Hoje (8 de Julho de 2022) a actual empresa dos caminhos de ferro de Moçambique assinalou o 127º aniversário da sua fundação num comunicado de imprensa, o que de certa forma me surpreendeu. O percurso dos caminhos de ferro em Moçambique foi diverso e parte, como a linha férrea entre a Beira e o então território da Rhodésia, propriedade da British South Africa Company (ou seja, de Cecil Rhodes) que abriu anos antes. Para não falar das várias linhas férreas que serviam alguns dos projectos específicos desenvolvidos em algumas zonas de Moçambique.
Mas de facto “a” linha, quase a única que realmente interessava e que mereceu a cobiça de tudo e tudos, era a linha entre Lourenço Marques e Pretória, da qual cerca de 90 quilómetros percorriam território moçambicano. E essa foi oficialmente inaugurada no dia 8 de Julho de 1895.
O comunicado surpreende também porque é normal o regime (ainda) da Frelimo invariavelmente ignorar tudo o que vem atrás da data mágica de 1975. A LAM, por exemplo, hoje quase em coma terminal, não era a DETA de 1936 (também criada pelos Caminhos de Ferro): era uma empresa pública constituída em 1980. Pois claro que sim.
Imagem copiada do fascinante, hilariante e inenarrável, se patético, livro “The Key to South Africa: Delagoa Bay”, da autoria de Montague George Jessett, 1899. Ainda assim, e apesar da dedicatória cantante ao magnata Cecil Rhodes logo à entrada, vale a pena ler, para entender algum do pensamento imperial britânico em relação aos portugueses e ao Sul de Moçambique. Na altura em que foi publicado, a Grã-Bretanha preparava-se para mais uma vez atacar as repúblicas Boer (Transvaal e Estado Livre de Orange) e a turma de Rhodes instigava a anexação do que é hoje o Sul de Moçambique, baseado em dois factores: 1) que o porto de Lourenço Marques era mesmo muito muito bom para fazer parte da colónia sul-africana, e 2) que os portugueses enfim, digamos que não estavam à altura do desafio e que só davam chatices e que nem sequer conseguiam nem desenvolver a sua colónia nem controlar os seus nativos. Ah ah ah. Se calhar tinham razão.
Desenho esquemático feito pelo Sr. Montague, indicando o percurso da linha férrea entre Lourenço Marques e o Transvaal, que 1899 ainda era um país independente.