Porto Amélia, que hoje tem o nome da enorme baía ao lado, foi criada após a constituição da majestática Companhia do Niassa, uma espécie de colonialismo de aluguer que os portugueses de então acharam por bem aplicar a Moçambique. O lugarejo, bom para o turismo mas mau para quase tudo o resto, nem sequer tinha um porto – fizeram um molhezinho ali à frente, que dava para os recados. Como forma institucional de dar graxa e
seguir as tradições daquela altura, ao lugarejo foi dado o nome da então rainha de Portugal, Amélia e passou a ser o centro da operação da tal de Companhia do Niassa, operação essa que, ao que se sabe, não teve sucesso. Em 1929, a concessão acabou e a administração colonial – meia dúzia de portugueses – tomou conta daquilo. A sua jurisdição – Cabo Delgado – ainda hoje é a província mais pobre do que é hoje Moçambique. Sendo Moçambique o sétimo país mais pobre do mundo, está o exmo. Leitor a ver do nível de pobreza que se está a falar aqui. Durante uns anos, a região serviu para a Frelimo, que era patrocinada pela Tanzânia, fazer a guerra com o exército dos portugueses. Depois da independência, os novos senhores da Situação mudaram o nome à então já cidadezinha colonial, e pouco mais terá acontecido (construiu-se uma ponte para a Tanzânia que quase ninguém usa), até que, há uns dez anos, estudos geológicos revelaram a presença, no oceano em frente ao Triângulo de Quionga, de quantidades fabulosas de gás natural. Diz-se, por essa razão, que a região vai crescer.
Porto Amélia – Pemba – tornou-se uma Cidade do Norte, com entre 150 e 200 mil habitantes, a maioria dos quais vivendo em condições precárias.
Na noite em que escrevo esta nota, para a região avança um ciclone – Kenneth – com ventos de 200 kms por hora e estimativas de chuva na ordem dos 100 ml/m2 em 24 horas. Manifestamente, a Cidade não está equipada para um embate destes.