A Estação dos Caminhos de Ferro de Lourenço Marques, 1935.
Texto muito gentilmente enviado por Cristina Pereira de Lima, filha de Alfredo Pereira de Lima, distinto investigador da história de Lourenço Marques (e, logo, de Maputo).
A Estação Central dos Caminhos de Ferro de Lourenço Marques foi solenemente inaugurada em 19 de Março de 1910, um Sábado.
Esta estação, que, como todos sabem, foi considerada com um dos sete edifícios mais bonitos do mundo na lista da revista norte-americana Newsweek , tem uma história muito bonita, cujos dados procurei reunir aqui para todos que como eu gostam da história da nossa cidade poderem ler ….. ela veio substituir a anterior, em madeira e zinco que tinha sido inaugurada pelo Presidente Paul Kruger em 1895 e se situava na Av. 18 de Maio.
A primeira estação ferroviária de Lourenço Marques, inaugurada em Julho de 1895. Foto do espólio de Alfredo Pereira de Lima.
Alfredo Pereira de Lima no seu livro História dos Caminhos de Ferro de Moçambique, relata:
…”A construção da estação central dos Caminhos de Ferro de Lourenço Marques, hoje totalmente coberta pela imponente fachada que depois se lhe acrescentou encimada pela magnifica cúpula em cobre com a esfera armilar, havia sido começada no ano de 1908.
Veio substituir a antiga – de madeira e zinco , construída pela companhia concessionária – que existia do outro lado da avenida 18 de Maio, defronte do actual Posto Médico dos Caminhos de Ferro.
Tendo sido dada por concluída, ela foi solenemente inaugurada no dia 19 de Março de 1910.
Tratava-se de um melhoramento importante que se ficava a dever ao Engenheiro Lisboa de Lima, autor do projecto (nota – esta nova estação foi construída no local onde existia a caserna do baluarte “31 de Julho” que fazia parte do sistema de defesa de Lourenço Marques. Maço: Caminhos de Ferro de Moçambique.Processo nº8/1900. Caixa 8 . Arquivo Histórico Ultramarino).
Freire de Andrade, então Governador-Geral, solicitara ao Ministro e Secretário do Estado da Marinha do Ultramar que fossem enviados “dois escudos de Armas Reais portuguesas, lavrados em mármore, para serem fixados nos pórticos”. Mas eles só chegariam em 1911, depois de proclamada a República, e as armas tiveram que ser alteradas. Mesmo assim, jamais lá seriam colocadas por incúria dos que sucederam a Freire de Andrade (nota -. para o pórtico dessa estação, por iniciativa do Governador-Geral Freire de Andrade, fora requisitado de Lisboa um Escudo nacional em mármore lavrado, o qual, tendo chegado a Lourenço Marques em 1911 a bordo do paquete Beira, depois se perdeu. Por fim, recuperado nos nossos dias, foi solenemente colocado no seu lugar em Julho de 1970, por iniciativa do gabinete de História dos Caminhos de Ferro de Moçambique. O escudo nacional, trabalhado em pedra de liós, é uma obra de arte de muita valia, tendo sido executado em Lisboa nas oficinas de Germano José de Salles & Filhos, da Rua do Arsenal 134 a 136).
O acto solene da inauguração da nova estação, mesmo sem o escudo das Armas Reais, fez-se nesse dia 19 de Março, com a saída dos dois primeiros comboios para São José de Lhanguene, onde se celebrava a festa de São José, padroeiro daquela missão, presidiu o Governador-Geral Freire de Andrade. Sete meses depois desse acontecimento, proclamava-se a República…”
( História dos Caminhos de Ferro de Moçambique por Alfredo Pereira de Lima)
A fachada da Estação de Caminhos de Ferro de Lourenço Marques, 1935.
No seu livro Edificios Históricos de Lourenço Marques, Alfredo Pereira de Lima relata mais alguns dados :
“ O Projecto foi de autoria do engenheiro Alfredo Augusto Lisboa de Lima, mas a fachada foi ligeiramente alterada para a traça actual, tendo sido seus empreiteiros a firma Buccellato & Irmão. Segundo me informou o comendador Giuseppe Buffa Buccellato, industrial a quem a cidade de Lourenço Marques ficou a dever importantes obras de construção civil, foi seu irmão Pietro quem trabalhou com as próprias mãos todas as peças decorativas desse magnifico edifício.
As suas obras decorriam ao mesmo tempo que a da construção da ponte-cais Gorjão, também sob empreitada da mesma firma.”
O edifício foi inaugurado em 19 de Março de 1910 (Nota : data indicada no livro Revolução Portuguesa, por Armando Ribeiro e confirmada pelo comendador Giuseppe Buccellato.)
A sua gigantesca cúpula em bronze veio da África do Sul, onde foi fundida expressamente para este edifício e a sua colocação constituiu empreendimento muito difícil para a época.
Ao acto solene da saída dos dois primeiros comboios, no dia 19 de Março de 1910, que foram até ao Lhanguene, onde se realizavam os festejos comemorativos do de dia de São José, assistiu o Governador-Geral Alfredo Augusto Freire de Andrade. Constituiu o último acto solene oficial na vigência da Monarquia. Sete meses depois era proclamada a República….”
(in Edificios Historicos de Lourenço Marques por Alfredo Pereira de Lima)
E no seu livro Lourenço Marques, Alfredo Pereira de Lima relata ainda o seguinte:
“Em frente à Estacão Central dos Caminhos de Ferro, com a sua característica cúpula de bronze coroada pela Esfera Armilar, símbolo dos nossos Descobrimentos, está implantada a ampla Praça Mac Mahon, cujo nome perpetua a memória do famoso Presidente da República Francesa que foi árbitro do pleito entre Portugal e a Grã-Bretanha, sobre a posse da cobiçada baía de Lourenço Marques.
A fachada do edifício da Estação Central dos Caminhos de Ferro, de primeiro andar, é formada por cinco arcos assentes em colunatas de cada um dos lados da entrada principal que tem sete metros de largura, fechando de cada um dos lados com uma pequena fachada em colchete.
O Salão principal, que está encimado por uma cúpula de bronze, mede 42 metros quadrados e destina-se a reuniões e conferências. O edificio custou mais de 50.000 Libras ouro e foi inaugurado em 19 de Março de 1910….”
(fim)
Foi há 102 anos.