THE DELAGOA BAY WORLD

14/05/2024

OS QUADROS, MARCELO CAETANO E A ILHA DE MOÇAMBIQUE

A primeira imagem, retocada e colorida por mim, foi muito gentilmente cedida pelo Nuno Quadros e inspirou este texto.

Marcelo Caetano, conhecido em Portugal por ter sido o sucessor de Salazar (nomeado por Américo Tomás Presidente do Conselho em 27 de Setembro de 1968) teve uma tarefa impossível. O que não o impediu de tentar fazer alguma coisa, pouca e sem grandes efeitos.

Num evento na Ilha de Moçambique, cerca de Agosto de 1945. Na audiência podem-se ver à direita os Pais de Nuno Quadros com a irmã mais velha no meio(em vestido azul claro) e, mais acima atrás, Marcelo Caetano, então Ministro das Colónias de Portugal, segurando um lenço branco. Marcelo estava no meio de uma longa visita (seis meses) às então colónias portuguesas, tendo, durante a sua ausência, ficado o então Capitão de Mar e Guerra Américo Tomás, em Lisboa, a tomar conta da pastas das Colónias interinamente. Num discurso proferido no Liceu Salazar em Lourenço Marques no dia a seguir à sua chegada à capital moçambicana em Abril de 1969, e que pode ser visto aqui, Caetano especificamente referiu que a sua visita em 1945 à Ilha de Moçambique fora “inesquecível”.

Quando assumiu funções, Portugal era, por falta de melhor descrição, uma ditadura de partido único desde Maio de 1926, com censura prévia de tudo e uma polícia política que ajudava a manter o regime, à paulada. Ainda relativamente pobre, a sua economia estava no entanto a crescer rapidamente, principalmente nas transacções com a Europa (via EFTA) e apesar de manter as suas colónias, que enfrentavam conflitos armados, os nacionalistas suportados pela China, URSS e países de Leste. O Dr. Mondlane ainda era o líder da Frelimo mas já a ser desgastado pelos seus mais radicais assessores (Samora, Marcelino e Chissano, que o sucederam em 1969).

É curioso ler a dinâmica aquando da sua tomada de posse em 1968. Num excelente e muito legível texto a propósito de Caetano e da sua postura e política colonial, o académico Fernando Tavares Pimenta mapeia e descreve o que Caetano pensava, o que enfrentou e o que ele pensava fazer – se o deixassem, o que não aconteceu. Para além dos chamados integralistas, defensores do Portugal pluricontinental etc e tal, Marcelo incorreu em dois equívocos que seriam fatais.

O primeiro equívoco aconteceu precisamente em 1945, quando, ainda em plena II Guerra Mundial (o Império do Japão só se renderia em Setembro desse ano), e nomeado ministro das Colónias, Caetano decidiu visitar as colónias (fez uma paragem em São Tomé e visitou mais demoradamente Angola e Moçambique). Ficou com uma certa impressão de Moçambique colonial que mais tarde tornaria difícil as decisões que tinham que ser tomadas. Num também excelente texto que descreve em algum detalhe essa viagem a Angola e Moçambique, António Duarte Silva refere que, nessa viagem, Caetano se tornou num africanista emotivo.

A comitiva (Caetano, a mulher e alguns assessores) saiu de navio para Luanda em 9 de Junho de 1945, onde chegaram a 29 de Junho. O então ministro seguiria de avião para Lourenço Marques em 21 de Julho, com uma paragem em Lusaka, chegando à capital de Moçambique no dia 22 de Julho.

Ficaria em Moçambique, por onde viajou (visitou ainda a União Sul-Africana, onde se reuniu com Jan Smuts) até ao dia 7 de Setembro, quando viajou para Luanda de avião.

Portanto Marcelo Caetano estava em Moçambique quando os Estados Unidos lançaram as bombas atómicas em 6 e 9 de Agosto e o Império do Japão fez a Declaração de Rendição Incondicional em 15 de Agosto.

Por essa razão, o contingente militar português que era para ter ido para Timor em 1942 mas que acabou por ficar retido em Lourenço Marques, embarcou no dia 1 de Setembro para recuperar a soberania naquela parcela portuguesa, que estava sob ocupação japonesa.

No Cais Gorjão em Lourenço Marques, uma multidão assiste ao embarque das tropas portuguesas no Angola, com destino a Timor.

O segundo equívoco de Marcelo Caetano ocorreu em 1969 (já o mencionei num outro texto há uns anos).

Numa altura em que já era claro que um sistema de matriz colonial tinha os dias mais do que contados, o então já primeiro-ministro, naquela que foi a sua primeira viagem após a tomada de posse, foi recebido onde quer que fosse em pura apoteose (suponho que em parte aparente).

Caetano é recebido em Mavalane pelo amigo de longa data, Baltazar Rebelo de Sousa, então GG de Moçambique, Abril de 1969.
Ladeado pelo pessoal da Mocidade Portuguesa, Caetano, seguido por Baltazar e Adriano Moreira, e ostentando um colar de flôres à hawaiana, entra na gare do Aeroporto Gago Coutinho. O desfile da caravana até ao Palácio da Ponta Vermelha, com banhos de multidão, é completamente alucinante. Até os da Mafalala foram ver.

A visita, cuidadosamente organizada para ter grande impacto, foi um sucesso pulicitário para o regime.

Mas criou uma impressão falsa.

A de que ainda havia tempo. A de que tinha tempo.

Depreendo que, apesar da enorme resistência dos integralistas, Caetano queria puxar para uma autonomia acelarada em que estimo que houvesse uma independência “multiracial” até 1980.

Mas o tempo não estava do seu lado.

Num contexto em que o seu governo não falava com a Frelimo (para desespero de Jorge Jardim, conhecido por organizar as misses, e que fora marginalizado), e em que a população branca não lhes ocorria sequer decidir nada quanto a esse futuro, não acredito que tal fosse viável a não ser com a intervenção dos vizinhos, ambos autocracias de minorias brancas, o que nem portugueses nem sul-africanos queriam.

Este é um dos what ifs interessantes da História.

Todos sabemos o que aconteceu.

Foi-se empurrando com a barriga.

Após o pronunciamento militar em Abril de 1974, Caetano será exilado para o Brasil. Morreu no Rio de Janeiro em 1980 e ali está sepultado.

Os militares revoltosos entregaram o governo de Moçambique a uma Frelimo radicalizada no dia 20 de Setembro de 1974. Moçambique passou de uma ditadura colonial para uma ditadura comunista radical, empenhada em destruir todos os vestígios do passado e em continuar a lutar, desta vez rodesianos e sul-africanos. O preço pago pelos moçambicanos será terrível e a tormenta durra até estes dias. A Frelimo governa há 50 anos, mais do que o regime de Salazar governou Portugal.

Portugal hoje é um regime parlamentar democrático com algumas falhas. Ganha algum dinheiro com turismo, agricultura e serviços e recebe subsídios da União Europeia, à qual se juntou em 1986. Não tem sido capaz de competir e de proporcionar riqueza para a maior parte dos seus habitantes.

A Ilha de Moçambique continua lá onde sempre esteve.

28/08/2022

MARCELO CAETANO VISITA LOURENÇO MARQUES, ABRIL DE 1969

Imagem retocada e colorida.

Alguns meses após Américo Tomás o ter nomeado Presidente do Conselho de Ministros de Portugal, após o AVC que vitimou Oliveira Salazar, Marcelo Caetano fez uma visita a Moçambique, sendo recebido pelo seu amigo de longa data, o médico de clínica geral Baltasar Rebelo de Sousa, que fora nomeado Governador-Geral pouco antes. Vivia-se a Primavera Marcelista, que se revelou um logro.

No Aeroporto Gago Coutinho em Lourenço Marques, Marcelo Caetano, acompanhado por Sarmento Rodrigues (ex-GG de Moçambique e então Ministro da Defesa Naciona, na foto do lado esquerdol) desembarca de um Boeing 707 da TAP e é recebido por Baltasar Rebelo de Sousa (aqui com a gravata azul). Foi uma visita triunfal, com a agravante de criar (principalmente) na cabeça de Caetano que estava tudo bem e que os portugueses estavam na colónia de pedra e cal. A prová-lo os banhos de multidões, a construção da Barragem no Zambeze e a, mais tarde, Operação Nó Górdio. Para os governantes e muitos portugueses, a ilusão era quase perfeita.

09/10/2021

MARCELO CAETANO EM LOURENÇO MARQUES, 1969

Imagem retocada, do espólio de Alfredo Pereira de Lima.

Não foi a primeira visita de Marcelo Caetano a Lourenço Marques. Mas foi a primeira visita de um Presidente do Conselho português a Moçambique, cargo que despenhava pouco depois do AVC que invalidou Salazar. Engendrada por Baltazar Rebelo de Sousa, que na altura (e por cerca de dois anos) Governador-Geral da Província, a visita foi talvez demasiadamente apoteótica e enganou quase toda a gente, especialmente os brancos, que erroneamente pensaram que estava tudo bem e que havia tempo e futuro – o que depois se provou não ser correcto. Acima de todos enganou o próprio Marcelo.

Marcelo Caetano, à direita, é cumprimentado pelo Engenheiro Fernando Seixas, Director dos Serviços dos Portos, Caminhos de Ferro e Transportes de Moçambique, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lourenço Marques, sexta-feira, 18 de Abril de 1969.

26/05/2019

OS REBELO DE SOUSA NO PALÁCIO DA PONTA VERMELHA EM LOURENÇO MARQUES, 1969

Imagem retocada.

A fugaz passagem de Baltasar Rebelo de Sousa por Moçambique – onde esteve no topo da administração colonial de cerca de dois anos, entre meados de 1968 e o primeiro semestre de 1970 – impressionou muito menos pela substância que pelo estilo, que, retrospectivamente, era a substância e que constrastava quase completamente com o cinzentismo reiterado dos seus antecessores e sucedâneos no cargo de Governador-Geral da sedutora mas perpetuamente problemática colónia africana, para o qual eram nomeados por despacho de Lisboa.

No seu caso, nomeado, ainda, pelo Dr. Oliveira Salazar, que também, antes da queda da cadeira no pequeno forte onde veraneava em São João do Estoril (agora um visitável museu) e do AVC, decidira ainda mandar construir a faraónica Cabora-Bassa a reter as águas do Zambeze, lá nos confins de Tete e a produzir electricidade basicamente de borla para os boers.

Marcelo Caetano, o sucessor de Salazar e uma espécie de compagnon de route de Baltasar dos seus tempos da Mocidade Portuguesa e dos corredores da União Nacional, o partido único da altura (sucedido efectivamente pelo actual partido único composto pelo duopólio PS e PSD), assim que pôde puxou-o para o pé de si na capital do já atribulado Império Português, do qual ostensivamente desistiria voluntariamente em Fevereiro de 1974, quando Spínola insitiu em publicar Portugal e o Futuro, dois meses antes do golpe militar organizado pelo Lourenço-marquino major Otelo de Carvalho.

Adicionalmente a uma queda, genial e até então largamente desconhecida do público cativo da ditadura, para o protocolo e as relações públicas, que se primava pela informalidade, pela proximidade, e pela simpatia por praticamente tudo e todos, e todas, com talvez a excepção dos terroristas da Frelimo (e mesmo aí, presume-se, estritamente por razões conveniência de serviço), Baltasar, que desempenhou os seus dois anos com irrepreensível competência – no resto aparentava ser um produto ideologicamente acabado do regime criado por Salazar- trazia consigo na bagagem para Lourenço Marques uma arma formidável e inédita, que se revelaria crítica para a posterior percepção da sua passagem: uma família motivada e detalhadamente preparada para o papel, previamente inexplorado ao ponto da quase inexistência, de primeira família do Moçambique colonial, com todos os seus tiques e apartheids sociais, económicos, culturais, religiosos e especialmente raciais.

Se só por um breve momento, os portugueses, e moçambicanos, de todas as cores, ficaram rendidos e distraídos.

Baltasar foi, por exemplo, o único governador na História de Moçambique que, pessoalmente, tratou os pretos e os monhés de Moçambique como gente, com respeito, descomplexadamente, quase como concidadãos.

 

Numa das salas do Palácio da Ponta Vermelha em Lourenço Marques, 1969. Os três filhos de Baltasar e de Maria das Neves entretêm os convidados. Ver a mesma imagem indexada, em baixo.

A forma como Baltasar encarou a sua missão, naquele ano de 1968, e a sua interpretação do papel de Portugal no futuro da colónia, descrita no seu discurso feito no salão de festas do Liceu Salazar em Abril de 1969 durante a visita do seu amigo Marcelo (caetano), foi, se só por isso, uma vertigem de contraste com a realidade de então, senão, afinal, uma cruel ilusão, em última instância uma ironia quase quixotesca, que a Frelimo e os seus acólitos depressa corrigiriam marcialmente e com rigor marxista, impondo, assim que os capitães portugueses rebeldes lhes entregaram apressada e solicitamente o poder e o resto no dia 20 de Setembro de 1974, um longo e miserável Gulag,  pondo um fim à bem intencionada visão da criação, em Moçambique, de uma sociedade multiracial, multicultural, religiosamente diversa, democrática e com níveis elevados de crescimento económico e social.

Pois não haveria, não poderia haver qualquer piedade para com os colonos brancos malvados, especialmente esses – e essas – que os haviam oprimido durante quinhentos anos seguidos (foram oitenta mas não interessa). Nem com os seus filhos.

E não houve. E assim, com possivelmente a excepção da família do Mia Couto, que apesar de branca e de origem portuguesa como eu (vindos da rival Beira, ainda por cima) se professou laudatória e convictamente como “moçambicana de gema” (traduzindo: mais moçambicana que eu, apenas porque na altura achou por bem submeter-se ao terror do Gulag frelimiano, assegurando assim o novo, precioso BI do novo regime) a esmagadora maioria dos brancos restantes no território, preferiu celeremente fugir ou sair para o mundo, uma decisão que, retrospectivamente, foi tão sábia para si como trágica, para o futuro do, actualmente, sétimo país mais miserável do mundo e um dos mais corruptos, em que um recente presidente demonstradamente orquestrou um roubo descarado de dois mil milhões de dólares e ainda se passeia pela capital, livremente discursando o seu patriotismo e apego ao maravilhoso povo.

A família de Baltasar incluía a sua mulher Maria das Neves e três jovens filhos (estão na fotografia), minuciosamente educados para uma irrepreensível conduta pública. E neste núcleo, distinguiria dois factores críticos de sucesso: a enorme cumplicidade entre o casal, e a discreta e inteligente genialidade de Maria das Neves, que, nalguns aspectos, apesar de algum esforço de manter aquela discrição feminina submissa ainda muito apreciada na sociedade portuguesa, era ainda assim tida como tão ofuscante que Baltasar era, por comparação, injusta e maliciosamente, desconsiderado pelas má-línguas de Lourenço Marques não como o Governador-Geral, mas o marido de Maria das Neves. Alguns chamavam-lhe o Baltazero, o que até era simpático se comparado com a alcunha que desmerecidamente se dava, por exemplo, a Pimentel dos Santos, outro competentíssimo tecnocrata, e que nao repetirei aqui. A chacota de quase todos os governamentes nomeados por Lisboa para irem mandar em Moçambique era uma tradição longa e nobre na capital moçambicana e Rebelo de Sousa não seria excepção.

Maria das Neves, bonita, elegante e informal, culta, ciente da sua missão e que era o que os sul-africanos do apartheid chamavam um class act, não se cingia aos tradicionais chás das 5 no palácio com as madames da elite branca da Cidade e a ocasional inauguração de mais uma traineira ou mais uma créche, que era mais ou menos o que todas fizeram antes e depois dela. Com o apoio de Baltasar, interessava-se pela arte e pelas outras culturas de Moçambique e puxou pelo seu reconhecimento e valorização, indo ao mato encontrar-se com as pessoas e trazendo-as ao Palácio da Ponta Vermelha, a sumptuosa residência dos Governadores-Gerais desde que António Ennes chegara a Lourenço Marques no início de 1895 para salvar a pequena cidade das investidas das tribos locais e ali ficara a residir numas casas que tinham sido da Concessão do Coronel McMurdo que ali havia (da linha férrea entre Lourenço Marques e Pretória, que seria inaugurada seis meses mais tarde).

Maria das Neves no Residência do Governador-Geral em Lourenço Marques, cerca de 1969.

O mandato de Baltasar seria dos mais curtos de todos os governadores-gerais desde 1926. Em seguida iria ser ministro de Caetano em Lisboa e seria sucedido no cargo por Arantes de Oliveira, um apagadíssimo mas inteligentíssimo tecnocrata, que se focaria em concluir a megalómana Barragem de Cabora Bassa, enquanto o General Kaúlza de Arriaga fazia a guerra à moda do Vietname, numa escalada que fora acompanhada pelos financiadores da Frelimo, que, na sequência do assassinato do Dr. Mondlane em Fevereiro de 1969,  já se haviam radicalizado e cheiravam sangue no ar, especialmente depois de o Papa, Paulo I, sem qualquer aviso, ter recebido no Vaticano os representantes das guerrilhas africanas, incluindo o perpetuamente incontornável e agora celebrado nonagenário, Marcelino dos Santos.

Naquela altura, Caetano já ia empurrando o desfecho final com a barriga, sendo a obstinação de Salazar com as colónias seguida pela rigidez negocial de Américo Tomás, impedindo, no final a sua visão da criação de uma espécie de commonwealth, certamente seguida de independências formais. Mas já era tarde demais para uma descolonização à britânica.

No final de 1973, à guiza de uma questão algo esdrúxula de estatuto, carreira e remuneração, os oficiais júniores do exército conspiraram e, quase surpresos, descobriram apoios fortes a quase todos os níveis e pelo menos a complacência de Caetano. À segunda vez, sucederam, ao som do Grândola Vila Morena e com um breve sopro, derrubar a ditadura.

Nesse dia, resignado, Baltasar, ministro, esperou pacientemente pelo desfecho da intentona no seu gabinete e à tarde  entregou as chaves do seu carro de serviço e foi para sua casa na Rua de São Bernardo, de onde mais tarde seguiu, com Maria das Neves, para um exílio inesperado no Brasil.

Baltasar Rebelo de Sousa e a sua mulher nunca foram esquecidos em Moçambique, mesmo durante o pior do ressábio anti-português da Frelimo. Ficou no ar o mito daquela espécie de primavera, a simpatia empenhada do casal e aquela vertigem do que poderia ter sido mas que nunca seria.

É em parte por causa disto tudo que, quem viveu essa era e agora analisa o desempenho do seu filho mais velho, que desde novo apostou na democratização do regime (pelo PSD, o lado direito da actual União Nacional) e sucedeu recentemente em ser eleito presidente da república portuguesa, tem a mais estranha sensação de dejá vu.

A sensação de que, salvaguardadas as abissais diferenças nos meios de comunicação e natureza dos regimes, se está perante uma espécie de Governador-Geral de Portugal, com a singular diferença de que Portugal, pese a propaganda e o engodo histórico e ideológico agora em voga, não teve nem tem o passado ou sequer a vocação multicultural multiracial e multi-religiosa que uma vez existiu na sua antiga colónia da África Oriental.

La em cima, presume-se, Baltasar e Maria das Neves estarão a sorrir.

A mesma imagem, indexada. 1- (?); 2- (?); 3- (?); 4- (?); 5- António Rebelo de Sousa; 6 – Marcelo Rebelo de Sousa; 7 – (?); 8 – (?); 8- (?); 9- Malangatana Valente; 10 – Pedro Rebelo de Sousa; 11- (?); 12- (?); 12- (?). Se o Exmo. Leitor conhecer alguma das pessoas não identificadas, por favor escreva para aqui uma nota com a informação que tiver.

 

27/04/2019

MARCELO CAETANO VISITA LOURENÇO MARQUES, 1969

Imagem retocada.

Foi a maior recepção na história de Lourenço Marques, talvez só comparável à visita do herdeiro da coroa portuguesa, o Príncipe Real, SAR D. Luiz Filipe de Órléans e Bragança, em Julho de 1907 (e de que já ninguém se lembrava na altura).

 

Marcelo Caetano desfila em Lourenço Marques após a sua chegada à capital de Moçambique naquela que foi a primeira visita de um Presidente do Conselho português à colónia, 19 de Abril de 1969. Foi recebido pelo Governador-Geral, Baltazar Rebelo de Sousa, que não se vê esta imagem mas que está sentado ao seu lado.

 

Interessantes excertos da chegada de Marcelo Caetano à capital moçambicana naquele cair da noite de um sábado, 19 de Abril de 1969 – há exactamente 50 anos –  podem (e devem) ser vistos aqui, num vídeo não editado de 32 minutos da biblioteca da Rádio Televisão Portuguesa.

Note-se a “curiosidade” de, a 30.04 minutos do vídeo se ver o Ricardo Rangel, o futuro suposto alegado “pai da fotografia moçambicana” a tirar fotografias do cortejo à saída de uma visita ao Liceu Salazar onde Caetano fora discursar.

A cerimónia da chegada e toda a visita do sucessor de Salazar, nomeado escassos meses antes por Américo Tomás, fora cuidadosamente preparada pelo seu grannde amigo e o então Governador-Geral, Baltazar Rebelo de Sousa, que, para além do lado protocolar, incluindo figuras como o Arcebispo católico Dom Custódio Alvim Pereira, assegurou um vasto banho de multidão e ainda um conjunto de manifestações “espontâneas” de apoio ao regime, que aliás eram mais ou menos habituais e que aliás foram fortemente reforçadas sob o regime sucedâneo da Frelimo.

Caetano já tinha visitado Moçambique uma vez, mas foi a primeira visita enquanto chefe do governo português à província ultramarina.

Ao contrário de Charles de Gaulle em relação à Argélia, Marcelo Caetano ficou verdadeiramente impressionado com o que viu e ouviu e nunca se esqueceu da experiência apoteótica de “apoio” desta visita, tirando, em parte dali, todas as ilacções erradas, ajudado pelo facto de que, no regime, quase ninguém, a começar por Américo Tomás, o presidente da República portuguesa, que passou a agir como uma espécie de memória residual de Salazar, sequer queria ouvir falar de independências.

A lição desta visita, para Caetano, foi, nomeadamente, a de que tinha o suporte dos moçambicanos, dos portugueses e dos negros de Moçambique (ah ah ah) e que ainda tinha tempo para engendrar um sucedâneo para o regime colonial, que se vislumbra no que disse e fez nos anos seguintes, que se caminhava para autonomia quase completa até 1980.

Mas não havia nem tempo nem grande margem de manobra. Não havia qualquer diálogo com a “oposição.  A Frelimo (a que o regime chamava “subversão”), dirigida pelos seus apoiantes e patrocinadores e reforçada pelo “golpe de estado” que eliminara o paradigma do Dr. Eduardo Mondlane e Uria Simango e inaugurou a era radical comunista de Samora, Marcelino, Chissano e Guebuza, etc, não parou a guerrilha e exactamente cinco anos mais tarde, de dentro do exército português, surgiria um golpe militar, orquestrado por Otelo Carvalho, um obscuro major que nascera e crescera em Lourenço Marques, que pôs um fim abrupto (mas esperado) ao regime e, que no espaço de quatro meses e meio, entregaria a soberania do território à Frelimo.

28/11/2018

MARCELO CAETANO, ANOS 1970

Filed under: Marcelo Caetano — ABM @ 22:50

Imagem retocada.

Marcelo Caetano, sucessor de Salazar no cargo de Presidente do Conselho de Ministros português, anos 70. Governou entre o final de 1968 e Abril de 1974. Supostamente, era intelectualmente brilhante e boa pessoa, mas face aos desafios que Portugal enfrentava quando Américo Tomás lhe entregou a tarefa de governar Portugal, faltava-lhe um pouco aquilo que Salazar indubitável (e infelizmente) tinha e a que os espanhóis chamam cojones. E deixou escapar uma chance única de fazer o que tinha que ser feito – de uma maneira ou outra. Penso que é o que a História rezará daqui a uns cem anos.

17/08/2018

ASSINATURA DO CONTRATO PARA A CONSTRUÇÃO DE CABORA-BASSA, 1969

Capa de um conjunto de fotografias ilustrando a cerimónia da assinatura do contrato para a construção da barragem e central hidroeléctrica de Cabora Bassa (que agora os locais escrevem com “h”), 19 de Setembro de 1969. Na altura o Presidente do Conselho português era Marcelo Caetano, o Governador-Geral Baltasar Rebelo de Sousa, Eduardo Mondlane havia sido assassinado há sete meses e Samora, Marcelino e o Brigadeiro General Kaúlza de Arriaga prepararavam-se para tomar a Frelimo de assalto. E dois meses e meio antes dois norte-americanos pisavam a Lua.

Está à venda no sítio Bestleilões. Baratinho, ainda.

A capa.

03/06/2013

MARCELO CAETANO: UM PERFIL PESSOAL E POLÍTICO

Filed under: Marcelo Caetano, Marcelo Caetano - perfil pessoal — ABM @ 16:32

Marcelo Caetano sucedeu a Salazar como Presidente do Conselho de Ministros de Portugal, em 1968. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, 12 anos tarde demais.

Marcelo Caetano sucedeu a Salazar como Presidente do Conselho de Ministros de Portugal, em 1968. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, 12 anos tarde demais. Whatever. A biografia em baixo, contada por quem lhe era próximo, em três segmentos, que apanhei por acaso.

13/02/2012

JOSÉ MARIA MESQUITELA CUMPRIMENTA MARCELO CAETANO EM LOURENÇO MARQUES, 1969

Fotografia gentilmente cedida por José Maria Mesquitela.

Durante a única visita que fez a Moçambique, em meados de 1969, o então jovem José Maria Mesquitela cumprimenta Marcelo Caetano, recentemente empossado como Presidente do Conselho de Ministros português, na sequência dos problemas médicos que invalidaram Salazar. À esquerda de Marcelo Caetano está o ministro do Utramar de então, Prof. Joaquim Moreira da Silva Cunha. Do lado direito estão o Governador-Geral, Baltazar Rebelo de Sousa e a sua mulher. O senhor à direita não sei quem é. Um dos presentes é o seu padrinho (tenho que perguntar quem). O Pai Mesquitela foi um dos expoentes da política ultramarina e um firme defensor da permanência portuguesa em Moçambique, com um impressionante currículo a condizer. Gonçalo Mesquitela, um dos seus irmãos, foi um lendário (e temido) combatente por Portugal. Um Portugal que se extinguiu em 1974.

MARCELO CAETANO, O ÚLTIMO PRESIDENTE DO CONSELHO DO ESTADO NOVO, ANOS 1970

Filed under: José Maria Mesquitela, Marcelo Caetano — ABM @ 01:17

Como o meu amigo e moçambicanófilo José Maria Mesquitela refilou veementemente comigo esta tarde que nas minhas colectâneas lúdico-africanas só mostro fotografias de terroristas da Frelimo, traidores, comunistas e afins (o que nego veementemente, aqui mostra-se quase tudo) aqui vai uma foto tipo poster do Prof. Marcelo Caetano, o senhor que se seguiu a Salazar.

A seguir, claro, uma do próprio Salazar. 

E depois uma dele.

A ver se se restabelecem os equilíbrios político-partidários.

Marcelo Caetano, quando era o Presidente do Conselho que se seguiu a António de Oliveira Salazar (1968-1974)

11/02/2012

A CHEGADA A LOURENÇO MARQUES DE BALTAZAR REBELO DE SOUSA, GOVERNADOR-GERAL, 1968

Fotografia do IICT, restaurada.

Para ver a fotografia em tamanho maior, prima duas vezes na imagem com o rato do seu computador.

Baltazar Rebelo de Sousa (1921-2002) foi nomeado ainda por António de Oliveira Salazar como Governador-Geral de Moçambique, à chegada a Lourenço Marques, 1968.

Reproduzo uma nota publicada no Correio da Manhã aquando da sua morte em 2002, editada por mim:

Baltazar Rebelo de Sousa foi governador de Moçambique entre 1968 e 1970, tendo desenvolvido um percurso político próximo de Marcelo Caetano. Desempenhou funções de comissário nacional da Mocidade Portuguesa e de subsecretário de Estado da Educação de Marcelo Caetano. Foi ainda ministro dos Assuntos Sociais e das Corporações e Previdência Social. Uma das figuras mais destacadas do Estado Novo, Baltazar Rebelo de Sousa assumiu-se desde cedo como um reformista do regime fundado por Oliveira Salazar, deixando marcas nas políticas nacionais de saúde e, sobretudo, na africana. Desempenhou o cargo de governador-geral de Moçambique entre 1968 e 1970, tendo impulsionado a “africanização” do regime na ex-colónia portuguesa. A visão estratégica que evidenciou então viria mais tarde a ser elogiada pela própria Frelimo.

Durante o ano e meio que passou em Lourenço Marques, hoje Maputo, era regular o convívio que mantinha com escritores, artistas plásticos e musicólogos moçambicanos, como Malangatana, José Craveirinha e Garizo do Carmo, procurando igualmente um contacto próximo com os cidadãos mais desfavorecidos.

Regressado a Portugal, acumula os ministérios das Corporações e Assistência Social e da Saúde e Assistência, seguindo uma política de alargamento da rede de cuidados médicos e melhoria das estruturas hospitalares. Um conjunto de medidas que o situaram na “esquerda” do regime.

Em 1973, Marcelo Caetano, incontornável referência no percurso político de Baltazar Rebelo de Sousa, nomeia-o ministro do Ultramar, cargo que desempenhava aquando do 25 de Abril de 1974.

Após a “Revolução dos Cravos” exilou-se no Brasil em Junho de 1974, onde permaneceu durante 17 anos.

A ligação de Baltazar Rebelo de Sousa a Marcelo Caetano começou muito antes de este último assumir a chefia do Governo. Em Setembro de 1968, ambos integraram o influente “grupo da Choupana”, uma tertúlia de elementos ligados ao regime mas com perspectivas críticas em relação à política de Salazar.

E quando Marcelo Caetano é nomeado ministro das Colónias, Baltazar Rebelo de Sousa, ainda universitário, assume funções de seu secretário. A sua participação no Governo inicia-se em 1955, aos 34 anos, quando é nomeado subsecretário de Estado da Educação Nacional, cargo que desempenha até 1961. (fim)

11/01/2011

MARCELO CAETANO EM “CONVERSAS EM FAMÍLIA”

Filed under: Marcelo Caetano, PESSOAS — ABM @ 21:49

SÉRIE PESSOAS

MARCELO CAETANO EM "CONVERSAS EM FAMÍLIA"

MARCELO CAETANO

Filed under: Marcelo Caetano — ABM @ 21:41

SÉRIE PESSOAS – SUCEDEU A OLIVEIRA SALAZAR.

MARCELO CAETANO, PRESIDENTE DO CONSELHO EM PORTUGAL ENTRE 1968 E 1974

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