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17/07/2021

PARTIDA DE TROPAS PARA MOÇAMBIQUE, SETEMBRO DE 1914

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Imagem tirada por Benoliel, original no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, retocada e colorida.

O Durham Castle, um paquete britânico fretado à Union Castle Steamship Co. pelo governo de Portugal e levando os cerca de 1600 tropas da Primeira Força Expedicionária de Moçambique, liderada pelo Tenente-Coronel Pedro Massano de Amorim, com destino final em Palma, no Norte de Moçambique, prepara-se para sair da Doca da Rochha do Conde de Óbidos, em Alcântara, Lisboa, 11 de Setembro de 1914. Tudo um enorme, inútil, caro e quase ridículo esforço, os homens carne para canhão, tudo apenas para inglês ver e para agrado da elite predadora de Lisboa.

Um texto de Ana Saraiva relata a despedida em Lisboa:

Estas expedições [de tropas para cenários de guerra] tomaram o carácter de um grande acontecimento nacional. Depois de desfilarem desde a praça Marquês de Pombal até à praça do Município, as colunas das forças expedicionárias passaram à frente da Câmara Municipal de Lisboa, em cuja varanda se encontravam, entre outros, o presidente da república, Manuel de Arriaga, Afonso Costa, António José de Almeida e Brito Camacho. O povo de Lisboa, satisfeito com a tomada de decisão do governo pela defesa das colónias, despediu-se dos expedicionários com manifestação de verdadeira apoteose e aclamou vibrantemente o Chefe de Estado e as instituições.

O sítio Momentos de História relata o percurso:

O transporte da primeira força expedicionária foi efectuada no navio “Moçambique”, que seguia em comboio com o navio “Durham Castle”, que levava tropas para Moçambique. Os navios foram escoltados pelo cruzador “NRP Almirante Reis”, comandado pelo Capitão de Mar-e-guerra Carvalhosa e Ataíde, e pelas canhoneiras “NRP Ibo”, comandada pelo 1ª Tenente Carvalho Brandão, e “NRP Beira”, comandada pelo 2º Tenente Azevedo e Vasconcelos.

O comboio naval chegou ao porto de São Vicente, em Cabo Verde, a 19 de Setembro. As canhoneiras “NRP Beira” e “NRP Ibo” ficaram adstritas à protecção da zona naval do arquipélago. O cruzador “NRP Almirante Reis” e a canhoneira “NRP Beira” continuaram a escolta até Luanda, onde chegaram a 1 de Outubro.

Depois o cruzador “NRP Almirante Reis” escoltou os navios “Moçambique” e “Durham Castle” até Lourenço Marques.

Noutra entrada, o sítio Momentos de História descreve ainda o que aconteceu a seguir:

A viagem foi muito incómoda, pelo grande número de solípedes que o navio transportava, chegando o “Durham Castle” a Lourenço Marques, em 16 de Outubro de 1914. Ali, a Força Expedicionária teve de fazer o transbordo do “Durham Castle” para o “Moçambique”, onde seguiu para Porto Amélia. O desembarque em Porto Amélia aconteceu em 1 de Novembro de 1914, poucos dias antes da Indian Expeditionary Force “B”, ter tentado tomar a cidade de Tanga, na colónia da África Alemã Oriental.

Porto Amélia era ostensivamente a sede da Companhia do Niassa, a quem estava subcontratada a administração do norte da colónia via uma concessão. Como esta Companhia era controlada maioritariamente por accionistas alemães, não foi de espantar que não tenha existido qualquer preparação para receber as tropas da 1ª Força Expedicionária de Moçambique. O embarcadouro principal encontrava-se ainda em ruínas desde o ciclone do ano anterior, assim como muitas das casas ainda se encontravam sem telhado.

Foi grande a decepção dos expedicionários quando nada viram preparado para os acolher. Novamente, era necessário improvisar. De Lisboa fora pedido que se preparasse o estacionamento de uma base militar em Porto Amélia, mas por falta de recursos locais, por incapacidade e falta de vontade da Companhia do Niassa e falta de iniciativa do Governador da Colónia, nada se encontrava preparado. Este facto foi repetido em cada uma das expedições que se seguiram, sendo constantemente necessário construir todo o tipo de infra-estruturas.

Entretanto no norte da colónia alemã ( África Oriental Alemã, actualmente a parte continental da Tanzânia), a 2 de Novembro 1914, os ingleses fizeram uma tentativa de desembarque com forças militares coloniais britânicas IEF “B”, vindas da Índia, de cerca de 8.000 homens (europeus e indianos), apoiados por dois cruzadores. Os alemães com 1.500 homens, principalmente tropas indígenas, repeliram os indianos e os ingleses, que sofreram largas perdas em pessoal e material (500 espingardas e 16 metralhadoras) e, com isto, deram ao então futuro General Von Letttow Vorbeck o prestigio que necessitava. A derrota inglesa, em Tanga, teve como consequência a inactividade de todas as forças aliadas por um período de um ano e meio.

Com a derrota das tropas inglesas, sem uma definição de objectivos militares específicos por parte do Ministério da Guerra e do Governador da Colónia, Álvaro de Castro, o Tenente-coronel Massano de Amorim manteve a 1ª Força Expedicionária de Moçambique em Porto Amélia, numa atitude de defesa e de neutralidade. A razão da missão aparentava ser mais uma necessidade política do Governo Português, do que uma necessidade de ordem militar, o que também contribuiu para a inactividade militar. Em contrapartida, não existiam condições sanitárias, não existia comida de qualidade e os homens tinham de dormir sem redes protecção contra os mosquitos. Quando a época das chuvas chegou Porto Amélia transformou-se num pântano e as doenças transformaram-se em epidemias.

Em 15 de Junho de 1915 o Governador Álvaro de Castro transmitiu ao Tenente-coronel Pedro Massano de Amorim, a ordem vinda de Lisboa para reocupar o território de Quionga,(triângulo de Quionga), a norte de Porto Amélia, que se encontrava ocupado pelos alemães desde 1894, e invadir a colónia alemã.

O Tenente-coronel Pedro Massano de Amorim considerou despropositada a ordem, uma vez que a sua força militar, durante os oito meses de espera já tinha sofrido mais de 20% de baixas por doença sem nunca sequer ter saído de Porto Amélia e como tal considerou impossível executar qualquer movimento ofensivo sobre o “triângulo de Quionga” e de invasão sobre a colónia alemã. De facto, a sua principal preocupação estava na capacidade de se defender de uma sublevação nativa contra as suas tropas. Não teve a capacidade de executar a ordem para reforçar a defesa da fronteira Norte da colónia (numa extensão de 900 Km), não desenvolveu vias de comunicação entre os pontos fronteiriços junto ao rio Rovuma, nem reforçou os postos fronteiriços que se encontravam guarnecidos por tropas indígenas. A única obra militar que mandou executar foi uma via de 300 km, acompanhada por uma linha de telégrafo, através do Planalto Makonde, ligando Porto Amélia a Mocímboa do Rovuma, antes de regressar a Lisboa em Novembro de 1915.

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