THE DELAGOA BAY WORLD

10/05/2024

MENINA EM LOURENÇO MARQUES, INÍCIO DO SÉC XX

Foto dos estúdios dos Irmãos Joseph e Maurice Lazarus.

12/05/2023

SALAZAR, FOTOGRAFADO EM LISBOA POR JOSEPH & MAURICE LAZARUS, 1928

Imensamente grato a Aires Henriques, pesquisador e coleccionador, que encontrou e adquiriu esta excelente peça e me facultou esta imagem – e que informou estar disposto a vendê-la pelo preço certo, pelo que se algum Exmo. Leitor conhecer alguém que ligue a estas raridades históricas, contacte o Sr. Henriques por AQUI.

Os Irmãos Lazarus tiveram um conhecido estúdio fotográfico em Lourenço Marques (e na Beira) desde o fim do Séc-XIX até 1908, quando se mudaram de armas e bagagens para Lisboa, onde manteriam um estúdio fotográfico até cerca de 1940. Ambos estão sepultados no Cemitério Hebraico da Cidade.

Cerca de 1928 fotografaram o Dr. António de Oliveira Salazar, então relativamente desconhecido, que fora indigitado por um dos governos da Ditadura Militar como ministro das Finanças de Portugal. Já escrevi em detalhe sobre este assunto AQUI.

António Oliveira Salazar, fotografado por Joseph & Maurice Lazarus, 1928.

31/03/2023

ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR, FOTOGRAFADO POR LAZARUS EM 1928

Imagens retocadas.

Pouco depois do golpe de Estado militar de Gomes da Costa que terminou o doloroso experimento da I República, e da instauração da Ditadura, ocorreu o estranho episódio das nomeações e demissões de Salazar, então um relativamente jovem professor universitário em Coimbra (39 anos de idade em 1928) , como ministro das Finanças.

Foi em 1928 que Salazar posou para tirar a imagem que se segue e que seria usada posteriormente várias vezes pelo regime que criaria.

O fotógrafo foi um dos irmãos Lazarus, os dois judeus britânicos que fizeram carreira em Lourenço Marques e que se mudariam para a capital portuguesa em 1908 (e onde ambos estão sepultados no cemitério hebraico).

As voltas que o mundo dá.

Um texto da Wikipédia caracteriza assim o Portugal dessa altura:

Desde a implantação da república em 1910 até ao golpe militar de 1926, Portugal teve oito Presidentes da República, quarenta e quatro reorganizações de gabinete e vinte e uma revoluções. O primeiro Governo da República não durou dez semanas e o mais longo durou pouco mais de um ano. Várias personalidades políticas foram assassinadas. Pela Europa fora a palavra “revolução” passou a estar associada a Portugal. O custo de vida aumentou vinte e cinco vezes, a moeda caiu para 1/33 do seu valor relativamente ao ouro. O fosso entre ricos e pobres continuou sempre a aumentar. A Igreja Católica foi implacavelmente perseguida pelos maçons anticlericais. Os atentados terroristas e o assassinato político generalizaram-se. Entre 1920 e 1925, de acordo com dados oficiais da polícia nas ruas de Lisboa explodiram 325 bombas.

Com o país continuamente à beira de uma guerra civil, em 1926 dá-se um levantamento militar, sem derramamento de sangue e com a adesão de inúmeros sectores da sociedade portuguesa, desejosos de acabar com o clima de terror e violência que se tinha instalado no país.

Em Junho de 1926 os militares convidam Salazar para a pasta das finanças; mas passados treze dias Salazar renuncia ao cargo e retorna a Coimbra por não lhe haverem satisfeitas as condições que achava indispensáveis ao seu exercício.

Em 27 de abril de 1928, após a eleição do general Óscar Carmona e na sequência do fracasso do seu antecessor em conseguir um avultado empréstimo externo com vista ao equilíbrio das contas públicas, Salazar reassumiu a pasta das finanças, mas exigiu o controlo sobre as despesas e receitas de todos os ministérios. Satisfeita a exigência, impôs forte austeridade e um rigoroso controlo de contas, com aumentos enormes de impostos e criação de novos, adiamento de obras de fomento e congelamento de salários, conseguindo um superavit, um “milagre” nas finanças públicas logo no exercício económico de 1928–29. “Sei muito bem o que quero e para onde vou.” — afirmará, denunciando o seu propósito na tomada de posse.

Na imprensa, que era controlada pela censura, Salazar seria muitas vezes retratado como o “salvador da pátria”. Mas também alguma imprensa internacional, que não era controlada pela censura, apontava méritos a Salazar; em Março de 1935 a revista norte-americana Time afirmou que “é impossível negar que o desenvolvimento económico record registado em Portugal não só não tem paralelo em qualquer outra parte do mundo como também é um feito para o qual a história não tem muitos precedentes”.

O prestígio ganho, a propaganda, a habilidade política na manipulação das correntes da direita republicana, de alguns sectores monárquicos e dos católicos consolidavam o seu poder. A Ditadura dificilmente o podia dispensar e o presidente da república consultava-o em cada remodelação ministerial. Enquanto a oposição democrática se desvanecia em sucessivas revoltas sem êxito, procurava-se dar um rumo à Revolução Nacional imposta pela ditadura. Salazar, que havia sido agraciado com a grã-cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada a 15 de abril de 1929, recusando o regresso ao parlamentarismo e à democracia da Primeira República, cria a União Nacional em 1930, visando o estabelecimento de um regime de partido único.

Em junho de 1929 Salazar volta a demitir-se. Mário de Figueiredo, Ministro da Justiça e dos Cultos, amigo de Salazar, publica a célebre Portaria n.º 6259 que permite manifestações públicas do culto católico, com procissões e toques de sinos (a realização de procissões religiosas e o toque de sinos nas igrejas tinham sido proibidos pela república). O ministro da guerra Júlio Morais Sarmento comanda protestos anticlericais e a portaria é anulada em Conselho de Ministros. Figueiredo comunica a Salazar a sua intenção de se demitir e Salazar diz-lhe que embora não concorde com ele, caso Figueiredo se demita, então ele, Salazar, solidariamente, também apresentará a sua demissão. Figueiredo demite-se e no dia 3 de julho Salazar entrega o seu pedido de Exoneração. No dia seguinte Carmona visita Salazar, que se encontrava hospitalizado, e tenta demovê-lo da sua Intenção de se demitir. O episódio termina com um novo governo, presidido por Ivens Ferraz, com Salazar a continuar na pasta das finanças.

António de Oliveira Salazar, fotografado por Lazarus, 1928.
Capa da SI, de 20 de Abril de 1938, uma revista da propaganda do Estado Novo, assinalando o 10º aniversário da entrada de Salazar no governo. A imagem captada por Lazarus em 1928 é a de cima à esquerda.
Texto académico alusivo ao uso da imagem pelo regime sucedâneo da I República, mencionando o uso de, entre outras, a imagem de Salazar captada por Lazarus.

19/08/2022

RECIBO DA PHOTOGRAPHIA INGLEZA, DE JOSEPH E MAURICE LAZARUS, EM LISBOA, 1929

Imagem retocada.

Os irmãos Joseph e Maurice Lazarus tiveram uma loja de fotografia na Rua Araújo e depois no Avenida Building em Lourenço Marques entre os anos 1890 e cerca de 1908, altura em que se mudaram para o centro de Lisboa, onde a loja operou até ao início da II Guerra Mundial. Um dos irmãos está sepultado em Lisboa. O seu espólio de imagens de Moçambique e em especial de Lourenço Marques é um testemunho essencial para uma melhor compreensão dessa era.

Recibo do pagamento de um trabalho feito pela Loja Ingleza para o cônsul norte-americano em Lisboa, 26 de Outubro de 1929.

04/12/2018

“MOZAMBIQUE AND ME” POR ANNE JOSEPH

Cópia de um artigo, em língua inglesa, publicado em 3 de Fevereiro de 2017 na Jewish Chronicle, da autoria de Anne Joseph, relacionada com a sua descoberta do facto de que o seu Avô Paterno era Joseph Lazarus, o fotógrafo de origem britânica que trabalhou durante cerca de dez anos em Lourenço Marques (1899-1908), tendo depois transferido o negócio com o irmão Maurice para Lisboa, que durou até aos anos 40. Os irmãos Lazarus, que integraram a pequena comunidade judaica da Cidade, deixaram um registo fotográfico precioso de Lourenço Marques durante a altura em que lá trabalharam.

Eu pintei o título.

Below is a copy of an article published in the 3 February, 2017 edition of the Jewish Chronicle, written by Anne Joseph, about her discovery that her Paternal Grandfather was Joseph Lazarus, the british-born photographer who worked for about ten years (1899-1908) in Lourenço Marques, thereafter transferring the business to Lisbon, where they worked until the 1940’s. The Lazarus Brothers, who were a part of the small Jewish community residing in Lourenço Marques, left a precious photographic record of Lourenço Marques for the period when they were there.

 

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Um dos postais dos Irmãos Joseph e Maurice Lazarus do início do Século XX, retocado e pintado por mim, mostrando a zona da Baixa de Lourenço Marques onde – mais ou menos, ficam hoje o Scala e a Estação Central dos Correios.

03/03/2018

JOSEPH LAZARUS, FOTÓGRAFO DE MOÇAMBIQUE, IN MEMORIAM

 

Joseph Lazarus, aqui em Lisboa, cerca de 1930, com uma condecoração do governo português. Retratou Lourenço Marques entre 1899-1908.

Durante vários anos, quando comecei a observar e coleccionar imagens de Moçambique e de Lourenço Marques, desde cedo identifiquei um conjunto de imagens referenciadas como sendo do que eu pensava ser um tal J&M Lazarus – que não fazia ideia quem era. Eventualmente, apercebi-me que eram duas pessoas. E que eram irmãos. E que eram judeus. E que eram de ascendência britânica. E que tiveram um estúdio em Lourenço Marques (primeiro na Rua Araújo 39, em frente e a seguir ao Varietá e depois no Avenida Buildings) e, brevemente, na Beira. Que antes de chegarem a Lourenço Marques, fizeram qualquer coisa em Barberton.

O Chefe Makwira e as suas mulheres, no Protectorado da Niassalândia, actualmente o Malawi. Fotografado pelos Lazarus.

E ainda que, a seguir, cerca de 1908, se mudaram de armas e bagagens para Lisboa e abriram um estúdio em Lisboa, numa das melhores ruas do Chiado (Rua Ivens, 59), onde ainda trabalharam durante uns anos, penso que até meados dos anos 40.

Uma imagem colhida pelos Lazarus na linha férrea que ligava Lourenço Marques à Suazilândia. Segundo o magnífico site HoM, que cita Pereira de Lima, isto é na Matola e é uma cerimónia com o Duque de Connaught (o sétimo filho da rainha Victória, que estava em LM de passagem) de arranque da obra, em 1906. Podem-se ver a bandeira do Reino Unido e a então bandeira branca e azul de Portugal.

António Sena, que escreveu sobre os Lazarus, detalha as circunstâncias da vinda dos irmãos para a capital portuguesa:

O Governador Geral Conselheiro Freire de Andrade, encarrega os Lazarus das reportagens oficiais da visita do Príncipe Real D Luiz Filipe a Moçambique em Julho-Agosto de 1907, de que virão a publicar imagens em periódicos como o Brasil-Portugal. Bem sucedidos os Lazarus aproveitam contactos para abrir em Lisboa a Photographia Ingleza, em 1909.

Arco precário instalado na Baixa de Lourenço Marques no início da Avenida Aguiar (depois Av D.Luiz, hoje Avenida Marechal Samora) para dar as boas-vindas ao Príncipe Luiz Filipe, filho primogénito dos então reis de Portugal, Carlos e Amélia. Os Lazarus cobriram o evento e conheceram o Príncipe. A ligação real manter-se-á por alguns anos, mesmo durante a I República, a Ditadura e o chamado Estado Novo.

 

Publicidade do estabelecimento dos Lazarus em Lisboa.

 

O Rei D. Manuel II posou para os Lazarus.

 

Os Condes de Vila Real, fotografados pelos Lazarus, cerca de 1920, arquivos da Casa de Mateus.

Pedro Bordalo Pinheiro, aqui retratado pelos Lazarus. Sobrinho do inigualável Rafael Bordalo Pinheiro, foi jornalista, administrador do Diário de Lisboa, co-fundador da revista Atlântida e era um dos intelectuais e artistas de referência da sua geração. Faleceu a 6 de Fevereiro de 1942.

 

Outro anuncio do estabelecimento dos Lazarus em Lisboa, este na Revista Colonial.

E depois…..nada.

Foi como se tivessem desaparecido da face da terra,

Um dia, há uns anos, recebi uma inesperada e surpreendente mensagem de correio electrónico. Vinha de uma senhora chamada Anne Joseph. Tinha lido um breve texto sobre as minhas deambulações quanto aos irmãos Lazarus e afirmava que Joseph era seu avô, mas que quase nada sabia sobre ele pois nunca o tinha conhecido.

A imagem em cima, que retrata Joseph Lazarus com uma condecoração presidencial portuguesa, é de Anne, que contou o fascinante final do percurso de Joseph e Maurice Lazarus.

Subsequentemente, troquei duas ou três (ou quatro) mensagens com Anne. Nas suas pesquisas, sei que foi a Portugal e depois a Moçambique, traçando os passos do seu enigmático avô. Anne, que é judia e que escreve sobre o que se chama Judaica em publicações electrónicas sobre o assunto, já escreveu pelo menos dois artigos relacionados com esta pesquisa, uma sobre o seu avô e outro sobre a ténue presença judaica em Lourenço Marques, reportando o pouco que se sabe sobre o assunto e imaginando Joseph e Maurice integrados nessa pequeníssima comunidade.

Joseph e Maurice operaram de facto a Photographia Ingleza de J&M Lazarus – em Lisboa, até aos anos 40. Maurice morreu antes da II Guerra Mundial e estará sepultado no pequeno cemitério judaico na capital portuguesa. Joseph penso que conseguiu dar o salto para o Reino Unido, onde tinha familiares, já depois do início da II Guerra Mundial e terá morrido depois.

Devido a circunstâncias que desconheço, Joseph teve um filho em Lisboa, que enviou para casa de (creio) uma irmã no Reino Unido, e que ali cresceu, convivendo muito pouco com Joseph, que visitava infrequentemente.

Esse filho de Joseph é o Pai de Anne. Que, excepto a fotografia e a condecoração no peito, sabia pouco ou nada sobre Joseph.

Anne, neta de Joseph, em Lisboa no Museu da Presidência, Julho de 2015, debruçada sobre a imagem do Presidente Óscar Carmona. Aparece na página do Museu da Presidência no Facebook.

Joseph Lazarus fotografou Lourenço Marques e Moçambique numa fase seminal de mudança de uma sociedade agrária e rural africana para os primórdios da modernidade, no contexto de um ténue e crescente surgimento da presença da autoridade e soberania colonial e de um punhado de cidadãos vindos um pouco de toda a parte, principalmente portugueses, criando as primeiras cidades moçambicanas (com a excepção da Ilha de Moçambique, a primeira cidade moçambicana). Fê-lo a partir da nascente capital de Moçambique, sob uma óptica citadina. Daqui a 500 anos, quando se quiser fazer o historial de Lourenço Marques, as imagens captadas pelos irmãos Lazarus permanecerão registos incontornáveis dessa narrativa.

Numa recente obra, o pesquisador Paulo Azevedo, um Coca-Cola que se especializa no estudo da fotografia feita em Moçambique, fez uma abordagem fascinante de, entre outros, os irmãos Lazarus. É uma obra que recomendo vivamente aos interessados nesta matéria. Mais: Azevedo está a trabalhar num novo livro com mais informações e revelações muito interessantes, relacionadas com a fotografia feita em Moçambique nos seus primórdios, que representará decerto um significativo avanço no sentido de um melhor entendimento dos contextos da fotografia naquela antiga colónia portuguesa.

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