THE DELAGOA BAY WORLD

24/09/2023

GUNGUNHANA EM LISBOA, JANEIRO DE 1896

Imagem retocada e colorida.

Algures em Lisboa, acabados de chegar de Lourenço Marques e enfrentando um inverno europeu pela primeira vez, Zichacha, Molungo, Godide e Gungunhana posam para uma fotografia, Janeiro de 1896. Até à decisão do seu envio para os Açores, a estadia em Lisboa foi um verdadeiro acto de circo, reforçando a ideia de que o país tinha de novo um império, desta vez maioritariamente africano. Fora da imagem, as nove mulhreres que com eles foram trazidas.

22/09/2018

GUNGUNHANA, GODIDE, MOLUNGO E ZIXAXA NOS AÇORES, 1904

Imagem colorida por mim.

Postal de 1904, dos exilados Nguni nos Açores. Por estas alturas já aqui estavam há oito anos. Eram, pelos vistos, celebridades locais.

16/09/2017

ZIXAXA E GUNGUNHANA NA ILHA TERCEIRA, AÇORES, INÍCIO DO SÉC.XX

Filed under: Godide, Gungunhana - líder tribal, Molungo, Zixaxa — ABM @ 08:46

Roberto Zixaxa foi um dos apoiantes de Gungunhana (nota: outros registos indicam-no como sobrinho ou mesmo filho, o que não é factual) o monarca que reinou sobre os Nguni e que exercia um domínio feroz sobre um conjunto de tribos no que é hoje o Sul de Moçambique entre 1884 e 1895, quando foi derrubado num conjunto de acções militares portuguesas que efectivamente deram início ao colonialismo português naquele território.

Na altura, Gungunhana e três outros líderes foram presos e exilados na Ilha açoreana da Terceira. Zixaxa era um dos três. Em Moçambique, outros familiares de Gungunhana fugiram para o que é hoje a África do Sul.

Zixaxa, cujo nome realmente era Mamatibejana, ou Nuamantibiane, liderava uma pequena tribo localizada perto da então pindérica Lourenço Marques e que era tributária de Gungunhana. Foi ele quem instigou e liderou dois ataques a Lourenço Marques, em 14 de Outubro de 1894 e 7 de Janeiro de 1895. Ambos ataques foram repelidos pelos locais com dificuldade e mortes para ambos os lados.

Lourenço Marques sob ataque, Outubro de 1894. Vista junto da Avenida da República, ao fundo uma barreira sela a (agora) parte velha da pequena cidade, os residentes armados em milícias, contra os homens de Zixaxa. Note-se o canhão à esquerda atrás do homem com um casaco branco, e à direita, os homens armados e de vigia. Os dois ataques não sucederam em penetrar o perímetro da urbe, que, nervosa, aguardava a chegada de reforços, que só chegariam em meados de Janeiro de 1895.

Foi principalmente pela ameaça constituída por Zixaxa e na sequência destes ataques que Portugal, com grande custo (o país estava literalmente falido) enviou uma expedição militar para proteger a pequena cidade e “pacificar” a região.

Zixaxa na Ilha açoreana da Terceira, anos 20.

Da Wikipédia retirei as seguintes inscrições (editado):

Roberto foi feito prisioneiro por Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque no território de Chaimite, aldeia sagrada dos nguni, no dia 28 de Dezembro de 1895 juntamente com Ngungunhane, e as esposas deste. Neste acontecimento foram feitos também prisioneiros os irmãos de Roberto, António da Silva Pratas Godide e José Frederico Molungo.

Em 6 de Janeiro de 1896, foram entregues aos cuidado do então Governador Geral de Moçambique, tendo seguidamente sido mandados a bordo do navio “África”, em que embarcaram no dia 12 de Janeiro para a Metrópole, tendo chegado a Lisboa no dia 13 de Março tendo sido de imediato alojados no Forte de Monsanto.

Foram mandados para a ilha Terceira, Açores, no dia 22 de Junho a bordo da canhoeira “Zambeze”, tendo chegado à cidade de Angra do Heroísmo às 16 horas do dia 27 de Junho, tendo de imediato sido levados para o Fortaleza de São João Baptista onde viveram até á dia da sua morte.

Zixaxa casou com Maria Augusta, filha de João de Sousa, natural da Ribeirinha, e de Francisca Vila d´Amigo, natural de Espanha, de quem teve um filho, Roberto Francisco Zixaxa.

Sobre os nguni, um jornal açoreano publicou o seguinte:

O Império de Gaza foi fundado pelo povo nguni (vátuas ou aungunes, na terminologia colonial), um dos ramos dos zulu. Vêm do sul empurrados pela guerra civil que lavra desde o início do século XIX.
Os ngunis eram excelentes guerreiros conhecedores das tácticas e técnicas de combate, grandes organizadores de exércitos.
Quando penetram em Moçambique, por volta de 1820, subjugam os povos aí instalados, escravizando-os: chopes, tsongas, vandaus, bitongas. Dominam-nos provocando rivalidades entre eles, com execuções individuais, massacres e até genocídio sistemático, em particular no caso dos chopes, a etnia acantonada no litoral só definitivamente subjugada pelos portugueses em 1893.
O chefe Sochangane (avô de Ngungunhane), depois chamado Manukuse, alarga o reino — a que dá o nome de Gaza em homenagem ao seu bisavô — e estabelece a capital em Chaimite, mais tarde tornada na aldeia sagrada dos ngunis.

Gungunhana (sentado, à esquerda) e os seus familiares na Terceira, Abril de 1899. Zixaxa de pé, à direita, Godide de pé logo atrás do Pai e Molungo sentado ao lado.

Um curiosidade sobre o forte de S. João Baptista, na Ilha Terceira, onde Gungunhana e os seus familiares viveram, é o de ter sido o mesmo onde, dois séculos antes, esteve efectivamente detido, entre 1669 e 1674, o rei português D. Afonso VI, cuja vida daria um verdadeiro filme de terror em Hollywood.

Em 2005, viviam na Terceira Roberto Zixaxa (IV), Berta Zixaxa e Bianca Zixaxa, descendentes directos de Zixaxa. Que, para variar, por causa das misturas, são praticamente brancos. E açoreanos. Mas cientes do passado familiar.

 

Leitura adicional: Maria da Conceição Vilhena, Quatro Prisioneiros Africanos nos Açores

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