THE DELAGOA BAY WORLD

18/05/2021

VISTA DE LOURENÇO MARQUES, ANOS 70

Imagem retocada, de Manuel Martins Gomes. Grato à sua filha Zé, que a disponibilizou em memória do seu Pai, cujo espólio fotográfico está pacientemente a começar a analisar e a constituir num registo fotográfico.

As três imagens foram tiradas do apartamento em que Manuel Martins Gomes viveu no Nº970 da Avenida António Ennes, no 7º andar.

1 de 3. Vista de parte da Avenida António Ennes (hoje Dr. Julius Nyerere), para Noroeste. Daqui se pode ver parte do Parque José Cabral, o Observatório Campos Rodrigues e, no horizonte, os então novos prédios da COOP. No passeio na Avenida, vêem-se artigos de artesanato para venda. A casa na esquina, então uma residência privada, ainda existe, se bem que hoje seja usada para fins empresariais.

2 de 3. A Avenida António Ennes durante a noite.

3 de 3. Aqui apontando directamente para Poente (Oeste) uma imagem de relâmpagos durante um temporal sobre a Cidade. Os trovões que se ouviam nestas alturas eram medonhos.

20/02/2021

LOURENÇO MARQUES NO FINAL DE 1937: NA ZONA DO HOTEL POLANA

Imagens Retocadas.

As três imagens raras em baixo foram copiadas a partir de uma original maior, obtida por uma norte-americana que passou de raspão por Lourenço Marques no final de Novembro de 1937, permitindo assim ao exmo. Leitor poder ver mais algum detalhe. Captam a zona da Polana, Carreira de Tiro e parte da Somershield.

A Praia em frente ao Hotel Polana, vendo-se à esquerda o Palmar e à direita alguns dos bungallows que eram alugados aos turistas sul-africanos no verão. Por esta altura, o único acesso à Polana pela Praia era a Estrada do Caracol. Ou a grande volta pela Baixa.

 

Atrás do Hotel, vê-se o Parque José Cabral (hoje, Parque dos Continuadores) e mais ao fundo à esquerda, os terrenos do Hospital Central Miguel Bombarda.

 

Atrás do hotel praticamente não havia uma casa. Ao fundo à direita da Rua de Nevala (com as árvores) vê-se o então Aeródromo de Lourenço Marques, O pontinho branco no meio do campo a seguir à Cadeia Civil, é um avião. Só dois anos depois é que se inauguraria a Estação Aérea de Mavalane. Para cá da Cadeia Civil, ficava o original Campo de Golfe da Polana.

09/09/2019

O OBSERVATÓRIO CAMPOS RODRIGUES E A ESTAÇÃO DE TELEGRAFIA DE LOURENÇO MARQUES, 1935

Imagem retocada.

 

A fachada do Observatório Campos Rodrigues em Lourenço Marques, cerca de 1935. Atrás, em pleno Parque José Cabral (actualmente o Parque dos Continuadores) as duas torres que sustentam a enorme antena da estação de telegrafia sem fios da Cidade, que operava a partir dum pequeno edifício situado algures no parque.

12/01/2017

A MEDIÇÃO DA HORA EM LOURENÇO MARQUES, 1900-1910

Este texto, que conclui esta manhã, é dedicado ao Paulo Pires Teixeira, que espero me arranje uma boa fotografia do relógio hoje situado na ponta Sul da Praça 25 de Junho em Maputo.

 

relogio-na-estacao-cflm-2

Um dos relógios públicos, instalados num dos cais da Estação Ferroviária de Lourenço Marques.

“Boa tarde, podia-me dizer que horas são?”

A resposta a esta pergunta, provavelmente uma das mais essenciais da civilização moderna, onde a contabilização do tempo constitui um elemento-chave que guia a vida e as actividades da sociedade, quando feita na então Baixa da pacata Cidade de Lourenço Marques, no fim do Século XIX, podia ser tão simples ou complicada como o é, efectivamente, hoje, em que vivemos numa era em que somos servidos por redes globais de satélites GPS (sigla para Sistema de Posicionamento Global) situadas no espaço, sincronizadas com relógios atómicos e difundidos através de complexas redes de comunicações, via rádio, internet, etc.

Como é que, no fim do Século XIX, se respondia a esta questão em Lourenço Marques? mesmo naquela altura, na pequena cidadezinha colonial, já havia a necessidade de conhecer a hora exacta, em áreas como a navegação marítima, transportes ferroviários, comunicações por telégrafo e a determinação das horas de trabalho, entre outras. O desafio tecnológico era considerável e os meios de se transmitir a hora variados, desde sinos de igreja, tiros de canhão, ou meios visuais como bandeiras e bolas.

Mas como se media, então, a hora, em Lourenço Marques em 1900?

A nascente cidade colonial começou a ter essa necessidade a partir do final do Século XIX, quando foi inaugurada, em Julho de 1895, a linha férrea que ligava Lourenço Marques a Pretória e Joanesburgo, e, pouco depois, quando se inaugurou o enorme Cais Gorjão, com quase um quilómetro de comprimento, e a Cidade passou a ter o melhor porto da Costa Oriental de África, visitada por inúmeros navios – sendo que todos os navios possuiam relógios mecânicos (“cronómetros de bordo”) que tinham que manter a hora exacta, uma vez que saber a hora exacta era essencial para se poder calcular de forma fiável a longitude e, logo, juntamente com a latitude, ler os mapas e estabelecer a localização precisa dos navios no mar.

relogio-na-estacao-cflm

O relógio na fachada da Estação Ferroviária de Lourenço Marques, foto recente. A fachada foi concluída na segunda década do Século XX.

Até ao início do Século XX, uma das formas comuns de comunicar a hora era através da queda de uma enorme bola metálica num poste, exactamente às 12 horas. Inúmeras cidades no mundo seguiam esse método. Uma utilização evocativa desse método é ainda a “queda da bola” na Times Square em Nova Iorque às zero horas do primeiro dia de cada ano, que é transmitida pela televisão.

Entre 1900 e 1910, Lourenço Marques finalmente confrontou-se com o problema da determinação exacta da hora.

A Capitania do Porto, que na altura ainda estava instalada na velha fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, na Baixa, na altura um feio conjunto de barracões e muralhas, assegurava a monitorização do tempo com um pequeno posto meteorológico e ainda o disparo de um canhão, instalado na muralha a Sul e virado para a Baía, que todos os dias, exactamente ás 13 horas, anunciava estrondosamente o sinal horário para uso pela navegação e pelos habitantes da Cidade, que certamente já estavam habituados àquele atroar.

Na Ponta Vermelha havia ainda um balão preto içado num chamado mastro semafórico, semelhante ao da Times Square, que descia abruptamente sempre que se ouvia o tiro das 13 horas disparado na Fortaleza. O dispositivo fora instalado em Janeiro de 1901 pelo brilhante Coronel de Engenharia e Astrónomo português, Frederico Tomás Oom (filho, 1864-1930) e podia ser visualizado pelas tripulações dos navios que demandavam a Baía do Espírito Santo.

Mas não sei ainda como estimavam a hora exacta na delapidada Fortaleza, determinação que, até meados do século passado, era assunto do domínio exclusivo da observação astronómica.

E não havia um observatório astronómico em Lourenço Marques.

A 1 de Junho de 1905, por proposta de Hugo de Lacerda, Capitão do Porto de Lourenço Marques, então recentemente inaugurado, e com o fim de reorganizar o serviço da hora oficial, a Comissão Permanente de Melhoramentos do Porto de Lourenço Marques, deliberou a criação, na Cidade, de uma estrutura formal que assegurasse um serviço de meteorologia e de cálculo da hora legal com um elevado grau precisão.

Em 22 de Outubro de 1906, sob a supervisão de, e projectado por, Frederico Tomás Oom, o maior perito científico português de então no cálculo da hora, que viera do Observatório Astronómico de Lisboa, iniciou-se a construção de um observatório astronómico, num terreno que até então constituía a extrema Sul da Concessão Somershield. Mais tarde, ali ao lado foi constituído o Parque José Cabral, hoje denominado Parque dos Continuadores.

O Observatório foi inaugurado em 1909 e seria baptizado com o nome Observatório Astronómico e Meteorológico Campos Rodrigues, em honra do distinto oficial astrónomo português César Augusto de Campos Rodrigues (Lisboa, 1836- 1919), que de facto visitara uma vez brevemente Lourenço Marques em 1882 numa pesquisa científica e que, juntamente com Fernando Oom e o seu Pai, haviam revolucionado a meteorologia, a astronomia – e a medição do tempo – em Portugal.

o-observatorio-campos-rodrigues-em-lm

O Observatório Meteorológico e Astronómico Campos Rodrigues na Polana, em Lourenço Marques, alguns anos após a sua entrada em funcionamento.

Na altura, Sir Napier Shaw, Presidente da Secção de Meteorologia da União Geográfica e de Geofísica Internacional, considerou o observatório de Lourenço Marques entre os 50 melhores observatórios meteorológicos do mundo.

Pretendia-se ainda que o novo serviço serviço meteorológico passasse também a centralizar e coordenar a informação que já era recolhida e analisada em vários pontos da então África Oriental Portuguesa.

Curiosamente, foi o mirante situado no topo do Observatório, destinado aos aparelhos que devem ficar mais elevados do nível do solo, que serviu de “marco” geodésico, medindo-se a partir dele os ângulos das numerosas direcções que dali originam, constituindo um dos pontos mais importantes da triangulação realizada pela Missão Geodésica, então chefiada pelo então Capitão-Tenente Gago Coutinho, que fez os primeiros mapeamentos cartográficos rigorosos de Moçambique, nomeadamente delineando as que mais tarde passaram a constituir as fronteiras definitivas da futura República de Moçambique.

793_001

O Observatório, visto por trás. Note.se o mirante no topo do edifício.

observatorio-m-e-a-sec-xxi

O Observatório, num imagem recente.

No que concerne a instalação de um sistema moderno para a medição da hora, Frederico Oom, que já tinha instalado dispositivos nas Ilhas dos Açores para apoio da navegação local, e que mantinha um relacionamento científico estreito com as tecnologias de ponta da época, desloca-se em 1907 à grande cidade portuária alemã de Hamburgo, em cujo porto havia sido instalado um sistema inovador de medição e divulgação da hora. Ele adquiriu o equipamento semelhante ao utilizado naquele porto alemão e em seguida instala-o em Lourenço Marques.

Assim, em 1909, foi colocado à entrada do Porto, junto da Praça 7 de Março (actualmente, Praça 25 de Junho) um relógio eléctrico que passou a comunicar, com maior exactidão, a hora em Moçambique.

o-relogio-no-porto-de-lm-1

O relógio eléctrico instalado em 1909 à entrada do Porto de Lourenço Marques, junto da Praça 7 de Março (actual Praça 25 de Junho) e que veio de Hamburgo, na Alemanha. Estava sincronizado por cabos telegráficos com o mecanismo astronómico no Observatório Campos Rodrigues na Polana.

o-relogio-no-porto-de-lm-2

Outra imagem em que se vê o relógio eléctrico.

O mecanismo, fornecido por uma relojoaria alemã, tinha por principal função emitir a hora exata, não só para os habitantes da Cidade, mas também para os navios que visitavam o porto. O funcionamento do relógio era sincronizado electromagneticamente, a cada dois segundos, via uma linha telegráfica, com um mecanismo munido de um pêndulo astronómico instalado no Observatório Campos Rodrigues, na Polana, mantendo-se assim o rigor da informação horária. O aparato comandava ainda, à distância, postes de sinalização com poderosas lâmpadas eléctricas, colocados de forma a assegurar a transmissão luminosa dos sinais horários às tripulações dos navios.

porto-de-lm

A Praça 7 de Março em Lourenço Marques, fotografada a partir da doca de embarcações ligeiras, segunda década do Séc. XX. A edificação à esquerda é o Relógio mandado instalar por Frederico Ooms em 1909. À direita vê-se parte do Capitania Building, atrás do qual estava a velha Fortaleza.

o-relogio-no-porto-de-lm-3

Imagem da parte Sul da Praça 7 de Março (actual Praça 25 de Junho) nos anos 60. O relógio pode-se ver mesmo à direita da estátua em homenagem a António Ennes.

O trabalho pioneiro realizado por Frederico Oom em Lourenço Marques serviu como referência para trabalhos semelhantes, efectuados mais tarde pela sua equipa nos portos de Luanda, de Goa e de Lisboa, cidade onde o sistema só foi instalado em 1914. No caso de Lisboa, a Comissão que recomendará instalar o mesmo sistema que o que fora utilizado em Lourenço Marques e em Hamburgo, era composta por Hugo de Lacerda e Frederico Oom, que estiveram envolvidos com o processo da capital moçambicana, e o Capitão-Tenente Augusto Ramos da Costa, que então dirigia o sistema de medição da hora em Portugal, a partir do Arsenal.

relogio-do-cais-sodre-lisboa

Imagem recente do Relógio instalado em 1914 em Lisboa, no Cais do Sodré, pelo Observatório Astronómico de Lisboa, em tudo semelhante ao que foi instalado em 1909 em Lourenço Marques. Hoje é uma atracção turística da Cidade de Lisboa.

 

Fontes:
http://www.inam.gov.mz/
http://oal.ul.pt/inicio/historia-recente-do-oal/o-director-campos-rodrigues/cronologia-da-vida-e-obra-de-campos-rodrigues/
http://oal.ul.pt/inicio/historia-recente-do-oal/o-director-campos-rodrigues/
http://johost.eu/vol8_fall_2013/vol8_5.htm
http://iuhps.org/conferences/conf2014/20140825sic/book%20of%20abstracts.pdf
http://www.cincinnatiobservatory.org/media/documents/How_Time_Balls_Worked.pdf
http://www.pescazores.com/noticias/nacionais/relogio-da-hora-legal-no-cais-do-sodre/
https://books.google.pt/books?id=UUFhDQAAQBAJ&pg=PA107&lpg=PA107&dq=electric+Light+Louren%C3%A7o+Marques&source=bl&ots=r4WzHK8-kK&sig=xgtU12VdW0D0Wl9mEg5LGvWWX0k&hl=en&sa=X&ved=0ahUKEwit3dqK9bfRAhUFRhQKHc6CA-YQ6AEIGzAA#v=onepage&q=electric%20Light%20Louren%C3%A7o%20Marques&f=false
http://www.hs.uni-hamburg.de/DE/Oef/Stw/anderson/Move%20to%20Bergedorf.htm
Edifícios históricos de Lourenço Marques – Alfredo Pereira de Lima

17/06/2016

O HOTEL POLANA E A POLANA EM LOURENÇO MARQUES, 1939

Esta foto faz parte de um conjunto de fotos aéreas tiradas na Cidade de Lourenço Marques aquando da visita do Presidente Óscar Carmona a Moçambique em 1939, mesmo antes do início da Segunda Guerra Mundial.

 

Vista aérea da Polana no local onde se situa o Hotel Polana, 1939. Ver as legendas em baixo.

Vista aérea da Polana no local onde se situa o Hotel Polana, 1939. Ver as legendas em baixo.

 

A= xxx

A= Observatório Campos Rodrigues, B= Estação Telegráfica sem fios, podendo-se ver as torres das antenas de cada lado do edifício, C= Parque José Cabral, actualmente Parque dos Continuadores, D= local onde mais tarde se fez a Avenida Massana de Amorim, hoje Avenida Mao Tsé-Tung, E= Avenida António Ennes, actualmente Av. Dr. Julius Nyerere, F= Avenida dos Duques de Connaught, actualmente Av. Friedrich Engels, G= Estrada do Caracol, H= Hotel Polana

10/03/2012

VISTA AÉREA DE LOURENÇO MARQUES, 1939

Fotografia tirada aquando da visita do então presidente Óscar Carmona a Lourenço Marques.

 

Nesta fotografia pode-se ver em baixo o Hotel Polana. Onde se vê logo a seguir o alinhamento das árvores é a Avenida António Enes (hoje Julius Nyerere). O quadrado arborizado mais acima é o Parque José Cabral (hoje Parque dos Continuadores). A Avenida Massano de Amorim, que ficaria mais à direita, ainda não existia. Na extrema esquerda, vê-se parte do Observatório Campos Rodrigues.

 

Uma vista geral de Lourenço Marques em 1939. Note-se que o eucaliptal na baixa ainda mal tinha sido plantado, e a cidade praticamente acabava junto do Hospital Central Miguel Bombarda. Na Catembe, praticamente não vivia ninguém. Na baixa e na Polana, não havia qualquer prédio.

01/12/2011

O OBSERVATÓRIO CAMPOS RODRIGUES EM LOURENÇO MARQUES

Este texto é reproduzido com vénia do sítio Ciência em Portugal. O texto é da autoria de Sérgio Tirapicos.

César Campos Rodrigues, cujo nome foi dado ao observatório inaugurado em Lourenço Marques em 1909.

César Augusto de Campos Rodrigues nasceu em Lisboa, a 9 de Agosto de 1836. Frequentou o Liceu e o Real Colégio Militar. Em 1851 assentou praça no Corpo de Guardas Marinhas. As promoções sucederam-se: era guarda-marinha em 1856, 1º tenente em 1869, capitão-tenente em 1878, capitão-de-fragata em 1886, capitão-de-mar-e-guerra em 1890. Por diversas vezes embarcado, em 1859 assiste ao bombardeamento de cantão pela esquadra inglesa, durante a guerra do ópio. Este episódio deu-se a bordo da lancha «Amazona», durante uma estada de 4 anos em Macau. Foi por esta altura que os seus interesses científicos se começaram a evidenciar. Campos Rodrigues e José de Castilho responderam então ao apelo de Mateus Maury para a recolha de registos meteorológicos, o que fizeram de Lisboa para Macau – numa viagem de 160 dias – e naquela cidade do oriente. Maury, após a recepção dos dados, comentaria que: «(…) o diário náutico do Brigue Mondego é uma peça curiosa, está admiravelmente desempenhado e dá-lhe grande crédito (…)».

Em 1865 Campos Rodrigues conclui o curso de engenheiro hidrógrafo e participou no levantamento da Barra e do porto de Caminha. Em 1869 era adjunto da secção astronómica da direcção dos trabalhos geodésicos. Filipe Folque, que já conhecia os seus méritos, desejava-o para ajudante. O decreto de 24 de Abril de 1869 veio facilitar o empenho de Folque. O nº 3 do artigo 13º referia que: «os engenheiros hidrógrafos servem nos observatórios astronómicos, meteorológicos e magnéticos». Em 1869 entrou para o Real Observatório Astronómico de Lisboa (ROAL), como ajudante da direcção geral. Em 1878 passa a subdirector por proposta da Academia das Ciências. Por sua vez, em Julho de 1890 foi nomeado director. Em 1902 era promovido a Vice-almirante.

Campos Rodrigues foi nomeado director, em 1890, do ROAL, na Tapada da Ajuda. Aí desenvolveria os seus principais trabalhos.

O génio mecânico de Campos Rodrigues ficou bem patente nos numerosos aperfeiçoamentos que introduziu nos instrumentos do Observatório de Lisboa. Entre estes contam-se a cadeira de observação do círculo meridiano Repsold; um diafragma íris – que só mais tarde surgiria nas câmaras fotográficas – para regulação da iluminação nas oculares; um interruptor para pêndulas de sinais horários e um aparelho para a determinação da equação pessoal. Em 1874 criaria mesmo um revólver fotográfico. Este destinava-se a ser usado na expedição a Macau para observar o trânsito de Vénus de 9 de Dezembro. Campos Rodrigues foi nomeado observador, com F. A. Oom e Alves do Rio, mas a expedição não se realizou por falta de financiamento.

A 19 de Dezembro de 1904 um júri da Academia das Ciências de Paris decidiu atribuir-lhe o prémio Valz. Desse júri faziam parte personalidades como o matemático Poincaré e os astrónomos Bigourdan e Janssen. Instituído em 1874 pelos testamentários de Benjamin Valz, destinava-se a galardoar trabalhos no domínio da astronomia. Viria a ser atribuído a nomes célebres desta ciência como o alemão Wilhelm Tempel, o britânico Alfred Fowler ou o brasileiro Luís Cruls.

A distinção de Campos Rodrigues surgiu na sequência da participação do ROAL na campanha de observação do asteróide Eros, em 1900 e 1901. Essa campanha viria a marcar um salto qualitativo na determinação na distância Terra-Sol, uma constante fundamental da astronomia. Nela participaram 50 observatórios de todo o mundo. O observatório de Lisboa ficou encarregue, com outras doze instituições, da determinação rigorosa das coordenadas das estrelas – pontos de referência no registo da posição de Eros. As observações de Lisboa foram não só as mais numerosas (3800 seguidas apenas pelas 2700 efectuadas em Washington), mas também as que tiveram os menores erros associados.

Em 1908 seria instalado um Lourenço Marques, Moçambique, o Observatório Campos Rodrigues – assim nomeado em sua homenagem. A instalação dos equipamentos foi dirigida por M. F. Oom, mas só em de 1909, Hugo de Lacerda – um eng. Hidrógrafo que trabalhava naquela colónia como chefe dos serviços da Marinha – viria a dirigir o Observatório, realizando também as observações.

Em 1910 foi publicada a primeira edição do catálogo de estrelas do astrónomo norte-americano Lewis Boss. Nele o autor compilou numerosas observações dos mais importantes observatórios astrométricos da época. A participação de Campos Rodrigues e do Observatório de Lisboa foi então classificada pelo próprio Boss como «o melhor trabalho alguma vez feito». Campo Rodrigues morreu em Lisboa, no dia de Natal de 1919.

Site no WordPress.com.