THE DELAGOA BAY WORLD

14/05/2024

OS QUADROS, MARCELO CAETANO E A ILHA DE MOÇAMBIQUE

A primeira imagem, retocada e colorida por mim, foi muito gentilmente cedida pelo Nuno Quadros e inspirou este texto.

Marcelo Caetano, conhecido em Portugal por ter sido o sucessor de Salazar (nomeado por Américo Tomás Presidente do Conselho em 27 de Setembro de 1968) teve uma tarefa impossível. O que não o impediu de tentar fazer alguma coisa, pouca e sem grandes efeitos.

Num evento na Ilha de Moçambique, cerca de Agosto de 1945. Na audiência podem-se ver à direita os Pais de Nuno Quadros com a irmã mais velha no meio(em vestido azul claro) e, mais acima atrás, Marcelo Caetano, então Ministro das Colónias de Portugal, segurando um lenço branco. Marcelo estava no meio de uma longa visita (seis meses) às então colónias portuguesas, tendo, durante a sua ausência, ficado o então Capitão de Mar e Guerra Américo Tomás, em Lisboa, a tomar conta da pastas das Colónias interinamente. Num discurso proferido no Liceu Salazar em Lourenço Marques no dia a seguir à sua chegada à capital moçambicana em Abril de 1969, e que pode ser visto aqui, Caetano especificamente referiu que a sua visita em 1945 à Ilha de Moçambique fora “inesquecível”.

Quando assumiu funções, Portugal era, por falta de melhor descrição, uma ditadura de partido único desde Maio de 1926, com censura prévia de tudo e uma polícia política que ajudava a manter o regime, à paulada. Ainda relativamente pobre, a sua economia estava no entanto a crescer rapidamente, principalmente nas transacções com a Europa (via EFTA) e apesar de manter as suas colónias, que enfrentavam conflitos armados, os nacionalistas suportados pela China, URSS e países de Leste. O Dr. Mondlane ainda era o líder da Frelimo mas já a ser desgastado pelos seus mais radicais assessores (Samora, Marcelino e Chissano, que o sucederam em 1969).

É curioso ler a dinâmica aquando da sua tomada de posse em 1968. Num excelente e muito legível texto a propósito de Caetano e da sua postura e política colonial, o académico Fernando Tavares Pimenta mapeia e descreve o que Caetano pensava, o que enfrentou e o que ele pensava fazer – se o deixassem, o que não aconteceu. Para além dos chamados integralistas, defensores do Portugal pluricontinental etc e tal, Marcelo incorreu em dois equívocos que seriam fatais.

O primeiro equívoco aconteceu precisamente em 1945, quando, ainda em plena II Guerra Mundial (o Império do Japão só se renderia em Setembro desse ano), e nomeado ministro das Colónias, Caetano decidiu visitar as colónias (fez uma paragem em São Tomé e visitou mais demoradamente Angola e Moçambique). Ficou com uma certa impressão de Moçambique colonial que mais tarde tornaria difícil as decisões que tinham que ser tomadas. Num também excelente texto que descreve em algum detalhe essa viagem a Angola e Moçambique, António Duarte Silva refere que, nessa viagem, Caetano se tornou num africanista emotivo.

A comitiva (Caetano, a mulher e alguns assessores) saiu de navio para Luanda em 9 de Junho de 1945, onde chegaram a 29 de Junho. O então ministro seguiria de avião para Lourenço Marques em 21 de Julho, com uma paragem em Lusaka, chegando à capital de Moçambique no dia 22 de Julho.

Ficaria em Moçambique, por onde viajou (visitou ainda a União Sul-Africana, onde se reuniu com Jan Smuts) até ao dia 7 de Setembro, quando viajou para Luanda de avião.

Portanto Marcelo Caetano estava em Moçambique quando os Estados Unidos lançaram as bombas atómicas em 6 e 9 de Agosto e o Império do Japão fez a Declaração de Rendição Incondicional em 15 de Agosto.

Por essa razão, o contingente militar português que era para ter ido para Timor em 1942 mas que acabou por ficar retido em Lourenço Marques, embarcou no dia 1 de Setembro para recuperar a soberania naquela parcela portuguesa, que estava sob ocupação japonesa.

No Cais Gorjão em Lourenço Marques, uma multidão assiste ao embarque das tropas portuguesas no Angola, com destino a Timor.

O segundo equívoco de Marcelo Caetano ocorreu em 1969 (já o mencionei num outro texto há uns anos).

Numa altura em que já era claro que um sistema de matriz colonial tinha os dias mais do que contados, o então já primeiro-ministro, naquela que foi a sua primeira viagem após a tomada de posse, foi recebido onde quer que fosse em pura apoteose (suponho que em parte aparente).

Caetano é recebido em Mavalane pelo amigo de longa data, Baltazar Rebelo de Sousa, então GG de Moçambique, Abril de 1969.
Ladeado pelo pessoal da Mocidade Portuguesa, Caetano, seguido por Baltazar e Adriano Moreira, e ostentando um colar de flôres à hawaiana, entra na gare do Aeroporto Gago Coutinho. O desfile da caravana até ao Palácio da Ponta Vermelha, com banhos de multidão, é completamente alucinante. Até os da Mafalala foram ver.

A visita, cuidadosamente organizada para ter grande impacto, foi um sucesso pulicitário para o regime.

Mas criou uma impressão falsa.

A de que ainda havia tempo. A de que tinha tempo.

Depreendo que, apesar da enorme resistência dos integralistas, Caetano queria puxar para uma autonomia acelarada em que estimo que houvesse uma independência “multiracial” até 1980.

Mas o tempo não estava do seu lado.

Num contexto em que o seu governo não falava com a Frelimo (para desespero de Jorge Jardim, conhecido por organizar as misses, e que fora marginalizado), e em que a população branca não lhes ocorria sequer decidir nada quanto a esse futuro, não acredito que tal fosse viável a não ser com a intervenção dos vizinhos, ambos autocracias de minorias brancas, o que nem portugueses nem sul-africanos queriam.

Este é um dos what ifs interessantes da História.

Todos sabemos o que aconteceu.

Foi-se empurrando com a barriga.

Após o pronunciamento militar em Abril de 1974, Caetano será exilado para o Brasil. Morreu no Rio de Janeiro em 1980 e ali está sepultado.

Os militares revoltosos entregaram o governo de Moçambique a uma Frelimo radicalizada no dia 20 de Setembro de 1974. Moçambique passou de uma ditadura colonial para uma ditadura comunista radical, empenhada em destruir todos os vestígios do passado e em continuar a lutar, desta vez rodesianos e sul-africanos. O preço pago pelos moçambicanos será terrível e a tormenta durra até estes dias. A Frelimo governa há 50 anos, mais do que o regime de Salazar governou Portugal.

Portugal hoje é um regime parlamentar democrático com algumas falhas. Ganha algum dinheiro com turismo, agricultura e serviços e recebe subsídios da União Europeia, à qual se juntou em 1986. Não tem sido capaz de competir e de proporcionar riqueza para a maior parte dos seus habitantes.

A Ilha de Moçambique continua lá onde sempre esteve.

09/12/2023

MORREU MARIA JOÃO QUADROS

Imagem retocada e colorida.

A família Quadros (Mãe e nove irmãos) em Lourenço Marques, anos 60. Da esquerda para a direita: Lena, Isabel, Pingo, Rui, Mãe Maria com Nuno ao colo, Feijão(alcunha de Maria João Quadros), Chica, Ana Maria e Jorge. A foto deve ter sido tirada pelo patriarca da Família, Afonso Quadros. Moravam na mesma rua que eu na Polana em Lourenço Marques, a Rua dos Aviadores (hoje Rua da Argélia).

A imprensa portuguesa noticiou hoje o falecimento ontem, por doença, de Maria João Quadros, irmã do antigo caçador Rui Quadros e de Nuno Quadros, que eu conheci.

Tinha 75 anos de idade.

Maria João Quadros.

Nascida na localidade de Mtwali, em Nampula em 19 de Fevereiro de 1948 , Maria João Barbosa Teles de Castro e Quadros começou a cantar em Lourenço Marques e era uma fadista muito apreciada pelos aficionados. Na Debandada de Moçambique em meados da década de 1970, foi viver para Portugal, onde começou a a actuar profissionalmente. Ao longo da sua carreira ali, editou vários discos e participou em numerosos espetáculos. Geria a Casa da Mariquinhas em Lisboa, uma casa de fados.

É uma das figuras mencionadas no trabalho de Margaret Nabarro, publicado em 1976, sobre o fado em Moçambique, que pode ser lido no meu outro blog, The Delagoa Bay Review, premindo AQUI.

Aos seus familiares, apresento as minhas condolências.

10/09/2017

RUI QUADROS E MIA QUADROS, CERCA DE 2000

Filed under: Mia Quadros, Rui Quadros — ABM @ 21:51

Fotografia de Mia Quadros, retocada.

Rui Quadros foi um famoso caçador e activista da acitvidade cinegética de Moçambique a partir dos anos 60 do Século XX. Já falecido, teve uma filha relativamente tarde na vida, que o sobrevive.

 

Rui Quadros e a filha Mia, creio que em Maputo.

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