Alfred Milner (23 de Março de 1854- 15 de Maio de 1925) foi uma das personalidades mais consequentes na história da África do Sul. Recomendo a leitura do excelente e longo texto sobre ele na Wikipédia – em inglês, pois a versão em língua portuguesa é patética.
Entre outros, Milner esteve no centro de um entendimento (modus vivendi) com o governo português de então em que, em troca do fornecimento de mão de obra moçambicana para as minas do Rand, os bens transportados via o então novo porto de Lourenço Marques e da linha férrea até Pretória e Johannesburgo, pagariam tarifas preferenciais.
O ano entre o final de 1894 e de 1895 foi uma altura alucinante quer para o Sul de Moçambique, quer para a pequena república boer do Transvaaal. A pequena Lourenço Marques foi violentamente atacada e sitiada em Outubro de 1894 por uma coligação de tribos da região, a linha férrea para Pretória ainda a ser terminada.
Em quase pânico, o governo em Lisboa, que mantinha contacto com Lourenço Marques pelo telégrafo da Eastern Telegraph, envia uma pequena força armada para proteger a Cidade, iniciando o que alguns chamam as “campanhas de pacificação”, cujos pontos altos nessa altura foram uma violenta batalha em Marracuene no início de Fevereiro de 1895 (cuja celebração anual se fez desde então, até hoje, dantes comemorando-se a vitória portuguesa e agora a “resistência nacionalista”. Enfim) e o aprisionamento de Gungunhana, um conhecido líder Nguni, no dia de Natal desse ano.
Pelo meio, em Julho é inaugurada solenemente a linha férrea, considerado na altura o projecto ferroviário mais rentável do Mundo, dado que passava a ligar o mar até ao Witwatersrand, o maior campo aurífero no planeta (na altura já havia ligação ferroviária entre Pretória e a nascente Johannesburgo).
Do lado do Transvaal, o enorme fluxo de estrangeiros (em afrikaans, Uitlanders), um pouco de tudo mas maioritariamente britânicos e norte-americanos, numa corrida ao ouro, estavam a levar o governo britânico (e Cecil Rhodes) ao desespero, pois queriam negócio e consideravam o Transvaal parte da sua esfera de influência (à pala disso, Lord Alfred Milner compraria uma guerra para resolver a questão em 1899). Entretanto, Paul Kruger, o presidente do Transvaal não permitia a residência nem o voto dos Uitlanders e carregava-lhes com taxas e taxinhas e impostos. Numa acção obviamente mal planeada, patrocinada por Cecil Rhodes e liderada pelo médico Dr. Leander Jameson (que tinha nesta causa como um apoiante firme e amigo o “nosso” médico Dr. Óscar Somershield, cujo apelido mal soletrado ainda decora um bairro chique de Maputo que em tempo fez parte de uma concessão que misteriosamente lhe havia sido concedida – ah ah) também por volta do Natal de 1895, um grupo de mercenários e afins tentaram derrubar o governo de Pretória. Falharam redondamente e foi um escândalo. Para atiçar ainda mais as coisas, desde Berlim, o imperador Germânico, Guilherme II, enviou um simpático telegrama de felicitações a Kruger, o que deixou os ingleses escandalizados e apreensivos.