THE DELAGOA BAY WORLD

10/09/2017

CELEBRAÇÃO DA BATALHA DE MAGUL, ANOS 50

Filed under: Batalha de Magul 1895, Gungunhana - líder tribal — ABM @ 21:36

Fotografia de Cristina Pereira de Lima, retocada por mim.

 

Uma missa campal em celebração junto de um monumento erguido no local onde se combateu a batalha de Magul, anos 50.

O colonialismo português naquilo que hoje é Moçambique começou em Outubro de 1894 em reacção a um ataque, por parte de um conjunto de tribos em redor da minúscula Lourenço Marques, à então pequena mas estratégica urbe, onde se ultimava a construção de uma linha ferroviária que ligaria a Baía com Pretória e Joanesburgo, e se planeava já a construção de um cais, mesmo ao lado dessa linha ferroviária. Entre Outubro de 1894 e Janeiro de 1895, quando finalmente chegou um navio com um punhado de tropas de Portugal e Angola, a pequena cidade contava impacientemente os dias, enquanto que ao larga na Baía um conjunto de navios estrangeiros marcavam presença para proteger os seus nacionais. A História regista que a pequena cidade foi salva de um saque na Batalha de Marracuene, um canto idílico uns 25 kms a Norte, junto ao Rio Incomáti, em 2 de Fevereiro de 1895 – um sábado.

Mas se essa vitória foi importante para Lourenço Marques, em pouco resolveu a situação em relação aos Ngunis, um grupo étnico zulu que, umas décadas antes, migrara para a região, vindo do Natal, e que, através de guerras e da força, submeteram uma parte substancial das tribos no Sul do que é hoje Moçambique.

O seu líder era Gungunhana, que estava no centro de intensas movimentações que envolviam, para além dos portugueses, que achavam que já tinham assegurado diplomaticamente os seus “direitos de soberania” junto do Reino Unido, em 1891, os britânicos que mandavam na África do Sul (de entre os quais se destacava Cecil Rhodes) e ainda os Boers do Transvaal. Na verdade, todos queriam Lourenço Marques, e achavam que Gungunhana poderia ser a chave para a expulsão dos portugueses de Lourenço Marques, abrindo a possibilidade de incorporar a região no Império britânico. Londres cumpriu o acordado, desencorajando as movimentações em curso no terreno e deixando Gungunhana entregue ao seu destino.

Estando os portugueses armados com metralhadoras Maxim, que os Ngunis não possuiam, e assentando a unidade nguni num precária alinaça de terror intertribal, a luta seria desigual.

A seguir à batalha em Marracuene, o pequeno destacamento português chegado em Janeiro a Lourenço Marques conduziu um conjunto de operações militares cirúrgicas (até porque não dispunham nem de meios humanos nem meios materiais) com o objectivo de neutralizar a ameaça militar dos Ngunis no Sul do então Distrito de Lourenço Marques.

E o momento-chave dessa estratégia foi a batalha de Magul, ocorrida naquele local em Gaza, a 8 de Setembro de 1895, um domingo.

O seu desfecho teria consequências claras: se os portugueses perdessem essa batalha, perderiam o Sul de Moçambique para Gungunhana e provavelmente para a África do Sul e Cecil Rhodes. Ao vencerem, efectivamente neutralizaram a ameaça Nguni e preservaram a então nascente colónia, tal como existe hoje a nação de Moçambique.

A prisão de Gungunhana, ocorrida dois meses e meio depois, foi uma iniciativa pessoal de um então oficial português pouco conhecido, contra as ordens expressas do Comissário Régio António Ennes. Se foi intensamente badalada e inspirou gerações de portugueses e mais tarde moçambicanos, de uma forma ou outra, a verdade é que o verdadeiro momento de viragem no conflito pelo controlo do território a Sul do Rio Save foi esta batalha em Magul.

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