THE DELAGOA BAY WORLD

29/10/2013

A VISITA DE HASTINGS BANDA A MOÇAMBIQUE, 27 DE SETEMBRO DE 1971

Fotos enviadas pelo Alfredo Correia, falta identificar quem as tirou.

Hastings Kamuzu Banda foi durante mais que três décadas o líder fundacional e mais ou menos incontestado do Malawi, um país nascido dos lobbies missionários e caprichos escoceses junto da corôa britânica no fim do Século XIX e que acabou parcialmente encravado com Moçambique, entre Tete e Niassa. Foi uma figura ímpar em quase todos os aspectos, de entre os quais uma improvável amizade próxima com o governo português, especialmente o Eng. Jorge Jardim, na década crucial que antecedeu a Independência moçambicana, na qual dificultou consideravelmente a guerrilha da Frelimo, se bem que tudo indique que jogava para os dois lados.

Um mapa do Malawi

Um mapa do Malawi, que “entra” por Moçambique dentro. Reparem nas fronteiras sobre o Lago Niassa. Os portugueses de então negociaram com os britânicos a soberania territorial moçambicana sobre o Lago, que é o que se vê, mas “esqueceram-se” de fazer o mesmo com as suas próprias colónias. Donde resulta que, cinquenta anos mais tarde, a fronteira do Malawi com a Tanzania é…..a margem do Lago do lado Tanzaniano! Ou seja, se um tanzaniano der um mergulhinho no lago, entra no Malawi. Por causa disto, os dois países andam mais ou menos em atritos, a Tanzânia quer mudar as fronteiras e o Malawi diz que não aceita.

Após 1975 e até à sua retirada da política em 1994 (morreu em 25 de Novembro de 1997 , supostamente com cerca de cem anos de idade, numa clínica em Joanesburgo) Banda manteve relações particularmente difíceis com Machel e Chissano. Machel, que odiava Banda e lhe chamava “fascista” pelas costas, morreu num acidente aéreo em Outubro de 1986, depois de regressar dum encontro cujo tema era precisamente o apoio de Banda à Renamo e ao regime sul-africano contra Moçambique. Um mês antes, em 11 de Setembro de 1986, Machel deslocou-se a Blantyre para pressionar Banda, que tudo indicava havia aberto as portas do seu país para que a Renamo atacasse o Norte a partir da fronteira malawiana. Nessa reunião de duas horas, na qual estiveram presentes Kenneth Kaunda e Robert Mugabe, segundo o livro de Ian Christie sobre Machel, o presidente moçambicano atirou com tudo à cara do venerando presidente-para-toda-a-vida, incluindo uma cópia de um passaporte do Malawi passado a Afonso Dlakhama, já então o líder da Renamo. Mas quando, poucos dias depois, se assistiu a ai início de um mortífero ataque em território moçambicano a partir do Malawi, coordenado pela Renamo e em três frentes, aparentemente liderado por tropas especiais sul-africanos, Samora, que já estava severamente pressionado em várias frentes, perdeu a cabeça e ameaçou atacar o Malawi. Numa conferência de imprensa em Maputo, disse: “nós colocaremos mísseis na fronteira com o Malawi se o apoio aos bandidos não cessar. E nós encerraremos o trânsito de mercadorias entre o Malawi e a África do Sul que passa por Moçambique [Ian refere que na altura passavam por território moçambicano cerca de 70 camiões por dia nessa rota]. Uns dias mais tarde, numa visita a Tete, Machel disse à imprensa: “as autoridades do Malawi tornaram o seu país numa base para mercenários de várias nacionalidades, mas principalmente sul-africanos. Eu creio que o Presidente Hastings não é responsável, quem é responsável são alguns ministros, soldados, membros da polícia e da segurança do Malawi que foram comprados pelos sul-africanos e outros países que não nomearei agora, apesar de termos as provas na nossa posse.”

Num artigo da BBC, o administrador da sua herança estima que o Dr. Banda, que em 1971 já ostentava o título de “presidente Vitalício”, deixou uma fortuna pessoal que estima em 319 milhões de libras estrelinas, o que não é nada mau, considerando a miséria que por ali grassava e a que por ali ainda abunda.

Em baixo, imagens de uma “histórica” visita de Estado que o Dr. Banda fez a Moçambique colonial, aqui em Nampula, no dia 27 de Setembro de 1971, onde foi recebido pela hierarquia colonial com as honras e a pompa devidas. A cúpula da Frelimo, na altura já após o rescaldo do assassinato do Dr. Mondlane e consequente ascensão da troika hardliner comunista (Machel, Marcelino e Chissano) a qual nunca teve um momento fácil com o líder malawiano, deve ter rangido os dentes duas vezes. Um dos grandes objectivos estratégicos do Presidente malawiano em relação a Moçambique era abrir uma linha férrea entre o seu país e o porto moçambicano de Nacala, que está em fase de reabilitação agora mas cuja inauguração (do troço final da linha férrea) foi a razão da sua visita a Nampula e a Nacala em 1971.

Uma nota para adicionar algum surrealismo: apesar de ter tido relacionamentos com mulheres, e em baixo se fazer acompanhar por uma “primeira dama”,  Banda nunca casou. Mas teve uma longa relação com Cecilia Kadzamira, que fazia o lugar de primeira dama, e que se vê com ele nesta visita a Nampula, e que teve por sua vez um percurso também invulgar.

 

Foto 1

Banho de multidão no Aeroporto de Nampula à chegada do Presidente do Malawi.

Foto 2

Multidão à espera da comitiva do Malawi.

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Comité de recepção, com as bandeirinhas portuguesas ao léu, como é preceito nestas ocasiões.

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As madames esposas dos dignitários portugueses, trajadas para a ocasião, na fila de cumprimentos protocolares. Atrás, um Fokker da DETA.

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O Chede de Estado do Malawi à sua chegada, passa revista às tropas, acompanhado pelo então Governador-Geral de Moçambique, o Eng. Arantes e Oliveira.

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Cecilia Kadzamira cumprimenta as senhoras da comitiva de recepção.

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Cecília Kadzamira recebida com calor em Nampula.

Num palanque montado na pista do Aeroporto de Nampula,

Num palanque montado na pista do Aeroporto de Nampula para o efeito, o Presidente do Malawi e a comitiva de recepção preparam-se para ouvir os hinos de Portugal e do Malawi.

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