THE DELAGOA BAY WORLD

30/09/2023

A INAUGURAÇÃO DA LINHA FÉRREA ENTRE LOURENÇO MARQUES E PRETÓRIA, JULHO DE 1895

Imagens retocadas e coloridas

O ano entre o final de 1894 e de 1895 foi uma altura alucinante quer para o Sul de Moçambique, quer para a pequena república boer do Transvaaal. A pequena Lourenço Marques foi violentamente atacada e sitiada em Outubro de 1894 por uma coligação de tribos da região, a linha férrea para Pretória ainda a ser terminada.

Em quase pânico, o governo em Lisboa, que mantinha contacto com Lourenço Marques pelo telégrafo da Eastern Telegraph, envia uma pequena força armada para proteger a Cidade, iniciando o que alguns chamam as “campanhas de pacificação”, cujos pontos altos nessa altura foram uma violenta batalha em Marracuene no início de Fevereiro de 1895 (cuja celebração anual se fez desde então, até hoje, dantes comemorando-se a vitória portuguesa e agora a “resistência nacionalista”. Enfim) e o aprisionamento de Gungunhana, um conhecido líder Nguni, no dia de Natal desse ano.

Pelo meio, em Julho é inaugurada solenemente a linha férrea, considerado na altura o projecto ferroviário mais rentável do Mundo, dado que passava a ligar o mar até ao Witwatersrand, o maior campo aurífero no planeta (na altura já havia ligação ferroviária entre Pretória e a nascente Johannesburgo).

Do lado do Transvaal, o enorme fluxo de estrangeiros (em afrikaans, Uitlanders), um pouco de tudo mas maioritariamente britânicos e norte-americanos, numa corrida ao ouro, estavam a levar o governo britânico (e Cecil Rhodes) ao desespero, pois queriam negócio e consideravam o Transvaal parte da sua esfera de influência (à pala disso, Lord Alfred Milner compraria uma guerra para resolver a questão em 1899). Entretanto, Paul Kruger, o presidente do Transvaal não permitia a residência nem o voto dos Uitlanders e carregava-lhes com taxas e taxinhas e impostos. Numa acção obviamente mal planeada, patrocinada por Cecil Rhodes e liderada pelo médico Dr. Leander Jameson (que tinha nesta causa como um apoiante firme e amigo o “nosso” médico Dr. Óscar Somershield, cujo apelido mal soletrado ainda decora um bairro chique de Maputo que em tempo fez parte de uma concessão que misteriosamente lhe havia sido concedida – ah ah) também por volta do Natal de 1895, um grupo de mercenários e afins tentaram derrubar o governo de Pretória. Falharam redondamente e foi um escândalo. Para atiçar ainda mais as coisas, desde Berlim, o imperador Germânico, Guilherme II, enviou um simpático telegrama de felicitações a Kruger, o que deixou os ingleses escandalizados e apreensivos.

Capa de uma publicação creio que da NZASM, parte holandesa do consórcio que financiou e construiu a linha do lado do Transvaal.
A enorme tenda do Market Hall, em Pretória, decorada nas paredes com imagens de Lourenço Marques e paisagens, usada para as festividades associadas à inauguração, que durariam vários dias.

08/06/2021

LOURENÇO MARQUES EM 1933, VISTA DO AR

Imagens retocadas e coloridas. Grato como sempre ao Rogério Gens pelas suas correcções.

Penso que cerca dos anos 40-50 um fotógrafo que esteve em Lourenço Marques tirou uma fotografia de outra fotografia aérea, que estimo ter sido tirada cerca de 1933. Esta fotografia aérea foi captada por W. Norman Roberts da empresa aérea sul-africana African Flying Services (PTY) Limited, uma das pioneiras dos serviços e transporte aéreo na então União Sul-Africana. Esta fotografia, com alguns retoques, é a primeira que coloco aqui no topo. Todas as imagens que se seguem são cópias ampliadas, legendadas e coloridas, do que se vê nesta primeira fotografia, que mostra de forma inédita (para mim) alguns dos aspectos da topografia da Cidade que eu conhecia mas nunca tinha visto de uma forma global e objectiva.

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A cópia da fotografia topográfica de Lourenço Marques, cerca de 1933.

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A – O então Museu Provincial, mandado construir por Pott (hoje sede to Tribunal Constitucional); B- A Imprensa Nacional, anteriormente a Cadeia; C – Estação dos Bombeiros (onde hoje fica o Prédio 33 Andares); D – a então Câmara Municipal de Lourenço Marques, depois Tribunal da Relação; E – o primeiro estádio de futebol do Grupo Desportivo Lourenço Marques; F- Sede e terrenos do Sporting Club de Lourenço Marques; G- Avenida da República (hoje 25 de Setembro); e H – o Aterro da Maxaquene.

 

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O Aeródromo da Carreira de Tiro. Logo a seguir a Rua dos Combatentes de Nevala. Do lado direito, a Cadeia Civil e à direita desta, o primeiro Campo de Golfe da Polana.

 

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A – Cadeia Civil; B- o primeiro Campo de Golfe da Polana, em que a Clubhouse fica na ponta à direita em baixo; C- A Avenida Massano de Amorim (hoje Mau Tsé Tung); D – o Parque José Cabral (hoje, dos Continuadores); E- o Hotel Polana.

 

LM HOSPITAL MIGUEL BOMBARDA CA 1931

A- Complexo do Hospital Miguel Bombarda; B- Avenida Pinheiro Chagas (hoje Dr. Mondlane; C – A futura Escola Primária Rebelo da Silva (hoje 3 de Febereiro) em construção.

 

LM CLUBE DE PESCA ATERRO MAXAQUENE CA 1931

A – Aterro da Maxaquene; B- parte ainda inacabada do paredão de cimento junto ao futuro Clube de Pesca (hoje Escola Náutica); C – doca de pesca desportiva; D – Ponta Vermelha. Note o Exmo. Leitor que esta parte foi “comida” e inclinada posteriormente, pois nesta altura caía abruptamente, como aliás se via em partes da Catembe até aos anos 80.

 

LM eastern telegraph e casa rua dos aviadores ca 1931

A – o Liceu 5 de Outubro, junto à Av. 24 de Julho, que depois seria a Escola Comercial Azevedo e Silva; B- a Sinagoga de Lourenço Marques, ainda existente; C – a Estação Telegráfica da Eastern Telegraph Company, que seria demolida e aí edificado o Liceu Salazar (hoje ES Josina Machel; D- terreno onde seria edificado o Joardim Silva Pereira (hoje dos Professores. Note-se que na altura o terreno era muito maior que o existente hoje, pois as barreiras foram alteradas, especialmente depois do Ciclone Claude em Janeiro de 1965; E – o Hotel Cardoso estando logo ao lado as fundações do futuro Museu Álvaro de Castro (hoje Museu de História Natural); F – por curiosidade, a casa onde cresci em Lourenço Marques, pelos vistos uma das primeiras duas a serem construídas na Rua dos Aviadores (hoje Rua da Argélia).

 

LM AV D LUIZ I JARDIM VASCO DA GAMA HOSPITAL MILITAR E IGREJA CA 1931

A – Por baixo desta letra, o Hospital Militar, que seria demolido e no seu lugar construída a Sé Catedral de Lourenço Marques; B – a então Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no local onde depois seria construído o Palácio da Rádio do Rádio Clube de Moçambique; C- a Avenida Aguiar, depois Avenida Dom Luiz I (hoje Marechal Samora). Note o Exmo. Leitor que na década e meia seguinte seriam construídas a Praça Mouzinho no topo (hoje da Independência) e em baixo seria eliminada a Travessa da Fonte, que estenderia esta artéria até à Praça 7 de Março (hoje 25 de Junho), que na altura ainda era rectangular, cheia de Kiosks e atravessada a meio pela Rua Araújo; D- Jardim Vasco da Gama (hoje Tunduru); E – Câmara Municipal de Lourenço Marques (hoje Tribunal da Relação) e mais em cima o Grupo Desportivo Lourenço Marques.

 

lm cemiterio s francisco xavier ca 1931

Na zona do Alto-Maé. A- Os cemitérios Maometano, Judaico e..(farsi?); o Cemitério de São Francisco Xavier; C – a Avenida Pinheiro Chagas (hoje Dr. Mondlane) com partes ainda com uma um estradinha nos dois sentidos.

 

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Na zona de Alto-Maé. A – zona de Xipamanine; B- Em discussão com o genial Rogério Gens este deverá ser um depósito de água para servir a zona do Alto-Maé; C- a Avenida Pinheiro Chagas (hoje Dr. Mondlane) que acaba logo a seguir à esquerda; D – a Avenida 24 de Julho, que nesta altura também acaba logo a seguir e mais tarde seria estendida mais quase dois quilómetros.

01/06/2019

A DELAGOA BAY LANDS SYNDICATE EM 1904 E LOURENÇO MARQUES

Em baixo, o Relatório e Contas do conglomerado anglo-sul africano Barnato Consolidated Mines para o ano operacional terminado a 31 de Outubro de 1904, apresentado na Assembleia de accionistas em Joanesburgo no dia 8 de Maio de 1904 e publicado no jornal The Standard de sexta-feira, 9 de Outubro de 1904.

Apesar de considerável, o conglomerado Barnato Consolidated Mines em 1904 já era apenas uma pequena parte do gigantesco império outrora criado pelo chamado Randlord Barney Barnato, em tempos um rival de Cecil Rhodes pelos negócios de ouro, diamantes e imobiliário na África do Sul. Em 1904, Barney Barnato, um genial judeu britânico que capturou de forma singular as oportunidades decorrentes das descobertas em Kimberley e no Witwatersrand, já havia falecido, misteriosamente caindo de um barco em que ele viajava para Londres mesmo ao lado da…Ilha da Madeira, em 14 de Junho de 1897. Portanto em 1904 este conglomerado deveria ter como accionistas os seus descendentes e outros.

Com 7604 acções em 1904, a Barnato Consolidated Mines já era um accionista de referência da The Delagoa Bay Lands Syndicate, Limited (DBLS), que, desde 1903, detia, eventualmente entre outros, activos, a chamada Concessão Somershield, cerca de mil hectares e que incluiam toda a faixa de terreno desde o Hotel Polana até ao Clube Marítimo de Desportos e que fora alienada à empresa pelo médico, aventureiro e empresário britânico Óscar Somershield em 1896, penso que numa combinação de dinheiro e de algumas acções da própria DBLS, património que deixaria de herança à sua mulher Marta (e penso que uma filha menor), quando ele faleceu em 1917 nos arredores da Cidade do Cabo (caçar estes documentos dá trabalho).

Segundo o relatório em baixo, os activos da DBLS em 1904 estavam estimados em cerca de 1.6 milhões de libras estrelinas, uma verdadeira fortuna naquela altura.

A partir daqui, a DBLS passaria os quase cinquenta anos seguintes em tribunal com a Câmara Municipal de Lourenço Marques, numa sucessão de contendas e em fases, que só terminaria cerca de 1950 com o acordo para a criação e venda do algo quixotesco e pouco característico projecto imobiliário que formalmente se chamaria Bairro dos Cronistas mas que todos chamavam Somershield – e que, por desconhecimento, escreviam, e escrevem, erradamente, “Sommerschield”(por aquela altura, já ninguém sabia quem ele fora).

A DBLS foi constituída em 1896, com sede em Joanesburgo e escritório em Lourenço Marques, penso que especificamente para lidar com a alienação da Concessão Somershield.

Entre outros aspectos, a DBLS tinha todo o tempo e todo o dinheiro e todos os advogados a peso de ouro do mundo, para confrontar a Câmara nos tribunais.

O Hotel Polana, que foi inaugurado em meados de 1922, resultou de um esquema meio macaco que envolveu o governo da Província e a DBLS, que inicialmente ficou com o hotel, construído no extremo Sul da Concessão Somershield, para desespero do Comandante Augusto Cardoso. Eventualmente venderia o hotel aos Schlesinger, sul-africanos judeus, que o exploraram durante vários anos.

Ali ao lado, durante o longo mandato de José Cabral (1879-1956), Governador-Geral entre 1926 e 1938, construiu-se ainda um Parque, nomeado José Cabral em honra do Governador-Geral, outrora um belo jardim, hoje chamado “Parque dos Continuadores”(completamente desfigurado por um campo de atletismo e uma feira de artesanato) ainda em terrenos que tinham sido desta Concessão, e que incluia a estação telegráfica e, mesmo na ponta, o Observatório Campos Rodrigues.

 

10/10/2013

A ROTUNDA DA AV. ANTÓNIO ENES E O BAIRRO DA SOMMERSCHIELD EM LOURENÇO MARQUES, 1970

Filed under: LM Av. António Enes, LM Bairro da Somershield — ABM @ 19:24

 

Parta da enorme rotunda na Avenida António Enes (actualmente, Avenida Julius Nyerere) em Lourenço Marques, 1970.

Parta da enorme rotunda na Avenida António Enes (actualmente, Avenida Julius Nyerere) em Lourenço Marques, 1970. Atrás, fica situado o Bairro da Sommerschield, então já em franco crescimento.

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