Imagem retocada.
Eu vi este filme no Cinema Dicca em Lourenço Marques, pouco depois da sua pomposa estreia no dia 27 de Julho de 1971. Tinha 11 anos portanto e só fui porque aquilo foi-me vendido como uma comédia tipo filme do Cantinflas, mas feito localmente. Claro que fui mais do que enganado. Apesar da tenra idade, eu não era exactamente mentecapto e se bem que não estava dentro das tricas todas da guerra lá no Norte de Moçambique – que nem sequer era bem descrita como tal lá em casa e à minha volta (era mais uns turras que inexplicavelmente andavam a chatear não sabia bem porquê) – até um mentecapto encartado perceberia logo a peça de pseudo propaganda barata que aquilo era, uma espécie de acção psico-social em versão cinematográfica para enganar patego, disfarçada de comédia. Não sei quem é que em Lourenço Marques não percebeu a chachada que aquilo era. E que nem sequer achei assim tão engraçada como isso, os meus padrões então já elevados estratosfericamente por filmes como Trinitá, Cantinflas. Franco Franci e Tchitchio Engracia, Charlot, a Pantera Cor de Rosa, Pamplinas, etc etc etc. Para não falar de 2001 Uma Odisseia no Espaço.
Só menciono isto porque outro dia – aí sim – ri-me discreta mas vigorosamente, a ler um longo e insípido texto académico de um idiota qualquer que é professor doutorado e pesquisador de assuntos de história africana duma universidade qualquer pouco sonante, um desses que nunca conheceu nem sequer suspeita o que foi era colonial mas que por ser daquela esquerda politicamente correcta, de ter tirado uns cursozitos e lido uns livritos e depois ter ido passar três meses a Maputo, e engolido a versão “libertadora” dos factos, acha que sabe mais do que nós todos juntos. No seu paper, ele disseca e analisa detalhadamente o filme, no contexto do colonialismo português, da guerra, da opressão, da libertação e do raio que o parta. A análise pareceu-me tão senão mais ridícula, mas certamente bem mais divertida, que as cenas do Zé do Burro e o Cacilhas, a tentar vender a “missão civilizadora” e a converter um “turra” num parolo português.