THE DELAGOA BAY WORLD

20/08/2022

O CORPO DE POLÍCIA DA BEIRA, 1907

Imagem retocada.

Hoje faz 115 anos que a Beira foi elevada ao estatuto de Cidade. O decreto e a proclamação foram pessoalmente levados até à que foi a terceira cidade de Moçambique em 1907, por SAR Luis Filipe de Órléans e Bragança, o jovem Príncipe da Beira e o herdeiro da coroa portuguesa, em nome de quem a então pequena urbe foi baptizada pouco depois do nascimento do primogénito dos ainda Príncipes D. Carlos e a sua mulher, a francesa Amélie de Órléans, em Lisboa, no dia 21 de Março de 1887. No entanto, a Beira foi essencialmente uma imposição de Cecil Rhodes, e, mais tarde, do Reino Unido, pois era o caminho mais directo entre o mar e o território que Rhodes obteve para a sua empresa, a BSAC, a que chamou Rodésia e que hoje é o Zimbabué. Durante décadas, a Beira era a sede de operações da Companhia de Moçambique, uma das chamadas companhias majestáticas.

Os polícias da Beira, 1907. o ano em que D. Luis Filipe visitou o local e trouxe com ele o decreto elevando a vila a Cidade.

08/07/2022

127 ANOS DE CAMINHOS DE FERRO EM MOÇAMBIQUE

Imagens retocadas e a primeira colorida por mim.

Hoje (8 de Julho de 2022) a actual empresa dos caminhos de ferro de Moçambique assinalou o 127º aniversário da sua fundação num comunicado de imprensa, o que de certa forma me surpreendeu. O percurso dos caminhos de ferro em Moçambique foi diverso e parte, como a linha férrea entre a Beira e o então território da Rhodésia, propriedade da British South Africa Company (ou seja, de Cecil Rhodes) que abriu anos antes. Para não falar das várias linhas férreas que serviam alguns dos projectos específicos desenvolvidos em algumas zonas de Moçambique.

Mas de facto “a” linha, quase a única que realmente interessava e que mereceu a cobiça de tudo e tudos, era a linha entre Lourenço Marques e Pretória, da qual cerca de 90 quilómetros percorriam território moçambicano. E essa foi oficialmente inaugurada no dia 8 de Julho de 1895.

O comunicado surpreende também porque é normal o regime (ainda) da Frelimo invariavelmente ignorar tudo o que vem atrás da data mágica de 1975. A LAM, por exemplo, hoje quase em coma terminal, não era a DETA de 1936 (também criada pelos Caminhos de Ferro): era uma empresa pública constituída em 1980. Pois claro que sim.

Foto tirada na minúscula localidade fronteiriça de Ressano Garcia, junto à África do Sul, em Julho de 1907. SAR o Príncipe D. Luis Filipe, filho de D. Carlos e herdeiro da coroa portuguesa, estava de visita a Moçambique e ia visitar Pretória e Joanesburgo. Na imagem, tirada pouco antes de o Príncipe Real ali chegar, proveniente de Lourenço Marques, vários funcionários e oficiais portugueses e da África do Sul posam em frente à locomitiva dos camimhos de ferro da África do Sul, Classe 6L-2 hauling, que levaria a Carruagem Real desde esta localidade até à capital do Transvaal. Penduradas ao lado, vêem-se, lado a lado as então bandeiras da África do Sul e de Portugal.
A enorme confusão do lado português com a construção da linha férrea foi tal que quando o percurso Lourenço Marques-Pretória foi finalmente concluído e inaugurado em meados de 1895, já Pretória estava ligada ao Cabo, a Bloemfontein e a Johannesburgo. Mas Kruger, o monumental presidente do Transvaal e eternamente desconfiado dos desígnios dos britânicos e sentado em cima do maior filão de ouro da história da humanidade, só queria a linha de Lourenço Marques, a qual à partida escaparia ao controlo e influência ingleses. Nesta imagem, Kruger e Reitz, o seu congénere do Estado Livre de Orange, assinalavam a ligação entre as linhas férreas dos dois países boers, 21 de Maio de 1892.
A primeira estação ferroviária de Lourenço Marques. Ficava mais adiante da actual e mais perto do cais.
A estação ferroviária de Lourenço Marques à esquerda, Novembro de 1937.
A fachada da “nova” estação dos Caminhos de Ferro de Lourenço Marques, iniciada cerca de 1908, inaugurada em Março de 1910 e concluída em 1916.
Vista aérea do complexo dos caminhos de ferro de Lourenço Marques, década de 1960. fonte: Portugal. S.E.I.T./D.G.I./Secção de Fotografia Nº 381292, cx. 464, env. 16. Uma parte dos terrenos que se vêem foi obtido através de aterros.
A fachada da estação de Lourenço Marques, 1961.
Foto tirada cerca de 1927 no porto de Lourenço Marques. Para maior conforto dos passageiros que se dirigiam a Pretória e a Johannesburgo, as carruagens eram levadas literalmente até junto dos navios que atracavam no Cais Gorjão e dali seguiam directamente para a fronteira sul-africana. Até aos anos 60, as alternativas para se viajar eram apenas por comboio ou navio.
Mais do que qualquer outro mecanismo, salvo o da própria colonização, foram os caminhos ferro, que eram quase um estado dentro do Estado, que arrancaram Moçambique para a Era Moderna (essencialmente na modalidade de capitalismo extractivo). Para além do transporte de passageiros, carga e correios para destinos até pouco antes completamente isolados do mundo, para operar, a empresa tinha que desenvolver vários tipos de infra-estruturas. Em cima, um hospital dos Caminhos de Ferro.

20/08/2021

A RUA CONSELHEIRO CASTILHO NA BEIRA, INÍCIO DO SÉCULO XX

Imagem retocada.

Hoje, 20 de Agosto de 2021, completam-se 114 anos desde o dia em que SAR Dom Luis Filipe de Bragança, o Príncipe da Beira, herdeiro da coroa portuguesa (o nome dele era Luís Filipe Maria Carlos Amélio Fernando Victor Manuel António Lourenço Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Bento de Saxe-Coburgo-Gotha e Bragança) na sua única visita a Moçambique e ao local, anunciou o decreto elevando a Beira ao estatuto de Cidade.

Uma rua da Beira, início do Século XX.

07/09/2017

DOM LUIS FILIPE DE PORTUGAL E A CIDADE DA BEIRA

 

Dom Luis Filipe de Bragança, o filho mais velho dos reis D. Carlos e D. Amélia. A Beira, então um ponto irrelevante mas estratégico na pantanosa e insalubre margem Norte do Rio Pungué, ficou destinada a ser o futuro ponto de acesso pelo mar para o centro da nascente colónia e para o então território da British South Africa Company de Cecil Rhodes, a Rhodésia. Em breve, teria um porto e uma linha férrea para o interior.

 

A Beira em 1891. Um buraco arenoso e pantanoso cheio de mosquitos e de malária.

 

Na fase inicial da Beira como povoado. Uma espelunca, tal, aliás, como Lourenço Marques, Inhambane, Tete, Porto Amélia e restantes Vilas e povoados, com a única excepção da pequena Ilha de Moçambique, mais a Norte. O que veio a ser Moçambique era então um imenso mato, ocupado por tribos que falavam línguas diferentes e a maioria das quais nem sabiam umas das outras e se guerreavam alegremente, com meia dúzia de intrépidos portugueses no meio. A consciência de “nação moçambicana”, uma importação europeia, levaria umas décadas a aparecer e mesmo assim apenas na classe mulata em e nos arredores de Lourenço Marques. Na inenarrável iniciativa de sub-aluguer de partes da então colónia a um punhado de “investidores estrangeiros” – ingleses, franceses, belgas e americanos- à Beira saiu-lhe na rifa passar a ser a sede da Companhia de Moçambique. Uma companhia majestática, com poderes do Estado delegados e licença para explorar tudo e todos. No fim, fez pouco porque não tinha dinheiro.

 

A implantação da linha de caminho de ferro para a Rhodésia do Sul. Para a Beira e o seu porto, era o “outro” negócio para além da Companhia de Moçambique. Na Cidade, os principais negócios eram ingleses e sul-africanos e mais depressa se falava inglês que português.

 

Como uma curiosidade, Luis Filipe de Bragança, a pessoa em honra de quem se deu o nome da Beira, visitou o local em 1907 (aqui vê-se a carruagem na qual deu uma voltinha pela então Vila), trazendo na sua bagagem a proclamação do Rei a elevar a Beira a Cidade. Um gesto simpático, se um pouco ousado.

 

Nas primeiras décadas do Seculo XX, a Beira era um agremiado de casas de madeira e zinco.

 

O brasão da Beira, na tradição das urbes portuguesas. Não sei qual o seu simbolismo.

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