THE DELAGOA BAY WORLD

24/03/2023

O INFANTE D. MANUEL DE BRAGANÇA NO TOPO DA PIRÂMIDE DE KUFRU, EGIPTO, 24 DE MARÇO DE 1903

Imagem retocada e colorida.

Acompanhados pela sua entourage, à esquerda num fato creme, o Infante D. Manuel de Orléans e Bragança, então com 13 anos, observa enquanto o seu irmão mais velho, Luis Filipe, Príncipe da Beira e herdeiro do trono português, captura esta imagem, no topo da maior pirâmide no planalto de Gizé, durante uma visita que fizeram com a mãe, a rainha Dona Amélia, ao então protectorado britânico. A foto foi tirada no dia 24 de Março de 1903, há exactamente 120 anos. Foi a primeira vez que ambos visitaram uma parte do continente africano.

08/07/2022

127 ANOS DE CAMINHOS DE FERRO EM MOÇAMBIQUE

Imagens retocadas e a primeira colorida por mim.

Hoje (8 de Julho de 2022) a actual empresa dos caminhos de ferro de Moçambique assinalou o 127º aniversário da sua fundação num comunicado de imprensa, o que de certa forma me surpreendeu. O percurso dos caminhos de ferro em Moçambique foi diverso e parte, como a linha férrea entre a Beira e o então território da Rhodésia, propriedade da British South Africa Company (ou seja, de Cecil Rhodes) que abriu anos antes. Para não falar das várias linhas férreas que serviam alguns dos projectos específicos desenvolvidos em algumas zonas de Moçambique.

Mas de facto “a” linha, quase a única que realmente interessava e que mereceu a cobiça de tudo e tudos, era a linha entre Lourenço Marques e Pretória, da qual cerca de 90 quilómetros percorriam território moçambicano. E essa foi oficialmente inaugurada no dia 8 de Julho de 1895.

O comunicado surpreende também porque é normal o regime (ainda) da Frelimo invariavelmente ignorar tudo o que vem atrás da data mágica de 1975. A LAM, por exemplo, hoje quase em coma terminal, não era a DETA de 1936 (também criada pelos Caminhos de Ferro): era uma empresa pública constituída em 1980. Pois claro que sim.

Foto tirada na minúscula localidade fronteiriça de Ressano Garcia, junto à África do Sul, em Julho de 1907. SAR o Príncipe D. Luis Filipe, filho de D. Carlos e herdeiro da coroa portuguesa, estava de visita a Moçambique e ia visitar Pretória e Joanesburgo. Na imagem, tirada pouco antes de o Príncipe Real ali chegar, proveniente de Lourenço Marques, vários funcionários e oficiais portugueses e da África do Sul posam em frente à locomitiva dos camimhos de ferro da África do Sul, Classe 6L-2 hauling, que levaria a Carruagem Real desde esta localidade até à capital do Transvaal. Penduradas ao lado, vêem-se, lado a lado as então bandeiras da África do Sul e de Portugal.
A enorme confusão do lado português com a construção da linha férrea foi tal que quando o percurso Lourenço Marques-Pretória foi finalmente concluído e inaugurado em meados de 1895, já Pretória estava ligada ao Cabo, a Bloemfontein e a Johannesburgo. Mas Kruger, o monumental presidente do Transvaal e eternamente desconfiado dos desígnios dos britânicos e sentado em cima do maior filão de ouro da história da humanidade, só queria a linha de Lourenço Marques, a qual à partida escaparia ao controlo e influência ingleses. Nesta imagem, Kruger e Reitz, o seu congénere do Estado Livre de Orange, assinalavam a ligação entre as linhas férreas dos dois países boers, 21 de Maio de 1892.
A primeira estação ferroviária de Lourenço Marques. Ficava mais adiante da actual e mais perto do cais.
A estação ferroviária de Lourenço Marques à esquerda, Novembro de 1937.
A fachada da “nova” estação dos Caminhos de Ferro de Lourenço Marques, iniciada cerca de 1908, inaugurada em Março de 1910 e concluída em 1916.
Vista aérea do complexo dos caminhos de ferro de Lourenço Marques, década de 1960. fonte: Portugal. S.E.I.T./D.G.I./Secção de Fotografia Nº 381292, cx. 464, env. 16. Uma parte dos terrenos que se vêem foi obtido através de aterros.
A fachada da estação de Lourenço Marques, 1961.
Foto tirada cerca de 1927 no porto de Lourenço Marques. Para maior conforto dos passageiros que se dirigiam a Pretória e a Johannesburgo, as carruagens eram levadas literalmente até junto dos navios que atracavam no Cais Gorjão e dali seguiam directamente para a fronteira sul-africana. Até aos anos 60, as alternativas para se viajar eram apenas por comboio ou navio.
Mais do que qualquer outro mecanismo, salvo o da própria colonização, foram os caminhos ferro, que eram quase um estado dentro do Estado, que arrancaram Moçambique para a Era Moderna (essencialmente na modalidade de capitalismo extractivo). Para além do transporte de passageiros, carga e correios para destinos até pouco antes completamente isolados do mundo, para operar, a empresa tinha que desenvolver vários tipos de infra-estruturas. Em cima, um hospital dos Caminhos de Ferro.

18/06/2022

O PRÍNCIPE REAL DE PORTUGAL EM LOURENÇO MARQUES, 1907

S.A.R. o Príncipe D. Luiz Filipe de Órléans e Bragança, o jovem sentado no meio, rodeado pelo Governador Geral de Moçambique, Alfredo Augusto Freire de Andrede (à direita) e Ayres de Ornellas à esquerda, posando em frente à Residência do Governador-Geral na Ponta Vermelha em Lourenço Marques, meados de 1907, aquando da visita real a Moçambique.

18/04/2020

LOURENÇO MARQUES DURANTE A VISITA DO PRÍNCIPE REAL, JULHO DE 1907

Imagens retocadas, tiradas por W. Hackett.

Em baixo, oito fotografias alusivas à Visita Real de 1907 a Lourenço Marques.

SAR o Príncipe D. Luiz Filipe à direita no centro, no átrio do Palácio da Ponta Vermelha em Lourenço Marques, Julho de 1907.

 

Junto ao Palácio da Ponta Vermelha, o Príncipe Real sentado à direita da carruagem, com o então ministro da Marinha Ayres de Ornellas. À esquerda o Coronel Costa.

 

Junto à Residencial do Governador-Geral, SAR o Príncipe D. Luiz Filipe, posa com o que o fotógrafo Hackett descreve como um grupo de nativos da Suazilândia.

 

O Capitania Building ao fundo, e parte da Praça 7 de Março (hoje 25 de Junho) engalanadas para receber o herdeiro da coroa portuguesa. A actual “forteleza fica situada atrás e à esquerda do Capitania Building, que foi demolido no final dos anos 1950.

 

Arco triunfal na então Avenida T. de Souza, a que liga a ponta Sul da Praça 7 de Março à (mais tarde) Praça Mac-Mahon, hoje a Praça dos Trabalhadores.

 

Outro arco triunfal, junto ao Capitania Building, à esquerda.

 

A (então) Rua D. Luiz (depois a Consiglieri Pedroso), onde desemboca na Praça 7 de Março, pronta para uma parada. A actual Casa Amarela, ou Museu da Moeda, fica situada mesmo atrás do kiosk que se vê à frente.

 

Na estação ferroviária de Ressano Garcia, junto à fronteira com a África do Sul, oficiais portugueses e dos caminhos de ferro da África do Sul posam junto da locomotiva da classe 6L.2, dos caminhos de ferro da África do Sul, que transportaria a carruagem real desde a fronteira moçambicana até Pretória.

 

O PRÍNCIPE REAL D. LUIZ FILIPE DE ORLÉANS E BRAGANÇA EM LOURENÇO MARQUES, 1907

Imagem retocada.

Fotografia dos arquivos sul-africanos, tirada por W. Hackett, durante a visita do Príncipe herdeiro a Lourenço Marques, Julho de 1907.

 

SAR o Príncipe D. Luis Filipe em Lourenço Marques, Julho de 1907.

17/07/2019

A ACLAMAÇÃO DO REI DOM MANUEL II EM LOURENÇO MARQUES, 1908

Imagem retocada, da revista Ilustração Portuguesa, 1908.

 

As cerimónias fúnebres por D. Carlos I, assassinado com o seu filho o Príncipe Luiz Filipe, em Lisboa no dia 1 de Fevereiro de 1908, e a aclamação de D. Manuel II,  em frente à então Câmara Municipal de Lourenço Marques, 1908.

27/04/2019

MARCELO CAETANO VISITA LOURENÇO MARQUES, 1969

Imagem retocada.

Foi a maior recepção na história de Lourenço Marques, talvez só comparável à visita do herdeiro da coroa portuguesa, o Príncipe Real, SAR D. Luiz Filipe de Órléans e Bragança, em Julho de 1907 (e de que já ninguém se lembrava na altura).

 

Marcelo Caetano desfila em Lourenço Marques após a sua chegada à capital de Moçambique naquela que foi a primeira visita de um Presidente do Conselho português à colónia, 19 de Abril de 1969. Foi recebido pelo Governador-Geral, Baltazar Rebelo de Sousa, que não se vê esta imagem mas que está sentado ao seu lado.

 

Interessantes excertos da chegada de Marcelo Caetano à capital moçambicana naquele cair da noite de um sábado, 19 de Abril de 1969 – há exactamente 50 anos –  podem (e devem) ser vistos aqui, num vídeo não editado de 32 minutos da biblioteca da Rádio Televisão Portuguesa.

Note-se a “curiosidade” de, a 30.04 minutos do vídeo se ver o Ricardo Rangel, o futuro suposto alegado “pai da fotografia moçambicana” a tirar fotografias do cortejo à saída de uma visita ao Liceu Salazar onde Caetano fora discursar.

A cerimónia da chegada e toda a visita do sucessor de Salazar, nomeado escassos meses antes por Américo Tomás, fora cuidadosamente preparada pelo seu grannde amigo e o então Governador-Geral, Baltazar Rebelo de Sousa, que, para além do lado protocolar, incluindo figuras como o Arcebispo católico Dom Custódio Alvim Pereira, assegurou um vasto banho de multidão e ainda um conjunto de manifestações “espontâneas” de apoio ao regime, que aliás eram mais ou menos habituais e que aliás foram fortemente reforçadas sob o regime sucedâneo da Frelimo.

Caetano já tinha visitado Moçambique uma vez, mas foi a primeira visita enquanto chefe do governo português à província ultramarina.

Ao contrário de Charles de Gaulle em relação à Argélia, Marcelo Caetano ficou verdadeiramente impressionado com o que viu e ouviu e nunca se esqueceu da experiência apoteótica de “apoio” desta visita, tirando, em parte dali, todas as ilacções erradas, ajudado pelo facto de que, no regime, quase ninguém, a começar por Américo Tomás, o presidente da República portuguesa, que passou a agir como uma espécie de memória residual de Salazar, sequer queria ouvir falar de independências.

A lição desta visita, para Caetano, foi, nomeadamente, a de que tinha o suporte dos moçambicanos, dos portugueses e dos negros de Moçambique (ah ah ah) e que ainda tinha tempo para engendrar um sucedâneo para o regime colonial, que se vislumbra no que disse e fez nos anos seguintes, que se caminhava para autonomia quase completa até 1980.

Mas não havia nem tempo nem grande margem de manobra. Não havia qualquer diálogo com a “oposição.  A Frelimo (a que o regime chamava “subversão”), dirigida pelos seus apoiantes e patrocinadores e reforçada pelo “golpe de estado” que eliminara o paradigma do Dr. Eduardo Mondlane e Uria Simango e inaugurou a era radical comunista de Samora, Marcelino, Chissano e Guebuza, etc, não parou a guerrilha e exactamente cinco anos mais tarde, de dentro do exército português, surgiria um golpe militar, orquestrado por Otelo Carvalho, um obscuro major que nascera e crescera em Lourenço Marques, que pôs um fim abrupto (mas esperado) ao regime e, que no espaço de quatro meses e meio, entregaria a soberania do território à Frelimo.

18/09/2018

LUIZ FILIPE DE BRAGANÇA, PRÍNCIPE DA BEIRA, NA PRAIA, 1906

Filed under: Dom Luiz Filipe de Órléans e Bragança — ABM @ 21:18

Imagem retocada e pintada por mim, tirada da revista Serões, publicada em Lisboa.

AMÉLIA DE ÓRLÉANS E BRAGANÇA E A SUA IRMÃ HELÉNE, DÉCADA DE 1890

Imagem retocada e colorida por mim.

 

Amélia de Órléans e Bragança já Rainha de Portugal, posa com a sua irmã, a Princesa Heléne de Órléans (futura Duquesa de Aosta e Avó do actual pretendente ao trono italiano), na primeira metade da década de 1890. Porto Amélia, hoje Pemba, tinha o seu nome e a Beira foi assim desgnada em honra do seu primogénito, que visitaria Moçambique em 1907. Por sua vez, Heléne visitaria Moçambique, para caçar e tirar fotografias, EM 1910.

14/08/2018

OS IRMÃOS AMÉLIA, HELENA E FILIPE DE ORLÉANS, DÉCADA DE 1890

 

Amélia (no centro), Filipe e Helena de Órleans posam no início da década de 1890. Eram filhos dos Condes de Paris, a família pretendente ao trono francês (que entretanto não existia pois a França revertera para o regime republicano). Na altura em que a foto foi tirada, Amélia já era rainha de Portugal e mãe de dois filhos. Filipe, que para além de príncipe era o Duque de Orléans, andava de escândalo em escândalo, depois de ter sido corrido da França em 1886 …. por causa do casamento de Amélia com Carlos de Portugal.  Tal como o irmão, Helena eventualmente teve um casamento miserável, com os filhos da praxe (ele não teve nenhum…legítimo) e o título de Duquesa de Aosta. Mas a partir daí emancipou-se e passou a fazer o que lhe apetecia. O que incluiu longas estadias em África, incluindo Moçambique,

07/04/2018

A VISITA DO PRÍNCIPE REAL DOM LUIZ FILIPE A LOURENÇO MARQUES, 1907

Copiado do Blog Real e da Hemeroteca de Lisboa. Imagens de Joseph e Maurice Lazarus.

D. Luiz Filipe, herdeiro da coroa de Portugal, visitou Moçambique em Julho-Setembro de 1907. Foi assassinado em 1 de Fevereiro de 1908 com o seu Pai, o Rei. D. Carlos I.

1 de 3.

 

2 de 3.

 

3 de 3.

 

postal alusivo à visita real.

10/03/2018

HELÈNE DE ORLÉANS, DUQUESA DE AOSTA, NA BEIRA, 1909

 

A Princesa Heléne de Orléans, uma das irmãs da Rainha Consorte de Portugal, D. Amélia, posando numa gigantesca canoa com os membros duma tribo local (na altura não havia “moçambicanos”) no Rio Búzi, perto dum sítio que os portugueses chamavam Nova Lusitânia, nos arredores da Beira, 1909 (D. Luis Filipe de Orléans e Bragança, o herdeiro da coroa de Portugal e em honra de quem a Beira foi denominada, era seu sobrinho). Na primeira década do Século XX, Heléne percorreria África a visitar lugares, caçar e a tirar fantásticas fotografias como esta.

 

Hélène com o seu primogénito, Amedeo, em 1898. Depois de uma séria paixão com um membro da família real britânica que não deu em nada, em Junho de 1895 casou com o príncipe italiano  Emanuele Filiberto di Savoia, Duque de Aosta, relação que não resultou – ou, como se dizia na altura, que não foi feliz. Tiveram dois filhos. Assim, para ocupar o tempo, Helène, então já Duquesa de Aosta, passava longas temporadas em África, às vezes durando mais do que um ano.

 

Helène de Orléans (é a do meio), de braço dado com a Princesa Alexandra, a futura rainha britânica (esquerda) e a sua filha, durante o casamento do Duque de Guise em 1899.

07/09/2017

DOM LUIS FILIPE DE PORTUGAL E A CIDADE DA BEIRA

 

Dom Luis Filipe de Bragança, o filho mais velho dos reis D. Carlos e D. Amélia. A Beira, então um ponto irrelevante mas estratégico na pantanosa e insalubre margem Norte do Rio Pungué, ficou destinada a ser o futuro ponto de acesso pelo mar para o centro da nascente colónia e para o então território da British South Africa Company de Cecil Rhodes, a Rhodésia. Em breve, teria um porto e uma linha férrea para o interior.

 

A Beira em 1891. Um buraco arenoso e pantanoso cheio de mosquitos e de malária.

 

Na fase inicial da Beira como povoado. Uma espelunca, tal, aliás, como Lourenço Marques, Inhambane, Tete, Porto Amélia e restantes Vilas e povoados, com a única excepção da pequena Ilha de Moçambique, mais a Norte. O que veio a ser Moçambique era então um imenso mato, ocupado por tribos que falavam línguas diferentes e a maioria das quais nem sabiam umas das outras e se guerreavam alegremente, com meia dúzia de intrépidos portugueses no meio. A consciência de “nação moçambicana”, uma importação europeia, levaria umas décadas a aparecer e mesmo assim apenas na classe mulata em e nos arredores de Lourenço Marques. Na inenarrável iniciativa de sub-aluguer de partes da então colónia a um punhado de “investidores estrangeiros” – ingleses, franceses, belgas e americanos- à Beira saiu-lhe na rifa passar a ser a sede da Companhia de Moçambique. Uma companhia majestática, com poderes do Estado delegados e licença para explorar tudo e todos. No fim, fez pouco porque não tinha dinheiro.

 

A implantação da linha de caminho de ferro para a Rhodésia do Sul. Para a Beira e o seu porto, era o “outro” negócio para além da Companhia de Moçambique. Na Cidade, os principais negócios eram ingleses e sul-africanos e mais depressa se falava inglês que português.

 

Como uma curiosidade, Luis Filipe de Bragança, a pessoa em honra de quem se deu o nome da Beira, visitou o local em 1907 (aqui vê-se a carruagem na qual deu uma voltinha pela então Vila), trazendo na sua bagagem a proclamação do Rei a elevar a Beira a Cidade. Um gesto simpático, se um pouco ousado.

 

Nas primeiras décadas do Seculo XX, a Beira era um agremiado de casas de madeira e zinco.

 

O brasão da Beira, na tradição das urbes portuguesas. Não sei qual o seu simbolismo.

20/03/2012

A VISITA DO PRÍNCIPE REAL D. LUIZ FILIPE A LOURENÇO MARQUES, JULHO DE 1907

D. Luiz Filipe (nome completo: Luís Filipe Maria Carlos Amélio Fernando Victor Manuel António Lourenço Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Bento de Bragança Orleães Sabóia e Saxe-Coburgo-Gota) era o filho varão do então rei de Portugal, D. Carlos I e como tal o seu sucessor ao trono. Na altura da sua visita a Moçambique tinha 20 anos de idade (feitos a 21 de Março). Mouzinho de Albuquerque foi o seu preceptor durante alguns anos. Sete meses depois desta visita o também Duque de Bragança foi assassinado com o Rei em Lisboa, tendo sido sucedido pelo seu irmão, D. Manuel.

A estrutura preparada para receber o Príncipe Real na baixa de Lourenço Marques.

Um arco a decorar uma das avenidas de Lourenço Marques, erguido em honra da visita real.

Outro dos arcos erguidos para receber D. Luiz Filipe.

Vista do percurso do desfile do Príncipe Real desde o porto de Lourenço Marques para a Ponta Vermelha. Esta fotografia foi tirada do cimo da actual Avenida Samora Machel (antes, Av. Dom Luiz). À esquerda pode-se ver o Hotel Club, ao fundo à esquerda o antigo Capitania Building, que ficava situado mesmo em frente à Fortaleza. O arco que atravessa a avenida fica mais ou menos no cruzamento da actual Samora Machel e 25 de Setembro (anteriores Avenidas Dom Luiz e da República).

Mesmo em frente à população em primeiro plano que observa, podem-se ver as cartolas dos condutores do coche que leva o Príncipe, seguida por uma guarda de honra a cavalo. Num registo diferente, repare-se na indumentária da população africana.

Na Ponta Vermelha, uma cerimónia de apresentação de cumprimentos da população e as forças vivas da pequena cidade. Na varanda da casa do Governador pode-se ver o Príncipe Real com os seus acompanhantes, enquanto cá fora, de costas para a Baía, se encontram as pessoas.

Mais uma fotografia da recepção ao Príncipe Real na Ponta Vermelha.

Imagem do espaço em frente à Residência na Ponta Vermelha durante a cerimónia com o Príncipe Real.

Mais uma imagem do espaço e da cerimónia de boas-vindas em frente à Residência na Ponta Vermelha. Aqui do lado esquerdo pode-se ver uma parte da Baía e da Catembe e uma rara fotografia contextualizada do Farol da Ponta Vermelha.

Nesta imagem um tanto comprometida, podem-se ver um grupo de guerreiros tribais certamente para participar nos festejos em honra do Príncipe, enquanto uma senhora branca observa. Por detrás deles, a central eléctrica situada na Av. 24 de Julho mesmo em frente ao África (anteriromente Cinema Manuel Rodrigues).

Do sítio Macua Blogs copiei o seguinte texto, alusivo à ocasião:

Logo que chegou a Lourenço Marques a notícia de que Sua Alteza o Príncipe Real D. Luís Filipe tinha embarcado em Lisboa com rumo a África, para uma visita de estudo a algumas das províncias portuguesas, entre as quais figurava Moçambique, a população e entidades oficiais empenharam-se com entusiasmo na tarefa de uma recepção condigna e de festejos populares. Nomearam-se comis­sões ; fizeram-se programas e prepararam-se laudatórios e patrióticos discursos alguns dos quais não chegaram a ser proferidos.

Os telegramas do Cabo Submarino para Londres, Paris e Lisboa davam uma nota flagrante da ansiedade e nervosismo das altas esferas sociais ; além dos negócios do costume relacionados com o embarque de produtos coloniais para Marselha, Hamburgo e Estocolmo, aberturas de créditos e outras transacções e ainda notícias de carácter geral, tratavam de assuntos aparentemente triviais mas que, na verdade, se revestiam de alta importância pois que afectavam directa­mente o prestígio e o bom nome dos colonos destes Territórios; tais telegramas pediam a remessa urgente de chapéus altos, vestidos, casacas e sobrecasacas.

Sua Alteza tomava a imaginação das mulheres da pequena colónia europeia como um príncipe dos maravilhosos contos de fadas — e não tiveram desilusões: as suas expectativas foram excedidas; o Príncipe deixou-lhes recordações que nunca se deveriam apagar, pela sua esbelta figura e pelo encanto das suas maneiras e trato.

Pouco antes da uma hora da tarde do primeiro dia de Julho, Sua Alteza Real tomou no cais do Arsenal a galeota que o levou ao navio África que, uma hora antes, havia largado a amarração do cais de Santa Apolónia e, subindo o rio, viera lançar ferro em frente ao Arsenal da Marinha a cerca de meia milha de distância. Acompanharam-no Suas Majestades El-Rei D. Carlos e a Rainha D. Amélia, seu tio D. Afonso e seu irmão o Infante D. Manuel, e noutras em­barcações os altos dignitários da corte e membros do Governo da Nação. Curta demora a bordo ; depois das despedidas as galeotas largaram o costado do navio levando para terra a Família Real, sua comitiva e outras pessoas.
O Africa, festivamente engalanado, levanta ferro e começa a navegar ; uma fragata dá a salva de vinte e um tiros e a seguir, à medida que o navio desce o Tejo, ouvem-se as salvas da bateria do Bom Sucesso e dos cruzadores São Rafael e Vasco da Gama, ancorados a oeste da Torre de Belém e, por último, as da bateria de São Julião. Passada a barra grande o navio entrou no mar alto para seguir um roteiro histórico cuidadosamente marcado.

O jovem príncipe, na amurada, ao ver apagar-se no horizonte o dorso alcan­tilado da serra de Sintra há-de ter sentido a funda mágoa que toca o coração de todos os portugueses que partem, e os seus braços ter-se-ão levantado repetindo o gesto comum de um adeus murmurado em íntimo recolhimento.

O comandante do navio, Guilherme A. Vidal Júnior, dá-nos no seu livro uma descrição pormenorizada da viagem, da vida a bordo, da chegada aos portos, das recepções e festejos em homenagem a Sua Alteza, que se lê com vivo interesse e emoção. Era um moço príncipe da nobre e antiga Casa de Bragança que vinha conhecer terras de África que continuavam a nação, numa viagem de estudo das suas actividades económicas e dos seus povos formados por gentes várias, algumas estranhas, ligadas fortemente pêlos elos da mesma fé cristã, da mesma língua e dos mesmos sentimentos de amor pátrio ; a viagem seria um complemento da aturada e cuidadosa preparação a que tinha sido submetido desde criança para o penoso ofício de rei, como primogénito e herdeiro presuntivo do trono.

Diz o comandante, para ilustrar a simplicidade, afabilidade de trato e comunicabilidade do príncipe, que Sua Alteza Real mandava convidar todos os dias para almoçarem à sua mesa, dois passageiros, tendo iniciado os convites pelos primeiros a desembarcar nos portos da escala.

Em Luanda, onde desembarcou no dia 17, foi recebido pelo capitão de arti­lharia Henrique de Paiva Couceiro, ilustre Governador-Geral de Angola, que três anos depois viria a ser reconhecido como o mais dedicado servidor da coroa, não como palaciano mas como soldado.
Passada a Inhaca, o navio lança ferro às 5 ½ horas da tarde ao largo da Ponta Vermelha. Na manhã seguinte às 8 horas, a bateria da Ponta Vermelha dá três tiros de peça como sinal para a entrada e o navio imediatamente suspendeu e seguiu a navegação pelo canal da Polana. Atracou no cais Gorjão às 9 ½ horas.

À Associação Comercial de Lourenço Marques coube o papel mais importante na organização dos festejos e da recepção. A situação financeira da Câmara Muni­cipal era deficitária; não tinha dinheiro; tinha dívidas e compromissos; devia ao Banco Ultramarino 540 contos e ao comércio no. E, então, como hoje, tanta coisa por fazer ! A Associação tomou a seu cargo a construção de um arco triunfal, colunas, e a organização de um baile grandioso para o qual foram convidadas trezentas pessoas. Poderíamos indicar o custo destas despesas em cifras que hoje se nos afiguram ridículas. Não consideramos isso digno de menção — não era momento próprio para se olhar a gastos.

A iluminação da Avenida D. Carlos, e outras ruas foi imponente, e o fogo de artifício importado directamente de Portugal para as festas deslumbrou pretos e brancos ; foi uma verdadeira maravilha.
Sua Alteza chegou a Lourenço Marques no dia 29 de Julho. O Ministro do Ultramar, Aires de Orneias c Vasconcelos, que o acompanhou trouxe como pre­sente o Decreto da Organização Administrativa da Província que vigorou até à publicação do Decreto n.º 23 228, de 15 de Novembro de 1933, isto é: vinte e seis anos. No dia imediato houve parada de 22 000 indígenas do Sul do Save — entre os quais figuravam os vátuas de Gaza, tribos das terras da Magaia c da Cossine — e o mais grandioso batuque de que há memória. Este é, sem dúvida, o pormenor mais importante a registar do programa dos festejos, porque dava um testemunho vivo do nosso prestígio e confiança junto dos povos nativos, da harmonia das nossas relações, e da lealdade admirável desses mesmos povos que compartilhavam com a população o seu grande regozijo pela visita de um Prín­cipe da Casa Real.

O grandioso baile de gala dado pela Associação em honra de Sua Alteza realizou-se na noite de 31 de Julho no grande salão do primeiro andar de um edifício da Rua Araújo (em frente ao Carlton Hotel, onde durante muitos anos funcionou a Associação dos Empregados do Comércio). O Principe abriu o baile dançando com a ilustre e formosa senhora D. Sofia Cagi. Falou-se durante muito tempo do baile e as senhoras de então nunca chegaram a acordo sobre este ponto de magna importância: — a quem é que devia competir a honra da primeira contradança com Sua Alteza?

Mas não houve só festas. Tratou-se também de assuntos de alta gravidade.

No dia 9 de Agosto o presidente da Associação Comercial recebeu, expedido da Beira, um telegrama do ajudante de Sua Alteza, dizendo: “- Sua Alteza agra­dece amável recepção – Costa». A sobriedade da linguagem protocolar não cor­respondia exactamente à grandiosidade e entusiasmo da festa. Mas, na verdade, tratou-se também de assuntos sérios.

Sua Alteza e comitiva regressaram a Loureço Marques, da sua breve visita à Beira, Moçambique e Quelimane, no dia 16 de Agosto. No dia imediato a Di­recção da Associação Comercial teve uma reunião extraordinária a que estiveram presentes o Conselheiro Aires de Orneias e Vasconcelos, Ministro da Marinha e Ultramar, e o Conselheiro Alfredo Augusto Freire de Andrade, Governador-Geral da Província. A reunião, realizou-se pelas 11 horas no referido edifício da Rua Araújo. Solenemente, o presidente da Associação, Sr. Leão Cohen, leu a longa exposição laboriosamente preparada sobre os problemas do momento. Submetiam–se à consideração de suas excelências e pediam-se providências, entre outros, os seguintes pontos:

a) Tratado Comercial com o Transvaal, havia sido negociado e era urgente a realização de outro que salvaguardasse a entrada dos nossos produtos naquele território, livres de direitos, medidas sobre emigração dos trabalhadores nativos e obrigação do seu repatriamento após os contratos;

b) Péssima situação financeira da Câmara. Suas dívidas. Necessidade de um empréstimo de 1125 contos para se fazer a drenagem das águas pluviais e outros melhoramentos urgentes. Criação de novas receitas municipais «… que poderão ser dez réis por litro em todo o vinho importado e uma licença de trân­sito sobre os indígenas que trabalham na cidade …”, diz o memorial.

c) Décima de juros que, no dizer do presidente da Associação se opunha à colaboração e entrada de capitais estrangeiros;

d) Construção de linhas férreas de penetração c exploração económica do vasto território da Província ;

e)Dragagem do canal da Polana ; eram constantes os encalhes de navios ;

f)Pede-se a aprovação do foral da cidade de Lourenço Marques ;

g) Repressão de bebidas; era o principal negócio; fabricavam-se bebidas alcoólicas clandestinamente e era urgente a fiscalização e disciplina deste comér­cio. Recomendava-se como medida salutar um imposto de dez réis por litro para se obterem receitas para a fiscalização;

h) Contribuições e multas ; a má situação dos negócios impossibilitava o pa­gamento das contribuições por parte de um grande número de contribuintes; pedia-se a suspensão das multas e outras medidas ;

i) Estado sanitário da cidade; merecia cuidados; nesse tempo ainda o uso interno do álcool tinha um grande papel na terapêutica da malária , as poções de quina eram desagradáveis de tomar.

Impunham-se uma acção vigorosa para a eliminação total dos pântanos ainda existentes e a construção de esgotos. Enfim, preconizava-se ainda a reali­zação de um grade empréstimo para a Província … (– «que o dinheiro venha para a Província para aqui ser gasto em obras de fomento …”).

O Governador-Geral considerou todos os pontos da exposição relacionados com o seu Governo e com o Município. Ao referir-se às relações económicas e polí­ticas com a União Sul-Africana expõe os pontos de vista largamente tratados nos seus relatórios, a segurança, larguesa e o apetrechamento do porto de Lou­renço Marques dão-lhe o primeiro lugar e a maior importância na classificação dos méritos dos portos abertos à exploração marítima no continente africano; é, sem favor, o melhor. A sua situação privilegiada torna-o, para os territórios vizinhos em objecto de desígnios e atenções que influenciam profundamente as relações. Por outro lado a forte concorrência que lhes é feita pêlos portos de Lourenço Marques, Beira e Lobito afecta o desenvolvimento dos seus portos. As convenções ou acordos tornam-se pois numa necessidade imperiosa tanto para eles como para nós ; dispúnhamos do porto do qual dependiam exclusivamente, alguns anos antes de extinta a república transvaliana, para as suas relações com o exterior ; dispúnhamos da mão-de-obra sem a qual não seria possível a explo­ração mineira desses ricos e vastos territórios com a intensidade e urgência requeridas pelas suas necessidades. Por nossa parte, necessitávamos do seu tráfico e de relações amistosas que lhe permitissem um intercâmbio comercial que dia a dia se tornava mais importante. Era a razão de ser do nosso caminho de ferro, do cais e apetrechamento do nosso porto. A convenção seria feita ; teríamos de contar porém com uma guerra de tarifas que só poderia desaparecer quando fosse excedida a capacidade de exploração dos portos envolvidos na luta da concorrência.

O Ministro abordou largamente os assuntos fundamentais sobre os emprés­timos à Província e ao Município ; o problema da revisão das pautas aduaneiras — em Angola tinha encontrado para resolver o mesmo problema –; a orientação da política do Governo nas relações da Província com os territórios vizinhos e anuncia a próxima transferência do Tribunal da Relação para Lourenço Marques.
Faz ainda em termos eloquentes o elogio do Governador-Geral dizendo que todos reconheciam a sua superior inteligência, competência e patriotismo e o interesse que põe no estudo dos problemas da administração da Província.

Entre as numerosas mensagens de boas-vindas apresentadas a Sua Alteza Real figuram as que lhe foram lidas pelos Mayors dos municípios da União Sul–Africana: de Vereeniging, Pretória, Johannesburg, Pietermaritzburg, Durban, Harrismith, Bloemfontein e Cape Town.

Vindo do norte o África atracou na ponte cais às 18 ½ horas do dia 16 de Agosto. Sua Alteza desembarcou e seguiu, de comboio, com sua comitiva para Cape Town onde tomaria de novo o navio, no dia 31, para o seu regresso a Portugal.

A recordação da sua visita mantém-se ainda viva, na memória dos velhos colonos, com um misto de simpatia, saudade e respeito pela memória desse infor­tunado príncipe.

O Príncipe figura na história como um meteoro que sulcou o espaço deixan­do-nos por alguns momentos deslumbrados com o seu fulgor. Representava as maiores esperanças que eram bem fundadas, não só pela sua educação, corno pelo seu carácter, patriotismo e inteligência. Para evocá-lo vamos recorrer às referências que o Sexto Marquês de Lavradio, seu fiel servidor, amigo dedicado e companheiro lhe faz nas suas memórias.

Diz, ele, de Sua Alteza: «… era alto, louro, tipo nortenho, cultivava os desportos, principalmente o automobilismo e a caça. — A educação de SS. AA. (D. Luís Filipe e D. Manuel) fora muito cuidadosa tanto sob o ponto de vista científico como moral e ambos tinham além de uma funda cultura uma verdadeira noção da honra, da lealdade e do dever. — … era mais inteligente que o vulgar, sendo ao mesmo tempo o homem mais leal, mais franco, mais nobre, mais valente que tenho conhecido. Falava pouco e devagar e ouvia sempre com atenção.» Págs. 52, 53 e 54.

Seu Augusto Pai tinha-o preparado para ser um seu digno sucessor. A sua vinda ao Ultramar obedecia aos desejos de El-Rei que considerava que tal pre­paração não seria completa sem que Sua Alteza conhecesse as nossas possessões ; correspondia ainda ao desejo do próprio Príncipe que também assim pensava.

Refere o marquês nas suas memórias que Sua Alteza quando na Câmara Municipal de Pretória teve de responder às mensagens que lhe foram dirigidas, o fez de forma brilhante, realçando factos históricos do passado e do presente da África do Sul, revelando conhecimento sobre a vida do país que bem paten­teavam o cuidado e a seriedade dos seus estudos.

Passadas as paixões que agitaram e profundamente dividiram a nação, em campos inimigos e implacáveis a história atenta no seu nome ; estuda a sua perso­nalidade e faz-lhe justiça.

Foi um grande Príncipe que o povo bem amou.

(fim)

14/03/2012

A VISITA DO PRÍNCIPE REAL D. LUIZ FILIPE A VILA PERY, 1907

Bem, na legenda diz "Manicaland", presumo que seja Vila Pery.... e não se vê o Príncipe, vê-se o comboio que o levou lá. E aquela igreja lá atrás....não é de Vila Pery (hoje a grande Chimoio).

 

 

28/10/2011

DOM CARLOS I COM O MARQUÊS DE SOVERAL, INÍCIO DO SÉC. XX

Foto de Benoliel, na Ilustração Portuguesa, restaurado por mim. Para ver esta foto em tamanho maior, prima na imagem duas vezes com o rato do seu computador.

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