THE DELAGOA BAY WORLD

26/05/2019

OS REBELO DE SOUSA NO PALÁCIO DA PONTA VERMELHA EM LOURENÇO MARQUES, 1969

Imagem retocada.

A fugaz passagem de Baltasar Rebelo de Sousa por Moçambique – onde esteve no topo da administração colonial de cerca de dois anos, entre meados de 1968 e o primeiro semestre de 1970 – impressionou muito menos pela substância que pelo estilo, que, retrospectivamente, era a substância e que constrastava quase completamente com o cinzentismo reiterado dos seus antecessores e sucedâneos no cargo de Governador-Geral da sedutora mas perpetuamente problemática colónia africana, para o qual eram nomeados por despacho de Lisboa.

No seu caso, nomeado, ainda, pelo Dr. Oliveira Salazar, que também, antes da queda da cadeira no pequeno forte onde veraneava em São João do Estoril (agora um visitável museu) e do AVC, decidira ainda mandar construir a faraónica Cabora-Bassa a reter as águas do Zambeze, lá nos confins de Tete e a produzir electricidade basicamente de borla para os boers.

Marcelo Caetano, o sucessor de Salazar e uma espécie de compagnon de route de Baltasar dos seus tempos da Mocidade Portuguesa e dos corredores da União Nacional, o partido único da altura (sucedido efectivamente pelo actual partido único composto pelo duopólio PS e PSD), assim que pôde puxou-o para o pé de si na capital do já atribulado Império Português, do qual ostensivamente desistiria voluntariamente em Fevereiro de 1974, quando Spínola insitiu em publicar Portugal e o Futuro, dois meses antes do golpe militar organizado pelo Lourenço-marquino major Otelo de Carvalho.

Adicionalmente a uma queda, genial e até então largamente desconhecida do público cativo da ditadura, para o protocolo e as relações públicas, que se primava pela informalidade, pela proximidade, e pela simpatia por praticamente tudo e todos, e todas, com talvez a excepção dos terroristas da Frelimo (e mesmo aí, presume-se, estritamente por razões conveniência de serviço), Baltasar, que desempenhou os seus dois anos com irrepreensível competência – no resto aparentava ser um produto ideologicamente acabado do regime criado por Salazar- trazia consigo na bagagem para Lourenço Marques uma arma formidável e inédita, que se revelaria crítica para a posterior percepção da sua passagem: uma família motivada e detalhadamente preparada para o papel, previamente inexplorado ao ponto da quase inexistência, de primeira família do Moçambique colonial, com todos os seus tiques e apartheids sociais, económicos, culturais, religiosos e especialmente raciais.

Se só por um breve momento, os portugueses, e moçambicanos, de todas as cores, ficaram rendidos e distraídos.

Baltasar foi, por exemplo, o único governador na História de Moçambique que, pessoalmente, tratou os pretos e os monhés de Moçambique como gente, com respeito, descomplexadamente, quase como concidadãos.

 

Numa das salas do Palácio da Ponta Vermelha em Lourenço Marques, 1969. Os três filhos de Baltasar e de Maria das Neves entretêm os convidados. Ver a mesma imagem indexada, em baixo.

A forma como Baltasar encarou a sua missão, naquele ano de 1968, e a sua interpretação do papel de Portugal no futuro da colónia, descrita no seu discurso feito no salão de festas do Liceu Salazar em Abril de 1969 durante a visita do seu amigo Marcelo (caetano), foi, se só por isso, uma vertigem de contraste com a realidade de então, senão, afinal, uma cruel ilusão, em última instância uma ironia quase quixotesca, que a Frelimo e os seus acólitos depressa corrigiriam marcialmente e com rigor marxista, impondo, assim que os capitães portugueses rebeldes lhes entregaram apressada e solicitamente o poder e o resto no dia 20 de Setembro de 1974, um longo e miserável Gulag,  pondo um fim à bem intencionada visão da criação, em Moçambique, de uma sociedade multiracial, multicultural, religiosamente diversa, democrática e com níveis elevados de crescimento económico e social.

Pois não haveria, não poderia haver qualquer piedade para com os colonos brancos malvados, especialmente esses – e essas – que os haviam oprimido durante quinhentos anos seguidos (foram oitenta mas não interessa). Nem com os seus filhos.

E não houve. E assim, com possivelmente a excepção da família do Mia Couto, que apesar de branca e de origem portuguesa como eu (vindos da rival Beira, ainda por cima) se professou laudatória e convictamente como “moçambicana de gema” (traduzindo: mais moçambicana que eu, apenas porque na altura achou por bem submeter-se ao terror do Gulag frelimiano, assegurando assim o novo, precioso BI do novo regime) a esmagadora maioria dos brancos restantes no território, preferiu celeremente fugir ou sair para o mundo, uma decisão que, retrospectivamente, foi tão sábia para si como trágica, para o futuro do, actualmente, sétimo país mais miserável do mundo e um dos mais corruptos, em que um recente presidente demonstradamente orquestrou um roubo descarado de dois mil milhões de dólares e ainda se passeia pela capital, livremente discursando o seu patriotismo e apego ao maravilhoso povo.

A família de Baltasar incluía a sua mulher Maria das Neves e três jovens filhos (estão na fotografia), minuciosamente educados para uma irrepreensível conduta pública. E neste núcleo, distinguiria dois factores críticos de sucesso: a enorme cumplicidade entre o casal, e a discreta e inteligente genialidade de Maria das Neves, que, nalguns aspectos, apesar de algum esforço de manter aquela discrição feminina submissa ainda muito apreciada na sociedade portuguesa, era ainda assim tida como tão ofuscante que Baltasar era, por comparação, injusta e maliciosamente, desconsiderado pelas má-línguas de Lourenço Marques não como o Governador-Geral, mas o marido de Maria das Neves. Alguns chamavam-lhe o Baltazero, o que até era simpático se comparado com a alcunha que desmerecidamente se dava, por exemplo, a Pimentel dos Santos, outro competentíssimo tecnocrata, e que nao repetirei aqui. A chacota de quase todos os governamentes nomeados por Lisboa para irem mandar em Moçambique era uma tradição longa e nobre na capital moçambicana e Rebelo de Sousa não seria excepção.

Maria das Neves, bonita, elegante e informal, culta, ciente da sua missão e que era o que os sul-africanos do apartheid chamavam um class act, não se cingia aos tradicionais chás das 5 no palácio com as madames da elite branca da Cidade e a ocasional inauguração de mais uma traineira ou mais uma créche, que era mais ou menos o que todas fizeram antes e depois dela. Com o apoio de Baltasar, interessava-se pela arte e pelas outras culturas de Moçambique e puxou pelo seu reconhecimento e valorização, indo ao mato encontrar-se com as pessoas e trazendo-as ao Palácio da Ponta Vermelha, a sumptuosa residência dos Governadores-Gerais desde que António Ennes chegara a Lourenço Marques no início de 1895 para salvar a pequena cidade das investidas das tribos locais e ali ficara a residir numas casas que tinham sido da Concessão do Coronel McMurdo que ali havia (da linha férrea entre Lourenço Marques e Pretória, que seria inaugurada seis meses mais tarde).

Maria das Neves no Residência do Governador-Geral em Lourenço Marques, cerca de 1969.

O mandato de Baltasar seria dos mais curtos de todos os governadores-gerais desde 1926. Em seguida iria ser ministro de Caetano em Lisboa e seria sucedido no cargo por Arantes de Oliveira, um apagadíssimo mas inteligentíssimo tecnocrata, que se focaria em concluir a megalómana Barragem de Cabora Bassa, enquanto o General Kaúlza de Arriaga fazia a guerra à moda do Vietname, numa escalada que fora acompanhada pelos financiadores da Frelimo, que, na sequência do assassinato do Dr. Mondlane em Fevereiro de 1969,  já se haviam radicalizado e cheiravam sangue no ar, especialmente depois de o Papa, Paulo I, sem qualquer aviso, ter recebido no Vaticano os representantes das guerrilhas africanas, incluindo o perpetuamente incontornável e agora celebrado nonagenário, Marcelino dos Santos.

Naquela altura, Caetano já ia empurrando o desfecho final com a barriga, sendo a obstinação de Salazar com as colónias seguida pela rigidez negocial de Américo Tomás, impedindo, no final a sua visão da criação de uma espécie de commonwealth, certamente seguida de independências formais. Mas já era tarde demais para uma descolonização à britânica.

No final de 1973, à guiza de uma questão algo esdrúxula de estatuto, carreira e remuneração, os oficiais júniores do exército conspiraram e, quase surpresos, descobriram apoios fortes a quase todos os níveis e pelo menos a complacência de Caetano. À segunda vez, sucederam, ao som do Grândola Vila Morena e com um breve sopro, derrubar a ditadura.

Nesse dia, resignado, Baltasar, ministro, esperou pacientemente pelo desfecho da intentona no seu gabinete e à tarde  entregou as chaves do seu carro de serviço e foi para sua casa na Rua de São Bernardo, de onde mais tarde seguiu, com Maria das Neves, para um exílio inesperado no Brasil.

Baltasar Rebelo de Sousa e a sua mulher nunca foram esquecidos em Moçambique, mesmo durante o pior do ressábio anti-português da Frelimo. Ficou no ar o mito daquela espécie de primavera, a simpatia empenhada do casal e aquela vertigem do que poderia ter sido mas que nunca seria.

É em parte por causa disto tudo que, quem viveu essa era e agora analisa o desempenho do seu filho mais velho, que desde novo apostou na democratização do regime (pelo PSD, o lado direito da actual União Nacional) e sucedeu recentemente em ser eleito presidente da república portuguesa, tem a mais estranha sensação de dejá vu.

A sensação de que, salvaguardadas as abissais diferenças nos meios de comunicação e natureza dos regimes, se está perante uma espécie de Governador-Geral de Portugal, com a singular diferença de que Portugal, pese a propaganda e o engodo histórico e ideológico agora em voga, não teve nem tem o passado ou sequer a vocação multicultural multiracial e multi-religiosa que uma vez existiu na sua antiga colónia da África Oriental.

La em cima, presume-se, Baltasar e Maria das Neves estarão a sorrir.

A mesma imagem, indexada. 1- (?); 2- (?); 3- (?); 4- (?); 5- António Rebelo de Sousa; 6 – Marcelo Rebelo de Sousa; 7 – (?); 8 – (?); 8- (?); 9- Malangatana Valente; 10 – Pedro Rebelo de Sousa; 11- (?); 12- (?); 12- (?). Se o Exmo. Leitor conhecer alguma das pessoas não identificadas, por favor escreva para aqui uma nota com a informação que tiver.

 

17/08/2018

ASSINATURA DO CONTRATO PARA A CONSTRUÇÃO DE CABORA-BASSA, 1969

Capa de um conjunto de fotografias ilustrando a cerimónia da assinatura do contrato para a construção da barragem e central hidroeléctrica de Cabora Bassa (que agora os locais escrevem com “h”), 19 de Setembro de 1969. Na altura o Presidente do Conselho português era Marcelo Caetano, o Governador-Geral Baltasar Rebelo de Sousa, Eduardo Mondlane havia sido assassinado há sete meses e Samora, Marcelino e o Brigadeiro General Kaúlza de Arriaga prepararavam-se para tomar a Frelimo de assalto. E dois meses e meio antes dois norte-americanos pisavam a Lua.

Está à venda no sítio Bestleilões. Baratinho, ainda.

A capa.

24/05/2016

MARCELINO DOS SANTOS, ANOS 80

Filed under: Marcelino dos Santos — ABM @ 18:41

Foto de Marion Kaplan.

 

Marcelino dos Santos.

Marcelino dos Santos, aqui nos anos 80.

 

Segundo a Wikipédia:

Marcelino dos Santos (Lumbo, 20 de Maio de 1929) é um político e um poeta moçambicano. Foi membro fundador da Frente de Libertação de Moçambique, onde chegou a vice-presidente. Depois da Independência de Moçambique, Marcelino dos Santos foi o primeiro Ministro da Planificação e Desenvolvimento, cargo que deixou em 1977 com a constituição do primeiro parlamento do país (nessa altura designado de “Assembleia Popular”), do qual foi presidente até à realização das primeiras eleições multipartidárias, em 1994.

Com os pseudónimos Kalungano e Lilinho Micaia, tem poemas seus publicados no Brado Africano e em duas antologias publicadas pela Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa. Com o seu nome oficial, tem um único livro publicado pela Associação dos Escritores Moçambicanos, em 1987, intitulado “Canto do Amor Natural”.

Segundo a Encyclopedia of World Biography, em língua inglesa:

Marcelino dos Santos was born in 1929, son of Firmindo dos Santos and Teresa Sabina dos Santos, and was raised in Lourenco Marques. When he left Mozambique in 1947 to continue his education at the Industrial Institute in Lisbon, Portugal, he already showed himself ready to carry a torch held by his father’s generation. Firmindo dos Santos, a member of the African Association of Mozambique, had urged revitalization and unity among Mozambicans in their pursuit of justice and social equality. In a 1949 letter to the association from Lisbon, Marcelino similarly urged members to put aside individual considerations and stand united. At the House for Students of the Empire in Lisbon, where colonial youths studying in Lisbon gathered in the late 1940s, dos Santos and others increasingly articulated their Africanist and nationalist sentiments through poetry and prose. Here dos Santos discreetly shared his ideals and aspirations with Amilcar Cabral, Agostinho Neto, and Eduardo Mondlane—men destined to become nationalist leaders in Guinea Bissau, Angola, and Mozambique, respectively. By 1950, however, the political atmosphere in Lisbon was tense. Neto was arrested, Mondlane moved to study in the United States, and dos Santos and others relocated in Paris.
In Paris dos Santos lived among leftist African writers and artists affiliated with the literary journal Presence Africaine. He published poetry under several pen names— Kalungano in Portuguese language publications and Lilinho Micaia in the collection of his poetry published in the Soviet Union. In the 1950s his skill as a nationalist strategist and mediator sharpened as he urged Portuguese political exiles in Paris to broaden their opposition to the Salazar regime in Portugal and embrace the nationalist cause. The Anti-colonial Movement (MAC), formed in Paris in 1957, was in part a result of dos Santos’ work among this exile community. At the All-African Peoples Congress at Tunis in 1960 a broader alliance emerged incorporating the nationalist movements of Angola and Portuguese Guinea.

By 1961 nationalist groups proliferated, and all were galvanized by the outbreak of violence in Angola. Dos Santos had joined the Paris branch of the National Democratic Union of Mozambique (UDENAMO), the first nationalist party formed largely among Mozambicans living in exile, but he continued to actively pursue solidarity at the international level. At a meeting in Casablanca in April 1961 the Conference of Nationalist Organizations of the Portuguese Colonies (CONCOP) was formed. Dos Santos was elected permanent secretary charged with coordinating nationalist activity in an effort to force an immediate end to colonial rule. From CONCOP’s headquarters in Rabat dos Santos assumed his role of explaining the nationalist struggle to an international audience.
In 1962 Eduardo Mondlane assembled representatives of Mozambican nationalist groups in Dar es Salaam, Tanzania, to attempt to forge a united front to undertake the struggle for independence, and dos Santos lent his support. The result was the foundation of the Front for the Liberation of Mozambique (Frelimo). Frelimo, the party which undertook and waged the war for independence from Portugal, held its first congress in Tanzania in September 1962. While continuing with CONCOP dos Santos increasingly turned his organizational and expository skills to sculpting Frelimo’s political and military goals. By 1964, with the outbreak of the hostilities in northern Mozambique, dos Santos, as Frelimo’s secretary for external affairs, became one of the movement’s principal spokesmen. His powerful presentations before the Organization for African Unity, the Afro-Asian Solidarity Conference, and the United Nations helped win international recognition of the legitimacy of Frelimo’s petitions for political, military, and financial support.

With the tragic murder of Frelimo’s president, Eduardo Mondlane, dos Santos was elected to Frelimo’s temporary ruling triumvirate (dos Santos, Uria Simango, and Samora Moises Machel). In 1970 he became vice president under Samora Machel—a position he held throughout the war for independence. Working at Frelimo headquarters in Dar es Salaam and in the war zones, dos Santos focused on the key political aspects of the armed struggle. Using the bonds of friendship and the political skills he developed in the 1950s, he helped cement links of political cooperation throughout the war, during the difficult negotiations leading to the independence of Mozambique, and ultimately into the Herculean task of constituting a viable new nation.
When the Council of Ministers of the People’s Republic of Mozambique was sworn to office on July 1, 1975, dos Santos assumed the key positions of vice president of Frelimo and minister for development and economic planning. After independence he held a number of important positions within the government and remained active as a member of Frelimo’s Central Committee charged with political strategy. The challenge during the late 1970s and 1980s was to rebuild the country while defending Frelimo and the government from an armed takeover by the opposition group Renamo.

From 1981 to 1983 dos Santos left government office to concentrate on strengthening the party. He returned to office in 1983 as governor of the province of Sofala in central Mozambique, and in 1989 served as president of the People’s Assembly. During this time, he worked diligently to establish internal stability; some progress was finally achieved in October 1992 when a peace agreement was signed by Frelimo and Renamo.

Through the mid-1990s he continued as theoretician within Frelimo’s Central Committee, working to reform the country’s economic and political structures from within. The long war against Renamo had left the former Portuguese colony bankrupt, earning it the dubious distinction of the world’s poorest nation. Dos Santos often led delegations representing Mozambique at important international conferences, such as the Southern Africa-Cuba Solidarity Conference in May 1995.

His essential contributions were in the area of international relations, deftly aiding Mozambique in its determined posture of non-alignment, and in the development of Frelimo policy designed to develop socialist programs to serve Mozambique’s majority population.

Further Reading
There are no detailed biographies of Marcelino dos Santos, but some of his best speeches and poems are available in English. His “Address to the Sixth Pan-African Congress” in Africa Review (1974) and “The Voice of the Awakened Continent” in World Marxist Review (Prague, 1964) are exemplary. Lotus: Afro-Asian Writings has two articles which focus on Marcelino dos Santos as a poet and on his work in the context of nationalist poetry in Mozambique: Luis Bernardo Honwana, “The Role of Poetry in the Mozambican Revolution,” volume 8 (Cairo, 1971) and “Marcelino dos Santos,” volume 18 (Cairo, 1973). He is listed in Africa South of the Sahara (11th and 12th editions. London: Europa Publications, 1981, 1982. Biographies in ” Who’s Who in Africa South of the Sahara” section.) Periodicals and journals with additional information include: Africa Report (May-June 1989); African Communist (Third quarter 1995); and Current History (May 1993).

Three general works provide the necessary context to understand the historical contribution of Marcelino dos Santos. Allen and Barbara Isaacman’s book Mozambique: From Colonialism to Revolution, 1900-1982 considers both the role of protest poetry and Marcelino dos Santos’ contribution as poet and politician (1983). Eduardo Mondlane’s The Struggle for Mozambique, republished with an introduction by John Saul and a biographical sketch by Herbert Shore (London, 1983), is the classic work on the period. Finally, Barbara Cornwall’s The Bush Rebels: A Personal Account of Black Revolt in Africa (1972) adds a personal glimpse of dos Santos the man.

28/10/2013

JACINTO VELOSO, JORGE REBELO, MARCELINO DOS SANTOS E SAMORA MACHEL, ANOS 70

Fotografia restaurada.

Durante um discurso presumo que em Maputo, da esquerda: Jacinto Veloso, Rui Rebelo, Marcelino dos Santos e Samora Machel.

Durante um discurso proferido presumo que em Maputo, da esquerda: Jacinto Veloso, Jorge Rebelo, Marcelino dos Santos e Samora Machel. A ditadura que impuseram a Moçambique após a partida apressada dos portugueses foi como que uma segunda colonização, esta comunista-maoista e com requintes de malvadez. Em meia dúzia de anos Samora apercebeu-se que estava metido numa embrulhada de proporções épicas. Não a resolveu. Após a sua morte, como sucedeu em Portugal com António Oliveira Salazar, ficou a saudade de um homem carismático que falava incisivamente e que não roubava, o que suponho valha alguma coisa. Os outros continuam todos por aqui, a falar nos dias da “revolução”. Com o maior saudosismo.

19/04/2012

OS LIBERTADORES, ANOS 1970

Os "Libertadores", anos 1970. Entre eles, o 1º e o 3º Presidentes de Moçambique. Mas na minha opinião o verdadeiro "fundador" é Marcelino dos Santos.

04/03/2012

A LICENCIATURA DE MARCELINO DOS SANTOS, 1960

Filed under: Marcelino dos Santos, PESSOAS — ABM @ 11:52

Espólio de Paulo Pires Teixeira.

 

A notícia da licenciatura em ciências económicas e sociologia de Marcelino dos Santos, publicada no Brado Africano em 16 de Janeiro de 1960. Comunista e nacionalista, Marcelino dos Santos em breve tornou-se numa peça central do movimento de que resultou a Frente de Libertação de Moçambique.

08/02/2012

O “PERÍODO DE TRANSIÇÃO” PARA A INDEPENDÊNCIA E AS SETE FRELIMOS EM 50 ANOS

A bandeira nacional de Moçambique.

Reflecte-se, estes dias, por decorrer em 2012 o 50º aniversário da constituição da Frente de Libertação de Moçambique, sobre o que foram esses 50 anos.

Comecemos pelo evento seminal de toda essa experiência: a Independência em 1974.

Pequena recordação das festividades, no dia escolhido pela Frente de Libertação em 1974 para a independência formal do território.

Formalmente, decorrente dos Acordos assinados em Lusaka no dia 7 de Setembro de 1974, estabeleceu-se uma trégua militar (Moçambique foi o único teatro da chamada Guerra Colonial portuguesa onde, após o golpe militar em Portugal ocorrido no dia 25 de Abril de 1974, a guerra não só não parou como de facto recrudesceu, por opção da Frelimo (e alguma desistência por parte da força militar portuguesa), cuja forma de abordagem na altura permaneceu essencialmente militar, e implementou-se algo a que se chamou “Periodo de Transição” (ver o folheto em baixo).

Mas na realidade, não houve qualquer transição.

Ou melhor, No dia 20 de Setembro de 1974, após um breve, vigoroso protesto de principalmente portugueses e moçambicanos brancos na zona de Lourenço Marques, ainda hoje conotado como uma tentativa frustrada de UDI (o que considero totalmente descabido) de que resultaram graves distúrbios até hoje não inteiramente esclarecidos, e com o apoio activo das forças militares portuguesas, tomou posse um governo inteiramente controlado pela Frelimo, ainda que se obedecesse à formalidade de o mesmo ser “liderado” por um alto-comissário português, a quase patética figura do Almirante Vítor Crespo, um dos Libertadores de Portugal, e de uns portugueses totalmente colaborantes (como não podia deixar de ser).

No Palácio da Ponta Vermelha, Setembro de 1974. Joaquim Chissano posa com Vítor Crespo, respectivamente primeiro-ministro e alto-comissário. Mandava a Frelimo.

Na realidade, os chamados Acordos de Lusaka (celebrados desde então com um feriado nacional em Moçambique) não foram acordos. Foram uma rendição militar portuguesa, seguida da entrega imediata do poder de Estado, por Portugal, à liderança da Frelimo.

Tal como o governo colonial, o Governo de Transição, cujo primeiro-ministro era Joaquim Chissano, administrou o território em estrita coordenação com a Frelimo em Dar es Salaam, por simples decreto, ou seja, em ditadura.

A desconfiança e os receios da comunidade branca quanto à ideologia, às intenções e capacidades de governação dos até então guerrilheiros (aparte o detalhe de se passar numa semana de uma cultura de demonização dos até então “turras comunistas” para os elogios mais rasgados à liderança do movimento nas páginas do Notícias e da revista Tempo), aclamando os “libertadores” e denegrindo tudo o que tivesse sido feito no passado, rapidamente teve efeitos.

Após um segundo incidente, breve, de tiroteio em plena baixa de Lourenço Marques (que tudo indica ter sido uma rixa entre militares que deu para o torto) no dia 21 de Outubro de 1974, o êxodo de portugueses e brancos de Moçambique, cerca de 240 mil em 1974, adquiriu um novo ímpeto.

Porto de Alcântara, Lisboa, 1975. Os caixotes dos "retornados" amontoam-se no cais. Muita gente não tinha onde os pôr porque não tinha para onde ir. Foto restaurada.

À falta de um único, ténue, sinal de tentativa de reconciliação e inclusão e de olhar para o futuro em vez do passado, por parte da Frente, em menos de dois anos, mais do que 95 por cento desta população, que constituia a quase totalidade dos quadros governamentais e empresariais (e médicos, enfermeiros, engenheiros, técnicos, professores, mecânicos, etc)  abandonou Moçambique, sem qualquer ajuda e perdendo o pouco ou muito que tinham, perspectivando um futuro totalmente incerto e quiçá sombrio. Para estes, espalhados por todo o mundo e rotulados como retornados em Portugal, acabaram-se os “bons” velhos tempos, agora preservados em memórias vívidas, punhados de fotografias a preto e branco e os filmes “do outro lado do tempo”, displicentemente acusados por alguns idiotas desconhecedores, de saudosismo ressabiado e até reaccionário.

Pois é.

A reacção do governo de Transição e da Frelimo foi categórica e pode-se resumir ao seguinte: por direito, quem manda em Moçambique é o Comité Central da Frelimo e mais ninguém, e quem não estava com a Frelimo estava contra a Frelimo.

É neste clima de exaltação nacional e também tragédia grega, que se comemora a data da Independência formal, no dia 25 de Junho de 1975.

Um dos eventos precursores da "marcha" de Samora para Lourenço Marques e a celebração da Independência foi o transporte, em mão, da "Chama da Unidade", de norte para Sul de Moçambique, na qual participou o António José de Morais, em cima à direita. Esta fotografia é sua, que restaurei. A chama chegou ao estádio da Machava no dia 26 de Junho.

Na prática, Moçambique passou de um regime de partido único de índole colonial para outro regime de partido único, de índole nacionalista e comunista.

Samora num passeio pelo país. Atrás dele, Marcelino dos Santos à esquerda e do outro lado Armando Emílio Guebuza. Para ver esta fotografia em tamanho maior, prima duas vezes na imagem com o rato do seu computador. Foto restaurada.

O povo moçambicano, então quase totalmente rural (à excepção dos arredores de Lourenço Marques, Beira e Nampula), pobre e analfabeto, absolutamente encantado com a novidade de ter dos seus a governar e electrizado por um futuro róseo de independência e ainda pelo enorme carisma de Samora Machel, cujo deliberado culto de personalidade se iniciou logo início no chamada “fase” de Transição, não reparou, nem tinha a mínima noção dos planos da Frelimo de, logo em seguida, envolver o país em guerras com a África do Sul e com a Rodésia, os últimos redutos de governação por uma minoria branca na África Austral.

O significado – e o custo absolutamente formidável em termos humanos e materiais – do lema “a luta continua”, depressa se começou a entender após a realização, nove meses mais tarde, da cerimónia formal da proclamação da Independência, por Samora Machel, recentemente chegado à cidade após uma ritual “marcha” de Norte para Sul, envergando a farda militar, num estádio de futebol em Lourenço Marques. Mas não havia quanto a isso discordância, nem era permitido haver. E, afinal, a razão e as circunstâncias da História há algum tempo pareciam que estavam do lado dos novos governantes – os “Libertadores”.

A paz, ou melhor, a ausência de guerra, essa, teria que esperar quase vinte anos, Entretanto, Moçambique suportou directamente o preço de colocar o Senhor Robert Mugabe no poder no Zimbabué e de pressionar, sem grande sucesso, o Partido Nacionalista em Pretória a negociar uma transição para a democracia na África do Sul. Em Pretória, os boers limitaram-se a demolir tudo em seu redor, jogando pelo tempo e pelo desmoronamento dos países da Cortina de Ferro, o que começou a acontecer a partir do início do segundo mandato de Ronald Reagan em 1985, ano em que Samora, sentindo a mudança de paradigma para vir, o visitou em Washington. Após uma estrondosa derrota em Cuito Cuanavale em Angola em 1988, os boers, numa posição de força, trouxeram Frederick de Klerk para a chefia do governo e negociaram detalhadamente o seu futuro.

Komatipoort, 1984: o Grande Crocodilo verga o Libertador e assim compra mais sete anos para negociar a sua posição. O ANC não pode fazer a guerra a partir de Moçambique. A Frelimo sobrevive.

No seu III Congresso, realizado entre os dias 3 e 7 de Fevereiro de 1977 no antigo Clube Militar de Lourenço Marques, corporizou-se a terceira de seis “Frelimos”, quando se instituiu um regime marxista-leninista de índole populista, em que a  Frente passou a ser o único partido autorizado e a sua palavra a única que contava. E a cúpula da Frelimo decidiu, à falta de melhor, “refundar” Moçambique e criar um novo “Homem Moçambicano”.

A terceira de seis Frelimos?

A meu ver, sim.

Vejamos em resumo:

Frelimo I

A primeira Frelimo durou entre 1962 e 1969 e resultou de uma coligação de nacionalistas de várias origens, eventualmente liderados pelo Dr. Eduardo Mondlane, secundado pelo Reverendo Uria Simango. O ponto de viragem foi o assassinato do Dr. Eduardo Mondlane em 3 de Fevereiro de 1969 e o banimento de Uria.

O Dr. Eduardo Mondlane e o Rev. Uria Simango. Foto restaurada.

Frelimo II

A segunda Frelimo existiu entre 1969 e 1974. Era militarista, hierárquica e marxizante e liderada por Samora e Marcelino dos Santos. Era basicamente uma máquina de guerra, financiada pela China, União Soviética e demais países da Cortina Ferro, com algum apoio não militar sueco. O ponto de viragem foi o golpe de Estado em Portugal e as subsequentes negociações, realizadas fora de Moçambique, na cidade zambiana de Lusaka, Lourenço Marques então tido como “terreno hostil”.

Samora Machel "warlord" e líder inconstestado da Frelimo até 1984. Hoje, o seu legado é alegremente disputado por todos, às vezes de forma hilariante. A sua viúva, Graça, defende que foi assassinado. Foto restaurada.

Frelimo III

A terceira fase decorreu entre 1974 e 1977, em que o movimento de guerrilheiros toma conta do governo do país e principalmente das cidades, e que termina com o III Congresso da Frelimo, a partir do qual o partido e o próprio Estado se confundem.

Frelimo IV

A quarta fase ocorreu entre 1977 e 1986, caracterizada por um crescendo da guerra e da ditadura, terminando com a morte por acidente de Samora Machel em 19 de Outubro de 1986, ao regressar de uma reunião na Zâmbia, tudo indicando que, se não houvesse ocorrido, grandes mudanças estariam para vir. No entretanto, viveram-se dias terríveis de medo, morte, privação, e um experimento “socialista”, largamente falhado. Uma terrível guerra civil estendeu-se ao país, mantendo a Frelimo, significativamente, o argumento dialético de que a sua oposição, a Renamo, era apenas um bando de “bandidos armados”. Em 1984, foi a vez da Frelimo se render a Pretória, sob a ameaça da sua destruição.

Frelimo V

A quinta fase, que decorreu entre 1986 e 1992, na realidade teve início cerca de dois anos antes do desaparecimento físico de Samora, culminando com os Acordos de Paz assinados em Roma no dia 4 de Outubro de 1992 e as consequentes alterações no texto constitucional, de que se destaca a admissão formal do multipartidarismo. Nesta fase, Moçambique é o país mais pobre do mundo, dilacerado e com mais de um milhão de mortos e centenas de milhares de refugiados. A Frelimo aceita fazer o jogo da “democracia” e praticar uma estranha forma de capitalismo, mas, sob a tutela de Joaquim Chissano, apoiado por uma troika de Libertadores, mantém firmemente o poder. Para o choque de pessoas como o ideólogo Jorge Rebelo e o jornalista Carlos Cardoso, os Libertadores, quase todos generais da nomeclaturatornaram-se “empresários de sucesso”. Desde então até esta data, o país vive principalmente de empréstimos, de doações, de perdões de dívida, de programas estruturados de assistência, de negociatas, com fortes indícios de corrupção e a mão invisível do FMI e do G19.

Joaquim Chissano, aqui entre o Paulo Sithoe e o Adiodato Gomes. Com a ajuda de Mário Machungo, Pascoal Mocumbi e Luisa Diogo, Chissano inaugurou a era do Moçambique pós-Samora. A Frelimo vestiu a gravata e comprou um Mercedes. O país passou a viver de donativos.

Frelimo VI

A sexta fase decorre entre 1992 e a actualidade. Com a excepção das municipalidades da Beira e de Quelimane, a hegemonia da máquina partidária da Frelimo mantém-se e é massiva, bem como a liderança, dentro dela, dos agora velhos Libertadores, que reclamam para o partido a totalidade da herança simbólica das Frelimos anteriores, adquirindo para si o património físico desses símbolos, tais como o Museu da Revolução e as instalações da primeira e segunda Frelimo na Tanzania (leia-se a interessante entrevista ao Dr. Egídio Vaz, um historiador moçambicano, na edição de hoje, 8 de Fevereiro de 2012, no semanário Canal de Moçambique, publicada em Maputo, páginas 16-20). Acentuou-se a economia dos Libertadores enquanto políticos-empresários de sucesso

Terminará quando um moçambicano não “libertador” assumir a presidência ou quando houver alguma forma de alternância à sua hegemonia, provavelmente dentro da própria Frelimo.

Nesse dia, começará a sétima Frelimo. Que ainda ninguém sabe o que vai ser, nem quando.

Folheto datado de 1974, explicando o cessar-fogo e o período de transição, Página 1 de 2. Pela leitura, parece-me ter sido feito pelos portugueses, numa tentativa (falhada) de vender o acordo e apaziguar a ansiedade dos brancos que vivam então em Moçambique.

O verso do folheto.

07/02/2012

O NÚCLEO DURO DA FRELIMO, ANOS 1980

Foto restaurada.

 

Não sei qual foi a ocasião mas as fardas chamam a atenção. Da esquerda, parece-me ser Armando Guebuza, depois Alberto Chipande, Joaquim Chissano, Marcelino dos Santos e Samora Machel. O núcleo duro da Frelimo, na altura comvertido de "frente" em partido único depois do Congresso de 1977. Anos 1980.

11/01/2011

AQUINO BRAGANÇA E MARCELINO DOS SANTOS EM 1961 COM REI HASSAN DE MARROCOS

Filed under: Aquino de Bragança, Marcelino dos Santos — ABM @ 22:00

SÉRIE PESSOAS

AQUINO BRAGANÇA E MARCELINO DOS SANTOS EM AUDIÊNCIA COM O REI HASSAN II DE MARROCOS, 1961

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