THE DELAGOA BAY WORLD

01/04/2023

BARRACÃO DA WITWATERSRAND NATIVE LABOR ASSOCIATION (WENELA) EM PAFÚRI, GAZA, ANOS 40

Imagem dos arquivos nacionais portugueses, retocada e colorida.

A prática de recrutamento de centenas de milhares de moçambicanos para trabalhar em condições de exploração, nalguns casos de quase escravatura (que fora abolida no Cabo em 1834), nas minas naquilo que é hoje a África do Sul, remonta à década de 1860 nas minas de diamantes, quando ocorreu a consolidação da exploração sob os sindicatos controlados por Barnato, Cecil Rhodes e outros em Kimberley. Expandiu-se massivamente quando foi descoberto o maior filão de ouro do mundo no Witwatersrand em 1886. Para melhorar a posição negocial dos recrutadores, regular o mercado e melhorar a eficácia, os donos das minas criaram o departamento de Trabalho em 1893, seguido pelo Rand Native Labour Association e eventualmente (em 1900) fundaram a Witwatersrand Native Labor Association, ou Wenela, que operava em toda a África Austral e até partes da África Central – África do Sul, Basutolândia, Suazilândia, Sudoeste Africano, Bechuanalândia, Rodésia do Norte, Rodésia do Sul, Niassalândia, Angola, Moçambique, Congo Belga e Tanganica.

Nestes territórios, a WNLA estabelecia acordos com os governos coloniais e estabelecia os termos, as quotas, os escritórios e bases operacionais a partir das quais recrutava os mineiros nas zonas rurais previamente definidas, como a que se pode ver na imagem em baixo.

No caso de Moçambique, era conhecido o acordo em que os sul-africanos pagavam os salários dos mineiros em ouro a um preço pré-estabelecido, que os portugueses recebiam, pagando uma parte desses salários em escudos de Moçambique, mandando o ouro para Portugal. Consta que a maior parte das reservas de ouro portuguesas actuais tiveram essa origem, no entanto nunca li nenhuma informação a comprová-lo pois os portugueses, que em tempos tiveram problemas com o ouro supostamente recebido pelos nazis pelo pagamento do volfrâmio, nem querem ouvir falar do assunto.

Culturalmente, é referido que os sul-africanos preferiam os moçambicanos porque alegadamente não chateavam, “não se importavam” de trabalhar em locais subterrâneos e até havia todo um folclore tribal afro-machismo em que trabalhar na mina era um atributo de verdadeiros homens, que voltavam para a terra com dinheiro na mão. Penso que a verdade é um bocado mais tenebrosa que o folclore. Mas é inegável o impacto desta experiência especialmente no Sul de Moçambique, quer em termos dos costumes, quer da penetração da língua inglesa, da música e das relações sociais.

Ao longo das décadas, a presença maciça dos magaíças (nome dos mineiros na gíria moçambicana) nas minas da África do Sul, foi uma importante arma negocial das autoridades coloniais nas relações económicas com o colosso vizinho, nomeadamente na obtenção de tratamento diferenciado no uso dos caminhos de ferro e do porto de Lourenço Marques.

Barracão da Wenela em Pafúri, Gaza, onde eram processados os mineiros que iam e que regressavam das minas do Witwatersrand. Apesar do folclore, a história destes homens é um horror de exploração, de doença e de morte. Ainda hoje, a Wenela opera em Moçambique, pagando reformas baixas aos pensionistas.

Fontes:

https://www.sahistory.org.za/article/history-migrant-labour-south-africa

https://en.wikipedia.org/wiki/Witwatersrand_Native_Labour_Association

The Night Trains, escrito por Charles van Onselen.

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