Imagens retocadas.
As duas lojas faziam parte de Casa Bayly, com um passado ilustre na Cidade, fundada no fim do século XIX por A. W. Bayly, comerciante, proprietário de jornais e dono de publicações, incluindo vários postais.
Segundo um resumo de um descendente (e não só – ver as fontes em baixo), Arthur William Bayly era filho de William Bayly e a sua mulher Hannah (apelido de solteira Kitchner). Britânico, nasceu em 1855 e cresceu e foi educado em Southampton e em Londres, e emigrou para o que é hoje a África do Sul em 1879. Em 1883 ele casou-se com Mary Olive Hope Bodrick, com quem teve dois filhos e duas filhas. Pouco depois da descoberta de ouro em Barberton ele mudou-se para a pequena urbe perto de Nelspruit na então República do Transvaal (nome formal: República Sul-Africana) e em Abril de 1886 fundou o jornal The Barberton Herald and Mining Mail. Em Setembro de 1892 o seu jornal fundiu-se com o jornal Gold Field News, de que resultou o Gold Field News and Barberton Herald.
Em 1898 a sua empresa, A.W. Bayly & Co., abriu uma representação em Lourenço Marques e Bayly mudou-se para a pequena cidade colonial portuguesa. A sua empresa expandiu a sua actividade, vendendo discos, gramofones e partituras de música, livros, material de escritório, tipografia, mercadoria diversa. O General Directory of South Africa de 1908 refere ainda que Bayly fazia fotografia e comerciava sementes.
De facto, há notícia de ter existido uma loja de fotografia Bayly no Avenida Building, no mesmo espaço do estúdio dos Irmãos Lazarus, que cerca de 1908 mudaram-se para Lisboa. Wilberforce Bayly, que também veio de Barberton, e onde também tivera um estúdio de fotografia, era um dos irmãos mais novos de Arthur, no seu caso dez anos mais novo. Ele trabalhou durante anos com e para Arthur em Barberton, e foi ele em princípio que geriu o negócio da fotografia em Lourenço Marques durante uns anos, até ficar doente. Passou depois uns dois anos com a filha Esme em Toulon, na França, após o que voltou para a África do Sul. Morreu em Johannesburgo em 12 de Junho de 1944, com 79 anos de idade.
Para além do porto, do caminho de ferro e do crescente negócio com o Transvaal, em 1 de Dezembro de 1898, a título provisório, Lourenço Marques foi designada a capital de Moçambique (estatuto que se tornaria permanente a 23 de Maio de 1907, segundo o Boletim Oficial Nº26, de 1 de Julho de 1907). Isso significava que o Governador-Geral residiria na Cidade e toda a burocracia provincial cresceria aqui.
Em 1905 Bayly fundou o jornal Lourenço Marques Guardian (1905-1952), que substituiu o jornal diário Delagoa Gazette Shipping and Commercial Intelligence e mais tarde começou a publicar o anuário Delagoa Bay Directory, posteriormente o Anuário de Lourenço Marques, (1908-1947). Antes disso, logo após chegar, Bayly criou umas espécie de newsletter semanal em inglês, chamada The Lourenço Marques Advertiser, que ainda era imprimida em Barberton, onde estavam as máquinas tipográficas, e trazida para Lourenço Marques de comboio. Nestas actividades, Bayly foi tipógrafo, editor, publicitário e jornalista.
Entre a Praça 7 de Março ao lado da “Casa Amarela” (onde nos anos 60 surgiu o Café Nicola) e depois nos números 38-40 da Rua Consiglieri Pedroso (nº de telefone: 125) e na Avenida da República (hoje a 25 de Setembro), os Bayly mantiveram durante décadas lojas com a sua marca, A Casa Bayly, primeiro na esquina onde depois se fez o Hotel Turismo e depois na esquina com a avenida que dava acesso à Praça Mac-Mahon.
Isto para além das discotecas na Pinheiro Chagas e na Manuel de Arriaga.
Presumo que após a sua morte em Durban em Julho de 1915, com 60 anos de idade, o negócio foi continuado por familiares. Para além da mulher, Mabel, mas que morreu logo a seguir, também em Durban, em Outubro de 1917, Arthur tinha seis irmãos e ainda os filhos. Mas não sei.
Até a Frelimo chegar, havia uma rua na Polana com o seu nome. Imagino que já deve ter ido há muito tempo. Mas não faz mal. Arthur Bayly aqui fica recordado.
E uma curiosidade pessoal:
Fontes
https://terra-mae-amada-mozambique.blogspot.com/2020/08/edificios-na-do-do-seculo-era-o-preco.html
https://www.s2a3.org.za/bio/Biograph_final.php?serial=3409