Imagem colorida e retocada por mim.
Mulheres e crianças Hindus em Lourenço Marques, início do Séc. XX. Na verdade, há em Lourenço Marques, enquanto cidade nascente, três histórias que devem ser contadas: a dos brancos, adequadamente reflectida nos registos coloniais; a dos negros que viviam ali e em redor, que é agora contada de uma forma um tanto enquistada mas enfim; e a dos asiáticos e de origem asiática, que a meu ver está muito mal contada, o que surpreende se se levar em consideração que praticamente metade do espaço urbano original lhes pertencia. Os brancos ocupavam a Rua Araújo e a Rua Consiglieri Pedroso, e os asiáticos (com várias designações) daí até à muralha Norte, delimitada pelo Pântano do Maé e que tinha como epicentro a Mesquita e a Rua da Gávea. E aí se calhar se fazia tanto negócio como se fazia do outro lado. Quando Lourenço Marques, um buraco miserável, acorda repentinamente quando se descobre ouro e diamantes no Transvaal e no Estado Livre de Orange (Kimberley depois abarbatado pelo Cabo) foram os asiáticos e não os portugueses os negociantes que se radicaram na insalubre urbe – e aguentaram lá, com as suas famílias. Nas minhas leituras, cruzei-me com inúmeros indicadores e descrições da sua presença na época, uma parte através de comentários displicentes de europeus, que não acreditavam no que estavam a ver e ainda que se interrogavam como é que os portugueses aceitavam conviver com “tais gentes” (a habitual conclusão era que se calhar os portugueses não eram bem europeus, mas uma raça inferior qualquer).