Imagem retocada e colorida, dos arquivos do grande Alfredo Pereira de Lima.
Retrospectivamente, mesmo apesar de já se saber desde 1860 que o local era o ideal para se ter um porto e uma linha de caminho de ferro para o Transvaal, onde no ano anterior se havia observado uma explosão de actividade devido à descoberta do que se veio a confirmar ser o maior filão de ouro no mundo, é indescurável o arrojo de Araújo ao conceber e desenhar o plano urbano que se vê em baixo. Isto se se tiver em conta que rigorosamente nada do que hoje se possa pressupor existia naquele buraco infecto que era a então vila, atrevidamente elevada a Cidade (a primeira na parte continental do que é hoje Moçambique). Não havia dinheiro. Não havia quase gente.
De facto, em 1887 Lourenço Marques, era essencialmente uma ilhota separada da Maxaquene por um pântano. Em frente, pouca gente vivia, nativa ou importada. Cerca de metade da urbanização era de origem asiática e o resto era uma disparatada colecção de nacionalidades, de entre as quais a portuguesa era quase circunstancial. Quem iria ocupar aqueles quarteirões todos, desenhados a régua e esquadra, numa expressão de planeamento tão pouco característica dos portugueses, cujas cidades até hoje tendem a crescer por força do empurrar com a barriga?
Levou décadas até a Cidade, um centro administrativo colonial, que mais tarde viria a substituir-se a Moçambique (Ilha) como capital da colónia, crescer até ter esta configuração e se expandir para além desta área.