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ZIXAXA E GUNGUNHANA NA ILHA TERCEIRA, AÇORES, INÍCIO DO SÉC.XX
Roberto Zixaxa foi um dos apoiantes de Gungunhana (nota: outros registos indicam-no como sobrinho ou mesmo filho, o que não é factual) o monarca que reinou sobre os Nguni e que exercia um domínio feroz sobre um conjunto de tribos no que é hoje o Sul de Moçambique entre 1884 e 1895, quando foi derrubado num conjunto de acções militares portuguesas que efectivamente deram início ao colonialismo português naquele território.
Na altura, Gungunhana e três outros líderes foram presos e exilados na Ilha açoreana da Terceira. Zixaxa era um dos três. Em Moçambique, outros familiares de Gungunhana fugiram para o que é hoje a África do Sul.
Zixaxa, cujo nome realmente era Mamatibejana, ou Nuamantibiane, liderava uma pequena tribo localizada perto da então pindérica Lourenço Marques e que era tributária de Gungunhana. Foi ele quem instigou e liderou dois ataques a Lourenço Marques, em 14 de Outubro de 1894 e 7 de Janeiro de 1895. Ambos ataques foram repelidos pelos locais com dificuldade e mortes para ambos os lados.
Foi principalmente pela ameaça constituída por Zixaxa e na sequência destes ataques que Portugal, com grande custo (o país estava literalmente falido) enviou uma expedição militar para proteger a pequena cidade e “pacificar” a região.
Da Wikipédia retirei as seguintes inscrições (editado):
Roberto foi feito prisioneiro por Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque no território de Chaimite, aldeia sagrada dos nguni, no dia 28 de Dezembro de 1895 juntamente com Ngungunhane, e as esposas deste. Neste acontecimento foram feitos também prisioneiros os irmãos de Roberto, António da Silva Pratas Godide e José Frederico Molungo.
Em 6 de Janeiro de 1896, foram entregues aos cuidado do então Governador Geral de Moçambique, tendo seguidamente sido mandados a bordo do navio “África”, em que embarcaram no dia 12 de Janeiro para a Metrópole, tendo chegado a Lisboa no dia 13 de Março tendo sido de imediato alojados no Forte de Monsanto.
Foram mandados para a ilha Terceira, Açores, no dia 22 de Junho a bordo da canhoeira “Zambeze”, tendo chegado à cidade de Angra do Heroísmo às 16 horas do dia 27 de Junho, tendo de imediato sido levados para o Fortaleza de São João Baptista onde viveram até á dia da sua morte.
Zixaxa casou com Maria Augusta, filha de João de Sousa, natural da Ribeirinha, e de Francisca Vila d´Amigo, natural de Espanha, de quem teve um filho, Roberto Francisco Zixaxa.
Sobre os nguni, um jornal açoreano publicou o seguinte:
O Império de Gaza foi fundado pelo povo nguni (vátuas ou aungunes, na terminologia colonial), um dos ramos dos zulu. Vêm do sul empurrados pela guerra civil que lavra desde o início do século XIX.
Os ngunis eram excelentes guerreiros conhecedores das tácticas e técnicas de combate, grandes organizadores de exércitos.
Quando penetram em Moçambique, por volta de 1820, subjugam os povos aí instalados, escravizando-os: chopes, tsongas, vandaus, bitongas. Dominam-nos provocando rivalidades entre eles, com execuções individuais, massacres e até genocídio sistemático, em particular no caso dos chopes, a etnia acantonada no litoral só definitivamente subjugada pelos portugueses em 1893.
O chefe Sochangane (avô de Ngungunhane), depois chamado Manukuse, alarga o reino — a que dá o nome de Gaza em homenagem ao seu bisavô — e estabelece a capital em Chaimite, mais tarde tornada na aldeia sagrada dos ngunis.
Um curiosidade sobre o forte de S. João Baptista, na Ilha Terceira, onde Gungunhana e os seus familiares viveram, é o de ter sido o mesmo onde, dois séculos antes, esteve efectivamente detido, entre 1669 e 1674, o rei português D. Afonso VI, cuja vida daria um verdadeiro filme de terror em Hollywood.
Em 2005, viviam na Terceira Roberto Zixaxa (IV), Berta Zixaxa e Bianca Zixaxa, descendentes directos de Zixaxa. Que, para variar, por causa das misturas, são praticamente brancos. E açoreanos. Mas cientes do passado familiar.
Leitura adicional: Maria da Conceição Vilhena, Quatro Prisioneiros Africanos nos Açores