THE DELAGOA BAY WORLD

07/02/2023

WINSTON CHURCHILL EM LOURENÇO MARQUES, DEZEMBRO DE 1899

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Imagens retocadas e coloridas.

Segundo Miguel Seabra, editado por mim,

“Winston Churchill (1874-1965) foi o líder do Reino Unido na Segunda Guerra Mundial. Político, militar e jornalista, notabilizou-se também como historiador. Em 1953, foi a este título distinguido com o Prémio Nobel da Literatura.

Após ter concluído os estudos na academia militar de Sandhurst em 1894, serviu como oficial subalterno, de 1895 a 1899, no regimento de Hussardos, participando em expedições militares, nomeadamente na Índia e no Sudão.

Foi também correspondente de guerra em Cuba, na Índia e na África do Sul. Foi aí que, no decorrer da Segunda Guerra Anglo-Bóer (1899-1902), feito prisioneiro em Pretória, o jovem Churchill, com 25 anos de idade, veio a protagonizar uma fuga, escondido numa carruagem do caminho de ferro que ligava Pretória a Lourenço Marques, a qual terminaria na pequena capital moçambicana, e que o tornou mundialmente conhecido. Churchill recordou mais tarde: «Assim que ouvi o nome da primeira estação do lado português da fronteira, emergi dos fardos de lã onde me escondera e cantei, gritei e berrei a plenos pulmões.» «Estava tão entusiasmado de gratidão e prazer, que disparei o meu revólver duas, três vezes para o ar.». Conta o historiador Martin Gibson que, ao chegar ao depósito de mercadorias da estação de Lourenço Marques, Churchill saltou do vagão onde tinha viajado escondido, «preto como um limpa-chaminés» devido ao pó de carvão que cobria o vagão.”

Em Lourenço Marques, Churchill dirigiu-se imediatamente para a residência do cônsul britânico (Hoje a embaixada britânica em Maputo) e pediu apoio. De seguida, escreveu um longo texto que, na qualidade de correspondente de guerra, enviou por telégrafo para os jornais em Londres e, no dia seguinte, depois de adquirir um chapéu na Baixa da Cidade, embarcou num navio que se dirigia a Durban, onde mais tarde foi recebido apoteoticamente pelos residentes, entre os quais pontificava um tímido miúdo português chamado … Fernando Pessoa.

A então residência do Cônsul-Geral da Grã-Bretanha em Lourenço Marques, onde Winston Churchill se dirigiu assim que chegou fugido de Prtória, Dezembro de 1899. Hoje é a Embaixada britânica em Maputo. Postal dos irmãos Lazarus.
Numa parede do mesmo edifício, encontra-se hoje esta placa comemorativa, que diz: “Winston Churchill pediu assistência neste consulado após a sua fuga de Pretória, Dezembro de 1899”.

Winston Churchill à sua chegada ao porto de Durban, vindo de Lourenço Marques, onde comprou o chapéu que segura nas mãos.

16/10/2017

A ÚLTIMA FOTOGRAFIA DE PAUL KRUGER TIRADA NO TRANSVAAL PELOS IRMÃOS LAZARUS, SETEMBRO DE 1900

No final da primeira fase da II Guerra Anglo-Boer, em Setembro de 1900, os fotógrafos e irmãos Joseph e Maurice Lazarus, cidadãos britânicos judeus então recentemente radicados em Lourenço Marques, onde abriram um estúdio na Rua Araújo ali perto da Praça 7 de Março, , deslocaram-se até ao Transvaal, nomeadamente à zona mais perto da fronteira portuguesa de Moçambique, para fazerem alguma cobertura dos eventos da guerra.

 

A última fotografia de Paul Kruger antes de partir para o exílio, Setembro de 1900, tirada pelos Irmãos Lazarus. A indicação do mês está errada.

Nessa altura, a pequena Lourenço Marques vivia em polvorosa, cheia de britânicos e vários estrangeiros, inundada por refugiados boer e as suas famílias, o porto bloqueado pela Armada britânica, carregamentos de toda a espécie a chegar e a serem vistoriados. A pequena Cidade era um dos epicentros do grande conflito envolvendo a então maior potência mundial, a primeira guerra seguida pelo mundo inteiro via relatórios enviados por telégrafo, e por fotografia.

Um dos episódios mais memoráveis de toda a guerra, que reflecte a nova mediatização, foi a captura pelos Boers, e subsequente fuga, de um jovem aristocrata britânico que era um mistura de aventureiro imperial e jornalista, chamado Winston Churchill. Capturado e aprisionado em Pretória, Churchill foge a pé e por comboio para Lourenço Marques, onde se hospeda em casa do cônsul britânico local, e imediatamente redige um longo relato, que envia para os jornais de Londres pelo telégrafo local, causando uma enorme sensação entre o público inglês e tornando-o famoso mundialmente.

Ainda hoje, no edifício da antiga residência consular em Maputo, ao pé do antigo Rádio Clube, uma placa assinala a passagem de Churchill por Lourenço Marques em Dezembro de 1899. Só ficaria dois dias na Cidade, tendo logo apanhado um vapor para Durban, onde foi recebido por uma enorme multidão e aclamado como um herói. Nessa altura, coincidentemente, na capital do Natal vivia com a sua família um jovem tímido português com 11 anos e meio de idade, chamado…..Fernando Pessoa.

 

Por sua parte, entre vários outros problemas bilaterais, Portugal procurava suster o embate e a pressão britânica no sentido de derrotar os Boers.

 

Uma caricatura política publicada numa revista do Reino Unido em 1900, a atacar a suposta cumplicidade entre portugueses e boers em Lourenço Marques no transporte de armamentos para o Transvaal via o porto e caminho ferro de Lourenço Marques, apesar do boicote britânico e o compromisso formal do governo português de que por ali não estariam a passar armamentos para Pretória. Na imagem, o pequeno agente alfandegário português em Delagoa Bay (nome por que então era conhecida Lourenço Marques no mundo anglófono), tendo atrás de si armas muito mal dissimuladas, pergunta a um boer se tem algo a declarar nomeadamente se tem contrabando. Ao que o Boer responde “não, Deus, claro que não”.

No Transvaal, as tropas britânicas acabavam de tomar Johannesburgo e Pretória e dirigiam-se para Leste, na direcção da fronteira moçambicana ao longo da linha de caminho de ferro que ligava Pretória a Lourenço Marques e que ainda permanecia sob controlo Boer.

Saído de Pretória num dos últimos comboios antes da chegada à capital do exército imperial britânico, Paul Kruger, o Presidente da então República Sul-Africana (o nome formal do Transvaal) dirige-se primeiro para Machadodorp, a cerca de 200 quilómetros de Pretória, onde fica umas semanas, e em seguida segue para território português, atravessando a fronteira no dia 11 de Setembro de 1900. Em Lourenço Marques, território formalmente neutral, ele permanece durante umas semanas, hospedado em casa de Gerard Pott, o ainda seu cônsul-geral na Cidade, até partir para a Europa em 19 de Outubro de 1900. Kruger não regressará a África, falecendo na Suíça em 1904. Uns meses depois, os seus restos mortais serão depositados solenemente num cemitério em Pretória, junto dos de sua mulher, que falecera em 1901, já após a conquista e ocupação britânica daquela cidade.

 

A bordo do navio de guerra do Reino dos Países Baixos Die Gelderland, e acompanhado pelo seu guarda-costas e mais tarde secretário, Hermanus Christiann Bredell, o Presidente Paul Krueger deixa Lourenço Marques no dia 19 de Outubro de 1900. Ao fundo, a Catembe. (fonte)

 

Os Irmãos Lazarus ainda permaneceram em Komatipoort alguns dias, a tempo de verem chegar o exército britânico à pequena vila fronteiriça, e de fotografarem algumas cerimónias protocolares ali ocorridas.

 

Esta imagem, extemporânea ao tema do conhecido álbum editado pelos Irmãos Lazarus, Views of Lourenço Marques, de 1901, mostra uma parada de elementos do exército imperial britânico em Komatipoort, no dia 28 de Setembro de 1900.

 

Joseph e Maurice Lazarus trabalhariam durante cerca de oito anos em Lourenço Marques, após o que se mudaram de armas e bagagens para…..Lisboa. Mas essa é outra história, cuja elaboração muito deve ao Grande Paulo Azevedo.

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