THE DELAGOA BAY WORLD

16/08/2021

GUNGUNHANA NÃO POSA PARA LOUIS HILY, JANEIRO DE 1896

Imagem retocada. Muito grato a EMG que me escreveu a explicar.

Havia aqui qualquer coisa que não batia certo. Alguém escreveu que esta foto foi captada pelo Louis Hily na cabana onde o régulo foi preso pouco depois do Natal de 1895 pela expedição do major Mousinho.

Ora, que eu saiba, Louis Hily, um fotógrafo de referência de Lourenço Marques, não participou na expedição, que resultou de uma “vibe súbita” de Mousinho no dia de Natal de 1895 e que, aliás, tinha ordens expressas e muito específicas de António Ennes para, estritamente, assegurar o statu quo à data da sua partida de Lourenço Marques para Lisboa, considerando terminada a sua missão enquanto Comissário Régio de Moçambique.

Ou seja, a ideia de Ennes era que Gungunhana fosse deixado em paz,o que, tendo em conta tudo o que aconteceu depois, não é de descurar.

Mousinho estava fora de Lourenço Marques quando tomou essa súbita decisão, a todos os títulos quase suicida, supostamente ele e os seus adjuntos no mato, meio com os copos. Não conheço nenhuma fotografia tirada no local e no dia da detenção do então já mais que marginalizado régulo – mas ainda com forças mais do que suficientes para dar cabo da pequena equipa que apareceu no kraal, Mousinho incluído.

Após a detenção, Gungunhana foi levado para Lourenço Marques.

onde, supostamente, Hily teria captado esta imagem.

De seguida Mousinho mandou-o de barco para Lisboa. Ennes, digamos que pouco menos que satisfeito à primeira, soube do que se tinha passado por mensagem de telégrafo enquanto em trânsito para Lisboa.

Galvanizada pela demonização do Ngunis e principalmente pelo empolgar da figura do seu líder, que levara a cabo uma perigosa dança militar e diplomática que eventualmente perderia, apesar das manobras de Cecil Rhodes, a detenção foi acolhida apoteoticamente pelos portugueses, especialmente pela sua elite – e pela maior parte das tribos avassaladas aos Nguni, especialmente os Chope, que Gungunhana literalmente pareceu querer exterminar fisicamente.

Temporariamente, o Sul estava “pacificado”. Faltava o Norte, que levaria muito mais tempo e esforço.

Só que, malgrado as parecenças, este senhor não é o Rei Nguni. Segundo Patrick Harries, um antropólogo, trata-se de Ntchoungi, um sub-chefe Khosa. A foto foi incluída na primeira monografia de Junod. O original da mesma esterá nos arquivos da Missão Suíça em Lausanne, na Confederação Suíça.

Mr. Ntchoungi posa para a posteridade. Era um líder Khosa.

27/06/2021

ENVELOPE DO ESTÚDIO DE LOUIS HILY EM LOURENÇO MARQUES, INÍCIO DO SÉC.XX

Imagem retocada. Louis Léome Hily é estudado no excelente e inovador estudo de Paulo Azevedo, recentemente publicado, sendo um dos pioneiros da fotografia urbana de Lourenço Marques.

Envelope do estúdio de Louis Hily em Lourenço Marques.

15/05/2020

PAULO AZEVEDO PUBLICA HOJE “OS PHOTOGRAPHOS PIONEIROS DE MOÇAMBIQUE”

A História de Moçambique não começou em 1975, quando foi declarada a sua independência, nem em 1891, quando foram delimitadas as suas fronteiras entre as potências coloniais europeias, nem em Março de 1498, quando Vasco da Gama primeiro aportou as suas costas. Nem em 1107, quando se estima chegaram os árabes muçulmanos a Zanzibar, de onde penetraram até ao actual centro de Moçambique. Conhecer essa história milenar exige uma aturada recolha, análise, contextualização e interpretação de um vasto conjunto de informações científicas, materiais, orais, documentais – e em imagem.

Capa de “Os Photographos Pioneiros de Moçambique”, mostrando I.R. Carvalho, de capacete, junto da Duquesa de Aosta (irmâ da então Rainha de Portugal) no Búzi, a Sul da Beira, enquanto ela, de joelhos, fotografava o feiticeiro que lhe lia na sina que ia ser muito infeliz (e foi).

E no que toca a este último, Paulo Azevedo, um investigador baseado em Vila do Conde (arredores do Porto) mas que (ainda) nasceu em Moçambique, publicou hoje o que certamente se vai tornar num marco no estudo das primeiras imagens fotográficas que foram recolhidas no que hoje é Moçambique, ou, mais precisamente, dos primeiros homens por detrás das câmaras, começando menos que meio século após o francês Louis Daguerre ter anunciado a invenção da fotografia moderna.

Com 163 páginas que incluem importantes fotografias inéditas que o autor recolheu, a obra, intitulada Os Photographos Pioneiros de Moçambique, e que a partir de hoje pode ser comprada por entre 14 e 16 euros na internet aqui e aqui e aqui (portes incluídos para Portugal) é a segunda do Autor – a primeira foi Joseph e Maurice Lazarus – Photographos Pioneiros de Moçambique – e constitui de longe o estudo mais completo, para não dizer definitivo, no que toca ao tema.

De facto, o texto reflecte um trabalho inédito e aturado de recolha biográfica e curricular que exigiu centenas de horas, sobre as pessoas que, por uma ou outra razão, foram as primeiras que fotografaram em Moçambique, e as suas obras. E elas são

Benjaminn Kisch

Manuel Romão Pereira

Louis Hily

Thomas Lee

Joseph e Maurice Lazarus (os meus favoritos, e pensar que há menos que dez anos ninguém sequer sabia quem tinham sido)

Eduardo Battaglia

José Ferreira Flores

Francisco S. Silva

Ignácio Piedade Pó

Sidney Hocking

e

J. Wexelsen (quiçá o trabalho de “detective” mais impressionante da obra)

Para além destes, a obra inclui uma longa e detalhada bibliografia e ainda capítulos sobre os álbuns publicados e a Fotografia Bayly.

Ainda que com mérito, de valor incontornável e certamente uma futura referência obrigatória para qualquer tese sobre a fotografia em Moçambique e em África, enquanto um trabalho académico brilhante, a obra de Paulo Azevedo é, ainda assim, eminentemente legível e interpretável e a meu ver obrigatória para todos aqueles que quiserem entender melhor o passado moçambicano, na fase crucial do início da colonização europeia – e do arranque da sua modernização.

Outras referências nesta área (mas focadas em Manoel Pereira) são as obras de Filipa Lowndes Vicente e Luisa Villarinho Pereira, e o historiador Alfredo Pereira de Lima, mencionados na bibliografia.

Tendo este blogue ao longo dos seus onze anos de existência, pelo seu enfoque visual, cruzado muitas vezes o caminho destes homens e o trabalho que fizeram, este é um momento importante, e esta uma futura referência aqui também. Assinalo ainda com redobrada emoção o autor inclusivé me ter mencionado em 1009º lugar, depois de agradecer a tudo e todos, aquém e além mar, pela sua execução (enfim, trocámos uns e-mails, deve ser por isso) e de se ter enganado no nome deste blogue, que é, recordo, The Delagoa Bay World.

Paulo Azevedo está de parabéns e merece todo o apoio que se lhe possa prestar na prossecução do seu trabalho, que inclui o Exmo. Leitor comprar este livro fabuloso e uns desses institutos do governo darem-lhe uns dinheiros para o ajudar nas suas pesquisas, que, fui informado, não terminaram, pelo contrário.

03/01/2014

O PAVILHÃO DE CHÁ DA POLANA EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 1920

Fotografia © de Vasco Freitas, digitalizada e depois restaurada por mim. O original que pertence à Colecção do seu Avô, António Joaquim de Freitas, que foi Engenheiro de Minas e Director da (então designada) Repartição de Indústria e Geologia de Moçambique, entre 1928 e 1954. António de Freitas foi ainda o Sócio Fundador Nº 1 da Sociedade de Estudos de Moçambique. A fotografia foi revelada e passada a papel na Foto Louis Léome Hily (e não Léone Hilly), na altura sita no Nº 193 da Avenida Manuel de Arriaga, em Lourenço Marques.

Muito grato ao Vasco Freitas por permitir mostrar esta excelente fotografia aqui.

 

O Pavilhão de Chá da Polana, defronte da Praia da Polana em Lourenço Marques, anos 1920.

O Pavilhão de Chá da Polana, defronte da Praia da Polana em Lourenço Marques, anos 1920. Na altura, a Estrada do Caracol era o único acesso a esta praia.

 

O CLUBE NAVAL DE LOURENÇO MARQUES, ANOS 1920

Fotografia © de Vasco Freitas, digitalizada e depois restaurada por mim. O original que pertence à Colecção do seu Avô, António Joaquim de Freitas, que foi Engenheiro de Minas e Director da (então designada) Repartição de Indústria e Geologia de Moçambique, entre 1928 e 1954. António de Freitas foi ainda o Sócio Fundador Nº 1 da Sociedade de Estudos de Moçambique. A fotografia foi revelada e passada a papel na Foto Louis Léome Hily (e não Léone Hilly), na altura sita no Nº 193 da Avenida Manuel de Arriaga, em Lourenço Marques.

Muito grato ao Vasco Freitas por permitir mostrar esta excelente fotografia nesta Casa.

Fundado em Fevereiro de 1913, o Clube Naval de Lourenço Marques, aqui nos anos 20.

Fundado em 12 de Fevereiro de 1913, o Clube Naval de Lourenço Marques, aqui nos anos 20.

16/04/2012

LOUIS HILLY E A PRIMEIRA CASA DE FOTOGRAFIA DE LOURENÇO MARQUES

Outro dia andava a inspeccionar envelopes velhos à venda (pois….) e dei com este. Foi mandado de Lourenço Marques em Setembro de 1918 (final da I Guerra Mundial) e chegou a Nova Iorque, nos Estados Unidos, quase nove meses depois, tendo ainda sido aberto pelos serviços de censura de guerra. O que me chamou a atenção foi o nome: Louis Leóne Hilly. Parei a olhar durante dois minutos e a pensar de onde é que eu conhecia o nome. Veja na fotografia em baixo quem ele foi.

Vejam o que diz às tantas o magnífico sítio Grand Monde: “Louis Hilly (França, 1851 – Moçambique, 4 Set. 1949), chega a Lourenço Marques em 1889 a convite do governo da colónia. Foi o primeiro fotógrafo a montar estúdio na recente capital Moçambicana na Rua Alexandre Herculano. Em 1894 tinha atelier na Rua da Nossa Senhora da Conceição, quando da sua morte a “Foto Hilly” então na Av. Manuel de Arriaga passou para os seus filhos Susana e Alexi que a exploraram até à independência em 1975. Louis Hilly esteve nas barricadas em defesa de Lourenço Marques, quando das investidas dos guerreiros Vátuas comandados por Gungunhana.” Enfim. As voltas que o mundo dá. Só que ele aqui assina “Hily”. A G.C. Merriam & Co. era uma editora em Springfield, Massachusetts, EUA. Cidade onde já estive. Para variar.

Site no WordPress.com.