THE DELAGOA BAY WORLD

30/04/2024

OS ARTIFACTOS NA SÉ CATEDRAL DE LOURENÇO MARQUES

Imagens retocadas.

Parte do interior da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da capital de Moçambique (e de Portugal). Por detrás do altar-mor, está sepultado D. Teodósio Clemente de Gouveia, na altura Cardeal e Arcebispo de Lourenço Marques.
Artigo detalhando as obras de arte presentes na Sé Catedral, inaugurada em 14 de Agosto de 1944 (Dia da Assunção de Nossa Senhora, penso que ainda feriado nacional em Portugal), em plena II Guerra Mundial. O percurso, por exemplo, dos vitrais da ábside e das janelas posteriores, feitos na Holanda numa Europa ocupada pelos Nazis e trazida de barco para Lourenço Marques, foi quase alucinante.
A Sé Catedral não foi a primeira igreja em Lourenço Marques. A primeira foi a também chamada Igreja de Nossa Senhora da Conceição, que se pode ver num postal de AW Bayly, também chamada Igreja Paroquial, edificada em meados da década de 1880 (mais ou menos a mesma altura em que foi edificada a Mesquita da Baixa) e que existiu onde hoje está a monumental sede do Rádio Clube de Moçambique (aka Rádio Moçambique). Foi demolida enquanto a Sé Catedral estava a ser construída. Gerações de habitantes da Cidade foram baptizados, casados e homenageados na morte nesse local, sendo os seus registos transferidos para a nova estrutura.

20/12/2023

VITRAL DA SÉ CATEDRAL DE LOURENÇO MARQUES

Imagem de José Neves.

Um dos vitrais da Sé Catedral de Lourenço Marques, devotada a Nossa Senhora da Conceição, Padroeira da Cidade.

15/08/2023

TURISTA NA PRAÇA MOUZINHO DE ALBUQUERQUE EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 60

Imagem tirada por Geoff Hannell, retocada.

Uma visitante junto ao monumento memorial de Mouzinho, anos 60. Atrás, a Sé Catedral e o Prédio Funchal.

17/05/2023

A PRAÇA MOUZINHO DE ALBUQUERQUE EM LOURENÇO MARQUES À NOITE, ANOS 60

Imagem retocada.

Imagem tirada a partir do Prédio Montepio. Tudo construído entre 1935 e 1947.

28/09/2022

A SÉ CATEDRAL DE LOURENÇO MARQUES, 1944

A primeira imagem foi retocada e colorida, estava nos arquivos pessoais do então Governador-Geral de Moçambique, José Tristão de Bettencourt (açoriano), copiada dos arquivos da Fundação Mário Soares.

A Sé Catedral de Lourenço Marques, acabadinha de inaugurar pelo Cardeal Cerejeira em Agosto de 1944 que ali foi de barco em plena II Guerra Mundial, arriscando o pescoço. Sem os prédios à volta, especialmente esse horror urbanístico que é o Prédio Funchal, era imponente. Foi magistralmente desenhada por um obscuro engenheiro dos Caminhos de Ferro que é…. O avô do actual ministro da Cultura português.
A entrada da Sé Catedral, vista do interior. A foto foi tirada por Roland Grebbs há cerca de dez anos.
A minha Mãe e três dos meus irmãos Cló, Mesquita e Chico) à saída de uma missa, início dos anos 60.
A Catedral em construção, foto do Edgar Marques via o Ernesto Silva, retocada.

30/08/2021

LOURENÇO MARQUES, INÍCIO DA DÉCADA DE 1970

Imagem retocada.

Vista da Praça Mousinho de Albuquerque, Maxaquene e Polana em Lourenço Marques, início da década de 1970.

19/08/2021

A BAIXA DE LOURENÇO MARQUES, ANOS 60

Imagem retocada.

Lourenço Marques, segunda metade da década de 1960.

05/08/2021

A IGREJA PAROQUIAL E O HOSPITAL MILITAR DE LOURENÇO MARQUES, 1897

Imagem retocada.

A antiga Igreja Paroquial ou de Nossa Senhora da Conceição e o Hospital Militar de Lourenço Marques, 1897, copiada da revista Branco e Negro. No lugar da igreja, demolida no início dos anos 40, foi edificada a sede do Rádio Clube de Moçambique. No lugar do antigo hospital foi construida a Sé Catedral.

25/06/2021

A PRAÇA MOUZINHO DE ALBUQUERQUE, ANOS 60

magem retocada, de Manuel Martins Gomes. Grato à sua filha Zé, que a disponibilizou em memória do seu Pai, cujo espólio fotográfico está a constituir num arquivo.

Segundo o relógio a Sé Catedral, esta imagem foi tirada às 4:50 da manhã, donde presumo foi durante o verão, quando amanhece pouco depois das 4 da manhã e ajuda a justificar não se ver quase ninguém.

A Praça Mouzinho de Albuquerque, também chamada Praça do Município, e hoje Praça da Independência, anos 60.

04/04/2020

A SEDE DO RÁDIO CLUBE DE MOÇAMBIQUE EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 1960

Imagem retocada.

A sede do Rádio Clube de Moçambique. Atrás, a Sé Catedral.

03/04/2020

PARADA MILITAR EM LOUREBNÇO MARQUES, ANOS 1960

Imagem retocada.

Penso que esta deve ter sido uma das paradas por ocasião do feriado do 10 de Junho em Lourenço Marques.

 

A Praça Mouzinho de Albuquerque em Lourenço Marques, vista do Prédio Funchal.

01/09/2019

LOURENÇO MARQUES EM 1974

Imagem retocada.

 

Lourenço Marques em 1974, foto tirada de cima do Prédio Montepio em direcção a Nascente. Interessante nesta imagem é poder ver-se claramente o quarteirão onde fica situado o Hotel Club. Por esta altura, à direita da casa na extrema da imagem (do lado direito também), já estaria implantada a Casa de Ferro.

29/04/2019

A BAIXA DE LOURENÇO MARQUES, 1960

Imagem retocada.

 

Lourenço Marques em 1960, foto em zoom tirada a partir do Prédio Funchal. À esquerda, o Prédio Montepio (onde ficavam os escritórios da TAP). À direita, a torre da Sé Catedral. O telhado de zinco ao lado da torre é o Bazar na Baixa, visto de trás. Ao fundo em cima, a Catembe. Junto à Baía do lado Norte, os guindastres do Cais Gorjão.

08/12/2018

NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO E LOURENÇO MARQUES

Não estou dentro dos mistérios associados a todos os dogmas e raciocínios da Igreja Católica e Apostólica Romana, especialmente no que concerne as suas figuras veneradas, como é o caso de Nossa Senhora da Conceição.

Mas, indubitavelmente, há uma relação especial entre esta figura da Igreja Católica e Portugal.

E com Lourenço Marques, desde o momento da sua fundação, no final do Século XVIII.

Lá iremos.

Segundo a Bíblia, Maria, também chamada Nossa Senhora da Conceição, era a Mãe de Jesus Cristo e mulher de José, um carpinteiro. O termo “conceição” deriva dela ter concebido aquele que, segundo a crença cristã, era filho de Deus.

Como tal, Maria, apesar de ser mulher, Nossa Senhora da Conceição, sempre ocupou um lugar de algum destaque na narrativa cristã, eventualmente tornada na única religião permitida no império romano pelo imperador romano Constantino (reinou entre 306 e 327), e que o sobreviveu, até hoje.

Entretanto passaram 1500 anos.

Diz a conhecida astrologista e intérpetre de Tarot Maria Helena no seu blog que “a celebração de Nossa Senhora da Conceição honra a conceção de Maria, que foi concebida sem haver pecado. A palavra “imaculada” deriva do latim “sem mácula” ou seja, sem mancha. No dia 8 de Dezembro de 1854, o Papa Pio IX [papa entre 1846 e 1878, o mais longo mandato papal e um dos mais controversos na história do catolicismo] definiu e proclamou, através da bula “Ineffabilis Deus”, a concepção imaculada de Maria como um dogma religioso e desde então esta data é celebrada pela Igreja Católica e por todos os fiéis. O dia 8 de Dezembro antecede em nove meses a data da natividade de Maria, que é o dia 8 de Setembro, e por essa razão esta data ficou definida pela Igreja Católica como a data em que Maria foi concebida.

Em bom português, o relato bíblico original sugeria vagamente que Maria concebeu Jesus Cristo sem ter tido relações sexuais (o perpétuo “pecado” católico), contribuindo para o seu estatuto como filho de Deus. Pio IX proclamou-o como facto inquestionável.

Muito antes do pronúncio de Pio IX, no entanto, já um monarca português, João IV,  tomara uma posição semelhante em relação a esta figura do catolicismo e fizera algo relativamente insólito. D. João IV era o  Bragança que se chegou à frente em 1640 para se tornar o monarca de Portugal, quando alguns portugueses se revoltaram, com sucesso, contra a Dinastia espanhola dos Felipes, detentora da coroa de Portugal desde 1580. Carminda Neves assim o relata:

Por proposta sua, durante as Cortes reunidas em Lisboa desde 28 de Dezembro de 1645 até 16 de Março de 1646, afirmando o soberano «que a Virgem Maria foi concebida sem pecado original» e comprometendo-se a doar em seu nome, em nome de seu filho e dos seus sucessores à Santa Casa da Conceição, em Vila Viçosa, «cinquenta cruzados de oiro em cada ano», como sinal de tributo e vassalagem, a dar continuidade à devoção de D. Afonso Henriques, que tomara a Senhora por advogada pessoal e de seus sucessores. O acto da proclamação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal, efectuado com a maior solenidade pelo monarca a 25 de Março desse ano (1646), alargou-se a todo o País, com o povo, à noite, a entoar cânticos de júbilo pelas ruas, para celebrar a Conceição imaculada da Virgem, ou, mais precisamente, a Maternidade Divina de Maria. Assim se tornou Nossa Senhora a verdadeira Soberana de Portugal, não voltando por isso, desde aí, nenhum dos nossos reis a ostentar a coroa, direito que passou a pertencer apenas à Excelsa Rainha, Mãe de Deus. Em 1648 D. João IV manda cunhar moedas de ouro e de prata, tendo numa das faces a imagem da Imaculada Conceição com a legenda Tutelaris Regni – Padroeira do Reino. Em 1654 ordena que sejam postas em todas as portas e entradas das cidades, vilas e lugares do reino pedras lavradas com uma inscrição alusiva à Imaculada Conceição (lápides essas ainda hoje existentes em certos locais). Outros reis seus sucessores continuaram a tradição deste culto de homenagem a Nossa Senhora, caso de D. João V, em 1717, que recomenda a todas as igrejas a celebração anual com pompa e solenidade da Festa da Imaculada Conceição, enquanto D. João VI emite um decreto criando a Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e a Cabeça da Ordem (lugar principal) na Sua Real Capela.

Ainda hoje, o dia 8 de Dezembro é um feriado nacional em Portugal e, se me recordo, era também o Dia da Mãe na minha infância.

Acontece que, no início do Século XVI, estando os portugueses na posse de uma minúscula língua de terra que era a ilha de Moçambique, situada estrategicamente na costa oriental africana e na rota para o Oriente, que trouxe à Europa uma mudança civilizacional, ali edificaram gradualmente uma gigantesca fortaleza, cujo padroeiro católico é São Sebastião, evocado nas sete setas cruzadas que adornaram a bandeira provincial durante boa parte do Século XX.

No último quarto do Século XVIII (1782, se me recordo) os poderes lusos de então decidiram criar uma pequena guarnição permanente, estacionada numa imunda e insalubre língua de terra na margem Norte da então Baía do Espírito Santo, num local que não tinha nome conhecido e a que chamavam “Lourenço Marques”. Eufemisticamente, deram à pequena fortificação de lama, pedras e caniço ali erguida a designação de Presídio ou Fortaleza de …. Nossa Senhora da Conceição.

Que, por essa via, se iria tornar na Padroeira da futura cidade.

O Núcleo Museológico da Cidade de Lourenço Marques, construído nos anos 40 a partir das ruínas da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, década de 1960. O projecto do Núcleo Museológico foi da autoria de Pancho Guedes. As principais diferenças entre o que se vê e como era são que 1) a versão anterior era um pardieiro improvisado com materiais de terceira qualidade, 2) a inexistência de uma muralha a Sul (o que existia antes é a linha mais clara que se ê na base dessa muralha) e 3) o mar batia nesta parte Sul.

A cidade, sempre ténue, insegura e frágil, ainda levaria mais que cem anos a surgir e mesmo aí só após se manifestar o braço colonial britânico a Sul e os Boers a Oeste, e depois de descobertas as jazigas de diamantes e ouro naquela região e se compreendeu que, no contexto das comunicações de então (barco e caminho de ferro) um porto e uma linha de caminho de ferro a partir dali para o interior seriam investimentos estratégicos.

Lourenço Marques como era fora do núcleo original que é hoje a sua Baixa.

Em 1879, num acto de algum arrojo se se levar em conta a sua localização – no preciso local onde hoje está edificada a antiga sede do Rádio Clube de Moçambique, que na altura era ainda mato cerrado bem fora do perímetro urbano- os citadinos edificaram uma igreja, a primeira de Lourenço Marques, a que deram o nome de Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

A futura Igreja de Nossa Senhora da Conceição a ser construída em Lourenço Marques, cerca de 1880.

A igreja foi inaugurada em 1881.

Ali ao lado, num ponto estratégico de visibilidade, construíram os britânicos o seu consulado, que dobrava como residência consular.

A Igreja de Nossa Senhora da Conceição, de costas para o futuro Jardim Vasco da Gama. Ao fundo, o Consulado Britânico, que hoje é a sua embaixada em Maputo.

A então Avenida Dom Manuel, em Lourenço Marques, década de 1890, com a igreja original ao fundo. Onde se encontram os bungallows improvisados, seriam construídos a futura Sé Catedral, a Câmara Municipal e a Praça Mouzinho (hoje Praça Samora). Litografia pintada por mim.

Pouca gente hoje sabe que ao Alto-Maé correspondeu uma Freguesia cujo nome formal era …. Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Alto-Maé.

O estilo desta primeira igreja tem zero a ver com o que quer que seja que se fizesse em Portugal em termos da sua arquitectura. Olhando para as imagens, parecia ser uma igreja episcopal inglesa. Mas ali foram baptizadas, casadas e feitos elogios fúnebres, a gerações de habitantes da Cidade.

O Altar da velha Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Lourenço Marques em 1919, com a estátua representando Nossa Senhora da Conceição Imaculada. Uma rara foto a preto e branco tirada por Louis Hily e colorida por mim. O original desta foto é hoje propriedade do meu caro Paulo Azevedo.

Com o crescimento da Cidade, na segunda década do Século XX, as pessoas começaram a achar que a sua igreja era pequena demais para o número de crentes que a frequentavam. Mas salvo uns bravos mais dedicados, ninguém sonhava em fazer outra – certamente nada da escala e envergadura da que veio a ser inaugurada com enorme pompa e circunstância em Agosto de 1944.

Para uma Lourenço Marques cosmopolita, aberta ao Mundo, eminentemente urbana, relativamente sofisticada ainda que colonial, com igrejas de várias denominações, gentes oriundas de quase todo o mundo, casinos e casas de prostituição legais, uma forte dose laica e com o maior templo maçónico de todo o espaço português, a edificação de uma nova igreja de grande dimensão não era assunto leve.

A história a partir daí é magistralmente contada numa interessantíssima, magnífica e eminentemente legível tese académica (212 páginas, com dezenas de fotos no fim) de Ana Furtado, defendida em 2017 e publicada recentemente. Que choca e delicia pela erudição e abrangência dos assuntos ali abordados.

Segundo a Ana, e resumindo as coisas, a construção da actual Catedral deve-se a todo um contexto de então e, localmente, principalmente a 4 pessoas.

O contexto? António de Oliveira Salazar, um nacionalista convicto e um católico relativamente ferrenho, toma o poder em 1928 e, com uma ajudinha do seu amigo o Padre Cerejeira, na altura nomeado Cardeal em Lisboa, principia a construir o Estado Novo, com uma forte componente religiosa, que ele considerava parte da “fibra da Nação”. Essa obra incluiu a assinatura de vários acordos com a Santa Sé e um investimento considerável nos esforços de implantação e reforço das instituições católicas em todos os territórios que na altura integravam Portugal. Simultaneamente, desencadeia um conjunto de acções com vista a reforçar um sentido de objectivo à sociedade portuguesa, baseada no passado histórico, que se procurou glorificar até ao ponto da exaustão.

É neste contexto que a ideia de se fazer uma nova igreja em Lourenço Marques evolui, com uma crescente atenção e eventualmente, quase apropriação por parte do Estado, para os seus desígnios de glorificação nacional.

As quatro pessoas:

  1. o missionário franciscano e Prelado, D. Rafael da Assunção, que para além de puxar por este projecto, foi a força por detrás da construção das igrejas da Missão Franciscana da Beira, de Homoíne e de São José de Lhanguene.
  2. o Arquitecto António Couto Abreu, que desenhou um projecto de uma igreja (assinado a 20 de Setembro de 1922), considerado algo faraónico e inviável, pois não havia dinheiro e quase tudo que ele previa tinha que ser importado (nota: houve um projecto anterior por Tito Fernandes, mas esse foi logo às urtigas);
  3. o Engº Marcial Freitas e Costa, nos CFM desde 1922, que apresentou o projecto que foi executado, em linhas modernas, simples – e em cimento armado. E que depois foi a sua alma, executando-o.
  4. o lendário Engº Francisco Pinto Teixeira dos Caminhos de Ferro de Moçambique, que, depois de anos e anos de a Câmara Municipal levantar obstáculos ao projecto, ele, que então havia recentemente assumido a presidência da Câmara Municipal de Lourenço Marques, aprovou o projecto de Marcial (os dois conheciam-se muito bem dos CFM) três dias depois de ter sido submetido.

Marcial Freitas e Costa, o criador do projecto da Sé Catedral, no seu gabinete de trabalho nos Caminhos de Ferro em Lourenço Marques, década de 1930. Não recebeu um tusto do trabalho que fez para a sua edificação. Foto reproduzida da tese de Ana Furtado.

Finalmente, a primeira pedra da futura Sé Catedral é lançada e abençoada com pompa no dia 28 de Junho de 1936.

A construção foi sendo feita. Havia o desejo de a inaugurar em 1940 – ano em que o Regime comemoraria estrondosamente a Fundação, a Restauração, a Portugalidade, etc. Mas as obras atrasaram-se porque entretanto chega a II Guerra Mundial e as coisas complicam-se rapidamente. Havia ainda menos dinheiro e ainda faltava fazer muita coisa. Um exemplo que a Ana dá é o dos vitrais da futura igreja, que foram fabricados na Alemanha e que quando estavam encaixotados para serem enviados para Moçambique, foram apanhados num porto holandês justamente quando a Alemanha invadiu aquele país em 1940. Ao mais alto nível da diplomacia, andou-se às voltas com os alemães para encontrarem e entregarem os vitrais a Portugal, o que foi feito.

A futura Sé Catedral em construção, final da década de 1930. Foto do Edgar Marques.

A igreja foi inaugurada no dia 14 de Agosto de 1944, ainda decorria a guerra, mas já se prenunciava a derrota de Hitler e a hegemonia dos EUA e da União Soviética. Portugal manteve a neutralidade, um pouco colada com cuspo mas enfim. As cerimónias foram lideradas pelo Cardeal Cerejeira, que viajou de barco até Lourenço Marques, a primeira (e a única) vez que um cardeal português se deslocou a uma colónia. Por se ter divorciado uns tempos antes, Ana sugere que Marcial Freitas e Costa foi considerado persona non grata na cerimónia inaugural e por isso terá aproveitado uma viagem aos EUA pouco antes (para ver se arranjava ferro para os CFM) para de seguida tirar uma licença graciosa em Portugal, pelo que nesse dia não estava em Lourenço Marques. Outros tempos.

A Sé Catedral na actualidade. Mantém a traça original mas é preciso dinheiro para a sua manutenção.

 

A fachada frontal.

 

Os vitrais, originalmente feitos na Alemanha de Hitler e trazidos de barco para Lourenço Marques, maioritariamente pagos do bolso de Marcial Freitas e Costa. Foram “apanhados” em caixotes num porto da Holanda quando os exércitos de Hitler invadiram aquele país. Em baixo, uma estátua evocativa de Nossa Senhora da Conceição.

 

O enquadramento da Sé Catedral, anos 60, ao lado da Câmara Municipal e do monumento a Mouzinho de Albuquerque. Desde então, saiu Mouzinho e entrou Samora.

Em 1944, velha a Igreja de Nossa Senhora da Conceição foi desconsagrada (passando a sua consagração para a nova Sé Catedral, cujo nome formal ainda é Igreja de Nossa Senhora da Conceição) e a seguir foi demolida. No mesmo local, sete anos depois, foi inaugurado no local o Palácio da Rádio, a então nova sede do Rádio Clube de Moçambique.

O Palácio da Rádio, sede do Rádio Clube de Moçambique, década de 1960, implantado no mesmo local onde, mesmo em frente ao velho edifício que se vê à direita, estava a original Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

Marcial Freitas e Costa faleceu precisamente quatro meses depois, em Lourenço Marques. O seu corpo foi posteriormente trasladado para um cemitério em Portugal.

Merece ser recordado neste dia 8 de Dezembro de 2018, 372 anos após a proclamação de D. João IV, 236 anos após a fundação do Presídio de Lourenço Marques, 164 anos após a proclamação do Papa Pio IX, 137 anos após a inauguração da primeira Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Lourenço Marques, e 74 anos após a inauguração da Sé Catedral e do seu desaparecimento físico.

 

26/08/2018

O ANTIGO HOSPITAL DE LOURENÇO MARQUES, FIM DO SÉC. XIX

Arquivos reais holandeses, imagem retocada por mim.

A fachada do Hospital Militar (e Civil?) da Vila e depois Cidade de Lourenço Marques, fim do Séc. XIX. Estava implantado num terreno onde, no lado direito deste edifício, ficariam depois as escadas de acesso à Sé Catedral de Lourenço Marques, ou seja, mesmo atrás deste edifício seria feita décadas mais tarde a Praça Mouzinho de Albuquerque (hoje Prala da Independência). Foi subsequentemente demolido e substituído pelo Hospital Miguel Bombarda.

19/03/2018

A PRAÇA MOUZINHO DE ALBUQUERQUE EM LOURENÇO MARQUES, 1970

Imagem de Alfredo Ginja, retocada.

 

A Praça Mouzinho de Albuquerque, cerca de 1970.

22/01/2018

O MONUMENTO A MOUZINHO DE ALBUQUERQUE EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 1940

A implantação de uma praça em frente à então futura sede da Câmara Municipal de Lourenço Marques, incluiu a ideia da colocação ali de uma estátua evocativa de Mouzinho de Albuquerque, o enigmático e previamente obscuro major que em 1895 galvanizou o então pequeno Reino de Portugal ao prender o Régulo Gungunhana e assim eliminar o perigo da fragmentação (pelo Reino Unido e o Império da Alemanha) da nascente colónia que se veio a transformar no que hoje é Moçambique.

 

O monumento a Mouzinho, na Praça com o mesmo nome, em Lourenço Marques, anos 40.

Já em 1916 foi constituída uma comissão para se fazer uma estátua, que pelos vistos fez pouco ou nada durante quase vinte anos. Em 1928, só havia conseguido um terço dos fundos necessários para encomendar uma estátua e o resto dos fundos foi conseguido por uma doação de 45o contos do governo provincial em 1935.

O concurso da obra é ganho pelo projecto “África”, do arquitecto António do Couto e o escultor José Simões de Almeida (sobrinho).

Em 1936, realizou-se a cerimónia do lançamento da Primeira Pedra do monumento, que só viria a ser inaugurado com pompa no dia 28 de Dezembro de 1940, um Domingo e no dia do 45º aniversário da captura de Gungunhana por Mouzinho, em Chaimite.

Cito Gerheij: “A importância investida na Praça Mouzinho, a única praça que recebe a qualificação de “monumental”, é confirmada pela construção dos novos Paços do Concelho, prevista nela desde finais dos anos 20. Em 1931 decide-se levantar também aí a nova Catedral. Só a partir de 1935 os vários projectos vão ser implementados, devido,
porventura, à crise e à reestruturação administrativa das possessões ultramarinas destes anos. O Governo colonial completa o fundo para o monumento, enquanto a Câmara Municipal autoriza as obras da Catedral, concretizadas, com largo apoio estatal, em 1936-1944. O concurso camarário para os Paços do Concelho, em 1937-1939, é ganho pelo projecto de Carlos Santos, arquitecto português que vivera desde 1917 em São Paulo. O edifício é construído em 1940-1947. A praça é urbanizada em 1940, ano da inauguração do monumento, no âmbito do programa das comemorações centenárias deste ano. A Avenida Aguiar [mais tarde Avenida D. Luis e hoje Avenida Marechal Samora Machel] já fora prolongada e rectificada, passando a ligar directamente esta praça com a 7 de Março. Desta forma, monumento e palácio municipal rematavam uma avenida espaçosa que iniciava no Monumento a António Enes, criando um novo espaço público de referência do imaginário urbano que centralizava as sedes administrativa e religiosa à volta da figura equestre.”

Pouco antes da declaração formal da Independência de Moçambique, em Junho de 1975, o monumento foi demolido e a estátua equestre bem como os painéis laterais, foram colocados no núcleo museológico construído no local da antiga Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, na Praça 7 de Março, onde ainda se encontra.

Durante o segundo mandato de Armando Guebuza, terceiro presidente de Moçambique após a Independência, no espaço previamente ocupado pelo monumento, foi colocada uma estátua em homenagem ao primeiro presidente de Moçambique, Samora Machel. A praça passou a designar-se Praça da Independência. Sendo que a declaração formal da independência foi declarada no antigo Estádio Salazar, na Machava, que até esta data nunca foi alvo de qualquer atenção quanto à solenidade do acto histórico ali ocorrido na noite de 24 para 25 de Junho de 1975.

Para mais detalhes, ver esta preciosidade do grande blogue com o nome errado, bem como o trabalho de Gerbert Verheij, a partir da página 34.

30/10/2017

INTERIOR DA SÉ CATEDRAL DE LOURENÇO MARQUES

Filed under: LM Sé Catedral — ABM @ 22:07

Fotografias de 2015.

 

Vista da entrada na direcção do altar.

 

Vista do altar, na direcção da entrada principal.

A SÉ CATEDRAL DE LOURENÇO MARQUES, À NOITE, ANOS 60

Filed under: LM Sé Catedral — ABM @ 22:02

Fotografia de Fernando Pinho, retocada.

 

A Sé Catedral, formalmente designada Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira da Cidade.

10/09/2017

A PARTE DE TRÁS DA SÉ CATEDRAL DE LOURENÇO MARQUES

Filed under: LM Sé Catedral — ABM @ 20:56

 

A secção Norte da Catedral de Lourenço Marques, onde se situa o altar-mor.

11/05/2013

A PRAÇA SETE DE MARÇO EM LOURENÇO MARQUES, INÍCIO DOS ANOS 1950

A Praça Sete de Março (hoje 25 de Junho) em Lourenço Marques, tal como era no início dos anos 50. Ao fundo pode-se ver o Café Scala e o Cinema Scala, atrás a Sé Catedral.

A Praça Sete de Março (hoje 25 de Junho) em Lourenço Marques, tal como era no início dos anos 50. Ao fundo, na esquina da Avenida Dom Luiz com a Avenida da República (hoje Samora Machel com a 25 de Setembro) pode-se ver o Café Scala e o Cinema Scala, a Estação Central dos Correios, atrás a Sé Catedral.

05/05/2013

A BAIXA DE LOURENÇO MARQUES, INÍCIO DOS ANOS 1960

 

 

Imagem da Beixa de Lourenço Marques no final dos anos 60, na capa de um livro. De realçar o Hotel Club com o seu telhado de zinco vermelho. Um dos horrores da pós-Independência foi que, no restauro feito para criar um centro cultural estrangeiro, alguém se lembrou de colocar ali um telhado....azul-cueca.

Imagem da Beixa de Lourenço Marques no início dos anos 60, na capa de um livro. De realçar o Hotel Club com o seu telhado de zinco vermelho. Um dos horrores da pós-Independência foi que, no restauro feito para criar um centro cultural estrangeiro, alguém se lembrou de colocar ali um telhado….azul-cueca. Mais em cima, se se reparar, o Prédio Funchal ainda não existe (actualmente é um hotel) e o edifício do jornal Diário/A Tribuna ainda está a ser construído.

15/09/2012

A IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO E O CONSULADO BRITÂNICO EM LOURENÇO MARQUES, INÍCIO DO SÉCULO XX

A Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Lourenço Marques, início do Século XX. Foi demolida para ali perto ser construída a Sé Catedral de Lourenço Marques, que tem formalmente o mesmo nome. A curiosidade desta rara fotografia é que mostra exatctamente onde ficava situada (mais ou menos onde fica hoje a antifa sede do Rádio Clube de Moçambique (hoje a Rádio Moçambique) pois mesmo atrás pode-se ver o antigo Consulado britânico em Lourenço Marques, que hoje é a embaixada britânica em Maputo. À direita da igreja fica o Jardim Vasco da Gama (hoje o Tunduru).

17/07/2012

OS LOPES E O HOSPITAL MILITAR DE LOURENÇO MARQUES, INÍCIO DO SÉCULO XX

Fotografias de Olinda Cavadinha e da Torre do Tombo, restauradas.

O velho hospital militar de Lourenço Marques, situado mais ou menos onde hoje está implantada a Sé Catedral de Maputo. Antes de ser um hospital, durante a I Guerra Mundial, foi um edifício multi-usos. Veja a nota em baixo da avó da Olinda, que viveu lá. Para ver esta fotografia em tamanho (muito) maior, prima na imagem com o rato do seu computador.

A nota.

Mabel Elisabeth Lopes, avó da Olinda.

A original Igreja de Nossa Senhora da Conceição na então parte alta de Lourenço Marques, e mais à frente à sua direita o velho hospital militar (de salientar que a Sé Catedral formalmente tem o nome de Nossa Senhora da Conceição). A velha igreja estava implantada onde hoje fica o edifício da Rádio Moçambique, enquanto que o hospital, conforme referido, está aqui onde mais tarde foi edificada a Sé Catedral. Aqui cerca dos anos 1880.

Os dois edifícios, vistos mais de perto.

César Dias Lopes, avô da Olinda e marido de Mabel. A fotografia está um tanto fantasmaglórica pois foi assim que ficou digitalizada.

Os 13 filhos de Mabel e de César. Hoje em dia já não acontece muito isto.

A mesma foto com indicações numeradas para cada um. A Olinda ficou de me dar os nomes. Acho que a mãe dela é o nº 10 mas isso vê-se depois.

28/06/2012

A FAMÍLIA SOUSA E BRITO HENRIQUES EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 1930 E 1940

Fotografias (e dados) da colecção de Fernanda Simões, descendente da família Sousa e Brito, gentilmente cedidas e depois restauradas por mim.

Em baixo, os avós maternos da Fernanda, já com as filhas.  Prima nas imagens para ver as fotografias no tamanho original onde for o caso.

Maria Flora e Henrique com as três filhas, infelizmente desfocada. Ao colo está a Maria Teresa de Sousa e Brito Rodrigues, nascida em Lourenço Marques  a 03 de Outubro de 1930. De pé e 1ª à esquerda está a primogénita do casal, Maria Helena de Sousa e Brito Rodrigues, nascida na Ilha de Moçambique a 08 de Janeiro de 1928. A seguir está a Maria Flora Henriques de Sousa e Brito Rodrigues, nascida em Lourenço Marques  (Conceição) a 10 de Maio de 1929.

Maria Flora e Henrique com as suas princesinhas, da esquerda Maria Teresa (mãe da nossa Fernanda), a seguir Maria Helena e depois Maria Flora.

Na Sé Catedral de Lourenço Marques num baptizado (vamos lá a ver se acerto nos nomes…), da Esquerda: P1, P2, P3 (o miudo), atrás do miúdo é Maria Flora mãe, P5 (senhora a segurar o bebé), Maria Teresa (tia da Fernanda), Maria Flora filha (tia da Fernanda), Maria Helena (também tia da Fernanda), atrás Henrique o pai delas e avô da Fernanda, e finalmente à direita Maria Alice (nome completo Maria Alice Henriques de Sousa e Brito Rodrigues Monsus, nascida em Lourenço Marques a 11 de Novembro de 1929, médica na especialidade de Anatomia Patológica).

Maria Flora e Henrique junto a um carrão, creio que já em Lourenço Marques.

 

Na estação ferroviária de Lourenço Marques, anos 1940. Da esquerda: de chapéu, Bernardo José de Sousa e Brito, bisavô da Fernanda; Maria Alice (tia da Fernanda, a tal que é médica), atrás dela à direita Maria Clara Inês Henriques de Sousa e Brito, a seguir à frente Maria Teresa de Sousa e Brito Rodrigues (mãe da nossa Fernanda), atrás dela logo a seguir a sua mãe Maria Flora, depois P1 (não tem o nome), atrás desta Henrique o avô materno da Fernanda, sendo as duas últimas Maria Helena e Maria Flora, tias da Fernanda.

 

Grupo em Lourenço Marques em que o casal à frente à direita são Maria Flora e Henrique, os avós maternos da Fernanda.

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