THE DELAGOA BAY WORLD

01/10/2023

O AVENIDA BUILDING EM LOURENÇO MARQUES, FINAL DOS ANOS 50

Imagem retocada e colorida, a partir de um postal da Casa Lu Shih Tung.

Em primeiro plano ao centro, o histórico Avenida Building, mandado construir por Wilhelm Pott na esquina da então Avenida D. Carlos I (hoje Avenida 25 de Setembro) e Avenida Aguiar (hoje Marechal Samora Machel), quiçá o maior e dos primeiros a serem construídos na “nova” Baixa da Cidade no início do Séc. XX e com uma traça arquitectónica peculiar. À esquerda a Simal e acima o então novo prédio da African Life, mais tarde Lusitana. O Avenida Building ardeu parcialmente em 1990 e, em vez de promover o seu restauro, Eneas Comiche, o presidente da edilidade, recentemente, mandou demolir quase toda a ruína, excepto uma fachada graças ao protesto de um corajoso empresário. Não sei a quem pertence o terreno hoje, mas suspeito que as pressões para ali se construir um mamarracho devem ser mais do que muitas. O que não deixa de ser curioso, pois dado um erro na original terraplanagem do pântano ali existente, é o sítio que mais inunda na Cidade sempre que chove – e com tendência a piorar. Eneas, que está de saída após um segundo mandato intercalado, já tentou resolver esse problema mas não conseguiu.

16/10/2017

A ÚLTIMA FOTOGRAFIA DE PAUL KRUGER TIRADA NO TRANSVAAL PELOS IRMÃOS LAZARUS, SETEMBRO DE 1900

No final da primeira fase da II Guerra Anglo-Boer, em Setembro de 1900, os fotógrafos e irmãos Joseph e Maurice Lazarus, cidadãos britânicos judeus então recentemente radicados em Lourenço Marques, onde abriram um estúdio na Rua Araújo ali perto da Praça 7 de Março, , deslocaram-se até ao Transvaal, nomeadamente à zona mais perto da fronteira portuguesa de Moçambique, para fazerem alguma cobertura dos eventos da guerra.

 

A última fotografia de Paul Kruger antes de partir para o exílio, Setembro de 1900, tirada pelos Irmãos Lazarus. A indicação do mês está errada.

Nessa altura, a pequena Lourenço Marques vivia em polvorosa, cheia de britânicos e vários estrangeiros, inundada por refugiados boer e as suas famílias, o porto bloqueado pela Armada britânica, carregamentos de toda a espécie a chegar e a serem vistoriados. A pequena Cidade era um dos epicentros do grande conflito envolvendo a então maior potência mundial, a primeira guerra seguida pelo mundo inteiro via relatórios enviados por telégrafo, e por fotografia.

Um dos episódios mais memoráveis de toda a guerra, que reflecte a nova mediatização, foi a captura pelos Boers, e subsequente fuga, de um jovem aristocrata britânico que era um mistura de aventureiro imperial e jornalista, chamado Winston Churchill. Capturado e aprisionado em Pretória, Churchill foge a pé e por comboio para Lourenço Marques, onde se hospeda em casa do cônsul britânico local, e imediatamente redige um longo relato, que envia para os jornais de Londres pelo telégrafo local, causando uma enorme sensação entre o público inglês e tornando-o famoso mundialmente.

Ainda hoje, no edifício da antiga residência consular em Maputo, ao pé do antigo Rádio Clube, uma placa assinala a passagem de Churchill por Lourenço Marques em Dezembro de 1899. Só ficaria dois dias na Cidade, tendo logo apanhado um vapor para Durban, onde foi recebido por uma enorme multidão e aclamado como um herói. Nessa altura, coincidentemente, na capital do Natal vivia com a sua família um jovem tímido português com 11 anos e meio de idade, chamado…..Fernando Pessoa.

 

Por sua parte, entre vários outros problemas bilaterais, Portugal procurava suster o embate e a pressão britânica no sentido de derrotar os Boers.

 

Uma caricatura política publicada numa revista do Reino Unido em 1900, a atacar a suposta cumplicidade entre portugueses e boers em Lourenço Marques no transporte de armamentos para o Transvaal via o porto e caminho ferro de Lourenço Marques, apesar do boicote britânico e o compromisso formal do governo português de que por ali não estariam a passar armamentos para Pretória. Na imagem, o pequeno agente alfandegário português em Delagoa Bay (nome por que então era conhecida Lourenço Marques no mundo anglófono), tendo atrás de si armas muito mal dissimuladas, pergunta a um boer se tem algo a declarar nomeadamente se tem contrabando. Ao que o Boer responde “não, Deus, claro que não”.

No Transvaal, as tropas britânicas acabavam de tomar Johannesburgo e Pretória e dirigiam-se para Leste, na direcção da fronteira moçambicana ao longo da linha de caminho de ferro que ligava Pretória a Lourenço Marques e que ainda permanecia sob controlo Boer.

Saído de Pretória num dos últimos comboios antes da chegada à capital do exército imperial britânico, Paul Kruger, o Presidente da então República Sul-Africana (o nome formal do Transvaal) dirige-se primeiro para Machadodorp, a cerca de 200 quilómetros de Pretória, onde fica umas semanas, e em seguida segue para território português, atravessando a fronteira no dia 11 de Setembro de 1900. Em Lourenço Marques, território formalmente neutral, ele permanece durante umas semanas, hospedado em casa de Gerard Pott, o ainda seu cônsul-geral na Cidade, até partir para a Europa em 19 de Outubro de 1900. Kruger não regressará a África, falecendo na Suíça em 1904. Uns meses depois, os seus restos mortais serão depositados solenemente num cemitério em Pretória, junto dos de sua mulher, que falecera em 1901, já após a conquista e ocupação britânica daquela cidade.

 

A bordo do navio de guerra do Reino dos Países Baixos Die Gelderland, e acompanhado pelo seu guarda-costas e mais tarde secretário, Hermanus Christiann Bredell, o Presidente Paul Krueger deixa Lourenço Marques no dia 19 de Outubro de 1900. Ao fundo, a Catembe. (fonte)

 

Os Irmãos Lazarus ainda permaneceram em Komatipoort alguns dias, a tempo de verem chegar o exército britânico à pequena vila fronteiriça, e de fotografarem algumas cerimónias protocolares ali ocorridas.

 

Esta imagem, extemporânea ao tema do conhecido álbum editado pelos Irmãos Lazarus, Views of Lourenço Marques, de 1901, mostra uma parada de elementos do exército imperial britânico em Komatipoort, no dia 28 de Setembro de 1900.

 

Joseph e Maurice Lazarus trabalhariam durante cerca de oito anos em Lourenço Marques, após o que se mudaram de armas e bagagens para…..Lisboa. Mas essa é outra história, cuja elaboração muito deve ao Grande Paulo Azevedo.

13/10/2017

GERARD POTT, HOMEM DE NEGÓCIOS E CÔNSUL DO TRANSVAAL EM LOURENÇO MARQUES, FIM DO SÉC. XIX

Filed under: Gerard Pott, Karel Pott — ABM @ 15:41

Imagem gentilmente cedida por Paulo Azevedo.

Muito haveria a dizer sobre Gerard Pott, um cidadão holandês, nascido em Amsterdão em 21 de Dezembro de 1858, que se radicou em Lourenço Marques na década 80 do Século XIX e que enriqueceu “súbita e vastamente”, nos seus papéis de comerciante (principalmente de e para a república boer do Transvaal) e de, simultaneamente, cônsul-geral do Transvaal (desde 1890) e cônsul honorário do Reino da Holanda em Lourenço Marques(desde 1889, com a idade de 29 anos).

 

 

Gerard Pott, cerca de 1900.

 

Foi dele a iniciativa da construção do Avenida Building (erradamente referido como Prédio Pott) na Baixa e ainda da Vila Jóia, então a maior mansão em Lourenço Marques, situada junto do Jardim Vasco da Gama (hoje Tunduru). Frequentemente referido como o rei do tráfico de armas e munições e contrabando para o Transvaal antes e durante a II Guerra Anglo-Boer (1899-1902), logo no início desse sangrento conflito, as autoridades britânicas pressionaram fortemente as autoridades portuguesas para declararem Pott personna non grata, ou seja, que fosse expulso de Moçambique, o que veio a acontecer penso que em 15 de Novembro de 1900, mas apenas temporariamente. Três meses, depois, um acordo dava a Pott a possibilidade de regressar a Lourenço Marques mas apenas como cidadão privado.

De facto, Pott regressaria apenas no início de 1903, nessa altura com problemas de dinheiro que, entre outros, o forçariam a vender a sua mansão, que o Governo provincial adquiriu. A sua expulsão e ausência forçada de Moçambique impactou negativamente no seu património e negócios e nunca mais voltou a ser o mesmo.

No ano anterior à sua saída, foi ele que recebeu e acolheu o deposto Presidente Kruger quando este abandonou Pretória via Lourenço Marques, para o exílio na Europa, tendo-o recebido não na sua mansão, que estava quase pronta, mas na casa em que então vivia mesmo ao lado do Avenida Building.

Mais curiosamente, Gerard Pott teve seis mulheres, brancas e negras (com 17 filhos e descendência em vários pontos do mundo). Fruto de uma relação com uma senhora negra de Lourenço Marques (Angelina da Conceição Moyasse Pott), teve um filho, Karel Monjardin Pott(20 de Agosto de 1904- 16 de Dezembro de 1953). que foi uma figura singular da Cidade no seu tempo, tendo representado Portugal nos Jogos Olímpicos de Paris (1924) com o seu colega de Moçambique, Gentil dos Santos, a partir de um obscuro clube do Porto, tendo sido advogado e defensor dos direitos dos negros e mulatos numa altura em que quase ninguém o fazia em Moçambique.

Gerard Pott faleceu, ainda com muito dinheiro, mas frustrado e supostamente odiando os portugueses, em Lourenço Marques, no dia 20 de Dezembro de 1927. Tinha 68 anos de idade.

10/03/2012

A RESIDÊNCIA DE GERALD POTT, CÔNSUL DA HOLANDA E DO TRANSVAAL EM LOURENÇO MARQUES, 1900

A mansão de Gerald Pott, foi edificada junto do Jardim Vasco da Gama e incluia terrenos que hoje são parte do Jardim (que agora se chama Tunduru). Uns anos depois foi vendido ao Governo Provincial e usado como Museu Provincial, até nos anos 1930 se ter construído o Museu Álvaro de Castro, tendo o seu espólio sido transferido para ali. Serviu de seguida como tribunal, função que ainda mantém hoje.

 

Jardim da mansão de Gerald Pott. Esta parcela tornou-se parte do Jardim Vasco da Gama (Tunduru).

18/02/2012

A RESIDÊNCIA DO CÔNSUL POTT EM LOURENÇO MARQUES, 1900

Filed under: Gerard Pott, Paul Kruger — ABM @ 22:17

 

 

Segundo o jornal londrino The Graphic, esta era a casa de Pott, entre outras coisas Cônsul do Transvaal e da Holanda em Lourenço Marques, cidade onde ficou hospedado o então Presidente da República Sul Africana (Transvaal), Paul Kruger, na sua retirada do seu país durante a II Guerra Anglo-Boer. Kruger saiu de comboio por Komatipoort para Lourenço Marques, de onde embarcou numa fragata holandesa para a Europa. Estava-se em 1900.

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