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01/02/2017

A SEDE DA SOCIEDADE DE ESTUDOS DE MOÇAMBIQUE EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 60

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No que concerne a Sociedade de Estudos de Moçambique, e citando o Livro de Ouro de Moçambique, 1970, com o texto editado por mim:

“A Sociedade de Estudos de Moçambique foi instituída em 6 de Setembro de 1930, data em que foram aprovados os seus Estatutos, publicados pela Portaria n.° 1185, daquela data. Resultou de um movimento inspirado pelo Engenheiro de Minas, António Joaquim de Freitas, que veio a ser o seu Sócio Fundador n.° 1. No convite que dirigiu aos intelectuais de Moçambique, a propor a fundação da Sociedade, mencionava António Joaquim de Freitas, ser um dos objectivos ‘estabelecer um convívio intelectual necessário às pessoas que vivem pelo cérebro’.

Os Estatutos aprovados definiram como objectivos da Sociedade de Estudos, contribuir para o estudo e valorização económica de Moçambique; e contribuir para o desenvolvimento intelectual, moral e físico dos seus habitantes em geral, e, em especial, dos seus associados.”

A António Joaquim de Freitas juntaram-se 101 Sócios Fundadores. E depois, desde 1930, muitos outros, que com esforço, dedicação e inteligência pretenderam realizar com persistência os objectivos da Sociedade.

Foi o primeiro Presidente da Direcção da Sociedade de Estudos o Coronel Eduardo Augusto da Azambuja Martins. Sucederam-lhe o Eng.° Joaquim Jardim Granger (1932-34); o Coronel João José Soares Zilhão (1935 e 1940-41); o Eng.° Mário José Ferreira Mendes (1936-38 e 1946-49); o Comte. José Cardoso (1939); o Eng.° António Joaquim Freitas (1942-45); o Dr. António Esquivei (1950-60); o Contra-Almirante João Moreira Rato (1961-62); o Prof. Eng.° Manuel Gomes Guerreiro (1963). O Presidente em 1970 era o Eng.° João Fernandes Delgado.

 

A sede da Sociedade de Estudos em Lourenço Marques, anos 60.

A sede da Sociedade de Estudos em Lourenço Marques, final dos anos 60. O edifício fica situado na Somershield em Lourenço Marques (agora Maputo). Na fachada, o belo painel do artista Garizo do Carmo.

Os Estatutos aprovados em 1930 previam a edificação de ‘uma sede suficientemente ampla, cujos meios de trabalho e conforto irá sucessivamente aumentando, por forma a tornar a sua frequência cada vez mais agradável’. Depois de grandes esforços, foi finalmente decidia a construção do novo Edifício-Sede em 1962. Os encargos foram suportados por subsídios, concedidos pelo Governador-Geral de Moçambique, Contra-Almirante Sarmento Rodrigues, pela Fundação Calouste Gulbenkian, por reservas criadas, por quotização suplementar por parte dos sócios, e por um empréstimo a amortizar anualmente.

O edifício, segundo projecto do Arquitecto Marcos Guedes e o Eng.° Carlos Pó, foi executado em 1963, sob a orientação da Direcção presidida pelo Prof. Eng.° Manuel Gomes Guerreiro, tendo sido inaugurado oficialmente em 21 de Abril de 1964, pelo Governador-Geral de Moçambique, Contra-Almirante Sarmento Rodrigues. Registam-se também as ofertas recebidas de diversas entidades para o apetrechamento do novo Edifício-Sede.

Dentro da acção desenvolvida desde 1930, a Sociedade promoveu a realização de estudos, cursos, lições, conferências, congressos, exposições e sessões de cinema. Entre 1931 e 1974 publicou o ‘Boletim da Sociedade de Estudos de Moçambique’, com periodicidade trimestral. Editou também outras publicações, entre as quais se destaca ‘A Cartografia Antiga da África Central e a Travessia entre Angola e Moçambique, 1500-1860’ da autoria do Comandante Avelino Teixeira da Mota. As publicações da Sociedade de Estudos eram permutadas com as de numerosas instituições nacionais e estrangeiras em todo o Mundo. Foi assim organizada progressivamente uma Biblioteca de carácter enciclopédico, que em 1970 contava com cerca de 25 000 volumes e ainda uma biblioteca juvenil, com perto de 1500 volumes.

Resumindo e concluindo, parece-me que a Sociedade de Estudos de Moçambique pretendeu ser, de uma forma se calhar aligeirada e um pouco ao estilo da Sociedade de Geografia de Lisboa do Séc. XX, uma espécie de “think-tank” de uma certa elite intelectual principalmente da sociedade colonial de Lourenço Marques, se bem que, comparado com a veneranda organização de Lisboa, era muito mais aberta à participação das pessoas e da comunidade onde se inseria. No contexto da ditadura então vigente, que não favorecia exactamente o livre discurso, penso que nunca de venturou pelo campo da análise política, tendo no entanto feito muito trabalho académico de enorme interesse, uma vez que por ali passou gente de enorme calibre. Sendo uma organização essencialmente de portugueses e brancos ( os únicos pretos lá dentro deviam ser o jardineiro e a senhora do café) e com a saída em massa destes de Moçambique a partir de Setembro de 1974, e na face das prioridades “revolucionárias centralizadas” impostas pela nova ditadura comunista da Frelimo, para quem tudo o que era colonial era para destruir, e quanto mais depressa melhor, a Sociedade de Estudos não teve qualquer continuidade. Atrás, ficaram espalhados pelas bibliotecas do Mundo os seus Boletins, que constituem uma rica fonte de informação histórica sobre uma variedade de tópicos alusivos a Moçambique e ainda o edifício, com os seus memoráveis painéis de vidro, da autoria de Garizo do Carmo, hoje com um uso qualquer, vizinho da casa onde ainda mora nada menos que Marcelino dos Santos.

Bibliografia adicional: Albino Machava. «Notícia sobre a Sociedade de Estudos de Moçambique, 1930-1974», “Arquivo” (Boletim do Arquivo Histórico de Moçambique) Nº7,  Abril 1990, pp.83-98.

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