THE DELAGOA BAY WORLD

12/03/2021

O PLANO ARAÚJO PARA LOURENÇO MARQUES, 1887

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Imagem retocada e colorida, dos arquivos do grande Alfredo Pereira de Lima.

Retrospectivamente, mesmo apesar de já se saber desde 1860 que o local era o ideal para se ter um porto e uma linha de caminho de ferro para o Transvaal, onde no ano anterior se havia observado uma explosão de actividade devido à descoberta do que se veio a confirmar ser o maior filão de ouro no mundo, é indescurável o arrojo de Araújo ao conceber e desenhar o plano urbano que se vê em baixo. Isto se se tiver em conta que rigorosamente nada do que hoje se possa pressupor existia naquele buraco infecto que era a então vila, atrevidamente elevada a Cidade (a primeira na parte continental do que é hoje Moçambique). Não havia dinheiro. Não havia quase gente.

O Plano Araújo, 1887. A azul escuro, a urbanização tal como era em 1887 – uma ilha. A rôxo à esquerda, a área demarcada para o porto e os serviços ferroviários, A amarelo, o traçado dos quarteirões, tal como de facto veio a acontecer (menos as rotundas. A verde-claro é o Jardim Botânico. A verde mais escuro era o declive quase montanhoso, depois suavizado com os enormes aterros que se fizeram em seguida. Sobreposto sobre a grelha planeada, as estradas e edifícios anteriores, quase todos demolidos nos anos que se seguiram. As linhas grossas à esquerda são os canais para drenagem dos terrenos. No centro de tudo, o original Presídio e a Praça da Picota (depois 7 de Março, hoje 25 de Junho). Em cima à esquerda podem-se ver os quartéis dos Dragões e da Polícia (a polícia de Lourenço Marques na altura era meio milícia e meio operários da Cidade) e o plano para o bairro indígena, que acabou por não se fazer ali, pois a Avenida Francisco Costa (hoje a 24 de Julho) seguiu por mais uns três quilómetros para Poente, acabado numa enorme rotunda que ainda existe. Mas nesta altura era tudo mato e quase nada havia. A “cidade” era o que se via em azul e a Ponta Vermelha era uma vila separada. No extremo à direita da urbanização, fora dela, estava o paiol, que ficava mais ou menos 30 metros à esquerda de onde hoje está a piscina do Desportivo.

De facto, em 1887 Lourenço Marques, era essencialmente uma ilhota separada da Maxaquene por um pântano. Em frente, pouca gente vivia, nativa ou importada. Cerca de metade da urbanização era de origem asiática e o resto era uma disparatada colecção de nacionalidades, de entre as quais a portuguesa era quase circunstancial. Quem iria ocupar aqueles quarteirões todos, desenhados a régua e esquadra, numa expressão de planeamento tão pouco característica dos portugueses, cujas cidades até hoje tendem a crescer por força do empurrar com a barriga?

Levou décadas até a Cidade, um centro administrativo colonial, que mais tarde viria a substituir-se a Moçambique (Ilha) como capital  da colónia, crescer até ter esta configuração e se expandir para além desta área.

 

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