THE DELAGOA BAY WORLD

22/06/2019

ÁLVARO DE CASTRO, GOVERNADOR-GERAL DE MOÇAMBIQUE, 1915-1918

Imagem retocada.

O texto original veio da Enciclopédia Portuguesa e Brasileira de Cultura, vol. III, pág. 229, mas foi muito significativamente editado por mim.

Álvaro de Castro.

 

Esboço Biográfico

Álvaro Xavier de Castro nasceu na Cidade da Guarda em 9 de Novembro de 1878, filho do Dr. José de Castro e de Maria Benedita de Castro Pignatelli.

Acabou o curso de oficial de infantaria em 1901, o curso de Direito em 1908 e ainda um terceiro curso que pelos vistos havia naquela altura, o de Assuntos Coloniais, em 1911, aqui já com 33 anos de idade.

Republicano convicto desde cedo (ou seja, anti-monarquia constitucional, que era o regime português até 5 de Outubro de 1910), colaborou na Revista Nova e na Arte e Vida, participando activamente em conspirações republicanas contra os Bragança em Coimbra em 1908 e em 1910.

Após o golpe militar que derrubou o Rei D. Manuel II, Álvaro foi feito deputado na Assembleia Constituinte de 1911, integrando o chamado grupo dos «Jovens Turcos», sendo ministro da Justiça no governo de Afonso Costa, em Janeiro de 1913 e ministro das Finanças no governo de Azevedo Coutinho, em Dezembro de 1914.

Foi uma das figuras que liderou a chamada Revolução de 14 de Maio de 1915 que, tendo provocado um banho de sangue em Lisboa, conseguiu derrubar o governo da altura, de Pimenta de Castro.

Nomeado então, como todos os outros dirigentes revolucionários, para postos chaves que permitissem levar a uma participação activa de Portugal na I Guerra Mundial, assim consolidando a periclitante república com uma mobilização e um banho de sangue, foi nomeado Governador-Geral de Moçambique nesse mesmo ano, substituindo Alfredo Baptista Coelho e assumindo o cargo em 31 de Outubro de 1915 na colónia onde, desde o final de 1914, os alemães assediavam a meia dúzia de portugueses lá em Cabo Delgado. Mais tarde, e adicionalmente, assumiria mesmo o comando das forças expedicionárias portuguesas em Moçambique, em Abril de 1917, após a demissão do general Ferreira Gil, em 24 de Dezembro de 1916.

Ainda não estudei o que é que exactamente ele andou a fazer em Moçambique entre 1915 e 1918, para além de se meter na questão da guerra com os alemães, que, aliás, essencialmente, foi mais ou menos o mesmo que a maior parte da chamada guerra colonial: era uma coisa qualquer, perdida lá nos confins do Norte, no meio do mato, de que se ouvia dizer qualquer coisa em Lourenço Marques, e em que quase todos os mortos (uns expressivos cinco mil) viriam a morrer de picadas de mosquitos, de acidentes, de ataques de feras, de má nutrição e da falta de tudo um pouco.

E isto tudo, basicamente, no caso de Moçambique, por causa de um tal genial alemão, Paul Emil von Lettow-Vorbeck e um punhado de Askaris, que vieram da colónia alemã a Norte de Moçambique.

Em 2016, por causa do apresamento dos navios alemães atracados em vários portos portugueses, neutrais, entre os quais Lourenço Marques e penso que na Beira (foram divididos com os britânicos) o Império alemão declarou guerra a Portugal. Foi uma formalidade: os alemães andavam aos tiros com os portugueses em Angola e Moçambique há já algum tempo.

Em 17 de Dezembro de 1917 Álvaro demitiu-se do cargo de Governador-Geral de Moçambique (sendo sucedido por Pedro Massano de Amorim) devido a mais uma tomada do poder, em Lisboa, desta vez do sedutor e episódico Sidónio Pais, de quem ele não gostava, tendo sido muito activo na Revolta de Santarém, em Janeiro de 1919, desencadeada contra o regime Sidonista, o qual, no entanto, efectivamente, terminara com o súbito assassinato do próprio Sidónio em plena gare da estação ferroviária do Rossio, em Lisboa, em meados de Dezembro de 1918, ou seja um mês depois do fim da Primeira Guerra Mundial e um mês antes da sua revolta.

Politicamente a Primeira República foi uma carnificina abjecta e uma espécie de guerra civil disfarçada, uma nojeira com um nível de violência tal que justificaria a futura ditadura de Salazar e faria o sonâmbulo rotativismo da monarquia parecer quase idílico.

Na altura Álvaro aproveitou os tempos livres que tinha entre cargos e revoltas e escreveu o livro África Oriental Portuguesa [Lisboa, 1918 e que infelizmente ainda não li] e ainda fundou o seu próprio partido político, o Partido Republicano de Reconstituição Nacional – também chamado o «Reconstituinte» – via uma cisão do Partido Democrático, tendo presidido a um governo que durou uns meros dez dias, entre 20 e 30 de Novembro de 1920 e ainda a um outro governo, que durou uns prolongados 6 meses, entre 18 de Dezembro de 1923 e 6 de Julho de 1924 (na Primeira República, certamente para tirar o mau sabor do rotativismo burguês e porreiraço da monarquia, havia novos governos quase semanalmente, parecia).

Álvaro de Castro ainda viria a ser nomeado Governador-Geral de Moçambique por mais duas vezes, em 1919 e em 1926, mas em ambos os casos, expeditamente, recusou, antes de ser empossado.

Após o golpe militar e a memorável marcha de Braga para Lisboa (mas claro) levado a cabo pelo venerando Marechal Gomes da Costa em 28 de Maio de 1926, Castro foi prontamente detido e internado numa prisão em Elvas, donde se conseguiu evadir, exilando-se na capital francesa, Paris. Tendo eventualmente adoecido gravemente, pediu autorização para regressar ao seu país, tendo já chegado moribundo a sua casa, na Cidade de Coimbra, vindo a morrer poucos dias depois, a 29 de Junho de 1928, com apenas 49 anos de idade.

Penso que, para além do seu nome em tempos adornar um museu na Polana, havia uma rua em Lourenço Marques com o seu nome.

O Museu Álvaro de Castro. Quando lhe foi dada a designação, Álvaro de Castro já havia falecido há sete anos.

 

Informação adicional

Para obter mais detalhes sobre Álvaro de Castro, sugiro a leitura de Álvaro de Castro – Jovem Turco da República, da autoria de Ana Catarina Pinto [Lisboa, edit pela Assembleia da República, 2014, 240 pp].

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