THE DELAGOA BAY WORLD

08/12/2023

O FERIADO DA IMACULADA CONCEIÇÃO EM PORTUGAL EM 8 DE DEZEMBRO

Imagem retocada.

A cúpula da Igreja de Santo António da Polana em Lourenço Marques, iluminada pelo sol, onde, solenemente, eu fiz a Primeira (e última) Comunhão da Igreja Católica na manhã de Domingo, dia 8 de Dezembro de 1968, Feriado da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal e de Lourenço Marques. A Sé Catedral de Lourenço Marques foi e está consagrada a Nossa Senhora da Conceição. O presídio de Lourenço Marques, que deu origem à capital de Moçambique, depois “fortaleza”, tinha o nome formal de “Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição” e a primeira igreja católica construída em Lourenço Marques (no local onde hoje está a sede do antigo Rádio Clube de Moçambique, demolida na década de 1930) tinha o nome de “Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceição”.

Hoje é feriado nacional em Portugal, celebrando a chamada Imaculada Conceição. O que é e de onde veio esta celebração nacional?

Segundo um texto da Câmara Municipal de Penaguião que consultei (e editei), Nossa Senhora da Conceição foi a Mãe de Jesus Cristo:

O dia invoca a vida e a virtude de Virgem Maria, mãe de Jesus, concebida sem mácula, ou seja, sem marca do pecado original, o que recebeu o estatuto de dogma católico pelo Papa Pio IX no dia 8 de dezembro de 1854 (ou seja, passa a ser considerado assim pela Igreja e não se pode questionar). Assim, tem origem a celebração dessa comemoração, que é uma data de grande significado para a Igreja Católica.

A imaculada conceição é um dos chamados quatro dogmas marianos. Os outros três são que ela é a Mãe de Deus, a Perpétua Virgindade (pois) e a Assunção.

Antes de ter sido considerado um dogma, a celebração da data pelos Católicos já havia sido decretada em 1476 pelo Papa Sisto IV.

Em 25 de março de 1646, cinco anos e quatro meses depois da chamada Restauração da Independência (outro feriado nacional português, celebrado a 1 de Dezembro) e sabe-se lá porquê, o rei D. João IV organizou uma cerimónia solene, na solarenta e alentejana Vila Viçosa, para agradecer a Nossa Senhora da Conceição pela Restauração da Independência de Portugal em relação à Espanha. O rei foi até a igreja de Nossa Senhora da Conceição na Vila, declarando-a padroeira e rainha de Portugal e anunciando que, desde esse dia (e até ao fim da dinastia dos Bragança em 1910), mais nenhum rei português usaria a coroa real na cabeça, privilégio que, diziam, estaria disponível apenas para a Nossa Senhora Imaculada da Conceição.

Importa referir que durante séculos, o Dia da Mãe em Portugal era comemorado no dia 8 de dezembro, tendo sido mudado para maio há relativamente poucos anos, por ser esse considerado o mês de Nossa Senhora. Quando eu era miúdo em Lourenço Marques, ainda assinalei o Dia da Mãe a 8 de Dezembro, primeiro comprando uns postais alusivos na lojinha de artigos religiosos da Igreja de Santo António da Polana, que ficava ao lado do monumento. Depois fiquei esperto e passei a guardar o dinheiro para ir ao cinema no Scala no domingo e fazia uns cartões desenhados à mão usando lápis de cor, que a Mãe Melo muito apreciava, apesar de serem digamos que toscos.

Mas isto dos feriados nacionais portugueses tem o que se lhe diga.

Originalmente, não eram “feriados” como são considerados hoje. Por exemplo, o feriado de 1 de Dezembro era usado para a celebração de solenes missas, chamadas Te Deums. Só em meados do Século XIX é que começaram a ter um carácter mais histórico e laico.

E, no caso da chamada monarquia constitucional (1834-1910) os dias em que os reis nasceram, casaram e morreram eram feriados nacionais. E eles eram mais do que muitos.

Curiosamente, nessa altura, a data de 8 de Dezembro não era um feriado público, era uma data assinalada privadamente apenas pela Família Real portuguesa.

Com o golpe de Estado que aboliu a monarquia portuguesa, em 5 de outubro de 1910, a lista de feriados foi completamente alterada pelos radicais republicanos, ferozmente anti-clericais. Apenas uma semana depois do golpe, um decreto aboliu todos os dias santificados e estabeleceu apenas cinco feriados nacionais – laicos, claro – sendo eles o 1 de janeiro, 31 de janeiro, 5 de outubro, 1 de dezembro e 25 de dezembro. O 1 de janeiro passou a ser observado como o Dia da Fraternidade Universal em vez da Circuncisão do Senhor, o 25 de dezembro passou a ser o Dia da Família em vez do Natal (como aconteceu em Moçambique depois da instauração do comunismo da Frelimo). O 31 de janeiro era em homenagem à revolta republicana falhada de 31 de janeiro de 1891 no Porto, o 5 de outubro aos Heróis da República e o 1 de dezembro à Autonomia da Pátria Portuguesa.

Dois anos depois, adicionaram um feriado a 3 de Maio, evocando a descoberta do Brasil.

Só em 1929, já na Ditadura que antecedeu o Estado Novo, é que o dia 10 de Junho, então feriado municipal em Lisboa, evocando o poeta Luis de Camões (que terá falecido nesta data em 1579 ou 1580, parece que não se sabe), foi declarado feriado, chamada simplesmente “Festa Nacional”.

Salazar, que era católico e associava a nacionalidade ao catolicismo (um truismo) manteria a lista dos feriados nacionais assim até 1948, ano em que se passou a celebrar a data de 8 de dezembro, então chamado Dia da Consagração de Portugal à Imaculada Conceição.

Em 1952 foi publicada uma reforma abrangente do sistema de feriados português: dois feriados civis -31 de janeiro e 3 de maio — e um religioso – Quinta-Feira da Ascensão – foram extintos e em vez disso foram criados 3 feriados religiosos — Corpo de Deus, Assunção de Nossa Senhora (15 de agosto) e Todos-os-Santos (1 de novembro). Além disso, o feriado da Festa Nacional (10 de junho) passou a ser o Dia de Portugal (para além da Festa Nacional) ao qual Salazar, no decorrer da inauguração do Estádio Nacional do Jamor, em 10 de Junho de 1944 tinha acrescentado o epíteto de “dia da “Raça” e o 5 de outubro passou a estar consagrado à Implantação da República (e não aos Heróis da República). E os dias 1 de janeiro e 25 de dezembro voltaram oficialmente a ser feriados religiosos (Circuncisão e Natal, respectivamente). O feriado de 8 de dezembro também passou a ser chamado apenas o Dia da Imaculada Conceição.

Com o derrube do regime em 1974, adicionou-se o 1 de Maio, depois o 25 de Abril, a Terça-Feira de Carnaval, a Sexta-Feira Santa e um feriado da localidade. O 10 de junho passou a ser chamado como Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. E em 2003 o Domingo de Páscoa passou a ser feriado obrigatório (ou seja, quem trabalhar nesse dia, recebe mais 50 por cento do salário).

Em 2013, na sequência de uma – mais uma – falência das contas nacionais pelo PS, desta vez o famoso episódio do José Sócrates, o governo de Pedro Passos Coelho, sustentado pelo PSD e o CDS, para além de aumentar os impostos expressivamente e cortar nas despesas, eliminou “temporariamente” 4 feriados – que dois anos depois a Geringonça de António Costa (sustenada por uma maioria parlamentar composta pelo PS, comunas, Bloco da Esquerda e Partido dos Animais e da Natureza) alegremente restituiu. Eles eram o Corpo de Deus, Todos os Santos, 5 de Outubro e 1 de Dezembro.

Enfim. Com o milhão e meio de imigrantes que se prevê virão viver para Portugal nos próximos anos para complementar os que daqui se piram para melhores paragens – a actual tendência é virem brasileiros, indianos, paquistaneses, angolanos, nepaleses, chineses e afins (ou seja protestantes, islâmicos sunnis, budistas, judeus, sikhs, ismaelitas, etc, – até já há em Lisboa uma “catedral” da Cientologia ) quero ver onde é que vão parar estes feriados todos. Para já, andam muitos a comentar a nova simbologia da bandeira portuguesa, recentemente aprovada pelo governo do demissionário António Costa, cujo desenho foi especificamente concebido para ser mais “laico” e “inclusivo”. Pois claro.

18/07/2021

LOURENÇO MARQUES EM 1887

Imagens retocadas.

Em Novembro de 1937, a Livraria Miberva Central publicou em Lourenço Marques uma imagem anotada de como a Cidade era cinquenta anos antes, em 1887, o ano em que, por decreto real de 10 de Novembro, a então Vila foi elevada à categoria de Cidade. Em baixo se reproduz a imagem e as legendas exactas, contidas no folheto comemoriativo da Minerva Central, que tinha por título “A Cidade e Pôrto de Lourenço Marques há cinquenta anos”.

1. Praia do Albazini; 2. Ponte da Casa Baptista Carvalho e Irmão; 3. Armazém da Casa Baptista Carvalho e Irmão; 4. Ponte da Casa Allen, Wack & Co.; 5. Casa ainda existente onde se imprimiu o jornal “O Distrito de Lourenço Marques”, o primeiro jornal de Lourenço Marques e que hoje é ocupada pelos Poveiros.

6. Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição; 7. Casa que ainda hoje existe e que pertenceu ao Juiz Pimenta de Castro; 8. Armazém da Alfândega; 9. Capitania do Porto; 10. Alfândega Velha onde funcionou anteriormente a Repartição de Fazenda, que mais tarde foi caserna da Guarda Fiscal e onde hoje está a construir-se o edifício da Repartição de Estatística; 11. Cadeia Civil, hoje Repartição da Indústria e Minas e armazém da Imprensa Nacional; 12. Casa Régis Ainé, hoje Club Inglês; 13. Edifício das Obras Públicas, então em construção; 14. Avenida Aguiar; 15. Pântano do Maé.

28/05/2021

TRAINEIRAS EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 60

Imagem retocada, de Manuel Martins Gomes. Grato à sua filha Zé, que a disponibilizou em memória do seu Pai, cujo espólio fotográfico está pacientemente a começar a analisar e a constituir num registo fotográfico.

Traineiras atracadas no porto de embarcações ligeiras de Lourenço Marques, situado mais ou menos à frente da Praça 7 de Março (hoje 25 de Junho) e da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição em Lourenço Marques, anos 60.

26/02/2021

A HISTÓRIA DA ESTÁTUA DE SALAZAR EM LOURENÇO MARQUES

Imagens retocadas.

Esta história já foi abordada aqui, aqui.

Na primeira imagem em baixo vê-se a original estátua de António Oliveira Salazar – bem, uma cópia, feita pelo escultor Francisco Franco – maior e em pedra, nas vestes do seu doutoramento em Coimbra, que foi colocada com destaque em frente à fachada principal do liceu inaugurado em 6 de Outubro de 1952 e que teve o seu nome até meados de 1974. Segundo o Luis Silva e Sousa, cerca de 1963 “alguém em Lourenço Marques que não morria de amores pelo velho ditador” decapitou a estátua de pedra detonando, uma noite,  um pequeno engenho explosivo (imagino o filme que foi com a Pide e Cia Limitada naquela altura) tendo então a mesma sido posteriormente substituída por uma idêntica mas ligeiramente mais pequena, em bronze.

Em 1963, Salazar tinha 72 anos de idade e já governava Portugal com mão de ferro há 31 anos consecutivos, através de um regime de partido único que comandava pessoalmente com particular aptidão e com o apoio de instrumentos de repressão que eram eficazes em identificar e neutralizar qualquer oposição. Ai de quem abrisse a boca contra o seu regime – fosse branco ou preto.

Muitos consideraram bem-vinda a sua postura, após o quase absoluto caos que se viveu durante e especialmente no fim da I República. Surpreendentemente, em seguida, cometeu a façanha de manter Portugal fora da II Guerra Mundial. A enorme estátua do Cristo-Rei em Almada, Portugal, uma ideia de Manuel Cerejeira, compagnon de route de Salazar e Cardeal Patriarca de Lisboa entre 1929 e 1971, testemunha em parte a gratidão dos portugueses pelo que Salazar fez.

Assim, apesar de inúmeras vicissitudes, em 1963 Salazar parecia estar para ficar, de pedra e cal.

Notoriamente, apesar de todos os sinais e pressões ocorridas antes e depois do término da II Guerra Mundial (vencida por duas super-potências alegadamente “anti-coloniais” os EUA e a União Soviética, se bem que por razões diferentes) e os países europeus aceleradamente negociarem rápida, se atabalhoadamente, a independência das suas dependências coloniais em África, Salazar mantinha a peregrina opinião que, por supostas “especificidades portuguesas”, o seu país seguiria um caminho diferente. Quando muito, as suas colónias seriam “novos Brasis”, mas isso mais ou menos no dia em que as galinhas tivessem dentes. Até porque Moçambique estava ainda quase na idade da pedra em termos económicos e educacionais, e, igualmente importante, estava confortavemente acolchoado por quatro ex-colónias britânicas que explicitamente negavam os direitos aos seus cidadãos e achavam a mesma coisa (África do Sul, Swazilândia, Rodésia do Sul e Niasalândia). A excepção ocorreria precisamente em 1963, com o longínquo Tanganica, lá no Norte, cujo líder, Julius Nyerere, alojava um bando de nacionalistas negros moçambicanos constituídos numa atribulada Frente, que se preparavam para iniciar uma guerra para acabar com a soberania portuguesa no território. Mas no meio estava Cabo Delgado, um virtual deserto, e a enorme Zambézia, que não mostrava quaisquer sinais de qualquer rebelião contra a Pax Lusitana. Portanto a sua decisão foi aguentar o embate.

Claro que, subjacente, estaria na sua mente, eventualmente, o destino dos cerca de 100 mil portugueses a viver em confortável recato em Moçambique e a suspeita que uma retirada portuguesa levaria a uma ditadura comunista, à destruição do investimento e da economia e ao surgimento de uma elite predadora que capturaria toda a riqueza de forma ilícita. Nos anos 60, era o que se observaria um pouco por todo o continente.

Salazar achava também que, sem colónias, Portugal seria uma nação irrelevante. Uma Catalunha mas sem dinheiro nem talento. E havia a História. Em 1963, já tinha lidado com o início da guerrilha em Angola, com o caso Santa Maria, com a perda de Goa e com as resoluções das Nações Unidas.

Enfim.

Localmente, o decapitamento da sua estátua em 1963 foi, portanto, e então, convenientemente, condenado e, presumo que  via a censura local, gerido com a habitual parcimónia, relegado para a importância de uma mera brincadeira de mau gosto promovida por miúdos. A Cidade, e o regime, não perderam o sono por causa do incidente.

A estátua de pedra do ditador português em 1961, em frente à chancelaria do liceu com o seu nome no Bairro da Polana, em Lourenço Marques, uma espectacular e aparatosa obra de luxo com que o regime de então presenteou a cidade, que até então só dispunha do venerando e já um tanto pindérico Liceu 5 de Outubro, nas suas traseiras (onde, ainda assim, prontamente se instalou a Escola Comercial Azevedo e Silva). Formalmente, ali funcionava também o Liceu feminimo, Dona Ana da Costa Portugal, onde muitas bonitas meninas locais estudaram e de vez em quando piscavam o olho aos rapazes do Liceu Salazar.

 

Rara fotografia de 1963  onde se pode ver, ao fundo, o pedestal da estátua do Dr. Salazar, agora decapitada, com um tapume de madeira, à espera que, de Portugal, viesse nova estátua, esta de bronze, para não haver mais confusões.

Ao contrário de parte significativa das obras de arte e estatuária portuguesa alusiva a Moçambique (no que concerne a sua história) no após-independência, que foram ostensivamente apeadas e guardadas num canto ou destruídas (em Portugal fez-se mais ou menos a mesma coisa), a obra evocativa de Salazar não teve direito a lugar cativo na curiosa piro-histórico-turística “Fortaleza” de Maputo, a nova capital do país nascente. Ditou o freudiano e aparentemente persistente trauma frelimiano com Salazar (há uma longa entrevista de Joaquim Chissano – que estudou no Liceu Salazar, um dos raros moçambicanos negros que por ali passou nos anos 50 e se tornou num destacado estadista do novo regime – a explicar toda esta dialéctica) que a estátua de cobre de Salazar – a segunda do liceu – fosse ostensivamente encostada a uma parede num canto das traseiras da actual Biblioteca Nacional de Moçambique, que era a antiga Biblioteca Municipal em frente ao Hotel Tivoli na baixa de Maputo (e antes disso a Fazenda de Moçambique).

Ou seja, ele está lá, mas não está lá.

O que é curioso, pois, literalmente, em termos da história colonial portuguesa em Moçambique, Salazar é sem qualquer margem de dúvida incontornável, o elefante na sala que todos parecem querer fingir que não está ali. Faz lembrar aqueles faraós egípcios em relação aos quais, depois de morrerem, por terem sido impopulares, os seus sucessores gastaram fortunas a destruir as suas efígies, a riscar os seus nomes e feitos do registo histórico e até a proibir os seus nomes de serem mencionados. Por maioria de razão, mais do que qualquer outro indivíduo, António de Oliveira Salazar foi o pai, a mãe e o filho do colonialismo português a partir de 1945. Não deve ser ignorado. Deve ser encarado de frente e estudado. Para que gerações futuras de moçambicanos possam entender o que foi, quando foi e porque foi. A antiga estátua do Liceu Salazar, que é um objecto de arte que até tem uma história interessante, se calhar ajudava no processo.

A nova estátua, agora feita de bronze, já colocada em frente ao Liceu, 1964.

 

A mesma estátua, actualmente, algures nas traseiras da Biblioteca Nacional, na Baixa de Maputo.

09/05/2019

O PRESÍDIO DE LOURENÇO MARQUES, INÍCIO DOS SÉCS. XX E XXI

Imagens retocadas.

 

O Presídio de Lourenço Marques, também conhecido como Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, início do Século XX.

 

A mesma imagem, anotada. Notas: 1) Parte Sul da Praça Mouzinho de Albuquerque, mais tarde Praça 7 de Março e actualmente Praça 25 de Junho; 2) Igreja Paroquial de Lourenço Marques, implantada no mesmo local onde fica a antiga sede do Rádio Clube de Moçambique; 3) a entrada principal do Presídio de Lourenço Marques (ou “Fortaleza” de N.S. da Conceição”); 4) fachada principal do Bank of Africa, que ficava mesmo atrás do Presídio; 5) Parte Sul do Presídio, posteriormente os aterros aqui feitos, que avançaram o terreno para Sul uns 100 metros, enterraram esta muralha e ali fez-se uma muralha “fictícia” na década de 1940 para dar o ar de “forte” que se vê hoje (obra do arquitecto Pancho Guedes); 6) margem Norte da Baía do Espírito Santo.

 

O Presídio fica mesmo à esquerda da casinha que se vê no lado esquerdo desta imagem do início do Séc. XX. Ao fundo, vê-se a Ponta Vermelha.

 

Imagem tirada duma varanda do Capitania Building, cerca do início do Séc.XX, mostrando, à direita, a “nova” ponta Sul da Praça 7 de Março, ajardinada, e, em frente e à esquerda, os novos aterros onde se fizeram as duas ruas em frente, o porto e, ao fundo, a primeira estação ferroviária de Lourenço Marques.

 

Vista aérea da Baixa de Lourenço Marques nos anos 50. Veja-se o antigo Presídio, agora recuado das águas da Baía e já na sua versão “Hollywood”. Para uma melhor contextualização, ver o mapa em baixo.

 

Mapa que copiei (e pintei) dum estudo dum académico sul-africano, sobrepondo o núcleo original do que era a Vila de Lourenço Marques, com o traçado posterior do que veio a ser a capital de Moçambique.  A parte em castanho era a parte “continental” de terra firme. A parte em verde era o anterior pântano (e praia) em redor da “ilha”, posteriormente aterrado. A “ilha” está pintada em amarelo. A parte pintada a azul mostra onde ficava a margem da Baía, a maior parte da qual, nesta zona, foi posteriormente aterrada também. Dentro da “ilha” e a Sul, pode-se ver o quadrado pintado a preto saliente e que indica a localização do Presídio.

18/04/2019

ARMA NO MUSEU DA FORTALEZA DE LOURENÇO MARQUES, 1961

Tal como a metralhadora soviética AK47 (que figura na bandeira nacional moçambicana) e as minas terrestres contribuiram decisivamente para acelerar o fim da era colonial moderna, foram as tecnologias de guerra do final do Século XIX que permitiram o seu surgimento, nomeadamente, o controlo e o domínio de grandes territórios por um punhado de pessoas, capazes de alavancar uma resposta mortífera a quase qualquer ataque suportado por arcos e flechas e espingardas. Foi definitivamente este o caso em Moçambique, especialmente a partir do final de 1894, quando Lourenço Marques foi atacada e ameaçada pelas tribos circundantes, suscitando uma resposta concertada das autoridades portuguesas. Neste aspecto, os portugueses não foram particularmente originais: esta foi praticamente a regra seguida por todas as potências europeias (e ainda os Estados Unidos da América, que teima em ignorar a sua considerável épica colonial e colonizadora) durante o Século XIX e até à segunda década do Século XX.

Perante a extrema desigualdade em recursos militares e logística, os nativos dessas regiões praticamente não tiveram chance de resistir à ocupação europeia.

Arma então em exibição no Núcleo Museológico da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição em Lourenço Marques, 1961.

08/12/2018

NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO E LOURENÇO MARQUES

Não estou dentro dos mistérios associados a todos os dogmas e raciocínios da Igreja Católica e Apostólica Romana, especialmente no que concerne as suas figuras veneradas, como é o caso de Nossa Senhora da Conceição.

Mas, indubitavelmente, há uma relação especial entre esta figura da Igreja Católica e Portugal.

E com Lourenço Marques, desde o momento da sua fundação, no final do Século XVIII.

Lá iremos.

Segundo a Bíblia, Maria, também chamada Nossa Senhora da Conceição, era a Mãe de Jesus Cristo e mulher de José, um carpinteiro. O termo “conceição” deriva dela ter concebido aquele que, segundo a crença cristã, era filho de Deus.

Como tal, Maria, apesar de ser mulher, Nossa Senhora da Conceição, sempre ocupou um lugar de algum destaque na narrativa cristã, eventualmente tornada na única religião permitida no império romano pelo imperador romano Constantino (reinou entre 306 e 327), e que o sobreviveu, até hoje.

Entretanto passaram 1500 anos.

Diz a conhecida astrologista e intérpetre de Tarot Maria Helena no seu blog que “a celebração de Nossa Senhora da Conceição honra a conceção de Maria, que foi concebida sem haver pecado. A palavra “imaculada” deriva do latim “sem mácula” ou seja, sem mancha. No dia 8 de Dezembro de 1854, o Papa Pio IX [papa entre 1846 e 1878, o mais longo mandato papal e um dos mais controversos na história do catolicismo] definiu e proclamou, através da bula “Ineffabilis Deus”, a concepção imaculada de Maria como um dogma religioso e desde então esta data é celebrada pela Igreja Católica e por todos os fiéis. O dia 8 de Dezembro antecede em nove meses a data da natividade de Maria, que é o dia 8 de Setembro, e por essa razão esta data ficou definida pela Igreja Católica como a data em que Maria foi concebida.

Em bom português, o relato bíblico original sugeria vagamente que Maria concebeu Jesus Cristo sem ter tido relações sexuais (o perpétuo “pecado” católico), contribuindo para o seu estatuto como filho de Deus. Pio IX proclamou-o como facto inquestionável.

Muito antes do pronúncio de Pio IX, no entanto, já um monarca português, João IV,  tomara uma posição semelhante em relação a esta figura do catolicismo e fizera algo relativamente insólito. D. João IV era o  Bragança que se chegou à frente em 1640 para se tornar o monarca de Portugal, quando alguns portugueses se revoltaram, com sucesso, contra a Dinastia espanhola dos Felipes, detentora da coroa de Portugal desde 1580. Carminda Neves assim o relata:

Por proposta sua, durante as Cortes reunidas em Lisboa desde 28 de Dezembro de 1645 até 16 de Março de 1646, afirmando o soberano «que a Virgem Maria foi concebida sem pecado original» e comprometendo-se a doar em seu nome, em nome de seu filho e dos seus sucessores à Santa Casa da Conceição, em Vila Viçosa, «cinquenta cruzados de oiro em cada ano», como sinal de tributo e vassalagem, a dar continuidade à devoção de D. Afonso Henriques, que tomara a Senhora por advogada pessoal e de seus sucessores. O acto da proclamação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal, efectuado com a maior solenidade pelo monarca a 25 de Março desse ano (1646), alargou-se a todo o País, com o povo, à noite, a entoar cânticos de júbilo pelas ruas, para celebrar a Conceição imaculada da Virgem, ou, mais precisamente, a Maternidade Divina de Maria. Assim se tornou Nossa Senhora a verdadeira Soberana de Portugal, não voltando por isso, desde aí, nenhum dos nossos reis a ostentar a coroa, direito que passou a pertencer apenas à Excelsa Rainha, Mãe de Deus. Em 1648 D. João IV manda cunhar moedas de ouro e de prata, tendo numa das faces a imagem da Imaculada Conceição com a legenda Tutelaris Regni – Padroeira do Reino. Em 1654 ordena que sejam postas em todas as portas e entradas das cidades, vilas e lugares do reino pedras lavradas com uma inscrição alusiva à Imaculada Conceição (lápides essas ainda hoje existentes em certos locais). Outros reis seus sucessores continuaram a tradição deste culto de homenagem a Nossa Senhora, caso de D. João V, em 1717, que recomenda a todas as igrejas a celebração anual com pompa e solenidade da Festa da Imaculada Conceição, enquanto D. João VI emite um decreto criando a Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e a Cabeça da Ordem (lugar principal) na Sua Real Capela.

Ainda hoje, o dia 8 de Dezembro é um feriado nacional em Portugal e, se me recordo, era também o Dia da Mãe na minha infância.

Acontece que, no início do Século XVI, estando os portugueses na posse de uma minúscula língua de terra que era a ilha de Moçambique, situada estrategicamente na costa oriental africana e na rota para o Oriente, que trouxe à Europa uma mudança civilizacional, ali edificaram gradualmente uma gigantesca fortaleza, cujo padroeiro católico é São Sebastião, evocado nas sete setas cruzadas que adornaram a bandeira provincial durante boa parte do Século XX.

No último quarto do Século XVIII (1782, se me recordo) os poderes lusos de então decidiram criar uma pequena guarnição permanente, estacionada numa imunda e insalubre língua de terra na margem Norte da então Baía do Espírito Santo, num local que não tinha nome conhecido e a que chamavam “Lourenço Marques”. Eufemisticamente, deram à pequena fortificação de lama, pedras e caniço ali erguida a designação de Presídio ou Fortaleza de …. Nossa Senhora da Conceição.

Que, por essa via, se iria tornar na Padroeira da futura cidade.

O Núcleo Museológico da Cidade de Lourenço Marques, construído nos anos 40 a partir das ruínas da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, década de 1960. O projecto do Núcleo Museológico foi da autoria de Pancho Guedes. As principais diferenças entre o que se vê e como era são que 1) a versão anterior era um pardieiro improvisado com materiais de terceira qualidade, 2) a inexistência de uma muralha a Sul (o que existia antes é a linha mais clara que se ê na base dessa muralha) e 3) o mar batia nesta parte Sul.

A cidade, sempre ténue, insegura e frágil, ainda levaria mais que cem anos a surgir e mesmo aí só após se manifestar o braço colonial britânico a Sul e os Boers a Oeste, e depois de descobertas as jazigas de diamantes e ouro naquela região e se compreendeu que, no contexto das comunicações de então (barco e caminho de ferro) um porto e uma linha de caminho de ferro a partir dali para o interior seriam investimentos estratégicos.

Lourenço Marques como era fora do núcleo original que é hoje a sua Baixa.

Em 1879, num acto de algum arrojo se se levar em conta a sua localização – no preciso local onde hoje está edificada a antiga sede do Rádio Clube de Moçambique, que na altura era ainda mato cerrado bem fora do perímetro urbano- os citadinos edificaram uma igreja, a primeira de Lourenço Marques, a que deram o nome de Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

A futura Igreja de Nossa Senhora da Conceição a ser construída em Lourenço Marques, cerca de 1880.

A igreja foi inaugurada em 1881.

Ali ao lado, num ponto estratégico de visibilidade, construíram os britânicos o seu consulado, que dobrava como residência consular.

A Igreja de Nossa Senhora da Conceição, de costas para o futuro Jardim Vasco da Gama. Ao fundo, o Consulado Britânico, que hoje é a sua embaixada em Maputo.

A então Avenida Dom Manuel, em Lourenço Marques, década de 1890, com a igreja original ao fundo. Onde se encontram os bungallows improvisados, seriam construídos a futura Sé Catedral, a Câmara Municipal e a Praça Mouzinho (hoje Praça Samora). Litografia pintada por mim.

Pouca gente hoje sabe que ao Alto-Maé correspondeu uma Freguesia cujo nome formal era …. Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Alto-Maé.

O estilo desta primeira igreja tem zero a ver com o que quer que seja que se fizesse em Portugal em termos da sua arquitectura. Olhando para as imagens, parecia ser uma igreja episcopal inglesa. Mas ali foram baptizadas, casadas e feitos elogios fúnebres, a gerações de habitantes da Cidade.

O Altar da velha Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Lourenço Marques em 1919, com a estátua representando Nossa Senhora da Conceição Imaculada. Uma rara foto a preto e branco tirada por Louis Hily e colorida por mim. O original desta foto é hoje propriedade do meu caro Paulo Azevedo.

Com o crescimento da Cidade, na segunda década do Século XX, as pessoas começaram a achar que a sua igreja era pequena demais para o número de crentes que a frequentavam. Mas salvo uns bravos mais dedicados, ninguém sonhava em fazer outra – certamente nada da escala e envergadura da que veio a ser inaugurada com enorme pompa e circunstância em Agosto de 1944.

Para uma Lourenço Marques cosmopolita, aberta ao Mundo, eminentemente urbana, relativamente sofisticada ainda que colonial, com igrejas de várias denominações, gentes oriundas de quase todo o mundo, casinos e casas de prostituição legais, uma forte dose laica e com o maior templo maçónico de todo o espaço português, a edificação de uma nova igreja de grande dimensão não era assunto leve.

A história a partir daí é magistralmente contada numa interessantíssima, magnífica e eminentemente legível tese académica (212 páginas, com dezenas de fotos no fim) de Ana Furtado, defendida em 2017 e publicada recentemente. Que choca e delicia pela erudição e abrangência dos assuntos ali abordados.

Segundo a Ana, e resumindo as coisas, a construção da actual Catedral deve-se a todo um contexto de então e, localmente, principalmente a 4 pessoas.

O contexto? António de Oliveira Salazar, um nacionalista convicto e um católico relativamente ferrenho, toma o poder em 1928 e, com uma ajudinha do seu amigo o Padre Cerejeira, na altura nomeado Cardeal em Lisboa, principia a construir o Estado Novo, com uma forte componente religiosa, que ele considerava parte da “fibra da Nação”. Essa obra incluiu a assinatura de vários acordos com a Santa Sé e um investimento considerável nos esforços de implantação e reforço das instituições católicas em todos os territórios que na altura integravam Portugal. Simultaneamente, desencadeia um conjunto de acções com vista a reforçar um sentido de objectivo à sociedade portuguesa, baseada no passado histórico, que se procurou glorificar até ao ponto da exaustão.

É neste contexto que a ideia de se fazer uma nova igreja em Lourenço Marques evolui, com uma crescente atenção e eventualmente, quase apropriação por parte do Estado, para os seus desígnios de glorificação nacional.

As quatro pessoas:

  1. o missionário franciscano e Prelado, D. Rafael da Assunção, que para além de puxar por este projecto, foi a força por detrás da construção das igrejas da Missão Franciscana da Beira, de Homoíne e de São José de Lhanguene.
  2. o Arquitecto António Couto Abreu, que desenhou um projecto de uma igreja (assinado a 20 de Setembro de 1922), considerado algo faraónico e inviável, pois não havia dinheiro e quase tudo que ele previa tinha que ser importado (nota: houve um projecto anterior por Tito Fernandes, mas esse foi logo às urtigas);
  3. o Engº Marcial Freitas e Costa, nos CFM desde 1922, que apresentou o projecto que foi executado, em linhas modernas, simples – e em cimento armado. E que depois foi a sua alma, executando-o.
  4. o lendário Engº Francisco Pinto Teixeira dos Caminhos de Ferro de Moçambique, que, depois de anos e anos de a Câmara Municipal levantar obstáculos ao projecto, ele, que então havia recentemente assumido a presidência da Câmara Municipal de Lourenço Marques, aprovou o projecto de Marcial (os dois conheciam-se muito bem dos CFM) três dias depois de ter sido submetido.

Marcial Freitas e Costa, o criador do projecto da Sé Catedral, no seu gabinete de trabalho nos Caminhos de Ferro em Lourenço Marques, década de 1930. Não recebeu um tusto do trabalho que fez para a sua edificação. Foto reproduzida da tese de Ana Furtado.

Finalmente, a primeira pedra da futura Sé Catedral é lançada e abençoada com pompa no dia 28 de Junho de 1936.

A construção foi sendo feita. Havia o desejo de a inaugurar em 1940 – ano em que o Regime comemoraria estrondosamente a Fundação, a Restauração, a Portugalidade, etc. Mas as obras atrasaram-se porque entretanto chega a II Guerra Mundial e as coisas complicam-se rapidamente. Havia ainda menos dinheiro e ainda faltava fazer muita coisa. Um exemplo que a Ana dá é o dos vitrais da futura igreja, que foram fabricados na Alemanha e que quando estavam encaixotados para serem enviados para Moçambique, foram apanhados num porto holandês justamente quando a Alemanha invadiu aquele país em 1940. Ao mais alto nível da diplomacia, andou-se às voltas com os alemães para encontrarem e entregarem os vitrais a Portugal, o que foi feito.

A futura Sé Catedral em construção, final da década de 1930. Foto do Edgar Marques.

A igreja foi inaugurada no dia 14 de Agosto de 1944, ainda decorria a guerra, mas já se prenunciava a derrota de Hitler e a hegemonia dos EUA e da União Soviética. Portugal manteve a neutralidade, um pouco colada com cuspo mas enfim. As cerimónias foram lideradas pelo Cardeal Cerejeira, que viajou de barco até Lourenço Marques, a primeira (e a única) vez que um cardeal português se deslocou a uma colónia. Por se ter divorciado uns tempos antes, Ana sugere que Marcial Freitas e Costa foi considerado persona non grata na cerimónia inaugural e por isso terá aproveitado uma viagem aos EUA pouco antes (para ver se arranjava ferro para os CFM) para de seguida tirar uma licença graciosa em Portugal, pelo que nesse dia não estava em Lourenço Marques. Outros tempos.

A Sé Catedral na actualidade. Mantém a traça original mas é preciso dinheiro para a sua manutenção.

 

A fachada frontal.

 

Os vitrais, originalmente feitos na Alemanha de Hitler e trazidos de barco para Lourenço Marques, maioritariamente pagos do bolso de Marcial Freitas e Costa. Foram “apanhados” em caixotes num porto da Holanda quando os exércitos de Hitler invadiram aquele país. Em baixo, uma estátua evocativa de Nossa Senhora da Conceição.

 

O enquadramento da Sé Catedral, anos 60, ao lado da Câmara Municipal e do monumento a Mouzinho de Albuquerque. Desde então, saiu Mouzinho e entrou Samora.

Em 1944, velha a Igreja de Nossa Senhora da Conceição foi desconsagrada (passando a sua consagração para a nova Sé Catedral, cujo nome formal ainda é Igreja de Nossa Senhora da Conceição) e a seguir foi demolida. No mesmo local, sete anos depois, foi inaugurado no local o Palácio da Rádio, a então nova sede do Rádio Clube de Moçambique.

O Palácio da Rádio, sede do Rádio Clube de Moçambique, década de 1960, implantado no mesmo local onde, mesmo em frente ao velho edifício que se vê à direita, estava a original Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

Marcial Freitas e Costa faleceu precisamente quatro meses depois, em Lourenço Marques. O seu corpo foi posteriormente trasladado para um cemitério em Portugal.

Merece ser recordado neste dia 8 de Dezembro de 2018, 372 anos após a proclamação de D. João IV, 236 anos após a fundação do Presídio de Lourenço Marques, 164 anos após a proclamação do Papa Pio IX, 137 anos após a inauguração da primeira Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Lourenço Marques, e 74 anos após a inauguração da Sé Catedral e do seu desaparecimento físico.

 

21/09/2018

O NÚCLEO MUSEOLÓGICO DA FORTALEZA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO EM LOURENÇO MARQUES, 1961

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20/09/2018

CANHÃO NA FORTALEZA DE LOURENÇO MARQUES, 1961

 

Canhão no Núcleo Museológico da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição em Lourenço Marques, 1961.

18/09/2018

A FORTALEZA DE LOURENÇO MARQUES, FINAL DO SÉC. XIX

 

A fortaleza de Nossa Senhora da Conceição em Lourenço Marques,, final do Séc.XIX. Ao fundo, a Ponta Vermelha.

22/07/2018

O TRIBUNAL ADMINISTRATIVO EM LOURENÇO MARQUES, 1974

Grato ao PPT e ao AHM pelas duas primeiras imagens.

Mandado edificar como residência para Gerard Pott junto ao Jardim Botânico de Lourenço Marques no início do Século XX (o futuro Jardim Vasco da Gama e agora Tunduru), muitos lhe chamam  Vila Jóia. Que eu saiba Pott nunca a usou plenamente e cerca de 1915 vendeu-a ao Governo Provincial, que a usou como um museu meio natural, meio etnográfico, até o transferir para o Museu Álvaro de Castro cerca de 1935. Depois foi usado como tribunal Administrativo. Penso que actualmente ali funciona o Tribunal Supremo de Moçambique.

O Tribunal Administrativo, 1974.

 

Outra imagem do Tribunal Administrativo.

 

O edifício na segunda década do Séc. XX, quando foi convertido em museu. Se o Exmo. Leitor prestar atenção, comparando a fachada original com a de 1974, vai reparar que a fachada original foi só meio completada. A casa de facto era muito mais modesta. Anos depois, alguém fez as obras que completaram a mansão. Esse “desequilíbrio” arquitectónico, como se pode ver na imagens seguintes, era escondido pelo ângulo com que se tiravam as fotografias.

 

Anos 20, quando era museu.

 

Artifactos na varanda principal, quando era museu, meados dos anos 20.

 

A fachada frontal, meados dos anos 20, postal da Colecção Rufino.

 

A maior parte do espólio do Museu Provincial foi transferida em 1935 para o Museu Álvaro de Castro (hoje, Museu de História Natural), que originalmente havia sido desenhado para ser uma escola primária. O resto foi transferido para o futuro Núcleo Museológico da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, concebido por Pancho Guedes a partir das ruínas da fortaleza, na década de 1940.

10/07/2018

A FORTALEZA DE LOURENÇO MARQUES, BEFORE & AFTER PANCHO GUEDES

 

A fortaleza de Lourenço Marques na década de 1930, before o trabalho de “restauro”do Arquitecto Pancho Guedes, adjudicado pela Câmara Municipal da Cidade, que decorreu mais ou menos durante a II Guerra Mundial. Antes dos primeiros aterros feitos para fazer desaparecer a “ilha” que era a cidade, a parte Sul da fortaleza, que é aquele murinho baixo que se vê em primeiro plano, tocava nas águas da Baía. À esquerda, o Capitania Building, esplêndido mas que foi feito no sítio errado e estragava a fotografia, por isso foi demolido. Ao fundo, a Praça 7 de Março.

 

A fortaleza na década de 1960, after Pancho Guedes. Nada mau. 

12/05/2018

O MIRADOURO DE LISBOA E A PRAÇA 7 DE MARÇO EM lOURENÇO MARQUES, 1950

Grato ao Paulo Azevedo.

O Miradouro de Lisboa na Avenida dos Duques de Connaught em Lourenço Marques (actualmente Avenida Friedrich Engels, memorializando o pouco nefático inglês amigo e patrocinador de Karl Marx).

O longo processo de “monumentalização” da Baixa de Lourenço Marques na sua zona fundacional em redor da Praça 7 de Março (actualmente, designada como Praça 25 de Junho, memorializando a data que a Frelimo escolheu para formalizar a independência da colónia em relação a Portugal em 1975) a partir dos anos 40, e que arrancou com o projecto do Arquitecto Pancho Guedes para a criação dum núcleo museológico a partir das ruínas do antigo Presídio de Lourenço Marques, teve como consequência directa uma reconfiguração a meu ver algo infeliz no tecido social e comercial de então, pela gradual retirada do local de quase todos os restaurantes e kiosks que ali existiam e onde a população da cidade e visitantes conviviam. Mas as sucessivas vereações camarárias caminharam inexoravelmente nesse sentido, provocando, entre outras, a reacção que se pode ler em baixo, assinada por “Sócrates” e publicada no Lourenço Marques Guardian em 12 de Janeiro de 1950.

 

A Praça 7 de Março, durante a segunda década do Século XX, quando ainda se chamava Praça Mouzinho de Albuquerque. Era uma espécie de feira popular, cheia de restaurantes e kiosks, um coreto onde tocavam bandas aos sábados, dum lado o velho Teatro Gil Vicente, do outro o Varietá, hotéis, casinos, o porto e a estação de caminhos de ferro, uma considerável praça de táxis e quase todas as lojas da Cidade, tudo a menos de cinco minutos de distância a pé.

 

A Praça no início dos anos 1960, depois da Fase 1 da espectacular vassourada municipal. A seguir ainda viriam a descaracterização do edifício ainda chamado Casa Amarela, a alteração do que veio depois a ser a chancelaria da futura Universidade de Lourenço Marques, a demolição do Capitania Building (expondo a obra evocativa de Pancho Guedes) e, ao lado, a demolição do Varietá e da velha filial do Banco Nacional Ultramarino. Enfim.

 

O artigo de opinião publicado a 12 de Janeiro de 1950, reclamando a falta do convívio da antiga Praça 7 de Março e a necessidade de espaços alternativos para a Cidade. Numa profecia malograda, antecipava que, à falta de acomodação administrativa no Jardim Vasco da Gama (hoje Tunduru) o Miradouro de Lisboa seria uma alternativa para esse convívio, o que só parcialmente se concretizou. Muitas destas questões confrontam os actuais residentes, sendo que as actuais vereações em Maputo se têm entretido a “povoar” alegremente quase todos os espaços públicos de lazer da Cidade com restaurantes e lojas e lojinhas (para não mencionar a insólita implantação de nada menos que um balcão do Banco Standard em pleno Parque José Cabral, hoje designado “Parque dos Continuadores”, referindo-se não sei bem a quem) a meu ver destruindo quase por completo o seu propósito. 

17/04/2014

A ESTÁTUA DE MOUZINHO EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 70

 

 

O monumento em honra do militar português Mouzinho de Albuquerque, na praça com o mesmo nome, em Lourenço Marques, anos 70. No mesmo lugar, foi colocada recentemente uma estátua evocativa de Samora Machel, o primeiro presidente de Moçambique. A estátua de Mouzinho está em exposição no átrio do Núcleo Museológico da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição em Maputo.

O monumento em honra do militar português Mouzinho de Albuquerque, na praça com o mesmo nome, em Lourenço Marques, anos 70. No mesmo lugar, foi colocada recentemente uma estátua evocativa de Samora Machel, o primeiro presidente de Moçambique. A estátua de Mouzinho está em exposição no átrio do Núcleo Museológico da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição em Maputo. Atrás, pode.se ver a fachada frontal da Câmara Municipal de Lourenço Marques.

25/12/2013

A BAIXA DE LOURENÇO MARQUES, MEADOS DOS ANOS 1960

Fotografia de Artur Monteiro de Magalhães, gentilmente cedida pelo seu filho Artur Magalhães e restaurada por mim. Para ver a foto devidamente, abra com a máxima resolução.

 

Vista da zona da Baixa de Lourenço Marques que inclui a esquina do Continental e do Scala, o prolongamento da Avenida D. Luiz até à Praça 7 de Março (actual 25 de Junho)

Vista da zona da Baixa de Lourenço Marques que inclui a esquina do Continental e do Scala, o prolongamento da Avenida D. Luiz até à Praça 7 de Março (actual 25 de Junho), a fachada dos Prédios Fonte Azul e Rúbi e o jardim em frente ao Museu Militar da Fortaleza de Lourenço Marques. Do lado direito, por detrás do Prédio da Seguros Lusitânia, pode-se ver parte do Edifício Pott. Ao fundo, o porto onde está atracado um navio de guerra e a Catembe. Meados dos anos 60.

06/08/2012

A BAÍA DE LOURENÇO MARQUES JUNTO À CIDADE, INÍCIO DO SÉC. XX

A Baía vista do lado poente. À esquerda da imagem pode-se ver a muralha sul do velho presídio de Lourenço Marques, onde hoje está edificada a “fortaleza”. Ao fundo, a Ponta Vermelha.

28/06/2012

A BAIXA DE LOURENÇO MARQUES, ANOS 1960

 

A baixa de Lourenço Marques, anos 1960. Da esquerda, na Avenida da República (hoje 25 de Setembro) veêm-se o Hotel Tivoli, o Prédio Nauticus, o John Orr’s e o Prédio onde fica o Café Continental. Em frente ao John Orr’s, a estação central dos CTT. Em cima, vê-se a Praça 7 de Março (hoje 25 de Junho) e o Largo António Enes. Em cima à esquerda a Fortaleza, o porto de embarcações ligeiras e o edifício do Anjo Azul (ou Blue Angel)

22/06/2012

A BAIXA DE LOURENÇO MARQUES, ANOS 1960

A Baixa de Lourenço Marques, anos 1960. No topo a Fazenda. À direita, pode-se ver parte da Fortaleza. Em primeiro plano a sede do BNU e ao lado a Casa Coimbra. Mais acima a esquina entre as Avenidas da República (agora 25 de Setembro) e Dom Luiz (agora Samora Machel).

28/03/2012

A FORTALEZA DE LOURENÇO MARQUES EM 1890

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Mesmo em frente, o que era a fortaleza de Lourenço Marques em 1890, quando Manuel Romão a fotografou. Na altura, a praia tocava na sua muralha a Sul.

22/03/2012

A ESTÁTUA EM HONRA DE MOUZINHO DE ALBUQUERQUE

Em Portugal, os ministros das Colónias e da Educação Nacional, com outras individualidades, visitando a estátua equestre de Mouzinho de Albuquerque, obra do escultor Simões de Almeida.

 

Em Lourenço Marques e montada num pedestal, a estátua equestre adornou a Praça com o nome de Mouzinho, entre os anos 1930 e 1975.

 

Em Maputo, desde 1975, na Fortaleza na baixa e já sem pedestal, a estátua é uma atracção turística. Mouzinho de Albuquerque, que foi uma força viva duma fase crucial do processo colonial em Moçambique, tendo sido quem prendeu o régulo Nguni Gungunhana, suicidou-se em 8 de Janeiro de 1902, aos 46 anos de idade.

19/03/2012

A BANDEIRA PORTUGUESA HASTEADA NO PRESÍDIO DE LOURENÇO MARQUES PELA PRIMEIRA VEZ HÁ 230 ANOS

A Fortaleza de Lourenço Marques em 1894. Cem anos antes, era uma paliçada de madeira miserável. Aqui foi hasteada pela primeira vez a bandeira de Portugal em 19 de Março de 1782 - há precisamente 230 anos.

Muito grato à Cristina Pereira de Lima pelo contributo dos textos de seu pai, Alfredo Pereira de Lima, em baixo. Eu compus o resto e contribui com as imagens. E pus algumas vírgulas.

LOURENÇO MARQUES NASCEU COMO PRESÍDIO

Foi o piloto português Lourenço Marques quem primeiro explorou a vasta baía por conta da Coroa em 1540, razão porque D. João III deu o seu nome à baia.

Aqui se estabeleceu uma feitoria que era visitada anualmente por embarcações do capitão de Moçambique, vindos carregados de fazendas para serem empregadas no comercio de marfim e de ouro. Muitas das naus que se dirigiam a Sofala e Índia ou regressavam ao Reino, naufragavam na costa do Natal e do Cabo, vindo as suas tripulações com inúmeros perigos e trabalhos até Lourenço Marques, encontrando muito deles a morte quando para não esperarem as naus de Moçambique se dirigiam a pé para Sofala. Isto aconteceu ao malogrado D. Manuel de Souza Sepúlveda em 1552 que com sua mulher Dona Leonor e filhos se dirigia para lá a pé, após o trágico naufrágio de que foram vitimas, sendo mortos na região da Manhiça em revoltantes circunstâncias.

A memória desta tragédia foi cantada por Camões nos Lusíadas.

Ao período áureo das Descobertas sucedeu porém a época do abandono. O desastre de Alcácer-Quibir [Agosto de 1578] deixou a pátria em confusão com a perda do seu Rei. Veio a dominação espanhola que roubou-nos a acção própria. Também as seduções do Brasil fizeram com que Portugal esquecesse África!

Os holandeses, ingleses, austríacos e corsários franceses foram então os nossos piores inimigos neste vasto litoral.

A OCUPAÇÃO HOLANDESA

Em 1720 os holandeses tentaram fixar-se, mas em Dezembro de 1730 abandonaram definitivamente o Forte de Lagoa, que foi a primeira fortificação que existiu em Lourenço Marques.

A baía ficou então completamente abandonada durante 20 anos.

A OCUPAÇÃO INGLESA

Em 1763 foi uma fragata portuguesa reconhecer de novo a baía. O tenente coronel António José de Melo, em vez de expulsar do porto os dois navios ingleses que lá encontrou, travou grande intimidade com os seus capitães e deixou-os lá ficar.

Em 1764 veio da Baía de Todos os Santos o negociante Domingos Rosa expressamente para estabelecer o comércio de Lourenço Marques, mas desistiu em 1768 por causa dos ingleses que lá se tinham estabelecido e até tinham içado uma bandeira numa paliçada.

De 1768 a 1779 a baía foi completamente votada ao abandono por causa do governo central, então dirigido pelo Marquês de Pombal.

A OCUPAÇÃO AUSTRÍACA

William Bolts, como comandante da primeira expedição austríaca ao Oriente, parte em 1776 para ocupar a Baía de Lourenço Marques, estabelece tratados com os régulos do Tembe e da Matola, que mais tarde seriam contestados por Portugal, e constrói uma fortificação o Forte de São José,em 1778, no lugar do Forte de Lagoa (ocupação holandesa), que mais não era do que “um campo entrincheirado”.

Em 1781, uma expedição comandada pelo tenente coronel Joaquim Vicente Godinho de Mira foi enviada a Lourenço Marques para o restabelecimento da soberania portuguesa na baía.

A expedição a Lourenço Marques saiu de Goa a 20 de Janeiro de 1781, a bordo da fragata de guerra Santa Ana e São Joaquim, comandada pelo capitão-de-mar-e-guerra Nicolau Delgado Figueira da Cunha de Eça. A tropa de desembarque, sob o comando do tenente-coronel Joaquim Vicente Godinho de Mira, compunha-se de uma companhia de infantaria, outra da legião dos voluntários reais e um destacamento de artilharia: quarenta canhões (da fragata, fora as peças de campanha) e quinhentos homens, segundo os Austríacos. O capitão-general de Moçambique deveria reforçar a expedição com uma companhia de infantaria e fornecer à fragata práticos da navegação da baía.

A Santa Ana entrou em Moçambique a 20 de Fevereiro de 1781. Não encontrou no capitão-general mais que «suma frouxidão», como relata Godinho de Mira, que se queixa de que o governador “devendo dar-lhe providências lhe representou dúvidas e alegou faltas»: não poderia fornecer-lhe mais de quarenta soldados; embarcação não havia, pois a única do Estado, uma corveta, achava-se então em Quelimane aonde fora buscar mantimentos; práticos também não havia…

Cópia do desenho mais antigo que se conhece de Lourenço Marques. Para quem vive ou conhece Maputo, a referência é a Fortaleza. A actual "fortaleza", que nada tem que ver com as originais e que foi edificada em meados do Séc. XX como um núcleo museológico, está implantada no preciso local das anteriores.

A expedição esteve, assim, em riscos de «se desvanecer». Alguns dos oficiais, contudo, perseveraram em entusiasmo e confiança. O capitão de infantaria Luís Lopes Quaresma garantiu a Godinho de Mira que haviam de ir à Baía de Lourenço Marques, fosse pelo canal, fosse por fora dele; e os capitães-tenentes Gama Almeida e Garcez Palha prontificaram-se a levar a fragata ao porto, com as sondas na mão. Godinho de Mira declara que a estes três oficiais, principalmente, se deveu o êxito da viagem de Moçambique a Lourenço Marques. Por fim, desprezando o pouco auxílio que o capitão-general anuia a dar-lhe, a expedição largou da Ilha. Recebeu, em Inhambane, dois pilotos. E em 30 de Março de 1781 entrou na Baía, indo ancorar entre a Príncipe Fernando, a pala austríaca ao serviço do estabelecimento, e a bateria montada em terra.

Foi uma acção sem brilho! Os Austríacos, dizimados pela recente refrega com os Negros, não fizeram um gesto de resistência . A guarnição de presa instalou-se na Príncipe Fernando. Godinho de Mira desembarcou com parte da tropa, entrou sem impedimento na feitoria e arriou a bandeira imperial.

A INAUGURAÇÃO DO PRESÍDIO DE LOURENÇO MARQUES EM 1782

No dia 19 de Março  do ano de 1782, dia de São José [uma Terça-Feira], Joaquim de Araújo inaugurou o presídio de Lourenço Marques, arvorando a bandeira das Armas Reais num reduto cercado de estacas e caniço, dentro do qual ficavam as palhotas e barracas de capim do destacamento.

Esta era a bandeira de Portugal em 1782.

Joaquim de Araújo e a sua expedição tinha sido recebido dias antes pelo rei Matola e as suas gentes.

Dias depois, a 12 de Maio de 1782, houve um incêndio e o presídio ardeu todo. Os brancos de Lourenço Marques ficaram sem nada e foram socorridos pelos pretos, levantaram-se de novo as palhotas e as barracas, e os portugueses ficaram no mesmo presidio onde já holandeses, franceses, ingleses e austríacos tinham tentado estabelecer-se; morreram governadores, oficiais, soldados… mas eles foram sobrevivendo, tentando construir a fortificação que só foi concluída seis anos depois.

CORSÁRIOS FRANCESES

Em 1796 os piratas franceses saquearam e arrasaram a nossa povoação , e de novo foi recomeçada.

Restauração da soberania e início da cidade

Ao alferes Luís José e ao seu pequeno destacamento foi dado o honroso cargo de reocupar militarmente Lourenço Marques. Esta expedição, composta por 17 pessoas, incluía um porta bandeira, um tambor, seis soldados de infantaria,cinco soldados de artilharia e quatro negros cativos que eram oficiais mecânicos. A este punhado de homens foi incumbida a missão de restaurar a soberania portuguesa que tinha sido totalmente aniquilada pelos corsários franceses.

O alferes Luís José foi aprestado na ilha de Moçambique e embarcado com destino a Lourenço Marques na pala “Minerva”, do armador baniane Lacamichande Motichande, tendo a expedição chegado a Lourenço Marques em 7 de Junho de 1799.

E foi assim que a cidade começou com dezassete pessoas apenas, de que era governador o alferes Luís José, que em 1788, aos vinte anos de idade, viera de Lisboa, degredado para toda a vida.

E a 25 de Agosto de 1799, num cercado de caniço à volta de seis palhotas, hasteou-se pela segunda vez em Lourenço Marques a Bandeira Branca de Portugal, com a modesta solenidade de um tiro de peça.

Foram esses portugueses que levantaram Lourenço Marques numa estreita língua de areia com 1200 metros de comprimento e uns escassos 500 metros de largura máxima, quase afogada por pântanos pestilentos.

Esses primeiros habitantes de Lourenço Marques restaurada na sua plena soberania portuguesa, procuraram desde logo enraizar-se no meio onde passariam a viver, estabelecendo com os nativos uma aproximação humana benéfica, despida de preconceitos, deixando-se influenciar até pelos meios de vida, seus hábitos alimentares e mesmo de construção de suas habitações primitivas, num admirável exemplo e interpretação de costumes, que aliás, para o português não era novidade, habituado como estava por cerca de quatro séculos a lidar com os trópicos.

O presídio foi melhorado até 1815 e a sua guarnição foi reforçada em 1818, depois do incidente nas águas da baía com a galera inglesa Perseverance, comandada pelo capitão Ramsden, que travou duelos de artilharia com as peças do presídio de Lourenço Marques, tendo sido repelida.

Em 1822 Lourenço Marques foi visitada por Willliam Fritz Owen da Armada real Inglesa. A sua presença em Lourenço Marques foi de nefastas consequências para nós. Owen vinha encarregado do levantamento cartográfico da costa sudeste de África para benefício da navegação e da ciência. Nessa expedição, que foi cuidadosamente arquitectada pela chancelaria britânica, Owen. abusando da nossa hospitalidade e da nossa fraqueza, forjou tratados com os régulos de Maputo e de Tembe pelos quais estes cediam os seus domínios e a ainda a Ilha da Inhaca e dos Elefantes ao rei Jorge IV da Inglaterra,. Foi isto que originou os incidentes que se alastraram por mais de meio século entre Portugal e a Inglaterra e que terminou com a sentença proferida pelo Marechal Mac Mahon.

Durante o Séc. XIX os britânicos quase tudo fizeram para ter a soberania sobre Lourenço Marques e o Sul de Moçambique. Nunca o conseguiriam, apesar de na prática serem eles que mandavam. Mais ou menos.

Entretanto em Lisboa, por alvará e 19 de Junho de 1825, foi criada a Companhia Comercial de Lourenço Marques e Inhambane, a qual tinha por especial obrigação fazer povoar a capitania, “conduzindo do reino para aqui determinado numero de casais”.

Esses primeiros colonos enviados pela Companhia só chegaram em 1826 e… “tratavam-se de 2 feitores, 5 caixeiros, 3 casais de homens oficiais e 4 degredados..”

(in Introdução á Historia de Moçambique por Alfredo Pereira de Lima; Subsídios para uma Historia Municipal de Lourenço Marques por Alfredo Pereira de Lima; Pedras Que Já Não Falam por Alfredo Pereira de Lima; Edifícios Históricos de Lourenço Marques por Alfredo Pereira de Lima; 1781 – Reconquista

11/02/2012

A BAIXA DE LOURENÇO MARQUES, FINAL DOS ANOS 1960

Fotografia do IICT, restaurada.

Vista aérea da baixa de Lourenço Marques, final dos anos 1960. A avenida que se pode ver é a Aveinda da República (actualmente Av. 25 de Setembro). Em primeiro plano pode-se ver o terreno onde de seguida foi edificado o Edifício dos 22 Andares, que em 1974 era o mais alto em qualquer território administrado por Portugal. A lista do que se pode ver aqui não termina quase: a Biblioteca Municipal (hoje Nacional), os Correios, Hotel Tivoli, etc etc.

02/07/2011

A ESTRADA DAS ESTÂNCIAS E OS ATERROS DE LOURENÇO MARQUES, ANOS 1900

Infelizmente, pouca gente hoje que habita Maputo tem a noção de como era a zona até ao início do Século XX. Estes dois postais mostram o que foi a zona antes dos enormes aterros que foram feitos no início do século passado. As duas fotos mostram o que era a zona onde até recentemente ficava a FACIM, onde ainda está o “novo” edifício da Fazenda (que actualmente é o Gabinete do 1º Ministro de Moçambique), desde a zona do porto da cidade até ao antigo Clube de Pesca. Toda essa zona foi aterrada com terras retiradas das barreiras da Polana e da Maxaquene, que por isso “recuaram” quase duzentos metros para onde se podem ver hoje. Nessa enorme área aterrada, plantou-se um eucaliptal que serviu de parque para a cidade durante décadas, e se fez o “prolongamento” da antiga Av da República até à Estrada Marginal (que só por isso foi de seguida construída sobre a praia então existente). Anteriormente, só se podia aceder à Praia da Polana indo pela parte alta da cidade (que ali basicamente era mato). Aproveitou-se o ângulo de entrada da Baía e a morfologia do terreno para se construir a doca do Clube de Pesca.

A estrada das Estâncias, e todos os edifícios que podem ser vistos aqui, foram demolidos.

Vista da Estrada das Estâncias para Nascente. Ao fundo, a Ponta Vermelha. O antigo Clube de Pesca fica mais ou menos onde se pode ver a casinha à direita, junto ao mar. O tipo que fez este postal esticou-se um bocado nos embelezamentos. Na verdade, isto era mais um pântano mal-cheiroso, que a beleza azulada que aqui se retrata.

A Estrada das Estâncias para Poente. Ao fundo, o núcleo inicial de Lourenço Marques. Para se ter a noção de como era, a velha fortaleza vê-se à esquerda daquele primeiro pontão que de vê a entrar por água, debaixo do navio maior ancorado à esquerda.

O CAPITANIA BUILDINGS E A FORTALEZA DE NªSª DA CONCEIÇÃO EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 10

Esta fotografia tem alguma relevância pois para além de mostrar o Capitania Buildings, se olharem para o lado direito, ainda se pode ver a original muralha Sul da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição. E ver que a muralha caía directamente para a baía. Toda a zona de água que se vê à direita foi aterrada anos mais tarde. À esquerda do Capitania Buildings fica a Praça 7 de Março (hoje 25 de Junho).

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