THE DELAGOA BAY WORLD

29/11/2023

ARTHUR BAYLY E O SACO DE DISCOS DA DISCOTECA BAYLY EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 70

Imagens retocadas.

Saco para discos LP (long play) da Discoteca Bayly, com dependências na Pinheiro Chagas e na Manuel de Arriaga em Lourenço Marques. Hoje já quase ninguém sabe o que era um LP.

As duas lojas faziam parte de Casa Bayly, com um passado ilustre na Cidade, fundada no fim do século XIX por A. W. Bayly, comerciante, proprietário de jornais e dono de publicações, incluindo vários postais.

Segundo um resumo de um descendente (e não só – ver as fontes em baixo), Arthur William Bayly era filho de William Bayly e a sua mulher Hannah (apelido de solteira Kitchner). Britânico, nasceu em 1855 e cresceu e foi educado em Southampton e em Londres, e emigrou para o que é hoje a África do Sul em 1879. Em 1883 ele casou-se com Mary Olive Hope Bodrick, com quem teve dois filhos e duas filhas. Pouco depois da descoberta de ouro em Barberton ele mudou-se para a pequena urbe perto de Nelspruit na então República do Transvaal (nome formal: República Sul-Africana) e em Abril de 1886 fundou o jornal The Barberton Herald and Mining Mail. Em Setembro de 1892 o seu jornal fundiu-se com o jornal Gold Field News, de que resultou o Gold Field News and Barberton Herald.

Em 1898 a sua empresa, A.W. Bayly & Co., abriu uma representação em Lourenço Marques e Bayly mudou-se para a pequena cidade colonial portuguesa. A sua empresa expandiu a sua actividade, vendendo discos, gramofones e partituras de música, livros, material de escritório, tipografia, mercadoria diversa. O General Directory of South Africa de 1908 refere ainda que Bayly fazia fotografia e comerciava sementes.

De facto, há notícia de ter existido uma loja de fotografia Bayly no Avenida Building, no mesmo espaço do estúdio dos Irmãos Lazarus, que cerca de 1908 mudaram-se para Lisboa. Wilberforce Bayly, que também veio de Barberton, e onde também tivera um estúdio de fotografia, era um dos irmãos mais novos de Arthur, no seu caso dez anos mais novo. Ele trabalhou durante anos com e para Arthur em Barberton, e foi ele em princípio que geriu o negócio da fotografia em Lourenço Marques durante uns anos, até ficar doente. Passou depois uns dois anos com a filha Esme em Toulon, na França, após o que voltou para a África do Sul. Morreu em Johannesburgo em 12 de Junho de 1944, com 79 anos de idade.

Para além do porto, do caminho de ferro e do crescente negócio com o Transvaal, em 1 de Dezembro de 1898, a título provisório, Lourenço Marques foi designada a capital de Moçambique (estatuto que se tornaria permanente a 23 de Maio de 1907, segundo o Boletim Oficial Nº26, de 1 de Julho de 1907). Isso significava que o Governador-Geral residiria na Cidade e toda a burocracia provincial cresceria aqui.

Em 1905 Bayly fundou o jornal Lourenço Marques Guardian (1905-1952), que substituiu o jornal diário Delagoa Gazette Shipping and Commercial Intelligence e mais tarde começou a publicar o anuário Delagoa Bay Directory, posteriormente o Anuário de Lourenço Marques, (1908-1947). Antes disso, logo após chegar, Bayly criou umas espécie de newsletter semanal em inglês, chamada The Lourenço Marques Advertiser, que ainda era imprimida em Barberton, onde estavam as máquinas tipográficas, e trazida para Lourenço Marques de comboio. Nestas actividades, Bayly foi tipógrafo, editor, publicitário e jornalista.

Entre a Praça 7 de Março ao lado da “Casa Amarela” (onde nos anos 60 surgiu o Café Nicola) e depois nos números 38-40 da Rua Consiglieri Pedroso (nº de telefone: 125) e na Avenida da República (hoje a 25 de Setembro), os Bayly mantiveram durante décadas lojas com a sua marca, A Casa Bayly, primeiro na esquina onde depois se fez o Hotel Turismo e depois na esquina com a avenida que dava acesso à Praça Mac-Mahon.

Isto para além das discotecas na Pinheiro Chagas e na Manuel de Arriaga.

Presumo que após a sua morte em Durban em Julho de 1915, com 60 anos de idade, o negócio foi continuado por familiares. Para além da mulher, Mabel, mas que morreu logo a seguir, também em Durban, em Outubro de 1917, Arthur tinha seis irmãos e ainda os filhos. Mas não sei.

Até a Frelimo chegar, havia uma rua na Polana com o seu nome. Imagino que já deve ter ido há muito tempo. Mas não faz mal. Arthur Bayly aqui fica recordado.

E uma curiosidade pessoal:

Capa de um disco LP, Hello Dolly! (1969) um dos primeiros que comprei (na vida e) na Casa Bayly depois de ver e adorar o filme no Scala em Lourenço Marques no início da década de 1970 (recebeu 3 Óscares da Academia). O álbum pode ser escutado premindo AQUI. As modernices de hoje permitem isto. Ainda tenho o disco original aqui em casa.
Barbra Streisand no seu melhor na cena principal do filme, em que canta no Restaurante Harmonia Gardens em Nova Iorque, no fim da qual canta o que então era um ídolo do jazz para mim, o superlativo Louis Armstrong. Para ver a segunda parte, premir AQUI.
O Scala, na Baixa de Lourenço Marques, uma janela para o mundo e para a imaginação e onde vi Hello Dolly! aí para 1970- com dez anos de idade, num camarote no balcão do lado direito. No intervalo, uma arrufada e uma Coca Cola na pastelaria ao lado. Digamos que….privilégios coloniais.

Fontes

https://terra-mae-amada-mozambique.blogspot.com/2020/08/edificios-na-do-do-seculo-era-o-preco.html

https://www.s2a3.org.za/bio/Biograph_final.php?serial=3409

https://www.myheritage.com.pt/names/arthur_bayly#

https://www.theheritageportal.co.za/article/where-there-was-gold-there-were-photographers-barberton-goldrush

18/05/2021

ATRAVESSANDO A PASSADEIRA EM LOURENÇO MARQUES, 1961

Imagem retocada.

Pessoas a atravessarem a Avenida da República na Cidade Baixa, na esquina onde na altura estava a Casa Bayly, no lugar da qual posteriormente se construiu o Hotel Turismo, 1961.

16/07/2020

A BAIXA DE LOURENÇO MARQUES, O HOTEL TURISMO E A CASA BAILY, DÉCADA DE 1970

Imagens retocadas.

 

A Baixa de Lourenço Marques e a Avenida da República, final da década de 1960.

 

Esta imagem é um detalhe da imagem em cima, mostrando o então futuro Hotel Turismo (esquina das Avenidas Manuel de Arriaga e República) em construção, obra do empresário Jorge de Abreu, que na altura já era o dono do Hotel Tivoli e um dos principais empresários de Moçambique. No mesmo local, durante muitos anos, nesta esquina ficava um pequeno edifício onde funcionava a Casa Baily.

14/09/2018

A CASA BAILY EM LOURENÇO MARQUES, 1961

 

Em primeiro plano, a Casa Baily. Atrás, o Hotel Tamariz e a Rua Consiglieri Pedroso. À esquerda no canto superior, o futuro BNU em construção.

 

Em primeiro plano, a Casa Baily. Atrás, o Hotel Tamariz. À esquerda no canto superior, o futuro BNU em construção.

22/07/2018

O HOTEL TURISMO NA BAIXA DE LOURENÇO MARQUES, 1970

Grato ao PPT e ao AHM.

 

O Hotel Turismo na Baixa de Lourenço Marques, Março de 1970. Propriedade de uma sociedade que incluía o Hotel Tivoli e em que o sócio de referência era o genial (mas infelizmente pouco conhecido, hoje) empresário Jorge de Abreu, foi implantado na esquina onde antes se situou, durante décadas, a Casa Bayly. No rés-do-chão, ficavam escritórios da DETA.

08/10/2017

A AVENIDA DA REPÚBLICA EM LOURENÇO MARQUES, EM 1900, 1960, 1966 E 1972

Grato ao grande Magno Antunes e ao Fernando Pinho.

O interessante neste caso é que as quatro imagens foram tiradas praticamente do mesmo local e ângulo mas com um intervalo de cerca de 50 a 70 anos: da esquina da Praça onde fica situado o Bazar de Lourenço Marques, na direcção Nascente.

Se algum exmo. Leitor em Maputo fizer o favor de tirar e me enviar uma imagem do mesmo ângulo, mas actual, eu colocaria aqui, com agradecimentos profundos.

A então Avenida Dom Carlos em Lourenço Marques, cerca de 1900. Posteriormente re-baptizada como Avenida da República e actualmente Avenida 25 de Setembro. Foto de Joseph e Maurice Lazarus, os lendários retratistas da Cidade. Reparem no edifício à direita, mais tarde a Casa Bayly.

 

A Avenida da República, cerca de 1960. À direita, o mesmo edifício, nesta altura a Casa Bayly. Mais abaixo, a Casa Coimbra. Cerca de dez anos mais tarde, o edifício da Casa Bayly foi demolido e ali foi edificado o Hotel Turismo, um investimento de um dos membros da Família Abreu (que também detinham o Hotel Tivoli). Este hotel ainda existe e opera como tal.

 

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O mesmo local na segunda metade dos anos 60, em que já se vê edificado o edifício do Banco Nacional Ultramarino.

 

1972. Na esquina, agora um arranha-céus, o Hotel Turismo.

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