THE DELAGOA BAY WORLD

28/04/2020

A LETRA DA CANÇÃO “KHANIMAMBO”, 1955

Composição de Artur Fonseca e letra de: Gustavo Matos Sequeira e Reinaldo Ferreira

Ano: 1955

Intérpetre que a celebrizou: João Maria Tudella (27 de Agosto de 1929- 22 de Abril de 2011), com a orquestra do Rádio Clube de Moçambique. Consta que a primeira vez que a tocou em público, o então gerente de vendas da Shell Oil Company de Moçambique e cantor amador, teve que a repetir oito vezes. Ver a seguir a letra e em baixo oiça a música.

 

Kanimambo!
Kanimambo!!!

INSTRUMENTAL

Kanimambo!

Kanimambo, só contigo
Eu consigo, entender o amor.
Kanimambo, preso aos laços
Dos treus braços, a vida é melhor.

É por isso, quando tu sorris
Que o feitiço, me faz tão feliz.
E me obriga, a que eu diga
Kanimambo, como o negro diz.

Obrigado, Muchas gracias,
Merci Bien, Tudo é Kanimambo.
Danka schône, Grazia Tanta,
Many Thanks, tudo é Kanimambo.

coro:

Obrigado, Muchas gracias,
Merci Bien, Tudo é Kanimambo.
Danka schône, Grazia Tanta
Many Thanks, tudo é Kanimambo.

INSTRUMENTAL

Kanimambo!!!

Kanimambo, se mais linda
Fosse ainda, a expressão landim.
Kanimambo, não diria
Como eu queria, o que és para mim.

Não sei bem, a razão porquê
Sei que vem, de ti não sei quê.
E que ao ver-te, sou credor
De dizer-te, Kanimambo amor.

Obrigado, Muchas gracias,
Merci Bien, tudo é Kanimambo.
Danka schône, Grazia Tanta
Many Thanks, tudo é Kanimambo.

(coro)

Obrigado, Muchas gracias,
Merci Bien, tudo é Kanimambo.
Danka schône, Grazia Tanta
Many Thanks, tudo é Kanimambo.

Tudo é Kanimambo.
Tudo é Kanimambo.
Kanimambo!!!

O genial Miguel Catarino escreveu o seguinte sobre esta canção e sobre o Tudella:

“Esta gravação data de 1955 e pertence à Face A do disco single de 45 R.P.M. editado pela “Gallotone”, reeditado em Portugal pela “Decca”, etiqueta “Valentim de Carvalho”, e pela “London Records”, em Inglaterra.

Neste disco, a Orquestra de Salão e os Quartetos Vocais do Rádio Clube de Moçambique, sob a regência de Artur Fonseca, acompanha o cançonetista João Maria Tudella na interpretação de duas cançonetas populares do seu reportório, naquele que foi o seu 1º disco, e consequentemente o mais bem-sucedido.

Esta é a canção “Kanimambo”, uma obra musical do maestro já citado, com poesia de Reinaldo Ferreira e Matos Sequeira, que nos explica qual é o significado total da palavra “Kanimambo”, palavra moçambicana para “Obrigado”.

Canção de estilo romântico e de evidente superficialidade ligeira, muito bem interpretada pela voz melodiosa e sugestiva de Tudella, sob o acompanhamento dos Quartetos Vocais e da Orquestra de Salão do Rádio Clube de Moçambique, dirigida pelo compositor da obra, o maestro Artur Fonseca, que atingiu um gigantesco e assombroso êxito para a época, fazendo um eco bem valente em todas as rádios do Ultramar Português, principalmente na Metrópole, onde o disco depressa passou a fazer parte dos programas de “Cançonetas”, “Música Ligeira” e outras rubricas derivadas das rádios portuguesas, merecendo destaque a Emissora Nacional, o Rádio Clube e a Renascença.

Este disco, de tão bem-sucedido que foi, passou a ser considerada por muita gente como “a canção da sua vida”, e cada vez que o disco passava nas rádios, toda a gente se punha a cantar o refrão. Resultado: nasceu instantaneamente um Clássico da Rádio, que se prolongou durante décadas e décadas.

Este tema viria a ser regravado em 1960 pela Orquestra de Osvaldo Borba e pela voz de Tristão da Silva, durante a sua passagem no Brasil, num disco de 78 R.P.M. da “Odeon” importada em Portugal pela “Parlophone” e pela “Decca”, e reeditado em CD no ano de 1991, na compilação “O Melhor de Tristão da Silva” da EMI-Valentim de Carvalho.

Em 1973, Tudella viria a regravar este tema na “Tecla”, com a Orquestra Ligeira da Emissora Nacional, dirigida por Fernando Correia Martins, num registo que foi reeditado por duas vezes em CD, mas nunca viria a atingir o êxito da gravação original, que continuou a ser a favorita das rádios portuguesas.

Reeditada em tudo quanto é compilações antológicas da Música Portuguesa, a mais recente reedição em CD aconteceu em 2010, na compilação “Vozes da Rádio”, compilação de 20 cançonetas que eram constância da telefonia em Portugal durante “a noite longa do fascismo”, e que desta feita só foi aplaudida por incluir na compilação a “Marcianita” de Daniel Bacelar.

Hoje, apesar das suas regulares difusões na Rádio Sim, infelizmente, como todas as cantigas de outros tempos que originaram cegadas monumentais, para o bem e para o mal, esta canção é motivo de controvérsia muito grave.
Para os mais velhos, não é nada mais e nada menos do que um momento de saudade, dor, angústia, amargura e tristeza, principalmente da parte daqueles que vivem a sua vida agarrados ao passado, encarando o sorriso alheio de gente nova como uma ferida fatal contra a sua alma, e vivendo sómente de lembranças de tempos e amores há muito ausentes.

Para os férreos opositores do regime político que vigorava na época, será sempre um hino do dito “Nacional-Cançonetismo”, denominação que hoje já não é vista de maneira depreciativa pelos historiadores, mas sim como a denominação correcta para a época em que a influência do Estado Novo era patente na Música Popular e Ligeira Portuguesa.

Para os mais novos, esses… haha! se já nunca ouviram falar de Vasco Santana, nem da Beatriz Costa, e muito menos sabem quem é António Silva, que será preciso dizer???? O velho preconceito contra tudo o que é considerado como velho… Nem as expressões “retro” e “vintage” valem de nada…

Resumindo e concluindo: “Kanimambo” é mais um motivo de controvérsia num país que nunca soube e nunca saberá valorizar o seu património cultural.

E daí, as seguintes perguntas retóricas (sem resposta possível, pelo facto de já se adivinhar a mesma):
De que adianta a popularidade, se a elite e a crítica destroem-na implacavelmente e dão cabo dela em três tempos?
Para quê continuar missões que já se sabem como inglórias e fracassadas por antecipação?
De que adianta divulgar a Música Portuguesa, quando a neutralidade, a isenção, a objectividade e a imparcialidade são reprimidas severamente pelos propósitos egoístas, mesquinhos e mafiosos de gente que considera que “está tudo bem assim e não podia ser de outra forma”, citando Salazar?

Do que vale a voz do Povo, se nem a voz de Deus pode fazer nada contra a Voz do Poder?”

 

14/08/2018

REINALDO FERREIRA, POETA DE MOÇAMBIQUE, ANOS 1950

O original desta fotografia faz parte do espólio do poeta Alberto de Lacerda.

 

Imagem retocada.

 

Imagem original.

15/06/2013

OS POEMAS DE REINALDO FERREIRA, 1960

Filed under: Reinaldo Ferreira - poeta — ABM @ 23:58

Os poemas de Reinaldo Ferreira podem ser lidos premindo AQUI, cortesia (e estafa) do Sr. Magno Antunes e do magnífico sítio Malhanga.com.

 

A capa do livro de poemas recolhidos de Reinaldo Ferreira, meses após a sua morte em Lourenço Marques, por doença. Ele está sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier, no Alto-Maé, em Maputo.

A capa do livro de poemas recolhidos de Reinaldo Ferreira, meses após a sua morte em Lourenço Marques, por doença. Ele está sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier, no Alto-Maé, em Maputo.

10/06/2013

REINALDO FERREIRA UM POETA EM LOURENÇO MARQUES

Reinaldo Ferreira.

Reinaldo Ferreira.

Um texto dos Wikipédias refere o seguinte (editado por mim, claro):

“Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira (Barcelona, 20 de Março de 1922; Lourenço Marques, 30 de Junho de 1959) foi um poeta que realizou toda a sua obra em Moçambique. Filho do chamado Repórter X, Reinaldo Ferreira chegou a Lourenço Marques com 19 anos de idade, em 1941, completou o 7º ano do liceu e ingressou como aspirante no Quadro Administrativo de Moçambique, tendo subido até Chefe de Posto.
Os seus primeiros poemas começaram a ser publicados nos jornais locais ou em revistas de artes e letras. Adaptou para a rádio peças de teatro e, mais tarde, colaborou no teatro de revista no Rádio Clube de Moçambique. Foi autor da letra de canções ligeiras.

Em 1959 foi-lhe detectado cancro do pulmão e morreu em Junho desse ano. Não editou nenhum livro em vida. Está sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier em Maputo.

A colectânea dos seus poemas surgiu em 1960.

António José Saraiva e Óscar Lopes compararam-no a Fernando Pessoa, realçando «o mesmo sentir pensado, a mesma disponibilidade imensamente céptica e fingidora de crenças, recordações ou afectos, o mesmo gosto amargo de assumir todas as formas de negatividade ou avesso lógico».

(Fim)

E ele era gay, o que os Wikipédias parece que não suspeitam o que é.

Eis duas das suas letras, criadas na actual Maputo, musicadas pelo Maestro Artur Fonseca do Rádio Clube de Moçambique e Vasco de Matos Sequeira, um seu amigo e companheiro em Lourenço Marques:

 

Aqui uma versão retro do Kanimambo pelos Manos Catita:

 

Outro dia o Nuno Pacheco deu todos os detalhes que descobriu sobre como esta canção surgiu num interessante artigo.

E graças ao hercúleo esforço do grande Sr. MAGNO ANTUNES, pela primeira vez, o exmo. Leitor poderá ver a obra Poemas de Reinaldo Ferreira (Lourenço Marques: Imprensa Nacional de Moçambique, 1960) naquele monumento da moçambicanidade que é o sítio Malhanga.com. Para ver, prima AQUI.

OS POETAS DE MOÇAMBIQUE EM DISCO, AGOSTO DE 1960

Muito grato ao João José Osório Reis. O seu pai, que era dono da Poliarte, foi quem editou o disco, que contém uma nota do Rui Knopfli no verso (ver em baixo) e no qual são lidos pela grande Manuela Arraiano poemas de Reinaldo Ferreira, Rui Nogar, José Craveirinha e do Rui Knopfli. Já meti uma cunha para se fazer uma gravação para meter aqui, vamos lá a ver.

Capa do disco "Poetas de Moçambique", da Poliarte em Lourenço Marques.

Capa do disco “Poetas de Moçambique”, da Poliarte em Lourenço Marques.

Verso da capa.

Verso da capa.

Imagem do disco.

Imagem do disco.

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