THE DELAGOA BAY WORLD

05/06/2023

CANTO CORAL DA MOCIDADE PORTUGUESA EM LOURENÇO MARQUES, DÉCADA DE 1950

Imagens dos arquivos nacionais portugueses, retocadas e coloridas.

1 de 2.
2 de 2.

30/09/2022

O NANDO E A MOCIDADE PORTUGUESA EM LOURENÇO MARQUES, 1967

Quis o destino que na idade-limite (oito anos?), quando chegou a minha vez, em Moçambique deixou de ser obrigatório aos jovens terem que ingressar na Mocidade Portuguesa, uma iniciativa de raízes digamos que …nazis, mas que em Moçambique, pelos anos 60, era aparentemente um valiosa ferramenta desportiva e de formação e convívio para os jovens. Mas para mim tudo o que envolvia ter que andar fardado simplesmente não convencia. Já sofrera o suficiente com a farda verde obrigatória (e, admita-se, equalizadora) da Escola General Machado. E eu já tinha convívio e desporto que dava e sobrava no Desportivo.

Infelizmente, o meu irmão Fernando, na imagem em baixo, não escapou. Teve que entrar na organização e um dia a Mãe Melo lá se sentou em frente à sua máquina de costurar duma marca italiana (Bernina? Nechhia?), e fez uma farda com um pano de khakh para elei (sim, tirando as t-shirts, naquela altura ou se fazia a roupa em casa ou ia-se à costureira. As madames com mais taco iam às boutiques). Durante uns tempos, ele teve que orientar os colegas à saída da Rebelo da Silva, com uns paus pintados de branco e vermelho. Não fossem eles atropelados na Pinheiro Chagas.

Nando pronto para o combate do trânsito à saída da escola. Aqui no quintal da casa em que vivíamos na Polana.

02/04/2021

DISCURSO DA MOCIDADE PORTUGUESA EM NAMPULA, AGOSTO DE 1956

Imagem retocada, do grande Fernando Gil, autor do incontornável sítio Moçambique para Todos.

Sobre esta imagem, o Fernando escreveu o seguinte: “esta foto é de 1956. E o “jovem” sou eu, Fernando Gil. Na altura lendo um discurso para o Presidente da República de Portugal, General Higino Craveiro Lopes [que visitou Moçambique naquele ano entre 4 de Agosto e 3 de Setembro], dando, em nome da MP, as boas vindas. Foi no salão nobre do Sporting Club de Nampula. se repararem tenho umas escoriações no joelho direito. Na altura tinha uma Solex e quando ia para lá tive um despistanço. Só tive tempo de limpar com um lenço. “

Na visita à Cidade de Nampula (elevada a Cidade em 1951) Craveiro Lopes inaugurou no dia 23 de Agosto o Museu Etnográfico, ainda hoje o único museu nacional situado fora da capital moçambicana, e ainda presidiu à sagração da Catedral de Nossa Senhora de Fátima.

Para além de Nampula, Craveiro Lopes visitou, entre outros, a Matola, João Belo, Inhamissa, Chibuto, Chaimite, Caniçado, Aldeia da Barragem, Aldeia do Guijá, Posto de Culturas do Alto Limpopo, Moamba, Namaacha, Inhambane, Beira, Vila Pery, Manica, Machipanda (com um salto a Salisbúria) Gorongosa, Tete, Quelimane, Vila Junqueira, Nametil, Nacala, Lumbo, Ilha de Moçambique, Porto Amélia, Mocímboa da Praia, Palma e Quionga.

Um jovem Fernando Gil discursa as boas vindas a Nampula do Presidente Craveiro Lopes em nome da Mocidade Portuguesa em Nampula, 1956.

Segundo a Infopédia (texto editado por mim), a Mocidade Portuguesa (MP) foi uma “organização de carácter milicial dirigida às camadas mais jovens da população. Foi criada por decreto em 1936, tendo a sua secção feminina sido criada dois anos mais tarde e alargada até às colónias em 1939.

A MP destinava-se a crianças entre os 7 e os 14 anos de idade, escolarizadas ou não, e a frequência das suas actividades era obrigatória. Para os jovens do sexo masculino entre os 17 e os 20 anos foi ainda criada uma milícia, espécie de braço armado da organização. Estes dois ramos do sector masculino da MP eram inspirados por objectivos de adestramento pré-militar, para o que se instituíram mecanismos disciplinadores e uniformizadores diversos: a farda, o hino, a disciplina rigorosa baseada em conceitos de autoridade e hierarquia, as paradas e acampamentos, os prémios e as sanções. Para os mais velhos, a quem a milícia se destinava, estavam reservados benefícios particularmente atraentes, dado que da sua qualificação na instrução pré-militar decorria a dispensa de parte do serviço militar obrigatório (a recruta no caso das praças, o primeiro ciclo dos respectivos cursos para os sargentos e oficiais milicianos).

O carácter paramilitar de muitas das actividades desenvolvidas (até mesmo a prática desportiva estava centrada em atividades afins da instrução militar: esgrima, boxe, voo) justificava o facto de a direcção da organização estar entregue, a diversos níveis, a oficiais das Forças Armadas ou a graduados da Legião Portuguesa (registando-se mesmo a tendência para recrutar na MP quadros para a milícia adulta que era a Legião Portuguesa). A direcção ao mais alto nível era, no entanto, confiada a personalidades afectas ao regime, gozando de grande prestígio ou autoridade, que foram sempre civis (o primeiro Comissário Nacional foi Francisco José Nobre Guedes, um antigo embaixador em Berlim, o segundo foi o futuro primeiro ministro Marcello Caetano, Baltazar Rebelo de Sousa em estudante foi um activo dirigente da Mocidade Portuguesa — comandante do Centro Universitário de Lisboa, depois chefe dos serviços culturais e diretor dos serviços de intercâmbio com o estrangeiro, tendo ocupado interinamente o cargo de Comissário Nacional, enquanto Subsecretário de Estado da Educação Nacional, entre 1955 a 1961).

O ramo feminino da Mocidade Portuguesa obedecia a outras orientações, naturalmente sempre enquadradas nos objetivos de orientação ideológica do Estado Novo: as raparigas seriam encaminhadas para assumirem mais tarde o papel de mães de família e donas de casa, ao mesmo tempo que lhes era ministrada educação religiosa católica de acordo com uma trilogia cara ao regime – Deus, Pátria e Família. A exaltação do espírito patriótico não era aqui acompanhada por exercícios de carácter militar, de acordo com uma filosofia tradicionalista que encarava a guerra como domínio exclusivo do homem. O exercício físico a que as filiadas eram submetidas tinha um outro sentido, o da preservação da sua saúde precisamente como futuras mães de família. Enquanto a Mocidade Portuguesa era dirigida quase exclusivamente por militares, a direção do ramo feminino estava nas mãos de docentes do ensino secundário ou reitoras de liceu, naturalmente apoiantes do regime.

Penso que durante muitos anos a MP era para brancos e assimilados apenas, mas não consigo confirmar para além do que li, indicando esta restrição.

A época de maior desenvolvimento da MP foi a que medeou entre a sua criação e o final da II Guerra Mundial, em 1945. Com efeito, a queda dos regimes totalitários na Europa levou ao descrédito das organizações de tipo milicial destinadas à juventude (é preciso manter presente que o fim do conflito trouxe alguns sinais de crise social e política ao Estado Novo). A organização entrou em decadência, perdeu vitalidade e, anos mais tarde, em 1966, perdeu o controlo das atividades circum-escolares, que passaram a ficar centradas na Escola. Em 1971 tornou-se facultativa (razão porque eu nunca lá estive).

Quando eu era nadador federado em Moçambique, era obrigatório ter estes certificados actualizados.

Em 1974, quando o regime foi derrubado por um golpe de Estado militar, dirigido por um antigo membro da organização em Lourenço Marques, a Mocidade Portuguesa foi extinta. Irónico, e quase ninguém reclamou.

Site no WordPress.com.