THE DELAGOA BAY WORLD

16/06/2021

IRMÃO E SOBRINHOS DO RÉGULO MAURA, 1889

Imagem retocada e pintada, dos arquivos nacionais de Portugal.

 

web_n5006Irmao e Sobrinhos do Regulo Maura vencido pelo Te. Coutinho romao pereira 1889. Coutinho romao pereira 1889 TEST

A legenda da imagem, captada por Manuel Romão Pereira em 1889 diz: “Irmão e Sobrinhos do Régulo Maura, vencido pelo Tenente Coutinho”. Na  imagem a que tive acesso, a preto e branco e extremamente esbatida, mal se constatava o detalhe, a riqueza e a exuberância das vestes dos três homens, obviamente em pose solene. Para os europeus de então, aquilo bem podia ser outro planeta. E vice-versa. Não faço ideia do contexto histórico e geográfico em redor desta imagem, a não ser a menção de Azevedo Coutinho. Penso tratar-se de João de Azevedo Coutinho (1895-1944 – cuidado, ele tem um se calhar familiar que é o Victor Hugo Azevedo Coutinho– 1871-1955 e que tem uma considerável folha de serviços), que por estas alturas andou em Moçambique nas chamadas campanhas do Shire.

Sobre Manuel Romão Pereira

Romão Pereira, digamos que um fotógrafo tardio, é algo de uma referência nas imagens de Moçambique, especialmente por estar onde estava quando estava, e por dois trabalhos que fez. Um arquivo português descreve assim o seu percurso:

Manoel Joaquim Romão Pereira nasceu a 1 de junho de 1815, na aldeia de S. B. Messines e morreu em agosto de 1894. Filho de José Romão e Silvestra Maria, casou com Maria Júlia Pereira, em Messines, em 1849 e, após 12 anos de viuvez, casou com Maria Marcelina Pereira. Na aldeia de Messines nasceram todos os seus dez filhos, sete do primeiro casamento e três do segundo. Era proprietário e lavrador de profissão mas também, foi negociante e lojista. Começou por se interessar pela fotografia no momento em que foi fotografado na Mina de São Domingos pelo fotógrafo suiço Eduard Knopfli. Foi membro da Sociedade de Geografia de Lisboa

Em 1877, com 62 anos de idade, mudou-se para Cabo Verde, como escriturário do Governo Geral. Pouco depois mudou-se para Moçambique, fixando residência em Lourenço Marques, onde viveu durante largos anos. Aí, começou a dedicar-se mais à atividade de desenhista/ilustrador e fotógrafo, montado a sua residência e atelier, o Atelier Portuguez de Photographia, conhecida pelos locais como a casa do photographo Pereira. Inicialmente, funcionava junto ao antigo Presídio e depois mudou-se para a frente do Hospital.

Da sua atividade como fotógrafo conhecem-se encomendas do Governo português, como a reportagem da construção do Caminho de Ferro de Moçambique, obra iniciada em 1886.

Em 1888, por proposta sua, foi encarregado, pelo então ministro e conselheiro Frederico Ressano Garcia, de chefiar uma “expedição fotográfica” de toda a colónia de Moçambique “até onde se encontrasse vestígios da presença portuguesa”, tarefa que executou entre 1889 e 1891.

Parte do resultado desta expedição foi mostrado, no Porto, nas Comemorações do V Centenário nascimento do Infante D. Henrique, em março de 1894, no Palácio de Cristal, com cerca de 300 imagens.

Postumamente – Manuel Romão Pereira morreu em agosto de 1894 com 79 anos de idade – foi também exposto na “Exposição Insular e Colonial Portugueza”, de 1897.

Sobre João de Azevedo Coutinho

Um texto da Wikipédia, com uns retoques meus:

João António de Azevedo Coutinho Fragoso de Sequeira nasceu a 3 de Fevereiro de 1865 em Alter do Chão, filho de Manuel de Azevedo Coutinho Fragoso de Sequeira e de Maria Efigénia de Azevedo Coutinho da Gama Lobo Pinto Guedes, uma família com ligações aristocráticas. Assentou praça na arma de Cavalaria do Exército Português a 13 de outubro de 1880, transferindo-se para a Armada a 10 de Novembro de 1882, com o posto de aspirante.

Em 1884, com 19 anos de idade, foi promovido ao posto de guarda-marinha. Em Fevereiro de 1885 foi colocado na Divisão Naval do Índico onde cumpriu o seu tirocínio obrigatório de 3 anos. Nesse período foi enviado em comissão de serviços para Moçambique onde se destacou nas operações de ocupação colonial, distinguindo-se pela bravura e capacidade de comando de tropas.

Comandou os iates navais Tungué e Lúrio e o vapor Auxiliar, com os quais, entre 1886 e 1888, para além das operações militares em que participou, conduziu diversos trabalhos hidrográficos, entre os quais o reconhecimento da costa entre Moginquale e Ponta Bajona e o levantamento hidrográfico das barras do rio Moginquale e do rio Muite em Infusse. Os resultados dos levantamentos por ele efectuados foram publicados pela Comissão de Cartografia da Marinha Portuguesa e pelo Almirantado Britânico. Como comandante do vapor Auxiliar, coadjuvou o então capitão-tenente João Augusto Botto no levantamento da planta da Baía de Lourenço Marques e dos acessos à Baía de Tungue.

Terminado o tirocínio, em janeiro de 1889, com 24 anos de idade, regressou a Portugal, mas logo em junho daquele mesmo ano foi nomeado para nova comissão em Moçambique. Esta nomeação deveu-se à organização de um corpo expedicionário que acompanhou António Enes com o objectivo de reduzir a pressão dos povos nativos e dos britânicos sobre Lourenço Marques e o sul do território.

Nesta sua segunda comissão, entre outras ações, comandou a canhoneira Cherim quando Serpa Pinto chegou a África com a missão de manter o domínio português na região do Chire e Ruo, nas vésperas do ultimato britânico de Janeiro de 1890. Foi o comandante da rendição de Chilomo e o pacificador do régulo Gambi, tendo imposto o domínio português na zona do Ruo ao Milange.

A sua acção em Moçambique levou a que 15 de janeiro de 1891, com apenas 25 anos de idade, no seu regresso a Lisboa fosse recebido em apoteose e proclamado, por decisão unânime das Cortes, como benemérito da Pátria. Foi ajudante de campo de D. Carlos I e de D. Manuel II e por várias vezes condecorado. Em 1900 foi eleito deputado.

A 3 de Outubro de 1902 como Primeiro-Tenente da Armada e Governador da Zambézia, foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada (Diário do Governo, n.º 227, 8 de Outubro de 1902).

Nessa altura conduziu a Campanha do Barué, cujas tropas percorreram três mil quilómetros, conseguindo a (chamada) pacificação completa da região.

Foi nomeado governador-geral de Moçambique (1905-1906). A 31 de Dezembro de 1904 teve o Título de Conselho de Sua Majestade Fidelíssima como Capitão-Tenente da Armada e Governador-Geral da Província de Moçambique.

A 9 de Fevereiro de 1908, após o regicídio que pôs termo ao reinado de D. Carlos I de Portugal, e até 16 de Abril de 1909, foi nomeado 53.º Governador Civil do Distrito de Lisboa, então um cargo de grande importância face ao clima insurreccional que se vivia na cidade. 

Foi, por duas vezes, Ministro da Marinha e do Ultramar (1909-1910) dos últimos governos da Monarquia Constitucional Portuguesa.

A implantação da República Portuguesa levou a que fosse reformado compulsivamente em 1910, no posto de capitão-de-fragata, já que se manteve fiel aos ideais monárquicos. Chegou a fazer parte de uma conspiração monárquica que ocorreu em diversas cidades portuguesas a 21 de Outubro de 1913, conhecida por Primeira Outubrada, dirigido por ele em Lisboa, só que o golpe foi contido porque o governo tinha um infiltrado entre os conspiradores.

Em 1919, com Aires de Ornelas, foi um dos líderes da revolta que em Lisboa apoiou a Monarquia do Norte, participando activamente na tomada de Monsanto. Pela sua acção nestes incidentes, foi preso e exilado.

Tendo beneficiado de uma das amnistias concedidas aos monárquicos pelos governos da Primeira República Portuguesa, regressou a Portugal e em 1925 foi eleito senador no Congresso da República pelo círculo eleitoral de Portalegre, integrado nas listas monárquicas.

Mais tarde, liderou a Causa Monárquica e foi lugar-tenente em Portugal do ex-rei D. Manuel II de Portugal, exilado em Londres. Após a morte de D. Manuel II, acabou por se tornar um interlocutor privilegiado do ditador António de Oliveira Salazar nas matérias respeitantes à Casa de Bragança-Saxe-Coburgo e Gotha e à disposição dos seus bens em Portugal.

Em 1942 foi solenemente integrado na Armada, e promovido a vice-almirante honorário. Foi então alvo de expressivas homenagens por parte do Estado Novo, nas quais o regime exaltou a sua vida cheia de episódios onde a coragem extrema, o respeito pelos adversários, o interesse pela cultura africana, a esclarecida capacidade e, sobretudo, o inflexível cumprimento dos deveres de fidelidade e de honra, foram destacadas.

Faleceu em 7 de Dezembro de 1944.

A 7 de Março de 1970 procedeu-se ao lançamento ao mar da corveta NRP João Coutinho, da Marinha Portuguesa, assim denominada em sua homenagem.

Foi impressa uma nota de 50$00 de Moçambique com a sua imagem.

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