Em baixo, o texto publicado nos anos 60 no conhecido “Livro de Ouro do Mundo Português”, sobre a formação e o crescimento da rádio em Moçambique, que praticamente é sinónimo com uma só entidade: o Rádio Clube de Moçambique e o seu actual sucedâneo. Que, até aos anos 80, era o único meio de comunicação instantâneo e de alcance global naquele território e que, talvez por isso, e por imperarem ditaduras quer durante a fase colonial, quer depois, foi sempre um alvo preferido para os respectivos regimes. E no entretanto, serviu para aquele estranho e algo catártico episódio chamado o 7 de Setembro.
Isso não retira o mérito e a iniciativa louvável daqueles que fizeram a instituição, que, à sua maneira, trouxe Moçambique da idade da pedra para o Século XX. Nos anos 60, enquanto eu crescia em Lourenço Marques, possuir um aparelho rádio e poder escutar a sua excelente (e pelos vistos cuidadosamente censurada) programação, era uma ambição para todos, pretos ou brancos. A rádio era misteriosa, maravilhosa, instrutiva, divertida, eliminava barreiras e distâncias. E não havia alternativa.
Décadas mais tarde, o seu sucedâneo, a Rádio Moçambique, é um duplo dinossáurio: vive nos escombros do que foi (os terrenos das antenas da Matola foram despachados já há vários anos) e permanece um departamento do governo, com uma linha editorial orientada pelos caciques locais, um pequeno exército de funcionários públicos suportado pelo dinheiro dos contribuintes e onde a nomeação do seu director merece uma consideração quase ministerial na imprensa local. Seria mais eficaz vender o que ainda não foi vendido (o Palácio do Rádio daria um excelente hotel de charme), converter as comunicações para a internet com retransmissores regionais e privatizar a licença.
Pois o Mundo mudou. Daqui a 20 anos, para além das eventuais trafulhices, a Frelimo vai ganhar ou perder as eleições não pelo que ali se diga, mas pelo que se dirá na televisão, no Facebook, Twitter, Instagram e Whatsapp.