THE DELAGOA BAY WORLD

13/02/2024

A CASA DO MINHO EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 60

Imagem retocada e colorida.

Pelos vistos havia um contingente de minhotos em Lourenço Marques.

A Casa do Minho, situada na parte Sul do Aterro da Maxaquene, perto da FACIM e do Restaurante Zambi, anos 60. O edifício está rodeado de casuarinas (não de eucaliptos, como muita gente comum pensa), que ali foram plantadas nos anos 40-50 devido à sua tolerância às águas salobras presentes naquela parte do Aterro.

08/04/2018

O PAIOL DE LOURENÇO MARQUES, CERCA DE 1900, FOTOGRAFADO PELOS LAZARUS

Esta imagem faz parte do álbum Views of Lourenço Marques, publicado por Joseph e Maurice Lazarus.

O paiol, onde eram guardados os explosivos e material militar, foi construído mais ou menos no mesmo local onde hoje estão as piscinas do Desportivo, em frente à antiga Câmara Municipal de Lourenço Marques (depois tribunal da Relação). Foi demolido cerca de 1919 e o terreno foi aplanado como parte do grande Aterro da Maxaquene.

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16/03/2018

OS ATERROS DA MAXAQUENE QUE MUDARAM LOURENÇO MARQUES, 1915-2018

Das fotografias mostradas em baixo, destaco três, cruciais para se contar esta história, da fabulosa colecção do grande botanista norte-americano Homer Leroy Shantz, que, fortuitamente, passou de relâmpago por Lourenço Marques no final de Outubro de 1919.

Lourenço Marques em 1877. No início era assim,uma ilhota nojenta e insalubre, encaixada entre a Baía e a Encosta do Maé e separada por um pântano – e mosquitos cheios de malária. Nos vinte anos que se seguiram, a ilhota será primeiro estendida para Sul e Oeste para ali se construir o complexo portuário e ferroviário e depois aterrada para Norte e Leste, ligando-a às Encostas adjacentes. O aterro a Leste foi o chamado Aterro da Maxaquene.

 

Capa do plano de aterro da enseada em frente à Barreira da Maxaquene em Lourenço Marques, que se pode ver mais abaixo.

As três grandes obras de aterro que foram estruturais para o crescimento e saneamento da originalmente pequena ilhota fortificada que era Lourenço Marques foram:

primeiro, o aterro do espaço de terreno, praia e mar, situados entre a antiga Rua Araújo e o espaço onde se construiram, no fim do Século XIX, os primeiros cais marítimos, os terrenos dos armazéns do cais,da primeira estação ferroviária e do enorme estaleiro ferroviário a Oeste;

segundo, a drenagem e aterro do pântano que se estendia ao longo da antiga Avenida da República, entre a antiga Fábrica Reunidas e onde hoje está o Hotel Tivoli, ligando a anterior ilhota com os terrenos circundantes, nomeadamente a encosta do Maé e que acabaram no início do Séc. XX (mal feito, pois inunda sempre que chove);

– e finalmente, o enorme aterro da enseada pantanosa a nascente da Cidade, que se situava entre esta e a Ponta Vermelha e que foi executada a partir das terras na Encosta da Maxaquene, até a um enorme paredão de cimento construído em linha recta entre a ponta do novo cais de embarcações ligeiras (em frente à Praça 7 de Março) e os terrenos a Oeste da Ponta Vermelha. Estas obras decorreram no final da segunda década e o início da terceira década do Século XX.

Aqui vai-se tentar ilustrar este terceiro projecto, de que resultou, já depois da Independência de Moçambique e após a Guerra Civil, no metro quadrado mais caro e mais cobiçado em todo o país, trazendo fortunas enormes aos seus detentores, a partir de DUATs que à partida foram concedidos quase gratuitamente. Mais uma ironia do destino.

Prepare-se o Exmo. Leitor para a barragem de fotografias que se segue. Este é um trabalho que levou algum tempo a ser completado.

As imagens estão divididas em três grupos: antes, durante e depois de feito o aterro da enseada em frente à Maxaquene.

  1. COMO ERA ANTES

 

01 – no início era assim: as colinas extendiam-se em crescendo até caírem sobre a praia, que formava uma enseada entre a Ponta Vermelha e a pequena saliência onde se edificou a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, o início do núcleo urbano da futura Cidade. A enseada tinha uma cota baixa e na maré baixa via-se um extenso areal, pantanoso.

 

02 – Mais um aspecto da enseada, com a maré baixa.

 

03 – A enseada, com a maré alta.

 

04 – Já na primeira década do Séc. XX. Aqui já se fizeram alguns aterros, criando a faixa que se vê entre a praia e as colinas. Ao fundo em primeiro plano, o edifício da nova Câmara Municipal de Lourenço Marques, que ainda existe e que fica situado em frente à entrada do Grupo Desportivo. Vêem-se ainda os armazéns em frente ao Cais Gorjão e a barra do futuro porto, em frente à antiga Fortaleza, a partir da qual se iniciou a linha da muralha em linha recta até à base da Ponta Vermelha.

 

05 – imagem semelhante à imagem 4.

 

06 – outra imagem semelhante à imagem 4.

 

07 – outra imagem semelhante a 4, com a maré alta.

 

08 – A enseada, agora vista do lado da Cidade, na direcção da Ponta Vermelha, imagem de Joseph Lazarus dos primeiros anos do Séc. XX. A Barreira ainda está avançada mas já houve alguns aterros, onde se fez uma estrada de acesso aos pavilhões que se vêem ao fundo, nos quais se encontra ainda a estação de captação de água para a (então) Vila da Ponta Vermelha, que já tem um núcleo habitacional e uma estrada de acesso.

 

09 – Mais uma vista no sentido de Nascente e Sul.

 

10 – Mais uma perspectiva na direcção da Ponta Vermelha.

 

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2. O PLANO DO ATERRO E A OBRA

 

12 – O plano do aterro consistia da construção de um muro de cimento, que ainda existe, com docas em ambas as pontas. À esquerda pode-se ver a Fortleza, que dantes tocava directamente a água mas que agora passou a ficar a quase cem metros da Baía. À direita, foi ainda criado espaço para a futura Estrada Marginal.

 

13- Imagem do início do projecto, com a vantagem de ilustrar os principais envolvidos, nomes lendários da Lourenço Marques colonial tais como Pietro Buffa Buccellatto, Paulino dos Santos Gil, A Tonnetti, etc etc. Grato ao grande Paulo Azevedo, que pesquisou e me mandou esta imagem. Para ver melhor esta e as outras imagens, clique para ampliar.

 

14- Foto de Homer Shantz. Vista das Barreiras em frente ao então ainda futuro Liceu Salazar (na altura estava lá implantada a operação da Eastern Telegraph Company), foto tirada no dia 25 de Outubro de 1919. A muralha de cimento já está concluída e o aterro procede com areias arrancadas à pazada junto da Barreira da Maxaquene, que será moldada e recuará mais que cem metros em relação ao que era antes. Ao fundo, a Catembe.

 

14A – Detalhe da imagem 14, onde se pode ver a muralha de cimento em maior detalhe e, em primeiro plano os carris de bitola pequena usados por pequenos comboios e carruagens que carregavam a areia da Colina para a zona a ser aterrada. 40 anos depois, no espaço que se vê aqui, serão instalados a FACIM e o Restaurante O Zambi.

 

15 – Outro aspecto dos trabalhos de aterro, foto ainda do dia 25 de Outubro de 1919. A “nuvem” ao meio é um defeito no negativo. Foto de Homer Shantz.

 

15A- Detalhe ampliado da Imagem 15, mostrando um comboio de bitola curta com carruagens, a carregar areia. O comboio está mais ou menos no local onde hoje está implantado o edifício do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moçambique. À medida que a areia atingia a cota da muralha, moviam-se os carris.

 

16- A foto talvez mais interessante e mais reveladora das três imagens das obras que foram tiradas, esta tirada do velho Hotel Cardoso na direcção da Velha Cidade, ao fundo, que, no sentido nascente, acabava subitamente mais ou menos onde está hoje o Teatro Avenida. Foto de Homer Shantz.

 

16A – Detalhe ampliado da foto 16. Mesmo em frente, vê-se um conjunto de homens, que são trabalhadores do projecto. Mais acima, encostados à linha da Barreira da Maxaquene, podem.se ver dois comboios de bitola curta a recolher areia para levar para o aterro. À medida que iam retirando areias da colina, mudavam-se também os carris. Igualmente interessante: onde estão as pessoas a espalhar areia, era a orla da antiga praia. E para a direita de onde está a pequena casa em cima, era a antiga linha da Barreira, indicando a quantidade de terra que já fora movida nesta fase dos aterros. Finalmente, uma curiosidade: onde está o pequeno comboio a deitar fumo, virá a ser o complexo do Sporting de Lourenço Marques (hoje o Maxaquene). Onde está o resto da colina, em frente ao edifício da Câmara Municipal de Lourenço Marques ao fundo, já era o Grupo Desportivo, pois o Clube foi fundado a 31 de Maio de 1919 e esta foto foi tirada precisamente no dia 25 de Outubro de 1919, cinco meses mais tarde.

 

3. A CIDADE APÓS O ATERRO

01 – O aterro nos anos 60. Na maior parte do espaço aterrado foi plantado um eucaliptal. A Baixa cresceu no sentido Nascente, À direita do Estádio Paulino dos Santos Gil, do Desportivo, inaugurado em meados de 1949.

 

02 – na parte do Aterro da Maxaquene junto à Ponta Vermelha, a Avenida da República estende-se até à Avenida Marginal, criou-se uma estrada junto à muralha de cimento (as duas foram usadas até 1962 como circuito de automobilismo), aqui já existe a FACIM, criada em 1964, e à esquerda vêem-se os edifícios do Clube de Pesca, criado no início dos anos 60 junto do pequeno cais criado naquele local.

 

03 – O Aterro da Maxaquene em 1991. Aqui, vê-se que a maior parte do Aterro ainda está coberto de eucaliptos. A Barreira da Maxaquene está pelada, tendo ficado assim na sequência das obras de recuperação levadas a cabo após a enorme derrocada provocada pelo Ciclone Claude na zona entre o Liceu Salazar e o Hotel Cardoso no início de Janeiro de 1966. Ao fundo do lado direito a FACIM. À esquerda o estádio coberto do Sporting de Lourenço Marques, que em 1991 já mudara o nome para Maxaquene.

 

04 – A ponta da muralha de cimento junto à Ponta Vermelha, vendo-se a entrada para a doca de recreio, também criada na obra de 1918-1920. Ao fundo, o viaduto para a Ponta Vermelha, construído em 1972-74. Na década de 1920, será ainda feita a muralha em redor da Ponta Vermelha até à zona do Clube Naval (que já existia desde 1913), permitindo a construção da Estrada Marginal. Que por sua vez implicou mais aterros nas respectivas encostas da Ponta Vermelha e da Polana.

 

05 – A muralha, vista quase de frente da antiga Fazenda (actual gabinete do primeiro-ministro).

 

06- A avenida ao longo da muralha, que foi recentemente reabilitada. À esquerda a actual sede do antigo Banco Standard Totta de Moçambique (O Banco Totta de Portugal há uns anos vendeu a sua quota ao Banco Standard).

 

07 – O Aterro da Maxaquene visto mais ou menos por cima do Jardim Vasco da Gama (agora Tunduru).

 

08 – O Aterro começa mais ou menos onde hoje está a sede do Desportivo.

 

09 – O Aterro visto de Nascente. O terreno à esquerda era onde ficava a FACIM. Depois de uns malabrismos, alguém ficou com ele e o vendeu a seguir por milhões a alguém, que quer fazer ali prédios de luxo. À direita, o Hotel Cardoso e a seguir o antigo Liceu Salazar. Foto com vénia a ASA.

 

10 – Na base do Aterro, contra as Barreiras e logo a seguir ao antigo campo de futebol do Desportivo, fizeram-se estes prédios, que durarão até ao próximo terramoto ou ciclone (quando em Janeiro de 1966 veio o Ciclone Claude, a barreira exactamente onde está o prédio à direita, entrou em derrocada e veio tudo parar cá abaixo). Foto com vénia a Drone Sensation.

 

11- A Cidade e o Aterro da Maxaquene em primeiro plano. Foto com vénia a Hugo Costa.

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