidadãos americanos negros viviam na altura na República Sul-Africana. A maioria veio para a região durante o boom económico que se seguiu à descoberta de ouro no Witwatersrand em 1886.

Após o incidente com John Ross, o governo do Transvaal quis evitar mais problemas. Assim, passou a ser exigido que os negros americanos no Transvaal agora tinham que se registrar no consulado americano em Joanesburgo. Lá, eles receberiam um passe, indicando um “estatuto honorífico” que lhes garantia os mesmos privilégios acordados aos estrangeiros brancos.

Por exemplo, eles podiam pernoitar em qualquer hotel e viajar em primeira classe nos comboios.

Ross atribuiu grande importância a esse novo estatuto. Ele certamente não queria ser equiparado aos negros africanos. Em 1896, o Volksraad (o parlamento do Transvaal) aprovou uma lei exigindo que os negros que procuravam trabalho em certos distritos mineiros usassem um distintivo. Ross temia que todas as pessoas de cor fossem colocadas no mesmo nível que “os aborígenes rudes, selvagens e totalmente incultos, sendo compelidos a usar um distintivo no braço esquerdo”. Os temores de Ross eram injustificados: com a nova lei, a regra não se aplicava aos negros americanos. Para assegurar um bom relacionamento diplomático com os Estados Unidos, o governo do Transvaal não se importou de abrir uma excepção à sua rígida política de segregação.

Do lado português do projecto, não se conhecem situações semelhantes.

Fontes:

1. https://douwevandergalien.com

2. Ver  William W. Van Ness to Dr. Leyds, Lydenburg District, January 15, 1893, George F. Hollis to Josiah Quincy, Cape Town, May 9, 1893, Van Ness to Leyds, Johannesburg, September 18, 1893 and John Ross to Leyds, Johannesburg, September 16, 1893 in Consular Despatches, Cape Town General Records of the Department of State, Record Group 59. National Archives Microfilm publications, T. 191, roll 15.

3. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:18_Tonner_Brinkspruit_bridge.jpg

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